Introdução
O Mundo Capitalista foi tomado por um “otimismo geral” na sua fase de apogeu.
Aquele “otimismo” era reflexo do pensamento econômico liberal predominante até a década de 1920, o que explicava a fé no desenvolvimento ilimitado do capitalismo.
No entanto, algumas coisas vieram ameaçar essa visão otimista. Em todos os períodos da História tem havido muitas crises. Antes do século XVIII as crises, de um modo geral, afetavam normalmente o setor agrário, sendo caracterizadas pela carência, escassez de alimentos e outros artigos necessários, cujos preços, conseqüentemente, se elevavam. Mas com o advento do Modo de Produção Capitalista houve uma mudança no caráter dessas crises: nelas não há escassez, mas sim superabundância, e os preços, ao invés de subirem, decaem.
Passo a passo pra entender melhor
A produção capitalista tem por finalidade o lucro. E tais crises estão relacionadas com o próprio sistema na medida em que existe uma tendência de redução na taxa de lucro.
Com o desenvolvimento do Capitalismo, uma parte cada vez maior do lucro é empregada em novas e melhores máquinas. Essa maquinaria, embora custe muito dinheiro, elimina o trabalho de muitos homens, reduzindo o custo da produção e, portanto, possibilitando maiores lucros. Todavia, por outro lado, provocando o desemprego e a baixa dos salários, diminuía, também, a capacidade de consumo das mercadorias.
Assim, apesar de a capacidade de produção ter aumentado, a taxa de lucro sofreu redução porque o poder aquisitivo dos trabalhadores era limitado. Esta é a Contradição Principal do Modo de Produção Capitalista, que o levará fatalmente a seu final, assim como chegaram ao fim o Escravismo Antigo, o Feudalismo...
É possível fazer uma omelete sem quebrar os ovos?
O burguês, dono do Capital, sabe que se pagar com justiça a seus operários, seu lucro será menor. E do seu ponto de vista, tal não deve ocorrer, pois, menor lucro significa redução da acumulação de capital e esta é essencial à continuação do lucro. Por isso resolve parte do dilema pagando baixos salários, o que lhe permite uma acumulação cada vez maior. Contudo, tal acumulação propicia a produção de mais mercadorias que são lançadas no mercado. No entanto, o baixo poder aquisitivo dos trabalhadores não permite que aquela produção seja absorvida.
O subconsumo leva à estocagem da mercadoria, à baixa dos preços e à diminuição transitória da capacidade produtiva, o que por sua vez, tem como um dos seus efeitos mais constantes o desemprego. Desde o século XIX, o capitalismo vem sofrendo dessas crises periódicas – hoje mesmo, princípios do século XXI, passamos por uma das piores de todas... – que, pela sua regularidade, se classificam como cíclicas. À crise propriamente dita segue-se um período de depressão, estagnação dos negócios e desemprego, ocorrendo, a seguir, novo período de “prosperidade” no qual a atividade econômica recomeça com novo ímpeto: daí o caráter cíclico das crises, que ocasionalmente se abatem sobre este Modo de Produção.
Qual a “saída” burguesa para um dilema desses?
A “depressão” de 1873 a 1895, por exemplo, coincidiu com um grande impulso colonialista e um grande volume de investimentos de capitais no exterior: foram as alternativas encontradas para aumentar a taxa de lucro.
Naquele momento foram as colônias ou a dominação imperialista a saída encontrada. Aquela corrida imperialista, por sinal, resultou na Primeira Guerra Mundial.
Desse modo, podemos observar, também, um outro aspecto novo de tais crises: além de serem basicamente industriais, de superprodução e do seu caráter cíclico, tenderam à internacionalização, isto é, não se tratava de crise em um país, mas no conjunto de países capitalistas. Isto porque a necessidade de mercados para os excedentes de capitais e produtos, como também o suprimento de matérias-primas, leva à concorrência entre os diversos países capitalistas.
Vale lembrar, mais uma vez, que este foi o fator mais importante para o desencadeamento da Primeira Grande Guerra, em 1914.
