23.10.07
22.10.07
FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA: REFLEXÕES E REPERCUSSÕES NA EDUCAÇÃO E NA APRENDIZAGEM ESCOLAR
Yaegashi, Solange Franci Raimundo2
No mundo moderno, onde toda comunicação e informação estão universalizadas, transpõe-se cada vez mais as barreiras geográficas, religiosas, tecnológicas e culturais, obtendo acesso quase que totalmente livre ao até então desconhecido e se absorve, indiscriminadamente, características que diferenciavam e, sobretudo, definiam o homem dentro de uma cultura. A interpenetração de tendências e influências do mundo globalizado alcançou a família e seu “modus vivendi”. Na cultura atual, observa-se uma forte crise de valores que culmina na modificação de referenciais que regem o comportamento humano, as relações interpessoais e a vida em sociedade.O capitalismo cria demandas para o consumo que não vão ao encontro das necessidades humanas essenciais, mas acarretam uma formação unidimensional, na qual o sujeito perde a dimensão de sua individualidade e de seus desejos (Marcuse,1981).
1 Psicóloga Clínica e Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá.
2 Profa. Adjunta do Depto. De Teoria e Prática da Educação e do Mestrado em Educação da Universidade Estadual de
Maringa
Essas transformações fizeram com que a família contemporânea ficasse submetida a uma dispersão ou falta de valores e referenciais que norteiam o modo de educar os filhos e reflete, em última análise, na perda da coesão comunitária. Atualmente há um grande acesso ao conhecimento e a informações teóricas no campo da Psicologia, que contribuem enormemente para a compreensão da qualidade das relações familiares e do desenvolvimento saudável da personalidade. Por outro lado, constata-se que a família, a escola e a sociedade parecem estar encontrando grandes dificuldades na educação de crianças e de jovens, o que se deve em grande parte, às inúmeras controvérsias a respeito das funções de cada uma dessas instâncias. Como resultado, encontra-se hoje um grande número de crianças e adolescentes com fortes dificuldades de adaptação social e escolar, o que aponta para graves sinais de enfermidades psicológicas, sociais e educacionais. A família, a escola e a sociedade vivem hoje, um momento bastante crítico que poderá desencadear um aumento das patologias mentais, ou como afirma Osório (1996, p.47), “(...) dar origem a novas formas de configurações familiares, como as que esboçam neste limiar do século XXI, adequando-se às demandas desse novo giro na espiral ascendente da evolução humana”.
O papel dos vínculos familiares no processo de construção da personalidade tem sido tema de interesse de vários segmentos da sociedade atual e objeto de estudo de psicólogos, psicopedagogos, sociólogos, educadores, entre outros. Cada vez mais é atribuída à família a responsabilidade pelos problemas da humanidade, bem como pela saúde e doença mental. O ser humano encontra-se a aproximadamente, cinco séculos da existência da civilização humana organizada sob o modelo familiar. De acordo com os diferentes momentos históricos, sua constituição foi se dando de forma singular a partir de diferentes referenciais que norteavam a educação dos filhos. Um retrospecto sobre a história da organização humana, sob forma de família, permite constatar que jamais a criança foi objeto de tantos estudos como tem sido na sociedade atual. O século XX, marcado pelo desenvolvimento tecnológico e científico, foi também sinalizado por uma preocupação com o desvendamento dos mistérios do desenvolvimento humano, sobretudo a partir das contribuições da Psicanálise (Martuscello,1992). Freud (1920) mostrou, entre outras contribuições, que a vida emocional do ser humano tem suas raízes na infância e os pais exercem no mundo emocional de seus filhos influências tanto benéficas quanto maléficas. Sabe-se que a subjetividade se constrói na relação com o outro, no campo do humano, dos afetos, das paixões, preferencialmente dentro de uma instituição à qual chamamos Família. Portanto, é através das interações iniciais do bebê com sua mãe e do valor afetivo desse vínculo que se formará o protótipo da relação entre o indivíduo e asociedade. Deste modo, as mudanças atuais na constituição, configuração efuncionamento familiar, irão necessariamente acarretar mudanças na subjetividade das pessoas.
A família se modifica através dos tempos, mas, em termos conceituais, é um sistema de vínculos afetivos onde deverá ocorrer o processo de humanização. A transformação histórica do contexto sócio-cultural resulta de um processo em constante evolução ao qual a estrutura familiar vai se moldando. No entanto, é importante considerar que por maiores que sejam as modificações na configuração familiar, essa instituição “permanece como unidade básica de crescimento e experiência, desempenho ou falha”(Ackermam,1980 p.29), contribuindo assim tanto para o desenvolvimento saudável quanto patológico de seus componentes. De acordo com Soifer (1982), a função da família é educar, o que pressupõe ensinar o cuidado e a manutenção da vida. A educação abrange a transmissão de valores que variam de acordo com a cultura e que são fundamentais para que se possa viver de forma comunitária. Aos pais cabe, ainda, a função de fornecer modelos de identificação que venham a contribuir para a formação da identidade da criança. Para que tal função se dê, énecessário que eles estejam, acima de tudo, presentes na vida dos filhos e que tenham disponibilidade de tempo para atender às suas necessidades.
O crescente aumento verificado na busca de entendimento e de saídas para o mal-estar eos conflitos humanos dentro do contexto familiar, levam a crer que como afirma Osório (1996, p.12),”(...) a família continua sendo percebida como a viga mestra de qualquer realinhamento no processo evolutivo do ser humano”. Portanto, há necessidade de um reposicionamento da função balizadora da família nos dias atuais. Repensá-la significa contextualizar, caracterizar as diferentes configurações que ela vem assumindo ao longo dos tempos e, sobretudo, analisar as suas influências no processo de desenvolvimento e de aprendizagem escolar da criança. Winnicott (1993), questiona se seria possível para o indivíduo atingir a maturidade fora do contexto familiar. Conclui em termos gerais que, o alcance da autonomia pressupõe uma relação familiar que ofereça o suporte afetivo necessário para o desenvolvimento de funções constitutivas que incluem a aprendizagem escolar.
Neste início do século XXI, com todo o progresso científico e a vivência em um mundo universalizado, a família sofreu várias transformações que, sem dúvida, trouxeram vantagens e desvantagens. A família contemporânea tem criado formas particulares de organização, não mais se limitando à família nuclear (pai, mãe e filhos dos mesmos pais), mas a uma forma distinta e decorrente dos tempos modernos, onde os casais se unem e se desunem por diversas vezes e passam a conviver ou não, com filhos, frutos de antigas relações conjugais e filhos que nascem de suas novas uniões. Ao considerar esses aspectos, faz-se necessário um olhar atento para a escola que, no mundo moderno, continua tendo o papel de transmitir um conhecimento ao qual se acrescenta a construção do processo de aprendizagem. Os professores, cada vez mais, vêm se deparando com alunos que apresentam dificuldades como desatenção, indisciplina, desprazer em aprender, dificuldades em tolerar frustrações e em postergar o prazer, que são pressupostos básicos para o crescimento e para a boa aprendizagem. Nesta perspectiva, Fernandes (1990) descreve o conceito de “modalidade de aprendizagem” como a maneira com que cada um aproxima-se do conhecimento. Afirma que tal modalidade se constrói através de um processo que ocorre desde o nascimento e implica na relação da criança com seus cuidadores dentro do espaço familiar e que refletirá na aprendizagem formal. Por outro lado, incrementada muitas vezes pelas expectativas familiares, a cultura do imediato, do mundo instantâneo ao lado da tecnologia, muda os conceitos de tempo, espaço, frustração, determina os objetivos e desejos dos homens, alterando as formas de aquisição da aprendizagem.
