29.6.08

WALLPAPERS

Muralha da China.

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São Pedro liderou cristãos romanos, mas nunca foi papa, dizem historiadores.

Reinaldo José Lopes Do G1, em São Paulo.

Na época do santo, liderança das igrejas cristãs era 'compartilhada' por anciãos.Papado 'monárquico' surgiu séculos mais tarde; martírio em Roma é provável.

Católicos do mundo todo vêem São Pedro como o protótipo dos papas, o homem que fundou a sucessão ininterrupta de líderes da Igreja que chega até Bento XVI, mas o papel real do "príncipe dos apóstolos" provavelmente foi bem mais modesto, afirmam historiadores. Embora seja bem possível que Pedro tenha vivido, pregado e morrido em Roma, ele não fundou um governo centralizado da igreja romana, o qual demorou séculos para emergir.

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Mais importante ainda, embora a igreja de Roma tenha conquistado desde cedo uma posição de destaque entre as comunidades cristãs espalhadas pela bacia do Mediterrâneo, as outras igrejas não creditavam o prestígio romano ao "papado" de Pedro, mas ao fato de que tanto ele quanto seu companheiro de apostolado, São Paulo, haviam pregado a palavra de Jesus e morrido em Roma. É o que diz um texto escrito por volta do ano 180 pelo líder cristão Irineu de Lyon.

Segundo Irineu, a comunidade de Roma havia sido "fundada e organizada pelos dois gloriosos apóstolos, Pedro e Paulo". "Para Irineu, a competência da igreja de Roma provinha de sua fundação pelos dois apóstolos, Pedro e Paulo, não só por Pedro", resume o historiador irlandês Eamon Duffy, da Universidade de Cambridge, em seu livro "Santos e Pecadores: História dos Papas".

Chegando mais tarde
Na verdade, a situação era ainda mais complicada do que Irineu imaginava. Tudo indica que a comunidade cristã de Roma foi fundada por um anônimo seguidor de Jesus, provavelmente um judeu da Palestina que se juntou aos dezenas de milhares de membros da comunidade judaica da capital do Império Romano. São Paulo, ao escrever para os cristãos de Roma na década de 50 do século 1, em nenhum momento menciona a presença de Pedro na cidade.

No entanto, sabemos pelos Atos dos Apóstolos, livro do Novo Testamento escrito no fim do século 1, que Paulo acabou indo para a cidade para ser julgado pelo imperador romano num processo que estava sofrendo. E outros textos, também do fim do século 1 e começo do século 2, dão conta de que tanto Paulo quanto Pedro foram mortos durante a perseguição contra os cristãos ordenada pelo imperador Nero entre os anos 64 e 67. A tradição sobre o martírio é relativamente próxima dos eventos, embora não esteja registrada na Bíblia, e há pouca razão para duvidar que os santos morreram mesmo na Cidade Eterna. Pescador impetuoso
Para o padre e historiador americano John P. Meier, professor da Universidade Notre Dame e autor da monumental série "Um Judeu Marginal" (ainda não concluída) sobre a figura histórica de Jesus, o Novo Testamento traz uma série de informações importantes e confiáveis sobre Pedro. Originalmente, ele era um pescador da Galiléia (norte de Israel), casado, e aderiu ao grupo de discípulos de Jesus junto com seu irmão André. O nome de seu pai era João ou Jonas, e seu nome original era Simão.

O mais provável é que Jesus tenha dado a ele o apelido aramaico de Kepa (ou Kephas, como escreve São Paulo), "a pedra" ou "a rocha", depois traduzido como Petros, ou Pedro, em grego. Todos os evangelistas o apresentam como o principal membro do grupo dos Doze Apóstolos, ou como o porta-voz deles, e também retratam-no como um homem ao mesmo tempo generoso, extremamente apegado a Jesus, cabeça-dura (talvez uma relação irônica com seu apelido), indeciso e dado a súbitas mudanças de opinião.

Em suas cartas, São Paulo relata um relacionamento tempestuoso com Pedro. Ao se converter à fé em Jesus (Paulo, judeu com cidadania romana, antes perseguia os cristãos), Paulo teria passado alguns anos sozinho até ir a Jerusalém e falar com Pedro e outros apóstolos. Depois, conseguiu convencer o grupo original de seguidores de Jesus que os pagãos também poderiam ser convertidos, mas entrou em conflito com Pedro, chamando-o de hipócrita. É que Pedro foi visitar a comunidade cristã de Antioquia, na Síria, e inicialmente fazia suas refeições com os crentes de origem pagã, coisa proibida pela lei judaica. No entanto, quando outros judeus cristãos apareceram na cidade, ele parou de fazê-lo, o que provocou a reprimenda de Paulo.

As chaves do Reino dos Céus
Há indícios de que, antes de ir para Roma, o santo passou por Antioquia e por Corinto, na Grécia. No entanto, o momento definidor de sua carreira como "papa", segundo os apóstolos, teria acontecido ainda durante a vida de Jesus. Segundo o Evangelho de Mateus, Pedro teria dado mostras impressionantes da fé em seu mestre eu declarar a ele: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Jesus, então, teria prometido a Pedro a liderança de seus seguidores: "Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. Darei a ti as chaves do Reino dos Céus". John P. Meier afirma que a "profissão de fé" extraordinária de Pedro provavelmente é um fato histórico, por estar registrada nas diversas fontes usadas pelos evangelistas para compor suas narrativas. Também não duvida do papel de liderança de Pedro na Igreja primitiva. No entando, diz acreditar que a promessa de Jesus não é histórica, justamente porque ela usa a expressão "igreja" -- que praticamente não aparece nos textos do Novo Testamento que tratam da vida de Jesus. Para ele, Mateus "retrojeta" uma situação da Igreja primitiva para a época em que Cristo ainda estava vivo.

Mais importante ainda para a questão do "papado" de Pedro, escreve Eamon Duffy, é o fato de que Roma aparentemente não tinham um bispo único até por volta do ano 150, ou seja, quase um século após a morte do apóstolo. É bom lembrar que, originalmente, o papa era o bispo de Roma, que recebia especial atenção de seus pares por governar a comunidade cristã onde tinham sido martirizados Pedro e Paulo. No entanto, vários documentos do começo do século 2, escritos para a comunidade de Roma e por membros dela, em nenhum momento fazem menção a um bispo, mas apenas aos "anciãos da igreja" ou "dirigentes da igreja".

Para Duffy, a explicação mais provável é que a unificação do comando da igreja romana nas mãos de um só bispo veio mais tarde, por causa de uma série de pressões externas e internas, entre elas o surgimento de heresias poderosas, que contrariavam os ensinamentos cristãos originais. Como forma de defesa, as igrejas, entre elas a de Roma, teriam instituído a "monarquia" dos bispos.
Fonte: G1.

28.6.08

Folha da Memória

Ano 1, n.10. junho de 2008


Apartheid
Apesar do apartheid, enquanto política oficial de Estado, ter sido extinto na África do sul na década de 1990, ainda presenciamos nos noticiários e na vida do dia-a-dia um apartheid social, para não entrar no mérito “racial”.
O apartheid de Estado foi posto em prática, em forma de lei, entre os anos 1948 e 1993 na África do Sul. Ele é traduzido como “vidas separadas” ou, simplesmente, como “separação” em africâner (língua dos sul-africanos).
Para ser mais exato foi em 29 de junho de 1948 que o Partido Nacional Sul-Africano venceu as eleições presidenciais com o slogan: apartheid. Em um país com apenas 30% de “brancos”, os ditos negros foram mantidos décadas a margem da sociedade de direito. A legitimidade racial do homem branco europeu prodominou nos anos em que o apartheid foi uma política legítima de Estado. A partir de 1948 os negros foram legalmente excluídos dos territórios destinados aos brancos: as terras mais férteis e as zonas urbanas mais ricas econômica e culturalmente eram “de direito” dos brancos.
Bairros nobres, praias, bibliotecas, cinemas, restaurantes, teatros, eram destinados aos brancos. O negro só poderia frequentar os lugares dos brancos portando um passe especial, ou caso estivesse trabalhando para um branco. O casamento entre negros e brancos era proibido. Um negro deveria sempre dar lugar ao branco, sair de sua frente caso estivesse na mesma calçada, ou ocupasse um lugar em um ônibus destinado aos brancos. Aliás os ônibus dos negros viviam lotados, enquanto os dos brancos sobravam lugares. Já na escola o aluno negro consumia apenas um décimo dos recursos consumidos por uma criança branca.Universidade para o negro nem pensar!
O que sustentava esta política de segregação? A história e a ideologia. A história da África do Sul nos dá a ver todo um processo de colonização, que começou com os holandeses, ao ocupar o Cado da Boa Esperança no século XVII, e continuou com os ingleses, que no começo do século XX se apropriaram daquela região.
O domínio histórico se deu pelas políticas (e pelas armas) dos imperialistas, mas também por uma mentalidade controladora. Ou seja, o domínio político e econômico das nações imperialistas foi acompanhado por uma ideologia racial - pela idéia de superioridade dos brancos européus sobre os demais povos do globo: os africanos, asiáticos e americanos. (Aliás, apesar da abolição da escravidão africana ter acontecido durante o século XIX, a ideía de superioridade racial ainda sobrevive.) Quantos negros presidentes, astronáutas, cientístas, professores universitários, médicos, advogados, conhecemos?
Até a eleição de Nelson Mandela, em 1994, a diferença entre brancos e negros foi marcada nos espaços da África do Sul. Mas, infelizmente, a segregação ainda é uma prática, não só a dita racial, mas também social, entre ricos e pobres.
*
Não deixe de ler o texto: “Educação a distância, a tecnologia do século” do acadêmico Edvânio Arceno.

Thiago Sayão




















O Apartheid
Em 29 de junho de 1948, o Partido Nacional Sul-Africano ganha as eleições, usando como slogan a palavra apartheid (separação, em africâner). O sistema tradicional de segregação racial trouxe educação segregada, proibição de casamentos interraciais e deportações arbitrárias de negros considerados indesejáveis.


