A origem é a parecida e os sintomas são os mesmos: febre alta, dores pelo corpo e tosse. Por enquanto, as proximidades param por aí. Porém, espalhando-se silenciosamente e com rapidez, a epidemia do vírus H1N1 volta a chamar atenção do mundo. Noticiada no início do século XX como gripe espanhola, ele ganha hoje as páginas dos jornais com a alcunha de gripe suína.
Na edição de janeiro de 2007 da Revista de História, a pesquisadora Liane Bertucci escreveu o artigo ‘No Delírio da Febre’ (leia na íntegra), onde descreve o surgimento, a chegada ao Brasil, os impactos e, enfim, o ocaso da enfermidade. Apenas no eixo Rio-São Paulo, a doença atingiu mais de 18 mil pessoas. É difícil fazer uma estimativa do alcance do vírus no Brasil porque são poucos os registros fora daquelas duas cidades.
A gripe suína teve recentemente seu nível de alerta aumentado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que está preste a considerá-la uma pandemia em todo o mundo. Mas esta “visão global” do avanço da gripe era rara no início do século passado. Diretor geral da Saúde Pública, Carlos Seidl tomava medidas contra a influenza, mas procurava tranquilizar os brasileiros afirmando que “a gripe que vitimava os moradores da cidade era diferente da que matava na África e na Europa”. Algumas semanas depois, a doença mostrou que fazia pouco das distinções nacionais, avançou pelo país e afastou Seidl de seu cargo. O medo foi o motor da publicidade de inúmeros remédios contra a gripe espanhola. Tão vasta quanto a gripe, era a criatividade e cara-de-pau dos vendedores. Enquanto os médicos recomendavam higiene e prevenção, sugiram tônicos, xaropes e pílulas que prometiam livrar a população daquele mal. Considerados como remédios apenas de um ponto de vista pouco ortodoxo, outros produtos também aproveitavam a oportunidade para vincular sua imagem à cura da gripe, como cigarros, vinhos ou marcas de água tônica. Entre os remédios caseiros, o limão destacava-se. Segundo Bertucci, a procura foi tamanha que seu preço aumentou em diversas regiões, tendo relatos de tumultos por conta da pequena fruta no Rio de Janeiro. Mas as grandes polêmicas da gripe espanhola ocorreram com aqueles próximos a ela. Por parte dos médicos, o artigo destaca as lendas sobre o “chá da meia-noite”, bebida letal dada aos enfermos terminais para vagar espaço para aqueles com possibilidades de recuperação. Mas, em meio às febres, os atingidos pela gripe foram além. Ficou famoso o caso da família Schonhardt, no qual mãe e filho deceparam a cabeça do pai por acreditarem que este era a encarnação do demônio. A gripe espanhola somente abrandou ao final do ano de 1918. Já a suína parece estar apenas começando. No Brasil, por exemplo, não há nenhum caso registrado, mas os órgãos de saúde já estão em alerta. Resta-nos apenas torcer para que as comparações históricas não alcancem equivalência nos números. Além de lavar as mãos regularmente, é claro. Fonte: |