A cultura moderna tem favorecido a liberação dos impulsos agressivos e sexuais de forma direta e não sublimada. Caminha-se para o individualismo e para a competitividade sem limites, levando às últimas conseqüências a desconsideração pelo outro. Prevalece o prazer absoluto, contradizendo Freud (apud Levisky,1997) em sua argumentação de que a maturidade seria alcançada quando o indivíduo deixasse de guiar-se pelo “Princípio do Prazer Absoluto” e submetesse suas pulsões ao “Princípio da Realidade”.Marcuse (1975), retoma a idéia de Freud sobre a correlação entre as pulsões do homem e a cultura, na medida em que as pulsões devem ser desviadas de seus objetivos em prol da civilização. Em suas palavras, “a civilização começa quando o objetivo primário, isto é, a satisfação integral de necessidades, é abandonada” (p.75). Assim, sob a influência da realidade externa os instintos animais se convertem em humanos. Tais formulações destacam o caráter humanizante da sociedade, ainda que se tenha um preço alto a pagar pela restrição da liberdade pessoal, qual seja, a prevalência do “Princípio do Prazer” sobre o “Princípio da Realidade”. É sobre o“Princípio da Realidade” que o ser humano desenvolve sua razão, tornando possível examinar, comparar, ponderar, julgar discernir e escolher. Nasce então, um sujeito pensante, consciente, crítico e equipado para agir frente às imposições do mundo externo. No entanto, há um discurso social que restringe ao homem a possibilidade de ser, não havendo mais lugar para o erro, o sofrimento, a tristeza, a falibilidade, ou seja, para o que é da ordem do humano. Compromete-se assim, todo o processo de civilização, humanização e aprendizagem, culminando fatalmente em diferentes formas de violência.
A família é um sistema de vínculos afetivos em que o sujeito nasce com possibilidades de ser (biológica e psíquica), mas que só se concretizarão ao entrar em contato e agir com um semelhante.
O Ser só se humaniza, através de outro humano ( processo de identificação).
Aprender é uma atividade desejante e, para tanto, faz-se necessário que se acompanhe uma estrutura de personalidade razoavelmente madura, construída sob a égide de uma relação familiar saudável e segura. A aprendizagem ganha significado dentro do contexto familiar e social, ainda que a apropriação dos conteúdos seja individual. No entanto, acredita-se que o ambiente familiar estável contribui positivamente para o bom desempenho da criança na escola, embora não garanta seu sucesso, uma vez que este, depende de outros fatores que não exclusivamente os familiares. Vale lembrar as palavras de Gianetti (apud Levisky,1997 p.25) “mais do que a escola, a família é a principal responsável pela transmissão social de um sentido de valores que induza os mais jovens a desenvolver suas capacidades morais e cognitivas... nada substitui a presença dos pais que cooperem ativamente na criação dos filhos e valorizem o empenho escolar... A Família é a primeira, a menor e a mais importante escola”. Embora a sociedade forme em cada período, homens de que precisa, visando sempre a manutenção do poderio econômico e a educação formal somada a ela corrobore com a formação unidimensional do indivíduo, acredita-se que a família ainda possa ser pensada como o lugar possível para, através do resgate da intimidade e da afetividade, formar a criança como um sujeito crítico, desejante e, sobretudo, consciente de suas reais necessidades. Deste modo, talvez o homem possa se beneficiar dos recursos oferecidos pelos avanços tecnológicos e científicos sem ser expropriado em sua dimensão humana.
REFERÊNCIA:
ACKERMAN, H. Diagnóstico e Tratamento das Relações Familiares. Porto Alegre:Artes Médicas,1980
FERNÀNDEZ, A. A Inteligência Aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990
FREUD, S. Além do Princípio do Prazer (1920). Rio de Janeiro: Imago, 1980
LEVISKY, D. Adolescência e Violência. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997
MARCUSE, H. Algumas implicações sociais da tecnologia moderna. Praga: revista de
estudos marxistas.São Paulo: Boitempo, 1957, n.1
MARCUSE, H. Idéias sobre uma teoria crítica da sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 1981
MARCUSE, H. Eros e Civilização. Rio de Janeiro: Zahar, 1975
MARTUSCELLO NETO, C. Família e Conflito Conjugal. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988
OSÓRIO, L.C. Família Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996
POSTER, M. Teoria Critica da Família. Rio de Janeiro: Zahar, 1979
SOIFER, R. Psicodinamismos da Família com Crianças. Petrópolis: Vozes, 1982
VIGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente.São Paulo: Martins Fontes, 1988
WINNICOTT, D. W. A Família e o Desenvolvimento Individual. São Paulo: Martins Fontes, 1997
WINNICOTT, D. W. Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 1999
WINNICOTT, D. W. Natureza Humana. Rio de Janeiro: Imago, 1990
21.10.07
20.10.07
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Sinopse :
A realidade como você nunca imaginou! Os irmãos Andy e Larry Wachowski assinam esta surpreendente ficção científica, um dos grandes sucessos de bilheteria de 1999. Keanu Reeves é Thomas Anderson, jovem programador de computador atormentado por estranhos pesadelos, nos quais encontra-se conectado por cabos, e contra a sua vontade, em um imenso sistema de computadores do futuro. Em todas essas ocasiões, acorda gritando no momento em que os elétrodos estão para penetrar seu cérebro. À medida que o sonho se repete, Anderson começa a ter dúvidas sobre a realidade. Por meio do encontro com os misteriosos Morpheus e Trinity, Thomas descobre que é assim como as outras pessoas vítima do Matrix, um sistema inteligente e artificial que manipula a mente das pessoas, criando a ilusão de um mundo real - enquanto usa os cérebros e corpos dos indivíduos para produzir energia. Morpheus, entretanto, está convencido de que Thomas é Neo, o aguardado messias capaz de enfrentar o Matrix e conduzir as pessoas de volta à realidade e à liberdade. Recheado de efeitos especiais, cenas de lutas, explosões, tiroteios, além de um vilão impagável e um espetacular visual de histórias em quadrinhos, Matrix é, para muitos, a melhor ficção científica desde Blade Runner, o Caçador de Andróides.
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SINOPSE:
É a história de um menino que está crescendo e, como qualquer ser humano, procura seu lugar no mundo. Mas crescer, em qualquer época e sob qualquer circunstância, dói. Para Pequena Árvore, um menino cherokee - tribo índia dos Estados Unidos - de oito anos, essa tarefa não será nada fácil. Sua vida numa árida cidade mineradora, durante a Depressão americana - na década de 30 -, oferece-lhe poucos prazeres. Depois de perder os pais, ele vai morar com seus avós paternos numa floresta do Tennessee. Num ambiente mais carinhoso, ele reconhece, pela primeira vez, a beleza da natureza e a sabedoria da vida cherokee. A educação de Pequena Árvore está prestes a começar já que o futuro será recheado de descobertas e sofrimento.
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Sinopse:
Tempos modernos retrata a interligação da vida com um relógio. O tempo marca a vida de operários de uma fábrica onde se desenvolve boa parte da ação.O filme começa com imagens de um rebanho de ovelhas que, na sequência, são substiuídas pela imagem de um grupo de operários saindo da fábrica.Pela cena inicial, nota-se a pressa em mostrar que a responsbilidade de massificação do proletariado corresponde ao processo de desumanização imposto pela máquina.Tempos Modernos mostra um patrão em que ao mesmo tempo brinca de quebra-cabeça e lê gibi e paralelamente controla, de sua sala, através de um circuíto fechado de televisão o trabalho de seus empregados.Em Tempos Modernos, Carlitos é um trabalhador da fábrica, em uma lnha de montagem. O seu serviço é ajustar os parafusos a uma velocidade que não consegue nem se coçar, sem que haja quebra no ritmo de trabalho dos companheiros.