Uma das grandes vergonhas do século XX











Até mesmo os banheiros eram diferentes para negros e brancos


Em 1487, quando o navegador português Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, os europeus chegaram à região da África do Sul. Nos anos seguintes, a região foi povoada por holandeses, franceses, ingleses e alemães. Os descendentes dessa minoria branca começaram a criar leis, no começo do século XX, que garantiam o seu poder sobre a população negra.
A África do Sul foi uma região dominada por colonizadores de origem inglesa e holandesa que, após a Guerra dos Boeres (1902) passaram a definir a política de segregação racial como uma das fórmulas para manterem o domínio sobre a população nativa. Esse regime de segregação racial - conhecido como apartheid - começou a ficar definido com a decretação do Ato de Terras Nativas e as Leis do Passe.
“O Ato de Terras Nativas” forçou o negro a viver em reservas especiais, criando uma gritante desigualdade na divisão de terras do país, já que esse grupo formado por 23 milhões de pessoas ocuparia 13% do território, enquanto os outros 87% das terras seriam ocupados pelos 4,5 milhões de brancos. A lei proibia que negros comprassem terras fora da área delimitada, impossibilitando-a de ascender economicamente ao mesmo tempo que garantia mão-de-obra barata para os latifundiários brancos.
Nas cidades eram permitidos negros que executassem trabalhos essenciais, mas que viviam em áreas isoladas (guetos). As “Leis do Passe” obrigava os negros a apresentarem o passaporte para poderem se locomover dentro do território, para obter emprego. Essa política de segregação racial ganhou força e foi oficializada em 29 de junho de 1948, quando o Partido Nacional, dos brancos, assumiu o poder. A segregação consolidou-se com a catalogação racial de toda criança recém nascida, com a Lei de Repressão ao Comunismo e com a formação dos Bantustões em 1951, que eram uma forma de dividir os negros em comunidades independentes, ao mesmo tempo em que estimulava-se a divisão tribal, enfraquecia-se a possibilidade de guerras contra o domínio da elite branca.
O apartheid atingia a habitação, o emprego, a educação e os serviços públicos. Os casamentos e relações sexuais entre pessoas de raças diferentes eram ilegais. Os negros geralmente trabalhavam nas minas, comandados por capatazes brancos e viviam em guetos miseráveis e superpovoados.
Para lutar contra essas injustiças, os negros acionaram o Congresso Nacional Africano (CNA), uma organização negra clandestina, que tinha como líder Nelson Mandela. Após o massacre de Sharpeville, o CNA optou pela luta armada contra o governo branco, o que fez com que Nelson Mandela fosse preso em 1962 e condenado à prisão perpétua. A partir daí, o apartheid tornou-se ainda mais forte e violento.
A partir de 1975, com o fim do império português na África, lentamente começaram os avanços para acabar com o apartheid. A comunidade internacional e a Organização das Nações Unidas (ONU) faziam pressão pelo fim da segregação racial. Em 1991, o então presidente Frederick de Klerk não teve outra saída: condenou oficialmente o apartheid e libertou líderes políticos, entre eles Nelson Mandela.
A partir daí, outras conquistas foram obtidas: o Congresso Nacional Africano foi legalizado, De Klerk e Mandela receberam o Prêmio Nobel da Paz (1993), uma nova Constituição não-racial passou a vigorar, os negros adquiriram direito ao voto e em 1994 foram realizadas as primeiras eleições multirraciais na África do Sul e Nelson Mandela se tornou presidente da África do Sul, com o desafio de transformar o país numa nação mais humana e com melhores condições de vida para a maioria da população.
A África do Sul é um país de grande importância estratégica para o mundo ocidental. Ao longo de sua costa viajam quase todos os navios que transportam petróleo para o Ocidente. É rica em ouro, diamantes, carvão, ferro, minérios, cromo e urânio, vital para a indústria militar. Tem uma população de aproximadamente 44 milhões de pessoas, sendo 85% negros.
Fontes: Ibge.gov.br Historianet.com.br
Disponível em http://www.unificado.com.br/calendario/06/apar.htm Acesso em 26 de junho de 2008.




Apartheid
Origem histórica da segregação racial na África do Sul
Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação


Para uso de pessoas brancas, diz a placa da época do apartheid



O termo apartheid significa "separação" ou "identidade separada". Serviu para designar o regime político da África do Sul que, durante décadas, impôs a dominação da minoria branca (ou aristocracia branca) sobre grupos pertencentes a outras etnias, compostos em sua maioria por negros.O apartheid não deve ser interpretado como simples "racismo", pois ele foi um sistema constitucional de segregação racial que abrangeu as esferas social, econômica e política da nação sul-africana estabelecendo critérios para diferenciar os grupos.A origem histórica do apartheid é bem antiga e remonta ao período da colonização da África do Sul. Os primeiros colonizadores bôeres (também denominados de afrikaner) compunham-se de grupos sociais europeus que vieram da Holanda, França e Alemanha e se estabeleceram no país nos séculos 17 e 18.
Ideologia nacionalista
Esses colonizadores dizimaram as populações autóctones (grupos tribais indígenas) e tomaram suas terras. Os líderes afrikaners manipularam e converteram um preceito religioso cristão, que a princípio estabelecia a segregação como uma forma de defender e preservar as populações tribais da influência dos brancos, em uma ideologia nacionalista que pregava a desigualdade e separação racial.Os afrikaners se consideravam a verdadeira e autêntica nação (ou volk, que em alemão significa povo). A cor e as características raciais determinaram o domínio da população branca sobre os demais grupos sociais e a imposição de uma estrutura de classe baseada no trabalho escravo.
Política racial
Nas regiões dominadas por eles estabeleceu-se uma política racial que diferenciou os europeus (população branca) dos africanos (que incluía todos os nativos não-brancos, também conhecidos por bantus). Até mesmo aqueles grupos sociais compostos por imigrantes asiáticos, em particular indianos, sofreram com a política de discriminação racial. Seria engano supor que a expansão do domínio dos afrikaners sobre a população não-branca da África do Sul foi um processo livre de conflitos. Pelo contrário, houve muitas guerras com as populações tribais que ofereceram resistência aos brancos, entre elas as tribos xhosa, zulu e shoto.No início do século 20, a África do Sul atravessou um intenso processo de modernização que intensificou os conflitos entre brancos e não-brancos. Não obstante, a minoria branca soube explorar os conflitos intertribais que afloravam entre os diferentes grupos étnicos e isso de certo modo facilitou a avanço e domínio dos afrikaners.
Disponível em http://educacao.uol.com.br/sociologia/apartheid-origem.jhtm Acesso em 26 de junho


Artigos


EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, A TECNOLOGIA DO SÉCULO

Por Edevânio Francisconi Arceno

Equivocadamente muitos relacionam a tecnologia com a informática, pois de que serviria um notebook a um morador do sertão da Paraíba, onde não tem nem energia elétrica. Uma bomba manual, para tirar água do poço, seria uma tecnologia ideal, bem melhor aproveitada e aceita pelo morador do sertão da Paraíba.
Mas não tenha dúvida, depois do invento da roda e da escrita, a informática é a maior referência tecnológica, principalmente com o advento da internet em 1969. Esta tecnologia transformou nossas vidas, direta ou indiretamente, facilitando o transporte, o trabalho, o lazer, propiciando mais moradias, saúde, segurança e principalmente na educação, onde gostaríamos de destacar os avanços tecnológicos.
Desde o tempo das Redes Bitnet e Hipnet, onde as Universidades do Rio de Janeiro e São Paulo interligavam-se com os Estados Unidos, apontavam para uma futura democratização da grande rede. A partir de 1993, praticamente todo o território brasileiro, já estava interligado, apesar do morador do sertão da Paraíba, ainda continuar sem a tecnologia da energia elétrica.
A tecnologia na Educação é muito abrangente, desde a climatização das salas de aula até catracas eletrônicas, que registram a entrada e saída dos alunos, mas sem dúvida o maior avanço tecnológico, foi a criação das Universidades de Ensino a Distância, que estreitaram virtualmente suas relações com os mais diversificados tipos de alunos.
Os desacreditados cursos por correspondência deram lugar as universidades virtuais, que receberam o aval do governo, até mesmo com a criação da TV escola, um canal de televisão do Ministério da Educação.
A pioneira mundial foi a universidade de Athabasca, Canadá, com milhares de alunos espalhados por 67 países. A maioria nunca pôs os pés no campus, em Athabasca. (ROCHEDO, 2005). Especialistas dizem que a partir de 2015, haverá uma explosão de universidades oferecendo cursos a distância. No Brasil, temos Katherine, ou simplesmente Kat, a caçula da Família Schurmann, mesmo navegando pelo mundo, estuda através dos módulos didáticos enviados pela instituição. Depois de fazer as provas, as redações e os trabalhos, envia via internet para a central da escola de Calvere –Baltimore, nos Estados Unidos, para correção.
Mas nem todos concordam com o ensino a distância, o Sr. Valdemar Setzer, professor titular do departamento de ciências da computação da USP, não vê com bons olhos, um relacionamento, virtual entre alunos e mestres, ele acredita que ninguém aprende fora de um ambiente estruturado como a sala de aula.
Gostaríamos de concluir, usando uma frase muito conhecida pelo povo brasileiro, que foi eternizada pelo presidente Lula –“Nunca na história deste país...”, houve tantos alunos universitários, esperamos que o ensino a distância, ganhe cada vez mais credibilidade. Instituições como a UNIASSELVI- Centro Universitário Leonardo da Vinci, vem cumprindo o seu papel, oportunizando às pessoas - que ficaram a margem das universidades devido ao alto custo, ou em virtude do ingresso prematuro no mercado de trabalho - uma chance de voltar a estudar. Nós, os universitários do ensino a distância, é que temos que provar, não apenas ao Sr. Valdemar Setzer, mas à nós mesmos, que o ensino ocorre de fato, independente da distância, e se chegou até nós também pode e deve chegar ao morador do sertão da Paraíba.

REFERÊNCIA
ROCHEDO, A. Se Você não vai a Escola... Revista Super Interessante, Rio de Janeiro, ed. 209, p.48-51, mar.2005.


Texto recebido dia 23 de junho de 2008.

23.6.08

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PIRÂMIDES DO EGITO









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PERSONAGENS HISTÓRICOS

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20.6.08

Falando de educação


ROBERTO TEIXEIRA DA COSTAO
Estudo levanta quatro lições que poderiam ser consideradas para a melhoria da educação no Brasil
A CONVITE do movimento Todos pela Educação, do qual participo e que apóio desde sua criação, assisti recentemente a uma interessante apresentação feita pela McKinsey, prestigiosa empresa de consultoria internacional, sobre o desafio da educação no mundo e as características comuns aos sistemas que têm os melhores resultados. As conclusões são extremamente provocativas e apontam como principais fatores para o sucesso escolar de países como Finlândia e Coréia não apenas o financiamento ou a infra-estrutura, mas principalmente a capacitação e a valorização do professor. O estudo começa comparando o investimento em educação feito por diversos países com os resultados obtidos nessa área. Os dados mostram que, apesar do aumento significativo de gastos dos países da OCDE (foram pesquisados: Bélgica, Reino Unido, Japão, Alemanha, Itália, França, Nova Zelândia e Austrália), os resultados estagnaram. Também nos EUA os resultados permanecem estáveis, apesar do aumento do gasto por aluno. Conclui-se, assim, que os bons resultados na educação não estão relacionados exclusivamente ao gasto na área. Investir é imprescindível, mas é preciso saber onde e como investir. Outro ponto interessante se refere ao impacto das diferenças socioeconômicas nas habilidades dos alunos. O estudo mostra que o processo de aprendizagem começa antes mesmo de a criança entrar na escola e fica claramente evidenciado que o número de palavras ouvidas pelas crianças de quatro anos irá fortemente impactar sua formação posterior. Além do investimento e dos estímulos, o relatório da McKinsey analisa a infra-estrutura escolar e afirma que 112 estudos examinaram os efeitos do tamanho de classe sobre o aproveitamento dos alunos e observaram um efeito não muito grande da diminuição do tamanho das classes. Esse aspecto realmente me surpreendeu, pois é muito repetido que o aumento das classes tem um efeito perverso no aproveitamento. O que teve grande impacto no resultado dos países observados, e que é o ponto principal levantado pelo relatório, foi o trabalho do professor. Nas palavras dos pesquisadores, "as variações da qualidade dos professores" superam totalmente qualquer efeito da alteração do tamanho das classes. E, partindo desse ponto, o estudo levanta quatro lições que poderiam ser consideradas para a melhoria da educação no Brasil. 1. A qualidade de um sistema educacional não pode ser maior que a qualidade dos seus professores. Uma das principais características comuns aos países com os melhores resultados na educação é a qualidade dos professores, e a qualidade se dá à medida que a profissão é valorizada. Nesses países, ser professor é grande meta dos universitários, fazendo com que o processo de seleção para a educação básica seja extremamente concorrido e selecione os profissionais mais preparados. Na Coréia, por exemplo, os universitários que conseguem vaga para a educação básica estão entre os 5% com melhor desempenho na universidade. Na Finlândia, são parte dos 10% em melhores notas e, em Cingapura, dos 30%. 2. A única maneira de melhorar os resultados é melhorar a instrução. O estudo mostra que a melhora na qualidade dos professores pode ter um impacto substancial nos resultados dos alunos em um curto período de tempo. Sistemas escolares excelentes atraem pessoas excelentes para os cursos. 3. Alto desempenho significa que todas as crianças devem ser bem- sucedidas. Os sistemas de alto desempenho pagam bons salários e não deixam que nenhum aluno fique sem aprender. A Coréia é um grande caso de sucesso, segundo os pesquisadores, os melhores professores coreanos são direcionados para as escolas com os maiores problemas e esse desafio é visto como forma de reconhecimento da capacidade desse professor. 4. Toda escola precisa de um grande dirigente. Além de bons professores, os sistemas de alto desempenho recrutam e formam excelentes diretores de escola. Cingapura é um bom exemplo. Ouvindo tudo isso, fica a pergunta: será que, no caso brasileiro, teremos condições de alçar um salto qualitativo na educação? Os resultados apresentados na última semana pelo Ministério da Educação, com a divulgação do Ideb 2007 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), mostram que ainda há um longo caminho pela frente, mas que os bons resultados estão começando a aparecer. O país conseguiu não só superar as metas estabelecidas para 2007 mas também alcançar as metas de 2009. Os bons resultados são fruto do alinhamento que vem ocorrendo no país, ao colocarmos o foco do trabalho no aprendizado do aluno, realizando avaliações e traçando planos de ação estruturados. E de um fator que vem ganhando força: a conscientização, por parte dos diferentes segmentos da sociedade, de que temos que juntar esforços para buscar resultados, crença absoluta do movimento Todos pela Educação.
ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA, 73, economista, é sócio-fundador da Prospectiva Consultoria Brasileira de Assuntos Internacionais e membro do Todos pela Educação. Foi presidente do Conselho de Empresários da América Latina (1998-2000).