É evidente que, diante dessas crises cíclicas e de uma guerra mundial, tornava-se impossível ser otimista e ter fé no desenvolvimento ilimitado do capitalismo. Por isso, ao chegarmos à Primeira Guerra Mundial, observamos uma inadequação, uma não-correspondência do pensamento econômico com a realidade da época. A era da multiplicidade de pequenas empresas, concorrentes entre si, passara: a economia era controlada pelas grandes unidades (monopólios) e no plano comercial firmavam-se as tarifas protecionistas (nacionalismo econômico), sendo o papel do próprio Estado mais vasto do que aquele de guardião da propriedade imaginado pelos liberais do século XIX. Entretanto, a intervenção do Estado na vida econômica não tinha ainda o caráter drástico e sistemático que teve após a Crise de 1929 ou durante a Primeira Guerra Mundial, quando teve de chamar a si o controle da economia de guerra. Todavia, o Estado liberal, embora nunca tivesse chegado a ser o que os liberais imaginavam, exercia seu papel de mantenedor da ordem vigente, deixando no plano econômico as iniciativas a cargo dos particulares - a livre iniciativa.
A Primeira Grande Guerra mudou tal situação, pois o não-intervencionismo dos liberais se mostrou impotente para coordenar uma economia de guerra prolongada, tarefa em que o papel do Estado avultou-se. Apesar desse primeiro golpe no Liberalismo Econômico, ele foi transitório e o imediato pós-guerra assistiu novamente ao afastamento do Estado dos assuntos econômicos.
Mas, com ou sem intervenção do Estado na economia, a contradição permanecia e as crises de superprodução eram constantes.
Mas afinal, como resolver o problema dentro dos marcos do capitalismo?
Thomas Carlyle, já em 1843, tocou no ponto fundamental da questão: “Qual a utilidade de vossas camisas de seda? Estão penduradas aí, aos milhões, invendáveis; e há os milhões de costas nuas, trabalhadoras, que não as podem usar. As camisas são úteis para cobrir as costas humanas; inúteis para qualquer outra finalidade, um motejo insuportável, de outro modo. Que recuo representa esse aspecto do problema!” (Leo Huberman, História da Riqueza do Homem, pág. 302)
Todos, então, se preocupavam em resolvê-lo. No entanto, o problema das crises cíclicas é próprio do sistema capitalista. Por isso, a União Soviética, a partir de 1917 com a Revolução Socialista, procurava resolvê-lo pela total substituição do modo de produção capitalista: aboliu a propriedade privada dos meios de produção e planejou a economia de modo a produzir somente o necessário ao consumo, sem o objetivo de lucro, pois tudo pertencia a todos.
Enquanto isso, nos demais países tentava-se resolver o problema. Controlando e “consertando” o próprio capitalismo: o plano era abolir a abundância reduzindo a produção. Na Alemanha foi o Nazismo, na Itália o Fascismo, na Espanha, o Franquismo, em Portugal o Salazarismo e, nos EUA, o “New Deal”.
Vejamos, então, em detalhes as diversas crises por que passou o capitalismo no período entre-guerras, para que possamos compreender as soluções encontradas.
Primeira crise do pós-guerra (1920 – 1923)
As conseqüências da guerra foram pesadas para os países europeus, principalmente para os diretamente envolvidos no conflito e cujo território serviu de campo de batalha, como a França e a Alemanha. No geral, o capitalismo europeu iniciou um processo de declínio relativo no pós-guerra, contrastando com a ascensão norte-americana e japonesa.
A Inglaterra entrou em um processo crônico de crise, o mesmo ocorrendo, de certa maneira, com a França. Se assim ficaram os países capitalistas “vitoriosos” na Primeira Grande Guerra, conseguimos imaginar a situação dos derrotados, devendo pesados ressarcimentos de guerra e tendo de pagar a “paz Cartaginesa” de Versalhes...
Essa Pequena Crise atingiu todos os países capitalistas, principalmente os europeus, que perderam os seus mercados tradicionais; mas atingiu também países como os Estados Unidos e o Japão, provocando desemprego e falências e deixando no seu caminho a insatisfação social.
A retração das exportações das Nações européias durante o conflito e a necessidade de matérias-primas e produtos alimentícios levou os países da periferia, da América Latina especialmente, a desenvolverem a sua industrialização e aumentarem sua exportação de produtos primários. O Japão, grande aproveitador da guerra, e, principalmente, os Estados Unidos, financiador e abastecedor da “Entente” por quatro anos, igualmente aceleraram sua industrialização.
Os “loucos” anos 20 (1923 – 1929), um “Grande Ilusão”...
