A preocupação com a leitura, e logicamente com a escrita, esteve sempre muito presente na história, entretanto, o conceito de leitura vem se modificando ao longo do tempo. Hoje se vive numa sociedade letrada em que a cada dia o indivíduo é desafiado em situações diversas em que é preciso usar a sua competência de leitor, não apenas em textos escritos, mas, sobretudo compreender o mundo que o cerca, ler a própria vida e nela ser protagonista. A leitura virtual de caixas eletrônicos e da internet é um bom exemplo dessa linguagem utilizada nos tempos modernos, a chamada leitura digital. Portanto, é inquestionável o fato de que o ato da leitura permite ao homem não somente sua inserção, mas também a participação ativa no meio social ao qual está inserido e a escola deve ser este elo entre leitores proficientes e inserção social.
As escolas há alguns anos, vêm oferecendo computadores e laboratórios de informática aos alunos para que todos tenham acesso às novas maneiras de ler e escrever, isso, no entanto, não é o suficiente. É preciso, antes de tudo, que o professor projete novas formas de ministrar aulas, utilizando sim, essas novas tecnologias, mas também, fazendo com que os alunos possam ter contato com os diversos gêneros textuais, pois isso sim, é fazer com que os alunos entrem nesse universo de leitores e possam realmente se tornar cidadãos conscientes, participativos e sujeitos de sua própria história, que saibam utilizar a linguagem com precisão, comunicar-se com exatidão, sabendo adequar seu discurso a diferentes situações comunicativas.
Nesse mundo globalizado, o professor tem que ter a capacidade de desenvolver a competência comunicativa dos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), ou seja, fazer com que o aluno entenda que ele não realiza somente uma exteriorização do pensamento ou uma transmissão de informação, mas também realiza ações, age e atua sobre o interlocutor em alguma situação de comunicação dentro de um contexto sócio-histórico-ideológico.
Este trabalho não objetiva, portanto, trazer soluções para os questionamentos feitos a cerca de leitura, mesmo porque não é de hoje que a leitura tem sido foco de atenção de pesquisadores e estudioso. O que se pretende neste trabalho é fazer com que este tema continue em destaque para que realmente se possa ter num futuro bastante próximo uma sociedade leitora, participativa, informada e acima de tudo consciente de seu papel.
As concepções de leitura
Como já discorremos, a leitura possibilita o desenvolvimento individual e social do indivíduo, é pela e na leitura que construímos, reconstruímos e desconstruimos conceitos relevantes a nossa formação enquanto ser humano e partindo do princípio de que a atividade de leitura deve ser fator essencial à formação do sujeito, cabe à escola, despertar nos alunos não somente o gosto pela prática de leitura, mas também fazê-los perceber a importância dessa prática não somente no âmbito escolar como também no meio em que estamos inseridos, uma vez que é através do nível de leitura (conhecimentos) de cada um, que surgem as oportunidades e neste mundo elitizado e seletivo, terão mais chances aqueles que têm maior capacidade de posicionar-se criticamente. Entendemos como um ensino produtivo, aquele capaz de desenvolver as habilidades lingüísticas dos alunos, ampliando sua capacidade de compreender e transformar os textos que lhes são apresentados. É justamente por meio da leitura que acreditamos na possibilidade de o aluno ampliar o mundo ao seu redor, sua capacidade comunicativa seja no campo da expressão na busca de construção do novo, seja por meio da leitura ou da produção de textos.
Ao compreender a atividade como um método de construção de significados, percebemos que a escola tem grande responsabilidade da formação dos alunos, do desenvolvimento, da competência comunicativa dos mesmos, enquanto usuários da língua, de torná-los cidadãos críticos e conscientes do seu papel na sociedade e a leitura é uma atividade de grande importância para a vida de cada um de nós, pois é por meio dela que adquirimos novas aprendizagens que são necessárias para o nosso crescimento enquanto seres inseridos numa sociedade que exige leitores críticos, capazes de compreender o contexto atual que o rodeia, bem como a situação social, seja econômica e política.
No entanto o que vemos, é que em algumas escolas, a prática de leitura ainda é amplamente desenvolvida a partir da influência de modelos tradicionais ou concepções distorcidas sobre leitura. A forma como o professor conduz sua prática docente em sala de aula denota claramente a sua postura e sua própria concepção sobre leitura, isso implica dizer, que o enfoque dado à leitura, a forma que utiliza sua metodologia, tudo isso corresponde em suas atividades ao que ele pretende com esse ensino.