Matéria capturada no site: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2006200808.htm , acesso em 20 de junho de 2008.

Folha da Memória

Ano 1, n.9. junho de 2008

Imigrantes japoneses no Brasil

O que leva uma pessoa a deixar sua terra natal para tentar a vida em outro lugar? Esta é a primeira pergunta que temos que fazer para compreender a viajem de 52 dias dos japoneses para o Brasil em 1908.

O Japão nessa época tinha recém saído do regime feudal de produção para entrar no regime capitalista. Houve, assim, um acelerado êxodo do campo para as cidades, que acabaram saturadas de trabalhadores rurais desempregados. Uma onda de miséria se instaulou no país. Qual a solução do governo japonês? Foi isso mesmo, a solução mais fácil: incentivar a saída dessas pessoas sem trabalho e sem dignidade.

Por outro lado, no Brasil do café faltava mão-de-obra para as lavouras do suldeste. O trabalho escravo tinha recém sido extinto oficialmente (1888) e o governo italiano impedira a imigração de seus cidadãos para o Brasil, justamente devido as péssimas condições de vida que os imigrantes estavam sujeitos por aqui. Uniu-se, então, a fome com a vontade de comer. O Japão com excesso de trabalhadores excluídos do processo de industrialização, e o Brasil carente de braços para o trabalho pesado no campo.

O primeiro naviu, segundo consta nos registros oficiais, que chegou no Brasil trazento imigrantes japoneses chamava-se Kasato Maru, ele aportou em Santos no dia 18 de junho de 2008. Por isso esse dia é lembrado como a data de comemoração da imigração japonesa no Brasil! Kasato Maru trouxe 781 pessoas ou 165 famílias. Eram imigrantes pobres, mas todos que desembarcaram estavam bem asseados e bem vestidos. Causaram uma ótima impressão logo na chegada.

Porém, antes do desembarque, eles não eram bem vistos pelos brasileiros. Havia um grande preconceito em relação aos asiáticos, considerados “negros amarelos” nos jornais da época. Eram vistos, na verdade, como uma raça inferior. Eram imigrantes indesejados, para uma elite letrada. Mas fundamentais para os latifundiários cafeicultores.

Os imigrantes, por sua vez, imaginavam enriquecer no Brasil e retornar em pouco tempo para a terra natal, mas isso não se realizou. Muitos contraíram dívidas nos armazéns dos proprietários das fazendas, além de terem que pagar as parcelas de suas passagens. Nesse sentido, as condições de trabalho não eram diferentes de outro imigrantes.

A cidade de São Paulo abriga hoje o maior número de descendentes de japoneses, são 326 mil dos 1,5 milhões nipo-brasileiros que vivem no Brasil. Hoje, a situação se inverteu. Os “dekasseguis” (termo derivado de “deru”, sair + “kasegu”, ganhar dinheiro) - nipo-brasileiros que migram para trabalhar temporariamente no Japão, saem do Brasil e vão para a terra de seus ancestrais em busca de melhores condições de trabalho e, consequentemente, de vida. Este movimento se intensificou na década de 1980, entre a quarta geração de descendentes de japonese. Porém, no extremo oriente estes viajantes não são considerados japoneses, são, na verdade, excluídos socialmente por não conhecerem as tradições culturais e a língua nipônica.
*
Não deixe de ler o na seção Atigos o texto do acadêmico Edevânio Francisconi Arceno.


Thiago Sayão






















Cartaz para atrair imigrantes japoneses para o Brasil

Disponível em http://www.santos.sp.gov.br/hotsites/centenario2008/images/fotos/cartaz.jpg Acesso em 19 de junho.



26.07.05
Dia Nacional da Imigração Japonesa
Lei institui data comemorativa












Foi publicada nesta terça-feira, dia 26 de julho, a Lei n.º 11.142, que cria o Dia Nacional da Imigração Japonesa, a ser celebrado no dia 18 de junho, data da chegada do vapor japonês Kasato-Maru, que trouxe oficialmente os primeiros imigrantes nipônicos para o Brasil. O ato foi assinado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e pelo ministro da Cultura interino, João Luiz Silva Ferreira.

















O navio que aportou em 1908 nas Docas de Santos, em São Paulo, trazia 781 japoneses reunidos em aproximadamente 158 famílias. Essa foi a primeira leva de imigrantes nipônicos, dos cerca de 260 mil que vieram a dar entrada no país no início do Século XX.
Atualmente, já existe a quinta geração de descendentes, os gosseis, e a comunidade japonesa ultrapassa 1 milhão de habitantes. A maioria está concentrada no estado de São Paulo (70%). O Paraná abriga mais 12%, o Mato Grosso 2,5% e o Pará mais de 1%.
A história da imigração japonesa no Brasil foi retratada no cinema pela diretora Tizuka Yamasaki nos filmes Gaijin, Caminhos da Liberdade (Brasil, 1980) e Gaijin 2, Ama-me como Sou (Brasil, 2003), que levaram às telas a saga dos descendentes dos imigrantes japoneses no Brasil.Um pouco da história dos japoneses

Com o final do Período Feudal no Japão, muitos ficaram sem trabalho. O governo decide incentivar a saída do país de seus cidadãos e cria a Companhia Imperial de Imigração. As relações diplomáticas entre o Brasil e Japão foram estabelecidas em 1895, data em que foi firmado o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre os dois países.
O Kasato-Maru chegou em 18 de maio de 1908 trazendo os primeiros japoneses para o Brasil, dando início a uma aventura em um país distante.

Os imigrantes trazidos pela Companhia Imperial de Imigração foram para as fazendas de café no interior do estado de São Paulo.

Vencidos os contratos de trabalho, grande parte dos trabalhadores mudou-se para o interior paulista ou para a região litorânea ao longo da estrada de ferro Santos-Juquiá. Outros se estabeleceram na periferia da capital.
Entre 1910 e 1914, chegaram do Japão cerca de 14.200 imigrantes e foram criadas dezenas de comunidades japonesas. O pico do fluxo de imigrantes acontece entre 1925 e 1935, quando mais de 140 mil vieram buscar uma nova vida por aqui.
A imigração foi interrompida por dez anos, com o advento da 2ª Guerra Mundial. Em 1959, os japoneses voltaram a se instalar no Brasil, mas em escala reduzida. Com a recuperação econômica do Japão, a imigração praticamente deixou de existir.(Marcelo Lucena/Comunicação Social do MinC)(Fotos: Divulgação)

Disponível em http://www.cultura.gov.br/noticias/noticias_do_minc/index.php?p=11009&more=1&c=1&pb=1 Acesso em16 de junho