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Sinopse:
Jim Graham (Christian Bale) é um jovem de 11 anos da classe alta que vive no Oriente com os pais, britânicos. Ele acaba separado dos pais devido a invasão japonesa à China, o que o força a sobreviver pelas próprias forças todos os horrores da Segunda Guerra Mundial. Indicado a 6 Oscar, é a estréia de Christian Bale nas telonas.
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Toula Portokalos (Nia Vardalos) é uma mulher desengonçada que trabalha com sua família em um restaurante. O sonho de seu pai, um tradicionalista grego, é ver Toula casada com um conterrâneo, mas ela é correspondida pelo inglês Ian Miller (John Corbett). Eles mantêm um namoro às escondidas, mas logo são descobertos e, a partir daí, Toula e Ian lutam para que haja a aceitação de sua família. Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original.
19.10.07
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SINOPSE:
PROVOCANTE E POLÊMICO – MARTIM LUTERO DIVIDIU A IGREJA E MUDOU O MUNDO!
Muito mais provocante e polêmico do que qualquer outra biografia, LUTERO é uma super-produção recheada de ação que retrata um dos períodos mais revolucionários e conturbados da história da humanidade! O período em que a Idade Média cedeu ao poder das convicções de um homem que mudou o mundo, Martim Lutero!
Após quase ser atingido por um raio, Martim Lutero acreditou ter recebido um chamado e se juntou ao Monastério. Ainda jovem e admirado, logo se vê atormentado pelas práticas da Igreja Católica da época. As tensões se intensificam quando prega suas 95 teses na porta da Igreja! Obrigado a se redimir publicamente, se recusa a negar os seus escritos até que a Igreja Católica consiga provar que suas palavras contradizem a Bíblia. Preso e excomungado, foge. Mesmo vivendo como um criminoso numa aventura emocionante, mantém sua fé e luta para que todas as pessoas tenham acesso a Deus. Uma luta incessante e obstinada se inicia e até a população mais pobre se insurge de forma violenta, destruindo igrejas, vitrais e imagens. Horrorizado pelo efeito de suas ações, Lutero se vê obrigado a achar uma saída imediata e genial ao violento conflito...
Joseph Fiennes, o astro de Shakespeare Apaixonado, no melhor papel de sua vida é LUTERO!
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LUTERO é um testamento do poder da fé de reinventar a história!
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A história focaliza duas famílias bem sucedidas que moram no interior dos Estados Unidos. Um dos casais tem um relacionamento de fachada, não fazem amor há anos, mas se toleram e jantam juntos todas as noites. Ele Lester Burnham (Kevin Spacey) decide fazer algumas pequenas mudanças na sua vida, mudanças que estão mais para a volta à adolescência do que para a crise de meia idade, resolve relaxar, larga o emprego, começa a fumar baseado e fazer musculação. Quanto mais solto ele fica, mais feliz se torna, o que é ainda mais enlouquecedor para sua esposa, Carolyn (Annette Bening), e para sua filha, Jane (Thora Birch) - especialmente quando ele vira seus olhos para a amiga de Jane, a sufocante Angela (Mena Suvari). Mas Carolyn revida dando uma atenção extra ao colega de trabalho Buddy Kane (Peter Gallagher).Para completar o caos, os novos vizinhos são uma família igualmente turbulenta: o coronel da marinha certinho Fitts, um homossexual reprimido (Chris Cooper), sua mulher ociosa, Barbara (Allison Janney), e o filho distante, Ricky (Wes Bentley), que logo desenvolve uma certa fascinação por Jane.
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SINOPSE
O principal personagem do filme Cidade de Deus não é uma pessoa. O verdadeiro protagonista é o lugar. Cidade de Deus é uma favela que surgiu nos anos 60, e se tornou um dos lugares mais perigosos do Rio de Janeiro, no começo dos anos 80.
Para contar a estória deste lugar, o filme narra a vida de diversos personagens, todos vistos sob o ponto de vista do narrador, Buscapé.
Este, um menino pobre, negro, muito sensível e bastante amedrontado com a idéia de se tornar um bandido; mas também, inteligente suficientemente para se resignar com trabalhos quase escravos.
Buscapé cresceu num ambiente bastante violento. Apesar de sentir que todas as chances estavam contra ele, descobre que pode ver a vida com outros olhos: os de um artista. Acidentalmente, torna-se fotógrafo profissional, o que foi sua libertação.Buscapé não é o verdadeiro protagonista do filme: não é o único que faz a estória acontecer; não é o único que determina os fatos principais . No entanto, não somente sua vida está ligada com os acontecimentos da estória, mas também, é através da sua perspectiva que entendemos a humanidade existente, em um mundo aparentemente condenado por uma violência infinita
18.10.07
Escola e Mercado: a escola face à institucionalização do desemprego e da precariedade na sociedade colocada ao serviço da economia
Ramón Peña Castro
Resumo
O artigo propõe uma pauta de análise das relações entre educação, qualificação e emprego no capitalismo globalizado. Tenta demonstrar a incompatibilidade existente entre a desvalorização do trabalho, decorrente da dominação autocrática do capital mundializado; questiona a suposta valorização da educação na sociedade dita de conhecimento; critica o processo de empresarialização da educação pública, inspirado em um determinismo tecnológico e o economicista, o qual se manifesta em uma série de fórmulas ideológicas auto-referenciadas, que se pretendem originais. Propõe-se uma reflexão sobre a nova centralidade do trabalho e os novos critérios de qualificação, atentando para a diferença entre qualificação do trabalhador e qualificação ou classificação autocrática dos empregos ou postos de trabalho por parte das empresas.
Palavras-chave
Senso comum. Desemprego. Educação para o trabalho.
Professor do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos- UFScar. Ph. D. em Economia Política, Universidade de Moscou (1973)
Ramón Peña Castro
"Se miente mas de la cuenta/y por falta de fantasía/ tambien la verdad se inventa” ( Antonio Machado,Proverbios y cantares XLVI)
As colocações que seguem discutem uma das grandes pseudoevidências do senso comum, subproduto do credo neoliberal do mercado absoluto e da "mal chamada" sociedade do conhecimento: a idéia do advento de uma era de pós-trabalho e de centralidade da educaçãocomo o bem-capital mais importante. Essa suposta mudança “epocal” de sociedade é atribuída ao poder demiúrgico das novas tecnologias informáticas e da globalização dos mercados financeiros, dois fenômenos que são apresentados como traços paradigmáticos do novo mundo, unificado e uniformizado, servindo, igualmente, como suporte epistemológico do “pensamento único”. Mercado e comunicação (ou infor mação, como dizem os midiatólogos) são as palavras-chave desta nova era, cujos paradigmas ou modelos de referência estão destinados a convencer as classes subalternas que não existe alternativa, que é inevitável a adaptação e a submissão resignada à lógica impiedosa do mercado total, em particular nas esferas do trabalho e do ensino.