O período seguinte à Pequena Crise de Reconversão caracterizou-se por uma retomada da expansão, inaugurando-se novo ciclo de “prosperidade” na economia ocidental.
Entretanto, o fenômeno foi muito desigual nos quatro principais países capitalistas (França, EUA, Inglaterra e Alemanha). A “prosperidade” foi mais um fenômeno norte-americano do que europeu, pois a expansão inglesa foi bloqueada até 1925, quando praticou uma rígida política deflacionária e de retorno ao padrão-ouro na paridade anterior à guerra: a libra ficou muito valorizada e os preços dos produtos ingleses não eram competitivos, o que era agravado pelo fato de a estrutura industrial inglesa ser arcaica, e, com raras exceções, somente nos chamados setores novos observou-se a introdução de moderna tecnologia. A França, apesar das deficiências crônicas de seu capitalismo (caracterizado por uma grande persistência da pequena empresa), conseguiu dobrar sua produção até 1927, enquanto a Alemanha beneficiou-se do grande afluxo de capitais norte-americanos, que também se dirigiram para a Europa Central beneficiando os jovens países como a Checoslováquia e a Polônia. O Japão, apesar do golpe da Pequena Crise, continuou em um ritmo crescente, mesmo com o fechamento dos mercados europeus.
Ao lado da racionalização e da crescente utilização de novas técnicas na produção, progrediu aceleradamente a concentrarão industrial, ocorrendo a formação de grandes “holdings”, cartéis e trustes internacionais.
A agricultura jamais conseguiu se recuperar no pós-guerra, principalmente a norte-americana, observando-se um declínio acentuado dos rendimentos agrícolas, o que levava a uma baixa no poder aquisitivo dos setores rurais. O subemprego crônico, resultante dessa situação, era, por sua vez, a causa do baixo poder aquisitivo global. O número de desempregados permanecia constante e, apesar do aumento da produção, a maioria das indústrias trabalhava com capacidade ociosa. Entretanto, apesar desses “maus presságios”, a especulação financeira era intensa: na Bolsa de Nova Iorque uma enorme especulação não cessava seu curso.
A Quinta Feira Negra de outubro de 1929. Adeus ilusões...
Culminando com um rápido declínio das atividades econômicas e sendo um reflexo desse problema estrutural, em 24 de outubro de 1929 ocorreu, na Quinta-Feira Negra, a quebra da Bolsa de Nova Iorque, quando nesse dia foram lançados no mercado mais de 16 milhões de títulos, os quais não encontraram compradores, acelerando-se a queda nos dias posteriores: no início de novembro a totalidade das ações industriais tinha perdido mais de um terço do seu valor.
A Crise norte-americana arrastou consigo os países ligados à economia dos Estados Unidos: uma das características da Crise de 1929 foi a amplidão e a universalizarão, pois a economia capitalista estava em alto grau de interdependência. Outra característica é que foi produto de uma crise agrária, financeira e industrial ao mesmo tempo. E sua duração. foi anormal, pois, se o “ciclo infernal durou até 1933, seus efeitos se fizeram sentir até às vésperas da Segunda Guerra Mundial. O Mundo Capitalista, porquanto a URSS não fora atingida, só sobreviveu transformando-se profundamente.
De imediato, a Crise levou à falência as instituições bancárias norte-americanas e européias, uma vez que os bancos norte-americanos repatriaram seus capitais investidos e cessaram de abrir crédito aos países estrangeiros. As falências bancárias repercutiram em toda a Europa, especialmente na Alemanha, cuja “prosperidade”, após 1924, fora baseada quase que exclusivamente nos investimentos norte-americanos. Para impedir o agravamento do desastre, o governo alemão bloqueou os capitais estrangeiros que ainda se encontravam no país. A Crise propagou-se pela Inglaterra, credora da Alemanha e, por fim, atingiu todos os países.
A crise monetária foi uma só: em 21 de setembro de 1931, o governo britânico abandonou o padrão-ouro, ocorrendo uma desvalorização de mais de 40% na libra, o que levou para o abismo as “moedas-satélites” (mais de 30 países). A França sofreu os efeitos da Crise um pouco mais tarde.