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52 dias no mar
DIÁRIO DE BORDO
Leia íntegra do relato que Ryu Mizuno, mentor da imigração japonesa, escreveu durante a viagem do Kasato Maru ao Brasil.
28 de abril Terça-feira, céu limpoO vapor zarpou às 17h55.29 de abrilQuarta-feira, céu limpo30 de abrilQuinta-feira, céu limpo Às 10h avistou-se a ilha Suwase a estibordo, tendo o vapor seguido o seu trajeto.Pouca chuva ao entardecer.1º de maioSexta-feira, forte chuva pela manhã e depois céu limpo.2 de maioSábado, céu nubladoAvistou-se às 20h um farol giratório (Turn Abant).3 de maioDomingo, céu límpido Avistaram-se as ilhas Kyodai (Irmas) ao meio dia.Avistou-se a ilha Raba às 15h30.Falou-se que por alguns dias não se avistará nenhuma ilha no trajeto.4 de maioSegunda-feira, céu límpidoO calor está se tornando cada vez mais intenso.5 de maioTerça-feira, céu límpido Fez muito calor na noite anterior e muitos sofreram com isso.6 de maioQuarta-feira, céu límpidoHouve um foguista que esbravejou soltando palavrões na noite passada. É mister tomar cuidado, embora seja uma pequena ocorrência durante a calma em que transcorre a viagem.7 de maioQuinta-feira, céu límpido Consta que houve inquietação tanto da parte do foguista de plantão como entre os imigrantes.Nota do redator que fez a transcrição do manuscrito original para a versão impressa, em japonês: a inquietação foi em torno de marinheiros de classe baixa, em especial foguistas, que teriam tentado adentrar nas cabines dos imigrantes à noite, com o intuito de atacar as mulheres)8 de maioSexta-feira, chuva Intensificaram-se os ventos e chuvas a partir das 18h.9 de maioSábado, céu límpido14h - Lançou-se âncora no porto de Cingapura.Falou-se que o navio encostaria no cais do porto amanhã cedo e por isso os serviços de telegrafia postal foram deixados para amanhã.Correm boatos de que os foguistas atacaram Haruyoshi Kataoka. Há necessidade de estar em estado de alerta.10 de maioDomingo, céu límpidoÀs 7h, o navio começou a se movimentar, encostando no cais do porto. O procurador Uetsuka desembarcou, a fim de negociar o assunto de telefonia postal. Nada foi possível ser negociado pelo fato de ser domingo. O assunto foi consignado ao funcionário da Mitsui & Co., Ltd.Às 15h, o navio levantou a âncora e zarpou rumo a Capetown.Espantosamente, o calor não está tão escaldante. Felizmente, há poucos casos de doença.11 de maioSegunda feira, céu límpido12 de maioTerça-feira, céu límpido13 de maioQuarta-feira, chuva acompanhada de grande ventania14 de maioQuinta-feira, céu meio limpoChuvas fortes esporádicas. Ondas altas e sofrimento com enjôo.15 de maioSexta-feira, céu nublado16 de maioSábado, céu limpoDesde o dia 13, sentimos o sopro do vento meridional e o navio tem balançado muito; e muitos estão com enjôo.17 de maioDomingo, chuvas fortes esporádicas18 de maioSegunda-feira, céu limpoSopro de brisa fresca a partir deste dia. Pouco balanço no navio. Temperatura quente.19 de maioTerça-feira, céu limpo20 de maioQuarta-feira, metade do dia chuvoso21 de maioQuinta-feira, céu limpo22 de maioSexta-feira, céu limpo23 de maioSábado, céu limpo24 de maioDomingo, céu limpoAvistou-se, à tarde, a ilha de Maurista (?), possessão inglesa.25 de maioSegunda-feira, nubladoVimos pela manhã a ilha de São Reunião (?).O diâmetro é de cerca de 30 milhas e disseram que produziam cana-de-açúcar.26 de maioTerça-feira, céu limpo27 de maioQuarta-feira, céu limpoAvistou-se a ilha de Madagascar pela manhã.28 de maioQuinta-feira, céu limpoVerificou-se nesta noite que a esposa de Motonao Ohno esteve desaparecida por cerca de cinco horas.Nota: a notícia de que Matsuko Ohno, esposa de Motonao Ohno, teria desaparecido por cerca de 5 horas foi levada ao conhecimento de tripulação e demais passageiros do navio através de Masako, esposa de Takashi Nihei, e o fato provocou uma grande confusão. Soube-se mais tarde que ela se encontrava numa das cabines de classe superior.29 de maio Sexta-feira, céu limpo com poucas brisas30 de maioSábado, céu limpo31 de maioDomingo, tempo bom com ventoAvistou-se nesta noite um farol.1º de junhoSegunda-feira, céu límpidoNesta manhã foi avistado o continente africano.2 de junhoTerça-feira, ventos suaves22h - chegada ao porto de Capetown. O navio ficou ancorado fora do porto.3 de junhoQuarta-feira, dia chuvosoÀs 7h, o navio entrou no porto. Os passageiros desembarcaram e conheceram a cidade. Havia uma loja denominada Mikado. Visitou-se a loja. O dono da loja chama-se Sr. Furutani, proveniente da região de Hitachi (**). A loja foi inaugurada à época da Guerra Anglo-Francesa.O dono da loja não se encontrava, uma vez que havia ido para o Japão. Fomos atendidos pela sua esposa, sua sobrinha e dois jovens. À noite, a sra. Furutani e a sobrinha vieram visitar o navio.4 de junhoQuinta-feira, dia meio nubladoÀs 9h, o navio saiu para fora do porto.Às 13h, o navio zarpou rumo ao alto mar, mas as ondas eram altas e houve muito balanço.5 de junhoSexta-feira, céu límpido6 de junhoSábado, céu límpido7 de junhoDomingo, dia meio nublado com vento8 de junhoSegunda-feira, céu límpido com ventoNeste momento, o navio balançou muito e objetos que estavam nas estantes chegaram a cair.9 de junhoTerça-feira, céu límpido10 de junhoQuarta-feira, céu límpido11 de junhoQuinta-feira, céu limpo com pequenas ondas 12 de junhoSexta-feira, céu límpido 13 de junhoSábado, céu meio nublado14 de junhoDomingo, céu límpido15 de junhoSegunda-feira, céu límpido Houve festa ontem à noite. Tarde da noite, um foguista de mau caráter quis me atacar, mas foi impedido por foguista de patente superior, que acabou sendo apunhalado por seu subordinado.16 de junhoTerça-feira, céu límpido17 de junhoQuarta-feira, céu límpido18 de junhoQuinta-feira, céu límpidoChegada ao porto de Santos às 9h.Atracação no cais às 17h.Total da distância navegada - 12.000 milhas marítimas.19 de junhoSexta-feira, céu límpidoOs imigrantes acordaram às 3:30, se alimentaram às 5h e às 7h partiram rumo à Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo.Todos estavam tranqüilos e não havia nenhum doente.Efetuou-se o procedimento de envio de cargas de fogos de artifício para o Rio de Janeiro e rumei para São Paulo às 16h30.Chegada a São Paulo às 18h30, hospedando-me no Grande Hotel.O intérprete oficial, Arajiro Miura, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e três especialistas em fogos de artifício estiveram junto.Fomos recebidos pelo sr. Takeo Goto, da Casa Fujisaki, que nos acompanhou a partir de então.Telegrafei à noite para o ministro Uchida (da Embaixada do Japão no Rio de Janeiro)Telegrafei à Casa Matriz (em Tóquio).20 de junho Sábado, céu límpidoNesta data, o presidente do Estado visitou a Hospedaria dos Imigrantes. O ex-secretário Arruda Botelho, acompanhado de Bento Bueno, também visitou a hospedaria. Todos os imigrantes estiveram bem comportados. Nada houve que os desabonasse.21 de junhoDomingo, céu límpidoVisitei nesta data a Hospedaria dos Imigrantes, juntamente com a tripulação do navio, acompanhado de diretor de assuntos administrativos do navio (Kenzo Fuse) e o chefe da casa das máquinas (Tatsumi Iijima). Todos ficaram impressionados com as instalações da hospedaria.22 de junhoSegunda-feira, céu límpidoVisitei a Hospedaria dos Imigrantes. Vieram quatro marinheiros desertores da tripulação. Entreguei-os aos encarregados da hospedaria e telegrafei o fato. À noite, vieram o chefe da casa das máquinas, Sr. Iijima, e o sr. Ichiro Kanazawa (professor da Escola de Línguas Estrangeiras e intérprete do navio).23 de junhoTerça-feira, céu límpido Estive na Hospedaria dos Imigrantes pela manhã.Entreguei os desertores para o tripulante que veio recebê-los.À tarde, audiência com o presidente do Estado.

Tradução: Masato Ninomiya, professor da USP e tradutor juramentado do imperador japonês para o Brasil

Texto capturado em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj1806200823.htm Acesso em 18 de junho de 2008.



HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO - PARTE 1

Processos de migração, emigração e imigração de mão-de-obra pelo mundo inteiro já foram assunto de livros, filmes e novelas. A causa principal para tantas pessoas - milhões, em épocas diferentes e de lugares diversos - é sempre a mesma: buscar oportunidades de trabalho e melhores condições de vida, que não são oferecidas em seus países de origem. O resultado é que varia. Após lutas, dramas e conflitos, alguns terminam em fracasso, e outros em comoventes histórias de sucesso.
A história da imigração japonesa no Brasil é a história de uma saga que ainda não terminou, e de uma das experiências bem-sucedidas de integração mais improváveis que já ocorreram no conturbado século XX.
AS RAZÕES DO BRASIL, OS MOTIVOS DO JAPÃO.
É fato inconteste e amplamente divulgado que o navio Kasato Maru trouxe ao Brasil a primeira leva de imigrantes japoneses em 1908, iniciando de maneira efetiva o processo de imigração. Hoje em dia muitos têm - talvez em função de telenovelas - a limitada e distorcida imagem de que o fenômeno imigratório iniciou-se de modo ingênuo e romântico, com a chegada de povos exóticos que se aventuraram a “fazer a América” num país tropical, sensual e feliz.
O processo de imigração japonesa no Brasil iniciou-se bem antes de 1908 e em condições pouco românticas. O Kasato Maru foi apenas o primeiro resultado de anos de discussões, impasses e negociações entre Brasil e Japão. Para entender por que a imigração ocorreu, é preciso antes entender a situação sócio-político-econômica em que se encontravam ambos os países na segunda metade do século XIX.
No século XIX a economia do Brasil era agrícola e extremamente dependente da monocultura cafeeira. A cultura do café, por sua vez, dependia totalmente da mão-de-obra de escravos negros. Em 1888, atendendo a pressões políticas e movimentos humanitários, o governo brasileiro aboliu a escravidão no país, e os senhores do café tiveram que buscar soluções para a crescente falta de mão-de-obra. Antes mesmo da abolição da escravatura, o governo brasileiro tentou suprir a falta de trabalhadores com imigrantes europeus, mas as péssimas condições de trabalho e de vida dadas pelos patrões cafeicultores, acostumados a tratar de forma sub-humana sua mão-de-obra, além de desmotivar a vinda de imigrantes fez com que alguns países, como a França e a Itália, até impedissem durante alguns anos que seus cidadãos emigrassem para o Brasil. Assim, o governo brasileiro passou a cogitar trazer imigrantes da Ásia.
Não bastava, entretanto, trocar um tipo de imigrante por outro. No século XIX os brancos cristãos tinham um forte preconceito contra todo o resto da humanidade, e no Brasil os asiáticos eram tidos como “negros amarelos”. Em 1880, Oliveira Martins, escritor e político português, chegou a publicar argumentos contra a imigração asiática afirmando que “a perigosa tentação de ir buscar braços a outro viveiro de raças inferiores prolíficas embriaga muitos espíritos”, e concluía com “um Brasil europeu e não asiático, uma nação e não uma colônia, eis aí o seguro porvir da Antiga América portuguesa”. Entre julho e agosto de 1892, o jornal Correio Paulistano publicou artigos de Francisco Cepeda que se referia aos asiáticos com expressões como “se a escória da Europa não nos convém, menos nos convirá a da China e do Japão”, e que “o chim é bom, obediente, ganha muito pouco, trabalha muito, apanha quando é necessário, e quando tem saudades da pátria enforca-se ou vai embora”.
Em suma, imigrantes japoneses não eram desejados no Brasil. Porém é fato universal que quando se há necessidade de trabalhadores, governos e contratadores tornam-se mais convenientes e menos exigentes. Assim, embora desde 1880 já se cogitasse no Brasil a vinda de imigrantes japoneses, nenhuma ação concreta foi realizada neste sentido até 5 de novembro de 1895, quando Brasil e Japão assinaram um tratado pelo qual ambos os países passaram a desenvolver relações diplomáticas, e mesmo contrariando a opinião pública brasileira, abriram-se negociações para a vinda de imigrantes japoneses, que chegaria às vias de fato só a partir de 1908.
Mas o que fazia os japoneses se interessarem em ir para lugares distantes cuja população não era exatamente receptiva? O Japão da segunda metade do século XIX foi um país de dramáticas transformações. Durante dois séculos e meio o Japão esteve isolado do resto do mundo, sob o controle político dos xóguns da família Tokugawa. A sociedade japonesa era feudal e a economia estava estagnada num sistema agrário e dependente da cultura do arroz, enquanto as potências ocidentais, industrializadas e tecnologicamente avançadas, conquistavam colônias na África e Ásia. A partir de 1854, com navios americanos e ingleses exigindo com uso de canhões a abertura dos portos japoneses, o enfraquecido governo xogunal teve que ceder crescentes privilégios comerciais aos estrangeiros, o que gerou uma crise interna sem precedentes. Revoltas levaram a uma guerra civil, que culminou em 1868 com a vitória dos que queriam a restauração do poder ao imperador, e que defendiam a modernização rápida do Japão em moldes ocidentais. Era o início da Era Meiji (1868-1912).
Em 20 anos, a modernização Meiji revolucionou o país, propiciando oportunidades para a aristocracia, que ocupou importantes cargos na nova estrutura político-governamental, e para uma emergente burguesia que enriqueceu com os métodos industriais e financeiros importados do ocidente. Mas os benefícios do enriquecimento do país ficaram nas mãos de poucos, e fazer rapidamente do Japão uma potência bélica do mesmo nível que as potências ocidentais foi mais prioritário que necessidades sociais. A maior parte da população vivia no campo, onde impostos crescentes levavam mais e mais famílias à fome. Em busca de empregos e melhores condições de vida, muitos migraram do campo para as cidades, e outros migraram para o extremo norte, na ilha de Hokkaido, onde ainda haviam regiões a ser desbravadas. Entretanto, sendo o Japão um arquipélago superpovoado, as opções logo se escassearam e o governo japonês passou a promover a emigração como alternativa. A primeira emigração oficial ocorreu em 1883, quando japoneses foram para a Austrália para trabalhar na pesca de pérolas. A partir de 1885 o fluxo emigratório ganhou importância, quando japoneses passaram a ir para o então reino independente do Havaí. Nos anos subseqüentes, Canadá, Estados Unidos e Peru também se tornaram destino de milhares de trabalhadores nipônicos. Entre a pobreza em casa e um trabalho em terras estrangeiras - que por mais legalizado que fosse tinha obviamente muitos riscos - muitos japoneses preferiram a segunda opção.
CHEGAM OS JAPONESES
Houve o impacto do encontro de dois povos que se desconheciam. É sabido que popularmente os brasileiros tinham preconceito contra os japoneses - um preconceito todo fundado em mistificação, uma vez que até a vinda dos imigrantes não havia um convívio de fato entre brasileiros e japoneses.
Contrariando as expectativas negativas de como efetivamente eram os japoneses, J. Amândio Sobral, inspetor de imigrantes do Estado de São Paulo, redigiu um extenso artigo publicado no jornal Correio Paulistano de 26 de junho de 1908, descrevendo suas impressões sobre os imigrantes nipônicos. Sob efeito deste primeiro impacto, em seu texto Sobral expressa abertamente que os elogios que faz ao comportamento e à aparência dos japoneses não eram um exagero de sua parte, relatando que o grau de limpeza de “gente de humilde camada social do Japão” era qualificado como “inexcedível”, e que “houve em Santos quem afirmasse que o navio japonês apresentava em sua 3ª classe mais asseio e limpeza que qualquer transatlântico europeu de 1ª classe”. Ao deixarem o trem que os trouxe de Santos à hospedaria de imigrantes em São Paulo, ele observou que “saíram todos dos vagões na maior ordem e, depois de deixarem estes, não se viu no pavimento um só cuspo, uma casca de fruta”. Na hospedaria, os japoneses “têm feito as suas refeições sempre na melhor ordem e, apesar de os últimos a fazerem duas horas depois dos primeiros, sem um grito de gaiatice, um sinal de impaciência ou uma voz de protesto” (...) “surpreendeu a todos o estado de limpeza em que ficou o salão: nem uma ponta de cigarro, nem um cuspo, perfeito contraste com as cuspideiras e pontas de cigarro esmagadas com os pés de outros imigrantes”.
Muitos chegaram com pequenas bandeiras do Brasil e do Japão feitas de seda nas mãos, “trazidas de propósito para nos serem amáveis. Delicadeza fina, reveladora de uma educação apreciável”, observou Sobral. E todos se vestiam de modo simples mas à ocidental - o que na época foi algo inesperado. “A vestimenta européia conquista terreno no império do Sol Nascente. Foram os próprios imigrantes que compraram as suas roupas, adquiridas com seu dinheiro, e só trouxeram roupa limpa, nova, causando uma impressão agradável”.
Dois aspectos que chamaram a atenção de Sobral são curiosos. Ele observou que a bagagem dos japoneses “não parece bagagem de gente pobre, contrastando flagrantemente com os baús de folha e trouxas dos nossos operários”. Os japoneses eram imigrantes pobres, mas agiam com dignidade e educação. Trouxeram malas de vime, roupas e objetos simples, mas limpos ou novos. Pela descrição da bagagem no relatório, verifica-se que todos tinham poucas mas mesmas coisas: escova e pó dental, pente e navalha de barba (itens de higiene pessoal que na época muitos imigrantes europeus e até mesmo brasileiros não tinham); futons, makuras (travesseiros) de madeira e casacos (artigos têxteis caros para imigrantes); pequenas ferramentas, utensílios de cozinha e frasquinhos para shoyu. A maioria trouxe livros, tinta e papel (coisas que eram consideradas um “luxo” para trabalhadores braçais). De 781 pessoas, verificou-se que menos de 100, ou cerca de 13% delas, eram analfabetas - um baixo índice de analfabetismo na época. Estes eram os objetos que os japoneses, mesmo sendo pobres, se esforçaram para comprar e trazer do Japão, e que consideravam indispensáveis para começar uma vida longe da terra natal.
Outro foi o grau de confiança que os japoneses tinham em suas mulheres, “a ponto de, para não interromperem uma lição adventícia de português, lhes confiarem a troca de seu dinheiro japonês em moeda portuguesa”. Na época, os homens no ocidente não confiavam em suas esposas para lidar com assuntos relacionados a dinheiro, mas as japonesas faziam câmbio para seus maridos. Os imigrantes japoneses eram pobres, mas não eram miseráveis.
Sobral terminou seu longo relatório observando que “os empregados da alfândega declaram que nunca viram gente que tenha, com tanta ordem e com tanta calma, assistido à conferência de suas bagagens, e nem uma só vez foram apanhados em mentira. Se esta gente, que é todo trabalho, for neste o que é no asseio, (nunca veio pela imigração gente tão asseada), na ordem e na docilidade, a riqueza paulista terá no japonês um elemento de produção que nada deixará a desejar. A raça é muito diferente, mas não inferior. Não façamos, antes do tempo, juízos temerários a respeito da ação do japonês no trabalho nacional”. Este foi o testemunho de um brasileiro que, tanto como outros, jamais havia lidado um japonês, mas que por força da profissão foi o primeiro a conviver com os imigrantes pioneiros durante semanas.
É difícil precisar que impressões os japoneses tiveram ao chegar no Brasil, visto que os imigrantes do Kasato Maru não deixaram registros escritos sobre isso. É certo, entretanto, que os membros da primeira leva de imigrantes não tinham, em princípio, a intenção de se radicar de vez no Brasil. Trazidos pela empresa Teikoku Imin Kaisha (Companhia Imperial de Imigração), que firmou em 1907 contrato com a Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo para alocar 3 mil imigrantes até 1910 como empregados de várias fazendas de café no estado, os japoneses pretendiam ficar por cinco anos - período em que, de acordo com informações dadas pelos agentes de emigração no Japão, daria para ganhar o suficiente para retornar com economias. Os imigrantes pioneiros tinham a certeza de que iriam trabalhar muito, de que iriam ter que enfrentar dificuldades de comunicação devido a diferenças extremas de língua e costumes, mas a expectativa de poder retornar ao Japão com poupanças significativas os motivava a manter o espírito elevado. Mas os imigrantes logo descobririam que seria necessário mais do que a determinação samurai para sobreviver à realidade que os aguardava no Brasil.
MEIAS VERDADES, TOTAL SOFRIMENTO.
Apesar de um certo grau de participação de governos no estabelecimento de regras para enviar e receber imigrantes, o agenciamento dessa mão-de-obra era essencialmente um negócio feito por empresas privadas lá e cá, e a quantidade de empresas que existiam indica que a imigração era um negócio atraente e lucrativo. Para atrair o maior número de pessoas possível, as agências investiam em propagandas que nem sempre correspondiam à realidade. No caso do Brasil - país totalmente desconhecido e exótico para os japoneses - informações atraentes eram superavaliadas. O café era descrito como “a árvore que dá ouro”, e a produtividade da planta seria tamanha que os galhos envergavam com o peso dos frutos, e que bastava facilmente colhê-los com as mãos. Se tudo corresse do modo que as agências divulgavam, em um mês uma família com três membros trabalhando no cafezal receberiam o equivalente a 135 ienes no câmbio da época (uma quantia fantástica, considerando que o salário mensal de um policial no Japão era de 10 ienes).
Outras informações eram convenientemente vagas ou incompletas. O contratador brasileiro comprometia-se a “dar moradia” a cada família imigrante - mas no contrato de imigração não se especificavam as condições de tal moradia. A alimentação era por conta de cada família - mas não se explicava o exploratório “sistema do armazém” até que os imigrantes já estivessem na fazenda.
História da Imigração - Parte 2