Os mercados globalizados com base nas telecomunicações são apresentados como expressão suprema do conhecimento, reduzido a sua dimensão instrumental e comercial. Sob essa forma de utilitarismo vulgar, o mercado, invólucro genérico do capital, passa a comandar os critérios de classificação dos empregos ou postos de trabalho. O mercado, máscara do capital, homologa, de fato, as qualificações e define o valor-preço da força de trabalho, assim como as modalidades do uso mais completo possível da mesma, modalidades disfarçadas com o eufemismo “flexibilização”. Tal é o verdadeiro sentido das teorias e práticas neoliberais de “gestão da mão de-obra”
Em correspondência com isso, as classes dominantes procuram a transformação da escola em uma empresa “flexível”, produtora de trabalhadores dotados de “competências”. Termo ambíguo destinado a naturalizar a autocracia empresarial que define a seu bel prazer aptidões (técnico-profissionais) e atitudes (comportamentais psico-sociais e gestuais) Isto supõe um sistema de ensino regido pelos princípios de eficiência, competitividade e flexibilidade, em um processo taylorista de formação acelerada de operadores multifuncionais, disciplinados, estandardizados e facilmente recicláveis, isto é, disponíveis para serem utilizados de forma fluida, conforme a demanda variável (em tempo e lugar) do empregador. Eis o papel que o mercado onipresente atribui à escola: formar ou, melhor, “formatar” um tipo de trabalhador adequado ao modelo de produção fragmentada de valor excedente, assente na redução dos custos tanto do trabalho vivo, como do trabalho pretérito, incorporado nos meios de produção (hard e soft ou tangíveis e intangíveis) A “produção” exigida dos sistemas de ensino e formação, denominada “recursos humanos”, está constituída por operadores de equipamentos produtivos e de prestadores dos mais variados serviços empresariais ou pessoais. Pode-se verificar que o emprego dos “recursos humanos” reveste diferentes formas de contratação e de utilização efetiva da capacidade ou força de trabalho humana, no que diz a respeito de local, tempo, horários, intensidade de esforço e condições ambientais e sociais de realização do trabalho produtor de valores de troca. Trata-se, portanto, de relações mercantis e monetárias sob formas diferentes: assalariadas e não-assalariadas. No Brasil predomina, nas últimas duas décadas, uma clara tendência de redução do assalariamento “com carteira assinada” e aumento do desemprego e das ocupações “sem carteira assinada” (POCHMANN, 1999,p. 65). Essa última modalidade, chamada “informal”, envolve uma grande variedade de categorias sociais que mistura desde profissionais com nível superior até biscateiros e vendedores ambulantes, em procura de refúgios contra o desemprego e miséria. Cabe salientar que a de redução do assalariamento contribui para ocultar ou dissimular a exploração capitalista, porque dissocia a produção de trabalho e valor excedente da sua apropriação pelo capital, operando, assim, uma transfiguração que transfere para as esferas da circulação e da “justiça comutativa” as operações de uso produtivo de capacidades humanas de trabalho (forças de trabalho), aparentemente autônomas, mas, de fato, inseridas tangencialmente no movimento global de valorização do capital. Para invisibilizar a apropriação do trabalho excedente dos não assalariados, os funcionários ideológicos do capital substituem conceitos com clara conotação social e política, como capitalismo, trabalho assalariado e classe operária, por termos técnicos, socialmente assépticos, como operador, fornecedor, empreendedor, autônomo, consumidores e titulares de cartão bancário (classificados, segundo o nível de renda, em “classes” A, B, C...).
Incompatibilidade entre a desvalorização (efetiva) do trabalho e a valorização (ilusória) da educação Para ser funcional à nova estratégia de pleno controle do capital sobre o trabalho produtor de valores de troca e à necessária dissimulação ideológica desse domínio, hoje totalitário, o sistema de ensino é convocado a fornecer formação continuada ou educação permanente de novas “competências”. Trata-se, a rigor, de pacotes de formação profissionalizante sob encomenda, isto é, formação acelerada e utilitária para o desempenho de postos de trabalho, continuamente redesenhados pelas empresas, em função da sua estratégia competitiva variável. Em outras palavras, uma formação flexível para sujeitos semi-automatizados, chamados a desenvolver um trabalho fluido, que permita minimizar o custo unitário da produção ou serviço fornecido. A escola empresarializada recebe, assim, a encomenda de produzir operadores com “competências” variáveis, isto é, um “novo tipo de trabalhador”: multifuncional, intercambiável e descartável, segundo o modelo de fast food, utilizável na quantidade, no lugar e pelo tempo desejado pelo comprador. Forma parte dessa estratégia a transferência para o Estado e/ou para os próprios trabalhadores (forçados a competir impiedosamente entre si, em prol de uma empregabilidade escorregadia dos custos da formação permanente. Ao mesmo tempo, a crescente individualização ou atomização darelação aluno/professor, propiciada (mas não provocada) pelo uso da pedagogia informatizada, contribui ao isolamento dos indivíduos, favorecendo a passividade social e a despolitização das classes exploradas. Contudo, a classe empresarial não se satisfaz com uma adequação qualquer do ensino público ao chamado mercado de trabalho; exige a mercantilização ampla, geral e irrestrita do ensino porque considera que:
a) a as despesas em educação e formação profissional são “investimentos estratégicos vitais para o sucesso das empresas”;
b) é insuficiente, e deve ser ampliada, a influência do empresariado na definição dos programas de ensino;
c) lucro deve ser o critério orientador dos sistemas de ensino empresarializados;
d) reconhecimento da necessidade de ensino permanente, como novo fator da reprodução da força de trabalho, favorece a ampliação do mercado de ensino;
e) a perspectiva evidente de expansão das telecomunicações, promete lucros fabulosos para o negócio da teleducação
f) as novas tecnologias informáticas computadorizadas (TIC), ao permitirem a expansão ilimitada do ensino a distância, fornecem uma sólida base para a implantação de uma grande indústria privada do ensino, assistido por computador.
Tudo isso parece desenhar um futuro promissor para a produção e venda de bens pedagógicos (computadores, equipamentos periféricos, serviços de provedores de acesso as ciber-estradas, programas didáticos atualizáveis, entre outros) adquiridos e utilizados por clientes que estudam a domicílio, a custa do seu tempo livre e do seu dinheiro. Em concordância, os empresários do ensino e seus agentes políticos e ideológicos brasileiros procuram ampliar o mercado educativo com a ajuda do atual Governo que se pretende “pós” neoliberal e cujo Ministério de Educação alumbrou a singular idéia de “estatizar”, pagando com dinheiro público, vagas ofertadas pelas empresas de ensino mercantilizado. Essa estatização pelo reverso longe de diminuir, como afirma o Governo, aprofunda as desigualdades sociais, porque além de engordar o negócio privado de ensino, aumenta a segregação educacional das grandes maiorias que não têm, nem terão, acesso à escola de mercado. Cria-se, assim, uma situação paradoxal: a mesma população que, segundo as estatísticas oficiais, teria atingido níveis de escolarização mais elevados que no passado, sofre as conseqüências do crescente desemprego e subemprego, indicadores claros da desvalorização capitalista do trabalho manual e intelectual, acelerada pela furiosa ofensiva neoliberal contra os direitos sociais (solenemente proclamados na Constituição de 1988) e pelas “reformas” dos precários “bens sociais” ainda existentes (ensino, saúde, previdência). Para o pensamento empresarial o problema da indigência educacional (a baixa qualidade do ensino obrigatório público) é visto, igual a outros problemas sociais (saúde, moradia, previdência), como uma fatalidade natural ou, na visão mais tecnocrática, como uma “disfunção” técnica devida ao “insuficiente desenvolvimento dos mecanismos do mercado”.A inconsistência dessa explicação resulta evidente quando consideramos os fatos. Acontece que sendo a maior parte dos empregos
disponíveis pouco qualificados (além de contratualmente precários e mal remunerados) resulta inevitável que aumente a divergência entre oferta e procura de qualificações, isto é, a divergência entre as crescentes taxas médias de escolaridade (confundida com qualificação) dos trabalhadores e a declinante qualificação da maioria dos empregos ofertados. A demanda de novas qualificações que exigem maior tempo de escolarização representa uma pequena parcela do chamado “mercado primário” ou núcleo privilegiado do mercado de trabalho. Certamente estas divergências desmentem claramente a retórica oficial sobre a centralidade da educação, cuja modernização é apresentado como remédio mágico para o problema do crescimento econômico e do desemprego, como a via para a superação do suposto atraso entre oferta e procura de forças de trabalho “flexivelmente” qualificadas.