Sobre este fato, Solé (1996, p.33) discorre:
O problema do ensino de leitura na escola não se situa no nível do método, mas na própria conceituação do que é leitura, da forma em que é avaliada pelas equipes de professores, do papel que ocupa nos Projeto Curricular da escolar, dos meios que se arbitram pra fortalecê-la, naturalmente, das propostas metodológicas que se adotam para ensiná-la.
De acordo com a autora, a definição do que seja leitura, é o que vai determinar como esse trabalho é conduzido em sala de aula, ou seja, se o ensino será ou não produtivo e isso vem confirmar o que já discorremos anteriormente quando mostramos que a forma de ensinar do professor está intrinsecamente ligada a sua concepção de leitura, o que implicará ou não no desenvolvimento de leitores proficientes. Ao discorrer sobre isso, Kleiman (2004) ressalta que a leitura realizada apenas por meio da decodificação não possibilita que o aluno construa sentidos no texto, pois a leitura como o simples ato de decodificar não permite que o aluno apreenda as significações do texto e, não havendo essa compreensão, o aluno também não será capaz de fazer a paráfrase ou um resumo, já que as informações obtidas do texto são parciais.
Kleiman (2004) salienta ainda que essa concepção de leitura é considerada errônea, embora ainda tenha grande influência nas aulas de língua portuguesa, para ela essa concepção de leitura não modifica a visão do aluno, pois não acontece a compreensão do texto, apenas a decodificação da palavra. A autora ainda explicita outras concepções de leitura como, por exemplo, a leitura como avaliação que também não acrescenta muito na construção do conhecimento, já que essa concepção é feita somente para avaliar a capacidade, o nível de leitura do aluno ao ler um texto em voz alta; a leitura autoritária é outra concepção de leitura apresentada por Kleiman (2004) que consiste numa visão do professor de que há apenas uma leitura, uma interpretação possível para um determinado texto. Essas concepções apesar de não trazerem muito avanço no que se refere à formação de leitores, alcança muitos adeptos, visto que os professores acabam adotando esses métodos nas aulas de língua materna destinada á leitura.
Partilhando desse ponto de vista, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (2001, p.69) apresenta uma definição geral de leitura:
A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, obre o autor, de tudo que se sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informações, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferências e verificação, sem os quais não é possível proficiência.
Baseados nessa concepção, compreendemos que a leitura de um texto exige muito mais que o reconhecimento de elementos lingüísticos, exige a presença de um sujeito ativo que analise o texto guiado pelos seus objetivos (pois, sempre temos um finalidade ao lermos um determinado texto, seja por lazer, busca de informação ou para cumprir ma obrigação/tarefa) e pelo conhecimento prévio e para isso, tecemos estratégia de leitura que acabam contribuindo para extrairmos significado daquilo que lemos.
Contribuindo com as discussões e esclarecimentos sobre leitura, Leffa (1996, p. 10) enfatiza que “a verdadeira leitura só é possível quando se tem um conhecimento prévio”, pois, para a autora, não lemos “apenas a palavra escrita mas também o próprio mundo que nos cerca”. (Ibid, p. 10) assim, entendemos que o sentido de um texto não está nele mesmo, mas sofre influências do conhecimento de mundo do leitor que atribui o significado. Deste modo, na prática de leitura, o leitor não lê letra por letra, mas faz uso de seus conhecimentos prévios, e, à proporção que vai lendo, vai fazendo antecipações e inferências sobre o conteúdo do texto.
Leffa (1996) continua esclarecendo que no ato da leitura, não bastam apenas as contribuições que o leitor exerce sobre o texto e que o texto sugere para o leitor, é preciso que se considere também um outro aspecto que, segundo o autor, ocorre mediante o encontro entre leitor e texto. Assim, para compreendermos a ato da leitura devemos levar em consideração “(a) o papel do leitor, (b) o papel do texto e (c) o processo de interação entre o leitor o texto.” (LEFFA, 1996, p. 16).
Nessa perspectiva, entendemos que a leitura não é simplesmente extração de significados do texto por parte do leitor, é, na verdade, um processo de integração entre ambos, ou seja, é preciso que o leitor tenha a intenção de ler, a capacidade de antecipações e inferência e que o texto, por sua vez, apresente as características e condições necessárias ao leitor.