As 781 pessoas do grupo pioneiro que chegou ao Brasil em 1908 no Kasato Maru foram alocadas em 6 fazendas de café no interior de São Paulo. De imediato todas as expectativas positivas dos imigrantes, e até mesmo dos representantes das empresas que intermediavam a vinda de imigrantes, foram desmanteladas pela realidade das coisas no Brasil.
As "moradias" que os fazendeiros ofereceram aos imigrantes nada mais eram que as antigas senzalas de barro ou madeira construídas para os escravos negros, que haviam sido abandonadas e estavam há anos sem limpeza ou manutenção. Não havia piso, móveis, ou paredes divisórias. Não havia água ou instalações sanitárias. Quem quisesse ter iluminação em casa à noite tinha que comprar velas no armazém da fazenda, bem como quem quisesse ter algo para comer - o que se limitava a arroz de sequeiro, feijão, milho, carne ou bacalhau seco, ítens que os japoneses não gostavam e mal sabiam como preparar. Os brasileiros não cultivavam verduras ou soja, e os japoneses passaram a improvisar conservas com plantas encontradas no mato, como o picão e o caruru. Tais condições de vida subumanas causaram em poucos meses subnutrição generalizada, doenças e mortes entre os imigrantes.
Dificuldades de entendimento entre os imigrantes e fazendeiros devido à total diferença de cultura, idioma, usos e costumes geravam constantes atritos. "Capitães-do-mato" e "capangas" armados para levar os imigrantes aos cafezais e fiscalizar seu trabalho passavam aos japoneses a sensação de que seus contratadores não lhes tinham confiança e queriam mantê-los prisioneiros como mão-de-obra escrava. Obrigados a comprar comida e itens de primeira necessidade apenas no armazém da fazenda, os imigrantes logo perceberam que ao invés de receber um salário no fim do mês passaram a ter dívidas com os fazendeiros, dado os preços exorbitantes cobrados no armazém.
Pior mesmo era a remuneração dos imigrantes, que de acordo com as propagandas das empresas de imigração era calculada sobre uma média superestimada de 9 sacos de 50 quilos de café colhido por dia por família, que no câmbio da época equivaleria a 5 ienes e 50 sens por dia (em dois dias de trabalho no Brasil os imigrantes esperavam ganhar o salário mensal de um policial no Japão). Entretanto, ao chegar nas fazendas os japoneses foram colocados para trabalhar com cafeeiros velhos, de baixa produtividade, que resultavam numa colheita escassa, que mal chegava a 2 sacos colhidos por dia por família. Do dia para a noite passando a ser explorados como mão-de-obra escrava, empurrados para a miséria e correndo risco de vida pela situação de abandono, os imigrantes não tiveram outra alternativa senão fugir das fazendas e buscar outras profissões. Até o fim de 1908 apenas 359 das 781 pessoas que chegaram em junho daquele ano no Kasato Maru ainda se encontravam nas fazendas contratantes. Na Fazenda Dumont, que recebeu o maior grupo de imigrantes japoneses (210 pessoas), ninguém ficou.
MOBILIDADE PROFISSIONAL E O INÍCIO DAS COLÔNIAS
Ao contrário do que hoje se imagina, grande parte dos imigrantes pioneiros não tinha sido agricultor no Japão. Alguns dos imigrantes japoneses tinham estudo; muitos já haviam morado em cidades e trabalhado como comerciantes, carpinteiros e ferreiros, e ao fugir das fazendas voltaram a exercer a profissão que tinham no Japão como trabalhadores independentes. Outros passaram a empregar-se na construção civil, ou tornaram-se empregados domésticos, ou ainda estivadores nas docas. Na década de 1910 instalou-se em Santos um pequeno grupo de profissionais autônomos e pequenos comerciantes imigrantes, e na década de 1920 japoneses passaram a morar e abrir negócios na Rua Conde de Sarzedas, na região central da Sé em São Paulo.
O fracasso da alocação de imigrantes como mão-de-obra assalariada em fazendas de café levou a uma alteração na forma pela qual se deu continuidade ao processo imigratório. Aproveitando a onda de expansão desenvolvimentista para o interior que então ocorria no Brasil, a partir de 1910 as empresas de emigração japonesas passaram a comprar grandes áreas de mata virgem para instalar as shokuminchi (colônias ou núcleos coloniais). Por este sistema de colônias os imigrantes passaram a vir para o Brasil como adquirentes a prazo de lotes de terra pertencentes às empresas de emigração, desbravando áreas distantes e mata virgem sem ajuda governamental para se tornarem pequenos produtores agrícolas. Ao invés de empregados em regime de semi-escravidão em cafezais, os imigrantes passaram a vir como pequenos agricultores independentes produtores de arroz e algodão (na época produto-base da indústria têxtil mundial, tão valorizado quanto o café). A primeira colônia foi a Colônia Monção, fundada em 1911 na região da estação Cerqueira César da linha férrea Sorocabana, interior de São Paulo, mas logo surgiram várias outras shokuminchi. Este sistema deu origem a várias cidades no Brasil, como os municípios paulistas de Aliança, Bastos, Iguape, Registro, Suzano, e as cidades de Assaí no Paraná e de Tomé-Açú no Pará, que começaram como colônias de pequenos produtores rurais japoneses. Os produtos cultivados nas colônias passaram a variar da pimenta-do-reino em Tomé-Açú, ao chá em Registro, e à atividade granjeira em Bastos.
Desta época de imigrantes pioneiros desbravadores destacam-se as iniciativas de Unpei Hirano e Shuhei Uetsuka. Hirano foi tradutor dos imigrantes do Kasato Maru e intermediou queixas dos imigrantes com os cafeicultores contratantes. Hirano foi um dos que primeiro percebeu que os imigrantes teriam melhores condições de vida e chances de sucesso se não tivessem que se sujeitar às condições impostas pelos contratos de trabalho rural assalariado. Em 1915 fundou a Colônia Hirano na região de Cafelândia, interior paulista, vindo a falecer prematuramente de malária, aos 34 anos em 1919. Apesar dos esforços dos colonos, a Colônia Hirano foi um capítulo trágico da história da formação das colônias de japoneses no Brasil - uma invasão de gafanhotos, seguida por uma grande seca, destruiu as lavouras, e os colonos foram dizimados por uma grave epidemia de malária. Uetsuka veio como representante da empresa de emigração japonesa junto com os pioneiros do Kasato Maru e em 1918 fundou a Colônia Uetsuka perto da estação Promissão da linha férrea Noroeste. Idealista, Uetsuka viveu com os imigrantes colonos, enfrentando as mesmas dificuldades que os demais e tornou-se admirado líder da comunidade, que prosperou.
Os imigrantes nas colônias rapidamente organizaram a vida civil e comunitária nos moldes da distante terra natal. A primeira coisa que fazem ao constituir uma colônia é organizar uma kyõkai ("associação", entidade para tratar de assuntos comunitários) e construir um kaikan ("auditório", salão ou galpão que funciona como sede da comunidade). A segunda providência era cuidar da educação dos filhos. Tamanha era a preocupação dos imigrantes com a educação dos filhos, que ao chegarem a uma fazenda ou colônia imediatamente encarregavam alguém em condições de dar aulas simples de linguagem e matemática às crianças e organizavam-se turmas e horários surgindo assim as nihongakkõs, escolas rurais de ensino elementar em japonês.
Tendo a intenção de retornar ao Japão assim que conseguissem economias suficientes, os imigrantes das primeiras décadas do século XX queriam que seus filhos fossem educados como dainipponjins (súditos japoneses). Ensinar-lhes a língua nipônica e ministrar-lhes ensinamentos sobre a cultura japonesa e o yamato damashii (espírito japonês) era prioridade tal que os pais não hesitavam sacrificar horas de sono e trabalhar mais para que seus filhos, que também trabalhavam na lavoura e nos afazeres domésticos, estudassem "para que quando regressassem ao Japão não passassem vexame". A primeira escola japonesa urbana foi a Escola Primária Taisho, fundada em 1915 em São Paulo, mas havia quem pensasse em fixar-se no Brasil em definitivo. Em 1918 as irmãs Teruko e Akiko Kumabe se graduaram em magistério no Rio de Janeiro, tornando-se as primeiras japonesas a obter diplomas de professoras primárias no Brasil. Em 1919 as irmãs Kumabe também se tornaram as primeiras imigrantes naturalizadas brasileiras.
O sistema das colônias também propiciou a criação de uma imprensa em japonês para a comunidade no Brasil: os chamados "jornais da colônia". O primeiro desses jornais foi o Nanbei (América do Sul), lançado em janeiro de 1916. Em agosto do mesmo ano surgiu o Nippak Shimbun (Jornal Nipo-brasileiro), e em 1917 foi lançado o Burajiru Jihô (Notícias do Brasil), que tinha a característica de ser o informativo oficial da Ijû Kumiai ("cooperativa de emigração", nome pelo qual era conhecida a empresa que trazia os colonos japoneses ao Brasil). A existência desses jornais indicava não só que o número de imigrantes havia aumentado (até 1917 estima-se que 18.800 japoneses entraram no Brasil formalmente como imigrantes), como também que a comunidade estava progredindo financeiramente, pois havia se criado uma base econômica capaz de sustentar as edições. E sob o aspecto cultural revela que os imigrantes em geral eram letrados em japonês.
O SURGIMENTO DAS COOPERATIVAS
O espírito empreendedor torna-se uma característica dos imigrantes pioneiros. Um exemplo disto foi personificado por Takehiro Mamizuka, que chegou em 1910 no segundo navio de imigrantes. Em 1912 ele foi ao Mercado Municipal em São Paulo para conhecer os preços dos legumes e das verduras. Percebendo que a cidade estava em rápida expansão e que a demanda por alimentos só aumentaria, ele adquiriu uma pequena propriedade em Taipas, na região norte da cidade, e passou a produzir batatas para vendê-las no centro. Mamizuka é considerado o pioneiro da agricultura de subúrbio, sem a qual os paulistanos de hoje não teriam acesso à indispensável saladinha.
Se por um lado Mamizuka ilustra o tipo louvável de iniciativa individual do imigrante, os japoneses também implantaram no Brasil importantes iniciativas de grupo. Não há um meio de se precisar quando e como surgiu a idéia de se organizar uma cooperativa de produtores agrícolas entre os imigrantes japoneses, mas é fato que a expressão "cooperativa agrícola" aparece pela primeira vez na edição de 5 de setembro de 1919 do jornal Burajiru Jihô, num artigo que conclamava imigrantes a participar do "Syndicato Agrícola Nipo-Brasileiro" em Uberaba, Minas Gerais. Considerado a primeira cooperativa organizada por imigrantes japoneses, o "Syndicato Agrícola" visava "apoiar lavradores na pesquisa de terras adequadas às determinadas culturas, elaboração de contratos, financiamento de capital, compra e venda coletivas, etc., todas as facilidades, com a finalidade de conseguir um desenvolvimento seguro de nossos compatriotas". Embora o pioneiro "Syndicato Agrícola" não tenha durado muito tempo, sua existência inspirou outras iniciativas similares.
A mais importante das cooperativas agrícolas de produtores imigrantes japoneses foi a CAC - Cooperativa Agrícola de Cotia. Oficialmente fundada em 1927 ela começou com a união de 83 agricultores - a maioria produtores de batata da região de Cotia - mas há registros de que ela já existia na prática, mas inoficiosamente desde 1924. Agregando de modo organizado a comunidade de agricultores e procurando soluções eficazes para os problemas enfrentados na lavoura visando melhor produtividade, a Cooperativa Agrícola de Cotia cresceu a ponto de se tornar a maior entidade do gênero na América do Sul - dados de 1988 indicam que a CAC possuía na época 16.309 associados e um patrimônio avaliado em mais de 59 milhões de dólares.
HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO - PARTE 3