Assim, a estratégia educacional “competitiva” parte de um pressuposto falso: a correlação direta e automática entre o nível de escolaridade (identificado sumariamente com o nível de qualificação dos trabalhadores) e a demanda do mercado de trabalho, em termos de estrutura qualificativa dos empregos existentes. As evidências empíricas indicam que a maioria dos empregos disponíveis não requerem qualificação elevada. Assim, segundo Pochmann (2001, p.72), a principal ocupação criada nos anos 1990 foi o emprego doméstico, responsável por 23% de todas as vagas abertas. Logo depois vem a ocupação de vendedor, que respondeu por 15% do total de postos de trabalho abertos, seguido da construção civil (10%), dos serviços de asseio e conservação (8%) e dosserviços de segurança (6%)1. Contudo, parece evidente que a relação do sistema de escolarização com o volume e a estrutura do emprego é hoje mais complexa que no passado, como demonstra o fato de que a escolaridade dos desempregados vem aumentando sem que isto provoque uma redução significativa das elevadas taxas de desemprego. Em razão disto, resulta ilusório supor que o problema do desemprego possa ser amenizado por meio do aumento dos índices de escolarização. A origem dessa ilusão está no credo neoclássico2 , segundo o qual as causas últimas do desemprego estão situadas no próprio mercado de trabalho; um velho dogma reeditado pela pseudo-teoria neoliberal do “capital humano”, para dissimular a natureza socialmente regressiva que acompanha o processo de acumulação capitalista. Por outro lado, é preciso lembrar que a tendência geral ao aumento do tempo médio de escolarização não se explica apenas, nem principalmente, pelo hipotético aumento das exigências de qualificação dos empregos disponíveis; deve-se, talvez em maior grau, ao crescimento das demandas de escolaridade como instrumento competitivo entre os próprios trabalhadores e também à demandas “extra-econômicas”.De fato, a gradativa expansão da escolaridade obrigatória não pode ser atribuída exclusivamente às crescentes exigências de escolaridade dos empregadores; depende também do aumento das exigências humanas de conhecimento do seu entorno natural e social, assim como das estratégias oficiais de enquadramento de crianças e jovens e da necessidade oficial de dissimulação das elevadas taxas de desemprego, em particular do escandaloso desemprego juvenil. Sem esquecer, igualmente, o inquestionável poder simbólico dos diplomas escolares, o qual persiste apesar da queda efetiva do seu valor de mercado (inflação de diplomas de diferentes tipos). A desvalorização econômica do trabalho, expressada no desemprego e na precarização das relações de trabalho, erosiona as funções realmentesocializadoras da escola e não apenas a sua função econômica, oficialmente absolutizada, de preparação para o chamado mercado trabalho. Por essa razão, a escolarização deixou de ser um instrumento eficiente de urbanização de jovens de origem rural e perdeu também força como instrumento de mobilidade social e de configuração profissional da classe trabalhadora. No caso brasileiro, o processo de mercantilização do ensino, que avança incentivado pela orientação economicista do Governo, enfrenta ainda fortes resistências na sociedade. E os sistemas de educação pública e de credenciamento estatal das titulações continuam sendo, para a grande maioria da população, uma das poucas expressões tangíveis dos precários direitos sociais e da cidadania formal.
Tudo indica, portanto, que a explicação da desvalorização do trabalho e da escolarização requer ultrapassar a aparência enganosa da chamada diver- gência entre demanda e oferta de qualificações; requer penetrar no terreno mais compreensível das contradições sociais do trabalho e da educação do capitalismo realmente existente. Nesta perspectiva, a crise do sistema de escolarização deve ser entendida como um dos resultados e manifestações da grande transformação histórica em andamento, cujo epicentro é o trabalho produtor de mercadorias e cuja força motriz são as exigências da produção de valor excedente, nas novas condições sociais do capitalismo, sob comando financeiro, organização flexível da produção e competitividade total.
Dentro desse quadro, o debate sobre a suposta centralidade da educação só tem a ganhar com a crítica do discurso oficial que apregoa una genérica formação permanente de qualificações multiadaptavéis para aumentar a chamada “empregabilidade”. Neologismo “ao serviço de um truque”, segundo a feliz observação de Gaspari, (1998), porque o termo “empregabilidade” repassa o ônus do desemprego para quem o sofre. Desse modo, o discurso oficial parafraseia Malthus ao deixar entender nas entrelinhas que “a principal causa do desemprego é a ignorância dos desempregados”, idéia antiga que o pensamento pós-moderno complementa com a chamada “rigidez excessiva da legislação trabalhista”, exigindo o rebaixamento das relações de trabalho à simples transação, administrada somente pelo mercado e pelo direito comercial. Todavia, o truque da “empregabilidade” esconde algo mais profundo, que é a tentativa de autonomizar tanto a esfera do trabalho como a esfera da educação, dissociando-as do contexto histórico, o único que as torna compreensíveis. Esse conteúdo histórico concreto decorre do poder oligopólico dos grandes agrupamentos financeiros que decidem as prioridades tecnológicas, econômicas e sociais, configurando a nova ordem mundial imperialista. Não há dúvida de que as transformações históricas (tecnológicas, econômicas e sociológicas) têm como epicentro o trabalho produtor de mercadorias e é, justamente, por isso que as relações de trabalho assalariado estão sofrendo profundas mutações, tanto do lado da força de trabalho como do lado do capital. Do lado do trabalho, precarizam-se as ormas de contratação da força de trabalho, intensifica-se a sua utilização (exploração), individualizam-se e degradam-se as formas de remuneração e privatizam-se, cada dia mais, as condições de reprodução da força de trabalho. Do lado do capital, mudam-se as estruturas tecnológicas eorganizacionais da produção capitalista sob o comando de grandes grupos financeiros globalizados que, para garantirem elevados lucros financeiros, dispõem de uma série de instrumentos técnico-organizacionais e políticos que, operando em escala planetária, garantem a redução dos “custos do trabalho” e o subseqüente aumento do valor excedente (mais-valia). A força de trabalho perde, por isso, os últimos vestígios de controle sobre o processo produtivo desde o momento em que os meios de produção exigem sempre menos trabalho vivo para serem operados e as máquinas “cerebralizadas” confiscam (mecanizando-as) novas parcelas de trabalho intelectual. Ao mesmo tempo, cabe lembrar que os novos meios de produção de base micro-eletrônica apresentam, a um só tempo, maior grau de autonomia funcional com relação à força de trabalho, mas também maior complexidade e vulnerabilidade, pelo fato de funcionar como sistema integrado de máquinas auto-comandadas (“informatizadas”), o que provoca uma redução progressiva do emprego total (e aumento do desemprego), assim como propicia uma nova hierarquia das ocupações de direção, administração e produção. Por essa razão, a nova base tecnológica demanda crescentes doses de trabalho intelectual “morto” e, em proporção menor, trabalho intelectual “vivo”. O primeiro (trabalho intelectual “morto”) materializado em sistemas automatizados (hard),cujo funcionamento requer um estoque crescente de soft (programas operacionais codificados em linguagens lógicas); o segundo, trabalho intelectual “vivo”, personificado por novas categorias de especialistas. A importância ou centralidade deste trabalho vivo (cujo peso não é proporcional ao volume e potência dos novos meios de produção corpóreos– hard – nem aos incorpóreos – Soft) longe de diminuir, está aumentando devido ao crescente papel da “organização científica” dos processos de concepção, produção e circulação de mercadorias. Neste contexto, as novasconfigurações do trabalho intelectual dependente do capital, cuja base mate-rial são os modernos meios de produção privadamente apropriados, não podem deixar de reproduzir, em níveis mais elevados, a contraposição tradicional entre trabalho coletivo alienado e poder privado do capital. Os novos componentes do trabalho intelectual “morto” (meios de produção) e do trabalho intelectual “vivo” (forças de trabalho) mudam a configuração do “trabalhador total” ou “trabalhador coletivo”, produtor de valores de troca (bens tangíveis e serviços), cujos componentes individuais só têm o emprego garantido se se mostrarem aptos para produzir um valor superior ao seu custo, ou seja, como produtores de mais-valia. Pode-se, assim, concluir que as alterações ocorridas nos dois pólos da relação de produção capitalista (capital e trabalho) não modificam a centralidade do trabalho assalariado; ao contrário, essa relação fundante da sociedade capitalista tornou-se ainda mais profunda e abrangente pela incorporação à órbita do capital de uma diversidade de formas de trabalho produtor de mercadorias. Referimo-nos às formas de trabalho temporário, trabalho a tempo parcial, prestação individual de serviços terceirizados ou subcontratados. O mal chamado trabalho autônomo envolve a generalidade dos “prestadores de serviços”, incluindo desde produtores de ciência, cultura, informação, saúde corporal e espiritual, até produtores de “bens” socialmente proscritos: lobystas ou traficantes de influências e votos, mercadores de armas, narcotraficantes, entre outros. Não se pode esquecer, igualmente, a aberrante persistência, ampliada e não por acidente, do trabalho escravo, sintoma claro de uma ordem criminal de desintegração da vida social e prova adicional da incompatibilidade essencial entre a lógica capitalista do máximo lucro e a universalização de regras de vida social, autenticamente humana. O fato de que muitas das novas formas de trabalho percam a tradicional conotação de trabalho assalariado, não impede a sua funcionalidade na produção de valor excedente, susceptível de ser apropriado pelo capital no processo de circulação. Pode-se afirmar que a reativação de formas arcaicas (desde o trabalho semi-escravo até as mais variadas formas de servidão doméstica) convivem e complementam a novas formas de trabalho que, a um só tempo, potencializam e invisibilizam a natureza exploradora e alienante do trabalho capitalista, produtor de valor de troca incrementado.
