Uma possível visão elege o romano, o russo e o britânicos entre os maiores
Roma, exibido no canal de TV HBO.
Foto: Divulgação
Para definir os grandes impérios da história, não basta levar em conta apenas a extensão territorial. "Existiram os muito grandes, mas que foram também muito efêmeros", diz o professor doutor Pedro Paulo Funari, do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas (Unicamp). Segundo ele, a duração e o legado de cada um deles também são fatores importantes nessa definição. É a partir desses critérios que são apontados o romano, o russo e o britânico como exemplos de grandes impérios da história. "O mongol teve extensão maior que o romano, por exemplo, mas sua duração foi muito curta. Já o de Alexandre, o Grande, durou somente dez anos e chegou ao fim com sua morte", cita. "O império romano, por sua vez, além de ser muito extenso, existiu por quase oito séculos e deixou consequências muito duradouras, como as estradas construídas na época e que são usadas até hoje, e as leis, que foram transmitidas para diversas civilizações. Já os britânicos expandiram a língua inglesa e difundiram aquilo que caracteriza o mundo de hoje, que é a industrialização e a globalização", destaca o professor.
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Embora tenham ocorrido em épocas diferentes, os três impérios carregam algumas características em comum. "Eles conviviam com um poder central e a diversidade cultural dos povos dominados - porém, de maneiras diferentes em cada um deles. Além disso, nos três casos fazia-se uso de uma língua de comunicação entre as elites: o latim, no romano; o inglês, no britânico; e o russo. Não é à toa que esses idiomas se tornaram tão importantes mundialmente", explica Pedro Funari. Mas as semelhanças não passam muito para além dessas esferas. Individualmente, cada um possuía características muito peculiares, desde a forma de conquista e administração até na sua relação com os povos dominados.
Império Romano
É o mais antigo entre os três. Teve suas origens no século 4 a.C.O poder centralizado não era tão forte, mas utilizavam-se mecanismos que garantiam a dominação dos povos conquistados. "O exército romano era poderosíssimo, baseado na tecnologia do ferro. Havia uma organização militar bem consolidada. Além disso, os colonizados eram aceitos como cidadãos romanos. Isso foi muito importante", afirma o professor Funari. Sua administração também era bastante organizada. "Era um tipo de império fundado em cidades, onde a vida girava em torno delas. Havia um excelente sistema viário - o melhor até a invenção dos trens - que fazia a comunicação entre elas, permitindo o transporte das tropas". O império teve seu fim entre os anos de 410 e 480, quando diversas áreas começaram a se desmembrar no ocidente e deixou de existir um governo centralizado, dando origem à formação de reinos bárbaros.
Império Russo
Teve início no século 16 e terminou com a Revolução Russa em 1917. "Formalmente, ele acabou, mas de certa forma continuou existindo como União Soviética até 1989", diz Pedro Funari. "Hoje em dia, a Rússia ainda mantém características de império. Sua extensão não é mais tão ampla como foi no passado, porém, ela chega até a China e ainda possui várias regiões que falam línguas diferentes". Essa foi, aliás, uma marca importante do poder russo: ao conquistar povos tanto do oriente quanto do ocidente, permitia-se que eles mantivessem suas línguas e culturas. Isso porque o poder político era fortemente centralizado na figura do czar. "Era um governo teocrático, e o principal elemento de aglutinação foi a igreja ortodoxa. Os chefes locais eram mantidos prestando tributos ao czar", explica o historiador. O império foi o maior em continuidade geográfica, diferentemente do romano, que se organizava em torno do Mar Mediterrâneo, e do britânico, que teve colônias espalhadas por todos os continentes.
Império Britânico
Foi o maior império descontinuo da história. Já no século 16, conquista a Irlanda, formando seus primeiros embriões. Mas foi só nos séculos 18 e 19 que os britânicos se consolidaram como grande império, ao dominar parte do continente africano e países como Índia, Austrália e Canadá. "Havia uma frase que dizia: 'O sol nunca se põe no império britânico", porque ele se espalhou por todo o mundo", comenta Pedro Funari. As principais características foram as suas bases na marinha e no domínio econômico sobre suas colônias, que produziam matéria-prima para a Inglaterra e consumiam seus produtos industrializados. "Era um império capitalista, enquanto o romano era escravista, e o russo, de servidão feudal", destaca o professor. O desenvolvimento da indústria no país foi o fator chave que permitiu um acúmulo de capital para investir em frotas marinhas e, com isso, conquistar suas colônias. Suas formas de controle também eram eficazes. "Eles fizeram alianças com elites locais, beneficiando-as, como, por exemplo, os marajás indianos", explica Pedro. O fim pode ser datado a partir da independência da Índia, em 1947. "Foi o primeiro grande golpe contra a coroa, em que sua maior joia foi perdida. As colônias na África também foram conquistando sua independência nos anos 50, e, já em 1970, a Inglaterra já não formava mais um império - embora ainda hoje englobe as comunidades britânicas de suas ex-colônias", diz o professor.
Fonte: NOVA ESCOLA