RÁPIDO CRESCIMENTO E PROSPERIDADE
A partir de 1920, com a ampliação do sistema de colonização de terras virgens no interior de São Paulo, o fluxo de imigrantes japoneses para o Brasil acelerou-se. Embora os imigrantes se dedicassem principalmente à atividade agrícola, os japoneses fundaram cidades como Bastos e Tietê, que hoje são importantes polos urbanos regionais do interior paulista, fundadas em 1928. Outras cidades, como Iguape e Registro no litoral sul paulista, concentraram muitas colônias de imigrantes desde 1917, e cresceram com a produção agrícola implementada pelos japoneses, especialmente no cultivo da banana e do chá. Já no interior os japoneses dedicaram-se a outros produtos, principalmente ao café e ao algodão, que na época era muito valorizado por ser matéria-prima básica da indústria têxtil. Em 1929 os primeiros japoneses desbravadores da região amazônica instalaram-se em Acará, no Pará (atual Tomé-Açú). No mesmo ano outras colônias foram assentadas no Paraná (Londrina) e em Goiás (Anápolis). Também naquele ano a Quebra da Bolsa de Nova York causou uma forte desvalorização do café brasileiro no mercado internacional, o que afetou muitos imigrantes. Aquela crise, acrescida do fato de que a população urbana no Brasil passou a crescer, levou muitos japoneses a se dedicarem ao plantio de arroz, feijão, batata e tomate para abastecer as cidades.
A imigração japonesa para o Brasil, apesar do apoio governamental, era essencialmente realizada por empresas privadas, entre as quais destacou-se a Kaigai Ijuu Kumiai Rengokai (Confederação das Cooperativas de Emigração) no Japão, fundada em 1927, e sua filial brasileira, a Bratac (contração de Brasil Takushoku Kumiai Ltda., ou "Sociedade Colonizadora do Brasil"). Em 1932 o Consulado Geral do Japão em São Paulo divulgou que 132.689 japoneses já haviam imigrado, e que mais 25 mil e 800 pessoas já tinham autorização para entrar no país no ano seguinte. Entretanto, desde 1930 o Brasil estava sendo comandado por Getúlio Vargas, militar que tomou o poder num golpe de estado, implantando um regime autoritário populista batizado de Estado Novo. A simpatia do governo novo por líderes autoritaristas europeus da época, como Mussolini e Hitler, refletiu-se no Brasil na forma de discussões a partir de 1932 visando baixar normas para restringir a entrada de imigrantes japoneses no país.
SUBITAMENTE INDESEJADOS
O agravamento das relações políticas na Europa e a iminência de uma grande guerra teve reflexos imediatos sobre as comunidades de imigrantes no Brasil. A partir do Natal de 1938 todas as escolas de língua japonesa, alemã e italiana foram obrigadas a fechar as portas, e o ensino desses idiomas proibido. Até 1939, ano em que a 2ª Guerra Mundial começou na Europa, o conflito gerou poucos efeitos imediatos sobre as comunidades de imigrantes mas a partir de 1941, quando os Estados Unidos entraram na Guerra, o Brasil optou por uma postura de colaboração crescente com os americanos e as restrições aos imigrantes das nações inimigas endureceram. A publicação de jornais em japonês foi proibida pelo governo brasileiro, e os Correios suspenderam os serviços entre Brasil e Japão. A imigração de japoneses ao Brasil foi proibida, e o navio Buenos Aires Maru, que chegou ao país em 1941, foi o último de um ciclo iniciado pelo Kasato Maru.
Literalmente do dia para a noite os imigrantes japoneses passaram a ser alvo de suspeita, perseguição e preconceito. Comunidades inteiras de imigrantes que viviam nas cidades, em especial em Santos e São Paulo, receberam ordem de evacuação - em menos de 6 horas famílias foram retiradas de suas casas e enviadas a fazendas de isolamento no interior. Imóveis, dinheiro e quaisquer bens de valor dos imigrantes foram tomados para "posterior inclusão no fundo de indenização de guerra". O Banco América do Sul e o Hospital Santa Cruz, fundados pelos imigrantes japoneses, tiveram suas diretorias afastadas e passaram a ser administrados por interventores nomeados pelo governo. Reuniões com mais de 5 pessoas passaram a ser proibidas - até festas de aniversário e de casamento foram prejudicadas.
Em agosto de 1942 um navio mercante brasileiro foi afundado por um submarino alemão perto de Belém e a população local, como vingança, destruiu e incendiou casas de imigrantes alemães, italianos e japoneses. A título de fiscalizar e "proteger" os imigrantes, o governo federal resolveu recolher em Acará (atual Tomé-Açu, PA) todos os japoneses, alemães e italianos que residiam na região norte do país. As perseguições aos imigrantes alastraram-se também no litoral do Paraná, pelo interior de São Paulo e de Mato Grosso. Por serem orientais, portanto facilmente distingüíveis no meio da população brasileira, os imigrantes japoneses foram os que mais sofreram ataques e prejuízos com o preconceito popular e com a perseguição governamental. Mas é da sabedoria universal que não existem "guerras justas", e que em toda guerra o que realmente existe é um arrazoado de conveniências que são ocultadas da opinião pública. Apesar da postura antinipônica, o governo brasileiro não apenas tolerava como estimulava imigrantes japoneses a cultivarem o algodão, o bicho-da-seda e a hortelã (menta). Atuando como intermediário na exportação desses produtos para os Estados Unidos, onde o algodão era usado na fabricação de uniformes, a seda na fabricação de pára-quedas e a menta era produto base da indústria química na fabricação de explosivos e em sistemas de refrigeração de motores de alta velocidade, o governo brasileiro também lucrava com o conflito.
Tal situação de coisas causou sentimentos e comportamentos totalmente díspares no seio da comunidade nipo-brasileira. Antes da guerra, boa parte dos imigrantes achava que após anos ou décadas no Brasil não podiam agir como parasitas, que sugam o melhor que a terra dá para depois irem embora. Em 1939, Shungoro Wako escreveu: "Recordemos que nós já vivemos trinta anos neste país e tivemos nesse espaço de tempo, o sacrifício de vida de homens, mulheres, velhos e crianças (...). Regressar ao nosso país de origem, abandonando estas sepulturas não representa cumprir um dever para com nossos antepassados (...). Então, contribuir com o nosso sangue misturado ao dos brasileiros , introduzindo nossas boas tradições, (...) encontraremos o verdadeiro significado da nossa imigração (...), devemos trabalhar com todas nossas forças até o dia do nosso sepultamento nesta terra, orando pela prosperidade de nossa pátria e fazer dos nossos filhos bons brasileiros, capazes de servir ao Brasil". Entretanto, o sonho de que o Brasil como uma terra receptiva e rica em oportunidades foi rapidamente destroçado pela agressiva atitude antinipônica dos brasileiros. Muitos imigrantes passaram a querer retornar ao Japão ou até emigrar para a Manchúria ou a Coréia, então sob controle japonês. O próprio Wako, em 1940, mudou de opinião publicando um artigo no qual ele passou a defender a reemigração para a Ásia. Em 1942 as relações diplomáticas entre o Brasil e o Japão foram rompidas, e a retirada dos representantes do governo japonês deu aos imigrantes a consciência de que eram "súditos abandonados" à própria sorte num país que não os queria.
CAOS E SUPERAÇÃO
Como visto anteriormente, na intenção de manter os "súditos do Eixo" sob vigilância e controle, o governo brasileiro proibiu a publicação de jornais em japonês. Tal medida fez com que os imigrantes, na maioria com conhecimentos limitados de português, fossem privados de informações corretas sobre o que ocorria tanto no Brasil como o exterior, em especial sobre o desenrolar dos acontecimentos da guerra. Vivendo quase à margem da sociedade devido às medidas de perseguição aos imigrantes das nações inimigas, a comunidade nipo-brasileira tinha esperança que sua situação melhorasse se o Japão vencesse a guerra. Haviam imigrantes, entretanto, que diziam "quando" - e não "se" - o Japão vencer a guerra.
Em 1944 o conflito na Europa já dava sinais de arrefecimento, mas no Pacífico batalhas sangrentas ainda eram travadas entre tropas americanas e japonesas. A desinformação propiciou o surgimento de dois grupos ideológicos distintos dentro da comunidade de imigrantes: os kachigumi ("vitoristas", que acreditam que o Japão venceu a guerra) e os makegumi ("derrotistas", que acreditam que o Japão perdeu a guerra). Os kachigumi eram um grupo que reunia imigrantes com formação militar, extremistas paranóicos ao ponto de considerar patrícios que acreditassem que o Japão pudesse perder a guerra como traidores, realizar atentados para intimidar aqueles que acreditassem ser colaboradores dos inimigos e de agir sem qualquer escrúpulo, falsificando de notícias a papel-moeda. Os primeiros sinais do problema surgiram quando várias plantações de menta e casas de processamento de bichos-da-seda de imigrantes japoneses foram destruídas. As autoridades policiais descobriram que outros imigrantes japoneses haviam sido os autores das depredações, mas menosprezaram o ocorrido (os agricultores e sericultores atacados eram considerados traidores por produzirem em benefício dos inimigos do Japão). Em 1945, quando o Japão se rendeu após os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, circulou na comunidade nipo-brasileira uma notícia falsa, com fotos dos representantes japoneses no encouraçado americano Missouri, afirmando serem cenas da rendição americana ao Japão publicadas no jornal "A Tribuna" de Santos de 16 de setembro.

Confusa e malinformada devido aos anos de "apagão jornalístico" imposto pelo governo brasileiro, boa parte da comunidade de imigrantes passou a acreditar na propaganda vitorista, e os kachigumi se transformaram num grande movimento organizado, auto-denominado Shindo Renmei (Liga do Caminho dos Súditos), que em poucos meses conseguiu congregar mais de cem mil pessoas. Em outubro de 1945 iniciou-se um movimento através da Cruz Vermelha Brasileira, com a participação de lideranças esclarecidas da comunidade nipo-brasileira, para conscientizar os imigrantes da derrota do Japão na guerra. A confrontação ideológica causou uma onda de atentados terroristas da Shindo Renmei. De março de 1946 a janeiro de 1947 ocorreram uma série de assassinatos e tentativas de homicídio, tendo como alvo imigrantes que apoiaram o movimento derrotista - foram mais de 100 ocorrências e 23 mortes no estado de São Paulo. Imigrantes estelionatários aproveitaram-se da desinformação e do caos e aplicaram golpes em seus patrícios, como o "conto da passagem" (venda de passagens marítimas falsas de volta ao Japão) e o "conto do iene" (venda da moeda japonesa aa preços altos quando, na verdade, o iene se encontrava totalmente desvalorizado com a derrota do país na guerra). O medo e a desconfiança instalou-se na comunidade.
LIVROS RECOMENDADOS
Caminho dos imigrantes japoneses: Brasil século 20 - Burajiru nihonjin imin 20 seiki no ayumiConselho editorial do Jornal do NikkeySão Paulo, Editora Jornalística União Nikkei Ltda., 2000 O imigrante japonês: história de sua vida no BrasilTomoo HandaSão Paulo, T.A. Queiroz Editor Ltda., 1987

Texto disponível em http://www.imigracaojaponesa.com.br/nossahistoria.html Acesso em 17 de junho de 2008