Nova centralidade do trabalho e novos critérios de qualificação do trabalho
Na visão neo-racionalista, difundida a partir dos anos de 1970 por uma série de pensadores reformistas europeus (Offe, Habermas, Gorz, entre outros), o trabalho assalariado teria deixado de ser o fundamento estruturante da sociedade moderna. De onde se segue que o trabalho também teria deixado de ser fundamento estruturante da educação. Como jáfoi dito, as mudanças tecnológicas, sendo aptas para garantir abundância material com uma despesa cada vez menor de tempo de trabalho vivo, provocam, no capitalismo realmente existente, desemprego e miséria cresentes para uma parcela cada vez maior da população, além de uma depredação irrecuperável da natureza.Em tais condições, o trabalho, que até o presente foi o vínculo unitivo social mais abrangente e acessível, transforma-se em um “bem escasso” e no maior problema social dos nossos dias. As sociedades modernas conhecem, assim, uma nova e profunda ruptura que separa os que gozam o direito a trabalhar de uma crescente massa de pessoas excluídas desse direito, o que provoca a crise de todas as formas de “sociabilização” ligadas ao trabalho: família, empresa, sindicato, Estado social e sua expressão mais genuína, o sistema escolar. Nestas condições resulta descabido falar de centralidade da escola fundada em algo que é, justamente, o epicentro da crise: o trabalho. Não há como demonstrar que a escola pode vir a ser a força propulsora de uma “pós-modernidade”, construída a golpes de mercado e com tecnologias empresariais desempregadoras.. A suposta perda de centralidade do traba-lho produtor de mercadorias é a base de novas mistificações ideológicas que apregoam a “subjetivação do trabalho” e o poder do “agir comunictivo”. Estes exercícios de imaginação não podem ocultar a cruel realidade da desvalorização efetiva e crescente do trabalhador assalariado. A raiz dessa inversão da ordem humano-social reside, segundo Marx, na separação que o capitalismo aprofunda: entre o trabalho e o ser humano trabalhador. O trabalho mercantilizado (realização das capacidades humanas de produzir determinado efeito útil) está comandado, como qualquer outra mercadoria (bens de produção e bens de consumo), pelo valor de troca, no qual todas as qualidades concretas são anuladas em nome de uma única e abstrata qualidade: o preço ou forma monetária de expressão desse valor abstrato. Esta redução do trabalho vivo a valor de troca aparece, graças a sua forma mercantil-monetária, como uma simples transação comercial entre partes formalmente livres e iguais, isto é, como um ato perfeito de “justiça comutativa”. Porém, essa aparente igualdade oculta uma realidade essencialmente desigual: o consumo ou a exploração do trabalho vivo, mediante a utilização, mais completa possível, das três diferentes formasem que o mesmo se efetiva: “subjetiva, ativa e individual.” (MICHEL, 1990).
Notas
1 As empresas de vigilância particular empregam no Brasil um contin-gente de 2,5 milhões de vigilantes, muitos deles armados. Só no Estado de São Paulo, estima-se que operam umas l.600 empresas de vigilância privada, das quais, aproximadamente, l.200 seriam irregulares(“Insegurança privada”, editorial da . Folha de S. Paulo, de 12/5/2004)
2 O credo neoclássico “repousa – segundo Bourdieu (2001, p. 32), numa filosofia da ação, o individualismo metodológico, que não quer e não pode conhecer senão as ações ciente e conscientemente calcu-ladas de agentes isolados, visando fins individuais e egoístas”.
3 Vide Bourdieu, (2001, p. 31)
Referências
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15.10.07
É MUITA HISTÓRIA
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM742836-7823-E+MUITA+HISTORIA+PARA+UM+MARECHAL,00.html
10.10.07
4.10.07
O PROGRESSO TÉCNICO NA IDADE MÉDIA
Ênio José Toniolo
Em geral, os historiadores mostram grande má vontade para com o período medieval: Teria sido uma época de superstição e atraso, estagnação e crueldade. É uma visão certamente preconceituosa, causada pelo ódio à influência exercida naquela época pela Igreja Católica tradicional, de cujo espírito estavam impregnadas, em maior ou menor grau, todas as instituições.
Todavia, a Idade Média foi época de muitos inventos, grandes e pequenos, de cuja origem às vezes não se suspeita. Vejamos, por exemplo, o setor de transportes.
Com o desenvolvimento dos mastros, a junção da vela latina e da vela quadrada, a multiplicação dos remadores nas galeras, o reforço do casco por meio de um esporão robusto, obtiveram-se melhores condições de nevegabilidade. (Perroy, 1957 : 177). Contudo, maior progresso alcançou-se no século XIII, ao generalizar-se o leme de cadaste, que veio substituir o pesado remo situado na popa do navio, permitindo uma direção mais segura de embarcações muito maiores. (Wolff, 1988: 146; Heers, 1968 : 255). “Devido à pressão exercida pela vela de proa sobre o leme, tornou-se necessário um certo contrapeso mais a ré. Isso levou ao acréscimo de um terceiro mastro na popa conhecido como mastro de mezena. A primeira ilustração datada de uma carraca de três mastros é de 1466. No final da Idade Média algumas dessas embarcações tinham 60 metros de comprimento com uma boca de 15 metros e uma capacidade de cerca de 1.400 toneladas.” (Hodgett, 1975 : 131) A invenção do leme (desconhecido na civilização greco-romana) e da bússola provocaram o ciclo das descobertas dos séculos XV e XVI. (Fonseca, 1958 : 273-274). É quando aparecem as primeiras cartas marítimas (Giordani, 1993 : 324), invenções que, associadas ao astrolábio, permitiram a navegação em alto-mar. (Vianna, 1962 : 620). Atribui-se ao Papa Silvestre II a invenção, ou talvez a introdução, a partir do mundo islâmico, do astrolábio “para medir a altura dos astros sobre o horizonte, da esfera sólida destinada a estudar os movimentos ce-lestes e do primeiro relógio mecânico acionado por pesos. As conseqüências foram incalculáveis.” (Puiggrós, 1965 : 173). O astrolábio, de início ainda rudimentar, aperfeiçoou-se pouco a pouco: Presença dos azimutes, aparecimento do ostensor, exatidão na graduação da eclíptica. (Beaujouan, 1959 : 130). Em 1434, surge a caravela em Valença. (Wolff, 1988 : 237). Nos Países Baixos, apareceu a eclusa; constituída por uma câmara com portas em cada extremidade, possibilitava a passagem da embarcação de um nível de água para outro. Canais e eclusas surgiram em Flandres e na Holanda já no século XII. (Hodgett, 1975 : 132).