Leffa (1996) faz uso de uma metáfora para explicar melhor o processo de leitura:
O leitor negocia com o comerciante que compra maçãs, não uma a uma mas em caixas. É muito mais rápido contar as maçãs por caixas, do que abrir as caixas e contar as maçãs uma a uma. Na leitura, se processar cada lado isoladamente, o leitor leva o mesmo tempo para identificar uma letra, uma sílaba ou uma palavra.
Podemos apreender, com base nas palavras do autor, que para compreendermos o significado do texto, é necessário que tomemos nossos conhecimentos não só das informações prévias que temos daquilo que o texto trata, ou que utilizemos nossos conhecimentos aos poucos para compreendê-lo, mas que façamos uso do conjunto de conhecimentos (informações, conhecimentos lingüísticos, por exemplo) para agirmos e interagirmos, simultaneamente, com as informações veiculadas no texto.
Além disso, compreendemos que o sentido do texto não é construído isoladamente, palavra por palavra, mas a partir da interação do leitor com o texto e vice versa, ou seja, é um jogo de estratégias que se integram para que a leitura se concretize.
O papel da Escola no ensino de leitura
Temos o conhecimento de que o sistema educacional estabelece que a escola – instituição pedagógica responsável pela formação dos alunos – deve formar leitores e escritores, visto que leitura é uma habilidade de extrema importância para vida de cada indivíduo. É através da leitura que podemos adquirir novos conhecimentos essenciais ao nosso crescimento social, isto é, a leitura possibilita o convívio com as diversas esferas sociais de forma autônoma, já que na sociedade letrada em que vivemos exige que estejamos cada vez mais preparados para lidar com as exigências sociais às quais somos submetidos. Diante desse contexto, vemos que há uma grande necessidade de que a escola forme leitores críticos, não apenas para o bom desenvolvimento escolar, mas para serem capazes de compreender o contexto atual que o cerca, bem como a situação social, política e econômica.
Entretanto, como já discutimos, é comum nos deparamos com uma prática de ensino de leitura baseada na decodificação de palavras, desconsiderando a construção do sentido do texto e quando vemos uma tentativa de se ultrapassar o nível da decodificação, temos prática de leituras numa concepção autoritária, resultando, de uma forma ou de outra em um trabalho tradicionalista.
De Pietri (2007, p. 31), ao relatar sobre o ensino de leitura na escola, menciona que:
A leitura de textos na escola tem como objetivo, nessa tradição, a busca de um sentido único, aquele que teria sido determinado pelo autor, e a tentativa de controle desse sentido. A atuação sobre o texto se faz, assim, de modo a não atingi-lo em sua concretude, em sua materialidade, o que confere à leitura escolar um princípio de superficialização.
A visão do autor ratifica que a escola ainda está centrada numa prática tradicionalista e que essa prática não contribui para o crescimento do aluno enquanto leitor, tendo em vista que o aluno fica preso àquela leitura pronta, pré-estabelecida e não consegue ou não é instigado a atribuir significados aos textos.
Diante desse contexto, a prática de ensino realizada pelas escolas vem sendo alvo de debates e de críticas constantes, no que diz respeito à forma de se trabalhar o processo de aquisição da leitura. Essa prática de leitura de textos utilizada pelos professores nas aulas de língua portuguesa está distante das teorias lingüísticas e dos avanços alcançados na área.
Fazendo uma crítica a esse modelo de ensino, Chiappini (1997), afirma que o aluno deve ser o sujeito do processo de leitura e não um mero receptor de mensagens. Para a autora, deixar o aluno construir os sentidos do texto, faz com que ele seja capaz de extrapolar os limites de um texto e incorporá-lo no seu conhecimento de modo que o faça compreender melhor o mundo e os outros.
Os PCN (2001) esclarecem que para ampliar o método de ensino, o professor deve diversificar os modos de ler, ou seja, deve proporcionar a leitura de uma diversidade de gêneros, diversificar o autor e a época, a fim de que os alunos possam estabelecer vínculos cada vez mais estreitos com os textos. O documento ainda acrescenta que esse método possibilita ao aluno passar de o estágio de uma “leitura mais ingênua que trate o texto como mera transposição do mundo natural para a leitura mais cultural e estética, que reconheça o caráter ficcional e a natureza cultural da literatura.” (PNC, 2001, p. 71).