Na hora de casar, nikkei busca nikkei
TRADIÇÃO Pesquisa Datafolha revela que maioria dos descendentes de japoneses nascidos no Brasil se casa dentro da própria comunidade
MATINAS SUZUKI JR.ESPECIAL PARA A FOLHA
O casamento entre membros da comunidade nikkei e a língua japonesa, duas instâncias fundamentais para a preservação e permanência da sua identidade cultural, ainda são altamente valorizados pelos imigrantes, que começaram a chegar ao país em 18 de junho de 1908, e seus descendentes.
Pesquisa Datafolha na cidade de São Paulo mostra que 2 em cada 3 (66%) japoneses ou descendentes que são de alguma forma casados, que são viúvos ou separados declaram ter parceiros também pertencentes à comunidade nikkei (esta denominação foi adotada oficialmente em 1954). A pesquisa revela uma surpreendente maioria (82%) de membros que dizem entender "mesmo que um pouco" o idioma japonês. Quase a metade (46%) dos japoneses ou descendentes afirma ler e um pouco menos (43%) declara escrever nos difíceis alfabetos japoneses (existem três: os ideogramas kanji, herdados dos chineses, e dois silabários hiragana e katakana).
Os dados do Datafolha são novidade e de grande relevância, uma vez que entre os imigrantes a família e a língua, ainda que com as necessárias variações e adaptações locais, foram elementos essenciais para conservar viva a sensação de pertencimento ao "Yamato-damashi", o espírito japonês.
As mulheres (68%) dizem se casar mais com os membros da própria comunidade do que os homens (63%). Como recai sobre elas (mães e avós) a responsabilidade pela primeira formação dos filhos, as mulheres são vistas como a correia de transmissão dos valores e hábitos para os mais jovens. O fato de a maioria continuar tendo como companheiros preferenciais os membros da própria comunidade talvez ajude na interpretação do grau de permanência da cultura japonesa no Brasil, cem anos após a chegada dos primeiros imigrantes.
A taxa de casamentos intracomunidade decresce de geração para geração: era de 90% entre os nascidos no Japão, caiu para 69% na segunda geração (nisseis) e para 49% entre a terceira (sanseis). Essa tendência serve de apoio estatístico para os estudos que analisaram a trajetória dos imigrantes, após a 2ª Guerra Mundial, na perspectiva de uma integração total aos hábitos e padrões de vida tidos como brasileiros.
No entanto, a pesquisa traz um dado novo: entre os casados, viúvos ou separados mais jovens (25 a 34 anos), mais da metade (55%) declara que o seu parceiro é ou foi da comunidade nikkei. A taxa sobe a 70% entre aqueles que têm entre 35 e 44 anos, um grupo que nasceu entre 1964 e 1973, período em que o fluxo imigratório do Japão para o país era decrescente.
Esses dados indicam um grau de endogamia um pouco maior do que os obtidos pela "Pesquisa da População de Descendentes de Japoneses Residentes no Brasil", divulgada em 1988 pelo Centro de Estudos Nipo-Brasileiro, que mostrava que o percentual de casamento intracomunidade era de 57,3% na cidade de São Paulo e de 61,5% na Grande São Paulo.
A pesquisa do Datafolha, duas décadas depois, levanta a hipótese de que a permanência ou a recriação de valores tradicionais japoneses na cidade de São Paulo talvez seja mais forte do que a imagem de integração, reforçada pelas atuais comemorações do centenário da imigração, deixa transparecer. Mercado matrimonial
O número de casamentos entre membros da comunidade nikkei é menor na faixa de maior renda (57%) e com maior escolaridade (56%). Essas cifras estão em sintonia com os estudos que mostram que os imigrantes japoneses encontraram na formação universitária uma maneira de ascender e se integrar socialmente, notadamente no pós-Guerra.
A professora Sidinalva Maria Wawzyniak , da Universidade Tuiuti do Paraná, que realizou para seu doutorado uma pesquisa que envolve a constituição das famílias japonesas no Brasil, resgatou um dado interessante. Ela encontrou fontes indicando que os professores universitários não japoneses representavam uma categoria que encontrava inusitado consentimento para casamentos com os descendentes, tal o respeito que os japoneses mais velhos tinham pelos mestres ("sensei") do ensino superior.
A importância que a família tinha no Japão ganhou nova dimensão no caso dos imigrantes em solo brasileiro: mais membros em uma família significava mais mão-de-obra para trabalhar na lavoura ou no pequeno negócio. Como conseqüência, o tamanho das famílias japonesas do Brasil era bem maior do que as do Japão.
A própria imigração só poderia ser realizada por famílias de no mínimo três membros (as famosas "três enxadas"), o que gerou a constituição de "famílias arranjadas", também chamadas de "famílias confusas" -de última hora, juntadas com o propósito de emigrar.
Como os imigrantes das primeiras viagens vieram com o propósito de acumular riqueza para voltar ao Japão, eles procuraram impedir que os filhos se casassem com pessoas de outra etnia. E muitos casamentos eram decididos por acordos entre os pais dos noivos.
Em pesquisa inédita ("Arranjos familiares de japoneses de quatro gerações") à qual a Folha teve acesso, a historiadora Célia Sakurai, autora, entre outros, do livro "Romanceiro da Imigração", diz que "as famílias japonesas se reuniam em colônias e, por conseguinte, o convívio entre as famílias era também muito intenso. A realização de casamentos entre membros das colônias é uma decorrência não apenas da proximidade mas da existência de um mercado matrimonial".
Uma das primeiras estudiosas da vida familiar dos imigrantes japoneses no Brasil, a antropóloga e ex-primeira dama do país Ruth Cardoso afirma em sua tese de doutorado "Estrutura familiar e mobilidade social", de 1972, que "para os japoneses, o processo de cooperação familial vai mais longe, baseado que está em uma hierarquia sustentada por obrigações morais que submergem o indivíduo na coletividade. Ainda agora, grande parte dos nisseis aceita os valores que norteiam a educação japonesa tradicional e procura preservá-los na família".
Sidinalva Wawzyniak acha a expressão "integração" inadequada (ela prefere "estratégias de sobrevivência") e diz, em comunicação feita no seminário "Família e Organização Social na Europa e América", realizado em dezembro do ano passado na Espanha, que "de todos os valores que compuseram as estratégias desenvolvidas pelos japoneses em sua inserção na sociedade brasileira, a recuperação daqueles que reforçavam os laços de família possibilitou-lhes dominar os códigos e as regras que os faziam fortalecidos".
Assim, os casamentos dentro da comunidade nikkei não seriam necessariamente um renegar da integração com os brasileiros, como pode parecer à primeira vista, mas uma maneira de dar musculatura à construção de uma nova identidade, que já não era mais japonesa e nem poderia ser totalmente brasileira.

MATINAS SUZUKI é neto de japoneses. Seus avós vieram da província de Kumamoto

Texto capturado em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj1806200802.htm Acesso em 18 de junho de 2008.


ARTIGOS


A TRÍADE DO APRENDER

Edevânio Francisconi Arceno
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Licenciatura/História (HID 0771) – Didática e Avaliação
29/01/08
RESUMO
A educação que outrora foi privilégio de poucos, se tornou com o passar do tempo, acessível a todos ou quase todos. Esta acessibilidade é resultado de lutas, dos muitos pensadores, questionadores e visionários que estavam à frente de seu tempo, pois entendiam que a educação não era simplesmente um privilégio, mas um direito. Hoje existe a necessidade de se criar leis que obriguem as pessoas a irem à escola. Muitas vezes vão para as aulas, sem ter a mínima vontade de aprender, estes (as) não aprendem de forma consciente. Existem ainda aquelas que querem e até acham que estão aprendendo. Este trabalho pretende confrontar os conceitos de aprendizagem, para que possamos aprender a aprender.
Palavras-chave: Querer; Desenvolver; Compreender.
1 INTRODUÇÃO

Lendo a introdução de uma entrevista com o professor Vicente Martins, sob o título, "Como desenvolver a capacidade de Aprender", citada pela professora Íris Weiduschat, na agenda da disciplina de Didática e Avaliação, como anexo A, p.9, chamou-nos a atenção o relato sobre os três fatores que influenciam no desenvolvimento da capacidade de aprender.

Decidimos discorrer ainda que superficialmente, a respeito do que entendemos desta tríade de fatores composta pela Atitude de querer aprender, Desenvolver a aprendizagem e Compreender o que aprendeu.

Sabemos que algumas pessoas podem não concordar com a nossa opinião, inclusive até nós mesmos, amanhã ou depois poderemos discordar categoricamente, com algumas ou talvez todas essas afirmações, afinal nós recém concluímos a primeira fase de nossa licenciatura, além disto, descobrimos que nunca praticamos a verdadeira aprendizagem, porém nunca é tarde!

Esperamos que estas declarações possam contribuir e provocar uma análise introspectiva, questionando como tem sido a nossa maneira de aprender, como aprender mais e o que temos aprendido.

Se a nossa aprendizagem está improdutiva, calada, inexpressiva e conformada, não está bem, e necessita de socorro, temos que Aprender a Aprender, observando a Tríade do Aprender.

2 ATITUDE DE QUERER APRENDER

"Eu quero aprender", quantos entram em uma instituição de ensino, desejando realmente Isto? Criou-se uma atmosfera de obrigatoriedade em relação à Escola, justificativas como ; porque todos vão, você tem que ir , tem que saber disto , daquilo , se não estudar não vai ter um bom emprego, não vai ser ninguém na vida ,etc.

Acreditamos que aqueles que ignoram tais ameaças , vislumbram a verdadeira essência da educação ,descobrem que podem e decidem fazer a diferença no meio em que vive , e através disto constróem um olhar crítico e tornam-segrandes questionadores e criadores das marchas.

Questionam o sistema ,o governo, a sociedade, as estruturas, a educação, a saúde, a segurança, etc. Estes são os transformadores conceituais de seu tempo, e tudo porque decidiram aprender a aprender, não que a verdadeira aprendizagem nos tranformeem rebeldes sem causa, pois que causa foge aos olhares críticos de quem verdadeiramente aprende.

Temos a tendência de nos cobrar demasiadamente, a ponto de achar que ao sairmos das estruras educacionais, temos a obrigação de saber tudo .

Se este for o nosso pensamento, infelizmente teremos que recomeçar a nossa caminha escolar, pois não conseguimos perceber a essência da educação, e conseqüentemente nunca seremos um diferencial em nosso meio,um questionador transformador.

Na educação não obtemos a espada , mas sim o segredo do fogo para forja-la, não desviamos ou anulamos correntes d'agua, mas a transformamos em energia, é na Escola que adquirimos a "Lupa" que nos ajudará a fazer a famosa leitura do mundo , tão defendida e incentivada pelo saudoso educador Paulo Freire.

Para entendermos a verdadeira aprendizagem, teremos que tomar a atitude, de querer aprender a aprender , não por imposição ouobrigação social, mas sim, "porque eu quero"!

3 DESENVOLVER O APRENDER

Como já dissemos anteriormente , quando decidimos aprender a aprender, entendemos que a importância não está somente nos peixes, mas também na forma de pescá-los. Qual a melhor vara, a isca certa, que lua é a mais indicada, qual o clima mais propício, em que condição a pescaria terá mais êxito, barco ou margem, enfim, são informações que contribuem para uma pescaria prazerosa, segura e produtiva.

Talvez possamos nos perguntar, tudo isto é necessário? Pode até não ser , mas esta é a visão de quem aprende a aprender e desenvolve a aprendizagem, não que seesforçem para isto , pois é com naturalidade que necessitam e procuram tais informações.

O diferencial não está no modo de como vêem , mas sim na forma, pois quem desenvolve a aprendizagematravés do querer aprender a aprender, busca mais profundidade e com isto adquiri uma forma diferenciada e tridimensional de ver o mundo, ou seja, observam além do plano ,intrigados com o que tem por trás do que se vê.

Entendemos que aprender não é um evento, mas sim um processo, um processo infinito e progressivo , pois quanto mais aprendemos , mais sentimos a necessidade de aprender , pois através da aprendizagem adquirida ,descobrimos que ainda há muito mais à aprender .

4 COMPREENDER O QUE APRENDEU

O Desenvolvimento da aprendizagem nos impulsiona ao seguinte degrau, pois de que adianta sabermos qual a vara, a isca, a lua, o clima, o barco, enfim várias informações e não discernir suas conexões e finalidades, sem a compreesão deste desenvolvimento, jamais teremos uma pescaria prazerosa, segura e produtiva.

A compreensão das informações e conteúdos agregados durante nossa caminhada escolar é que irão direcionar a nossa "Lupa" para a leitura do mundo.

Certa vez , assistindo a um dos primeiros episódios de "Lost", um dos sobreviventes estava tranquilíssimo e após o acidentedisse aos outros que logo viria o resgate , pois eles (o Governo), localizavam a placa de um carro via satélite, quanto mais um avião.Um outro sobrevivente esclareceu, que somente localizavam o veículo através do satélite , porque sabiam em que área procurar, diferentemente do avião, que estava totalmente fora da rota!

Gostaríamos de usar este exemplo e fazer uma analogiacom o nosso assunto, se não compreendemos o que aprendemos, estaremos tão sem ação quanto a equipe de resgate , pois temos o satélite, a tecnologia e os técnicos, porém faltam dados importantes que nos impedem de progredir, de ir além.

Como docentes temos o dever de disponibilizar dispositivos e ferramentas que auxiliem aos discentes progredirem na compreensão de sua aprendizagem, este é o desafio de quem almeja e atreve-se a ser um educador.No art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: [...] III - zelar pela aprendizagem dos alunos; (Inciso III art. 13, LDB). Primar pela aprendizagem do ensino é, antes de tudo, um compromisso profissional e papel social do educador.

5 CONCLUSÃO

Revendo os nossos conceitos subjetivamente construídos em nossa discência, temos a oportunidade de reconstruir o saber, não por orgulho, pois o orgulho não constrói, mas sim pelo desejo de colocar nas mãos de cada discente uma "Lupa", que ampliará sua visão, porém com a "Lupa", verão que a atual docência, necessita de uma reforma pedagógica, mas não é este o objetivo da Pedagogia do aprender a aprender, produzir reformadores?

Nenhum docente responsável repreenderá quem deseja aprender a aprender, pois o verdadeiro papel do Educador é intermediar a relação da potencialidade cognitiva do educando com o mundo de possibilidades a sua volta, através da Tríade do Aprender.

6 REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. LDB-Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília. Art. 13, Inciso III.

wEIDUSCHAT. Iris.Agenda da Disciplina de Didática e Avaliação.Indaial:ASSELVI,2007

Texto disponível em http://www.webartigos.com/articles/7003/1/a-triade-do-aprender/pagina1.html Acesso em 16 de junho de 2008