No século XI, os europeus começaram a usar ferraduras nos animais; isto lhes aumenta a vida útil e, com a utilização da carreta de quatro rodas, possibilita um distanciamento maior entre a aldeia e os campos. (Silva, 1986 : 47). “Do século X ao século XII, generaliza-se no Ocidente o moderno atrelamento dos animais, a coelheira dura, os tirantes, a disposição em fila e a ferragem com pregos: desde então os cavalos podem tirar com toda a sua força e peso, em vez de erguerem a cabeça, semi-estrangulados, como ‘os altivos corcéis’ da Antiguidade. (...) o jogo dianteiro móvel data do século XIV e permitirá a tração das peças de artilharia recém-inventadas.” (Beujouan, 1959 : 143). A adoção generalizada da coelheira possibilitou o atrelamento aos arados de cavalos em lugar de bois, uma mudança que ocorreu por volta de 1200. Os bois também passaram a ser utilizados com maior eficiência através da invenção da canga frontal, pois esta deu-lhes mais força de tração que a anterior, presa nos chifres. (Hodgett, 1975 : 220). Surge um pequeno objeto, na aparência evidente — mas totalmente desconhecido na Antiguidade: o estribo, graças ao qual o cavaleiro podia empunhar a sua arma com muito mais força e confiança. (Trevor-Roper, 1966: 102-104).
A pavimentação das estradas, mais fácil e mais econômica, substitui com vantagem o lajeamento das vias romanas. O São Gotardo, por tanto tempo intransponível, transformou-se em via de trânsito, através da primeira ponte pênsil de que se tem conhecimento, datada provavelmente do início do século XIII. (Pirenne, 1982 : 39). Por outro lado, o túnel de estrada mais antigo, o do Monte Viso, com de cerca de cem metros, foi construído entre 1478 e 1480, com a finalidade de facilitar o transporte do sal da Provença. (Wolff, 1988 : 144). Foi inventado também esse aparelho extraordinário, o carrinho de mão, que permite a um homem realizar o trabalho de dois. (Fremantle, 1970 : 125; Vianna, 1962 : 621)
Nas cidades, a calçada destinada aos pedestres introduziu-se a partir de 1185 em Paris, 1235, em Florença, 1310, em Lübeck. (Mumford, 1965 : 401). As ruas largas não eram necessárias, “pois havia pouco tráfego sobre rodas, e nenhum exigia trânsito rápido.” (Hodgett, 1975 : 71). São também criações medievais a chaminé doméstica, a vela e o círio. (Vianna, 1962 : 621)
A partir do século X, os cursos d’água são regulados, cortados por desvios, barragens e quedas destinadas a movimentar moinhos de cereais e lagares. A roda d’água era tão utilizada que na Inglaterra de Guilherme o Conquistador (século XI) contavam-se cinco mil. Foi usada em toda a parte, para bombear água, serrar madeira, pulverizar o pigmento das tintas e o malte da cerveja, acionar máquinas, triturar minérios, forjar ferro, espichar arames... Com ela, a escavação das minas ultrapassou em muito os 800 metros de profundidade. (Puiggrós, 1965 : 179; Hodgett, 1975: 28). Aprimoraram-se as engrenagens e outros dispositivos mecânicos. Surge o fole com placas e válvulas. “No fim da Idade Média, o alto-forno possibilitou a fabricação do ferro fundido. Essa foi a invenção mais importante da indústria metalúrgica. O bronze, uma liga de cobre e estanho, com um ponto de fusão mais baixo que o ferro, era fundido desde os começos do século XII e utilizado na fabricação de sinos e estátuas.” (Hodgett, 1975 : 189). “A fabricação de um sino exigia técnica especial para que o mesmo produzisse um som adequado. O fundidor deveria, antes de iniciar o trabalho, calcular o tamanho do sino e as proporções exatas.” (Giordani, 1993 : 159).
A partir do século XII, explorou-se outra fonte de energia: o vento. Os moinhos de vento são mencionadas em Arles pela primeira vez entre 1162 e 1180. (Hodgett, 1975 : 222). No século XIII, já se comprova a existência de moinhos de maré na foz do Adour, perto de Bayonne. (Giordani, 1993 : 158).
O primeiro poço artesiano conhecido foi perfurado em 1126. Entre as inovações medievais, aparecem também a sericultura (introduzida na Sicília por volta de 1130), a falcoaria, o arenque defumado e a “champanhização” do vinho branco. (Beaujouan, 1959 : 144).
Na indústria doméstica, a roca substitui o fuso para enrolar a estriga. E a partir de 1280, “a roda de fiar ( provavelmente uma das grandes invenções da indústria têxtil) compete com a roca e o fuso, os quais possibilitaram às mulheres trabalhar enquanto supervisionavam outras atividades. No século XIV, o linho é pela primeira vez empregado na confecção de roupas brancas, em oposição aos grosseiros panos de lã até então usados, o que acarreta uma melhoria na higiene e o retrocesso da lepra; fornece também matéria-prima barata para a indústria papeleira trazida da China no século XIII. (Beaujouan, 1959 : 144; Hodgett, 1975 :161). A introdução do tear horizontal de pedal provavelmente triplicou a produtividade dos lanifícios. (Anderson, 1982 : 215). Em fins do século XII, surge um invento no processo de tecelagem da lã: O pisão, que substituiu a pisagem de pés humanos pela batida de martelo sobre o tecido. Um tambor giratório, preso ao eixo de uma roda d’água, acionava os martelos. Outra invenção foi a máquina cardadora, constituída por um conjunto de rolos com cardas, movimentado também pela força hidráulica. (Hodgett, 1975 : 160, 177). O moinho mecânico de dobar a seda parece ter surgido na Itália no fim do século XIII. (Wolff, 1988 : 100). Além disso, foram inventados o botão e a camisa.
O álcool aparece em Salerno por volta de 1110 e sua fabricação melhora rapidamente, com o emprego de desidratantes, como o carbonato de potassa. Além disso, a técnica da destilação aperfeiçoa-se, empregando-se o alambique clássico cujo escoadouro tubular, em forma de serpentina, mergulha numa cuba para a circulação da água. (Beaujouan, 1959 : 144-145). Em Toulouse, fabrica-se aguardente no começo do século XV, “o último grande século do comércio de vinho. Concorrentes vão aparecer e desenvolver-se: em primeiro lugar a cerveja, que se aprende a fabricar melhor na Alemanha no século XIV, com a utilização do lúpulo.” (Wolff, 1988 : 89).
Alberto Magno (1183-1280) conseguiu preparar a potassa cáustica. Foi o primeiro a descrever a composição química do cinabre, do alvaiade e do mínio. Raimundo Lúlio (1235-1315) preparou o bicarbonato de potássio. Teofrasto Paracelso (1493-1541) descreveu o zinco, desconhecido até então. Introduziu igualmente na medicina o uso dos compostos químicos.
Os óculos para corrigir a miopia aparecem por volta de 1285; primeiro, de cristal de rocha, depois de vidro. Nos séculos seguintes, outros artesãos iriam melhorar as lentes, de onde resulta-riam o telescópio e o microscópio. (Fremantle, 1970 : 149).