Assim, acreditamos que assumir a tarefa de formar leitores impõe à escola a responsabilidade de ir além de decodificar as palavras do texto ou simplesmente se restringir a perguntas que não levem o aluno a uma reflexão crítica sobre o texto lido. Ao contrário, a escola deve proporcionar estratégias de leitura que o induzam a criticar, a atuar sobre o texto, a “reconstruir o universo representado a partir das indicações, pistas gramaticais, que lhe são fornecidas” (CHIAPPINI, 1997), chegando à formulação de sentidos que dão vida ao texto.
Nesse sentido, entendemos que é inviável que a escola continue trabalhando a leitura como uma atividade mecânica, que apenas reproduz aquilo que está explícito no texto, impossibilitando o aluno de entender a língua ou a situação na qual o texto fora produzido. Em outras palavras, estas atividades não os levam a pensar, fazer inferências, buscar a construção de sentidos a partir dos contextos lingüísticos, históricos e situacionais, mas impossibilitam o desenvolvimento da capacidade de ampliar o conhecimento de mundo.
Entretanto, para a realização de uma prática de ensino produtiva, o professor deve assumir o papel de mediador do processo de leitura dos textos, embora estando imerso a uma série de dificuldades impostas muitas vezes pela escola e pelo próprio sistema educacional. Em relação a isso, os PCNs (2001, p.48) esclarecem que cabe ao professor o papel de:
[...] organizar ações que possibilitem aos alunos o contato crítico e reflexivo com o diferente e o desvelamento dos implícitos das praticas de linguagem, inclusive sobre aspectos não percebidos inicialmente pelo grupo – intenções, valores, preconceitos que veicula, explicitação de mecanismos de desqualificação de posições – articulados ao conhecimento dos recursos discursivos e lingüísticos.
Visto por este lado, o professor tem a função de ajudar o aluno na apreensão do conhecimento, a ter capacidade de desenvolver suas habilidades lingüísticas, de ampliar a capacidade de compreender e transformar os textos que lhes são apresentados. É justamente por meio desta prática que acreditamos na possibilidade de o aluno ampliar o mundo ao seu redor, sua capacidade comunicativa, seja no campo da expressão na busca de construção do novo, seja por meio da leitura ou da produção de textos.
Nesse sentido, cabe às escolas e, principalmente, ao professor de língua portuguesa rever a sua prática pedagógica no que se refere ao ensino de leitura para que este ocorra de maneira significativa para a formação de sujeitos aptos a viverem ativamente na sociedade.
Considerações Finais
Hoje, a cada dia, buscam-se pessoas com competência comunicativa, assim é inviável que a escola continue tratando a leitura como uma atividade de decodificação, em que as atividades propostas pelos professores apenas reproduzem aquilo que está no texto, impossibilitando o aluno a entender a língua ou a situação na qual o texto fora produzido. Em outras palavras, estas atividades não os levam a fazer inferências, nem contribuem para que possam ampliar seu conhecimento de mundo.
Entendendo o processo de leitura como uma prática transformadora e um instrumento básico para a nossa construção, percebemos que cabe à escola, enquanto instituição pedagógica responsável pela formação de seus alunos, de desenvolver neles a competência comunicativa dos mesmos, tornando-os seres capazes de compreender e interagir com o mundo a sua volta, visto que, a leitura é imprescindível para agir com autonomia nas sociedades letradas.
Por esta razão, nesse trabalho, buscamos levantar reflexões sobre a importância de se trabalhar a leitura de forma a desenvolver a capacidade critica dos alunos e ao mesmo tempo contribuir para levar a uma mudança de postura por parte desses educadores, porque acreditamos que a leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, obra, o autor, de tudo que se sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informações, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferências e verificação, sem os quais não é possível proficiência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 2001.
CHIAPPINI, L. (coord. Geral). Aprender e ensinar com textos didáticos. São Paulo: Cortez Editora, 1997 (v.2).
DE PIETRI, Práticas de leitura e elementos para a atuação docente. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.
KLEIMAN, A. Oficina de leitura: teoria e prática. 10ª ed. Campinas, SP: Pontes, 2004.
LEFFA. V. Aspectos da leitura. Porto Alegre: Sangra – Luzzatto, 1996.
SOLÉ, L. Estratégias de leitura. 6ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998
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