Os relógios mecânicos de peso difundem-se no fim do século XIII. No século XV surgem os relógios de areia, ou ampulhetas. (Wihthrow, 1993 : 119)
O estilo gótico, na arquitetura, surge como um progresso essencialmente técnico, que consistia numa diminuição das pressões exercidas pelas abóbadas, as quais podiam elevar-se pelo afilamento das flechas e o equilíbrio dos arcobotantes leves (filhos da ciência dos números, inven-tados em Paris em 1180 para erguer mais alto a nave de Notre-Dame) e colunas com coruchéus. As abóbadas atingem alturas cada vez maiores: 32 metros em Paris, 37 em Chartres , 42 em Amiens, 48 em Beauvais! Acessoriamente, a abóbada melhorava os valores acústicos dum edifício destinado à execução do canto coral. Por sua vez, o adelgaçamento das paredes fez desabrochar a técnica do vitral, cujo emprego fora até então limitado pela estreiteza das aberturas românicas; os vãos puderam alargar-se, havendo mais espaço para as janelas e, assim, as igrejas tornam-se mais iluminadas. No período que vai de 1170 a 1270 construíram-se na França mais de 500 grandes igrejas góticas. (Fremantle, 1970 : 127; Duby, 1979 : 121, 281; Perroy, 1957 : 166-167) . Aliás, a herança mais duradoura da Idade Média é sua arquitetura. Os castelos são em sua maioria ruínas impressionantes; as catedrais continuam de pé, desafiando os séculos. (Ferguson, 1970 : 220).
No domínio das obras públicas, mencionam-se as pontes com arcos em segmento, as comportas e as dragas. (Beaujouan, 1959 : 145-146)
A contabilidade ganha em clareza com a adoção do método veneziano das duas colunas, frente a frente (crédito e débito); mas sua transformação mais importante consistiu nas partidas dobradas que, provavelmente, surgiram simultaneamente em várias cidades italianas entre 1250 e 1350. Elas não precisarão sofrer, até o fim do século XIX, senão pequenas alterações de detalhe. A letra de câmbio aparece no século XIII. (Wolff : 1988 : 126). Os cambistas examinavam e pesavam as moedas; do “banco” onde eles realizavam essa operação surgiu a instituição bancária, e as variadas práticas financeiras nasceram desse serviço primitivo de câmbio de dinheiro. (Fremantle, 1970 : 74). O seguro marítimo está presente em documentos genoveses desde o século XII. (Pirenne, 1982 : 124).
As feiras, existentes desde o século XI, eram centros de intercâmbio em grande escala , que se esforçavam em reunir o maior número possível de homens e produtos. (Pirenne, 1982 : 102).
Foram fundadas no século XIII, algumas organizações postais privadas. Em 1357, dezessete companhias florentinas fundaram a ‘Scarsella dei Mercanti Fiorentini’ que mantinha, toda semana, um correio comum e nos dois sentidos com Avignon. Foi a primeira companhia postal conhecida, cujos estatutos foram conservados. (Wolff, 1988 : 156).
“Em 1305, para uniformizar as medidas em certos negócios, o rei Eduardo I, da Inglaterra, decretou que fosse considerada como uma polegada a medida de três grãos secos de cevada, colocados lado a lado. Os sapateiros ingleses gostaram da idéia e passaram a fabricar, pela primeira vez na Europa, sapatos em tamanho padrão, baseados no grão de cevada.” (Superinteressante, São Paulo, 2 : 13, fev. 1988).
A obra medieval de Beda contém a primeira investigação científica das marés, envolvendo o mais antigo estudo sobre o intervalo médio entre o momento da maré cheia e o do trânsito anterior do meridiano pela lua. (Whithrow, 1993 : 90).
“A primitiva lavoura utilizava, no Médio Oriente e no Mediterrâneo, o sistema da ‘sulcagem’: um espigão, com a ponta virada para baixo, puxado por uma junta de bois, primeiro numa direção, depois transversalmente, arroteava um lote quadrado de terra. Este método era suficiente para os terrenos leves e secos. Mas, nos solos húmidos e pesados do norte da Europa, esse tipo de arado era inadequado, exceto nos outeiros bem drenados. Por conseguinte, a agricultura foi, a princípio, praticada apenas em zonas muito limitadas. Na Idade Média, começou a generalizar-se, gradualmente, pelo Norte da Europa, um novo tipo de arado. Tratava-se de um arado pesado com lâmina e relha para fender o solo e uma aiveca para voltar os torrões para os lados e abrir um sulco, drenando desse modo o terreno, ao mesmo tempo que o lavrava.” (TrevorRoper, 1966 : 121-122; Heers, 1968 : 121). Começa-se a utilizar a grade; revolvido mais amplamente, melhor arejado, o solo absorve melhor a marga, uma argila que contém carbonato de cálcio e, quando misturada à camada superior do solo, mostra-se um fertilizante valioso. (Perroy, 1957 : 23-24). A irrigação (de pastos e terras de lavoura) começou a ser empregada em larga escala e a Itália provavelmente abriu o caminho. Na Idade Média, outra invenção, o mangual, que substituiu a vara de bater, aperfeiçoa o processo de debulha. (Hodgett, 1975 : 29, 221; Mumford, 1965 : 337).
Nesse período, além das plantas cultivadas nos tempos clássicos, foram aprimorados: A espelta, o centeio, a aveia e o fagópiro. Além do sorgo, outras culturas foram introduzidas na região mediterrânea, pelos gregos ou árabes: Arroz, cana-de-açúcar, algodão e amoreira. (Hodgett, 1975: 30, 225). O pousio trienal e, a partir do século VIII, o sistema de três plantações alternadas, permitem a aclimatação de novas culturas e aumentam acentuadamente a produção agrícola.
Seria o mundo medieval um inferno de misérias? Descobre-se o contrário a partir de um levantamento referente à cidade de Toulouse, onde, em 1322, havia 177 açougueiros, ou seja, um para cada 226 habitantes, “para uma população máxima de 40.000 almas — cerca de duas ou três vezes mais que hoje; e alguns figuravam entre os comerciantes mais ricos da cidade.” (Wolff, 1988 : 82-83). A conserva do arenque no sal foi descoberta em 14l6, por Willem Beeckelz. (Fonseca, 1958 : 314). “Apareceram as boas maneiras, a ‘etiqueta’, a faca passou a ser um componente da mesa, assim como o garfo, que acabou se tornando um utensílio doméstico após a peste negra (1348-1349).” (Villa, 1998 : 10).
“Já em 1159, os primeiros pôlderes, porções de terra tomadas aos alagadiços ou ao mar por meio de diques, foram criados em Flandres.” (Mumford, 1965 : 336). A maior parte dos diques holandeses foi construída entre os anos de 1250 e 1350. Em 1408, aparece o primeiro exemplo conhecido de moinho de vento para bombear a água dos pôlderes.
Depois da manivela — descoberta de importância fundamental — ocorreu a invenção alemã da biela, peça rígida com duas articulações para transformar o movimento rotativo em alternativo. Começaram a utilizar-se ferramentas, como a plaina, e passou-se a usar o carvão como combustível. Diversas invenções, como a cola e o papel, foram transmitidas pela China à Europa. (Whithrow, 1993 : 102, 109). A tinta romana para escrever, feita do negro da fumaça com goma e água, não tinha fixadores; era uma tinta moída; ao passo que a utilizada na Idade Média se fazia por infusão, com goma, pedra-ume e resina de carvalho. (Spina, 1977 : 30-31).
Vê-se, portanto, que a Idade Média, ao contrário do que muitos imaginam, foi extremamente fecunda em avanços técnicos.
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