De 1929 a 1933 a produção industrial retrocedeu, tendo o ponto mais baixo ocorrido em 1932 (38% a menos que em 1929). A Alemanha foi o país mais atingido e os prejuízos repartiram-se entre os EUA, a Alemanha, Inglaterra, França, Bélgica, Holanda, Áustria e o Canadá. Os estoques aumentavam e não encontravam compradores; tal situação era agravada pelo “fechamento” dos mercados externos através de altas tarifas protecionistas e pelo desemprego em massa reduzindo o poder aquisitivo dos consumidores.
A agricultura, desde 1919 em crise crônica, foi atingida violentamente, observando-se uma queda enorme dos preços e uma diminuição do poder de consumo, o que levou países tradicionalmente exportadores de produtos agrícolas, tais como o Brasil, a Argentina, Nova Zelândia e outros, a enfrentar o problema da superprodução e da bancarrota. O principal produto da pauta de exportações brasileiras, por exemplo, era o café. Um produto supérfluo, “de sobremesa”, que os países centrais pararam de comprar levando os cafeicultores, principalmente paulistas, à falência e abrindo caminho à chamada “revolução de 30”. A crise no comércio internacional manifestou-se através da desorganização das trocas, que declinaram em um terço. A estagnação do comércio internacional era agravada pelos expedientes tradicionais, como o protecionismo e as desvalorizações monetárias.
O reativamento do comércio recomeçou em 1934 para as matérias-primas, mas os produtos agrícolas e os industrializados só encontraram seu ritmo normal em 1939.
A Crise não só quebrou a euforia ilimitada dos anos 20, trazendo uma angústia ilimitada, como também acentuou os conflitos sociais, especialmente nas sociedades muito diferenciadas. Em 1932 o número de desempregados no Mundo Ocidental atingiu cerca de 30 milhões, não se contando os elementos desempregados temporariamente nem as populações da Ásia, África e América Latina, onde o desemprego é um problema constante.
Os países mais afetados pelo desemprego foram os altamente industrializados: EUA (17 milhões), Alemanha (6 milhões), Inglaterra (3 milhões) e Japão (2,5 milhões).
Especialmente nos países europeus, as camadas médias da população foram das mais atingidas, pois viviam de rendimentos fixos tragados pela inflação, e com a extensão crescente do desemprego, viram-se marginalizadas das correntes econômicas. A Crise também atingiu duramente as populações do campo e sobretudo o proletariado em geral.
No plano social, o equilíbrio das classes foi modificado, tornando-se os conflitos sociais mais acentuados, sendo estes particularmente vivos em países como os Estados Unidos e a Alemanha. Os setores mais altos da burguesia passaram a apoiar regimes políticos autoritários que garantissem a ordem, explicando-se, aí, o apoio ao fascismo na Itália e Alemanha, ao mesmo tempo que a pauperização da pequena burguesia e o aumento do movimento operário, levando à ameaça de uma revolução comunista, canalizaram os setores mais atingidos da pequena burguesia a engajar-se em formações político-partidárias pregadoras de soluções autoritárias (fascismo).
O Intervencionismo Estatal como “Último Recurso”
Em um primeiro momento, os governos limitaram-se a adotar as medidas tradicionais que se mostraram inadequadas, tais como protecionismo alfandegário, a deflação e o controle do câmbio. Aos poucos, o papel do Estado foi sobressaindo, destacando-se sua intervenção no processo econômico através de um programa coerente de sustentação da atividade econômica e de diminuição das tensões sociais. O Estado aparentemente assumiu a posição de “árbitro” e organizador da economia: iniciava-se a Era do Dirigismo Econômico.
Tal fenômeno ocorreu em todos os países e no plano político levou ao reforço do autoritarismo. Nos países mais diretamente atingidos pela crise, como a Alemanha, em que o “equilíbrio entre as classes fora rompido”, a forma mais radical de intervencionismo estatal foi o nazismo, mas o modelo clássico da regulamentação da atividade econômica pelo Estado foi o “New Deal” nos Estados Unidos.
“New Deal, Novo Tratamento”
A crise econômica foi o drama mais doloroso da História norte-americana desde a Guerra de Secessão. Quando se deu a Quebra da bolsa em 1929, o poder estava com os Republicanos (Hoover), que mantinham um predomínio político, desde a década de 1920, sobre os Democratas. As primeiras medidas do governo republicano Hoover foram clássicas, o que não impediu o desenvolvimento da Crise e da Depressão, que atingiram seu ponto culminante em 1933 (“ciclo infernal”), chegando o número de desempregados a cerca de 17 milhões.
Cena comum em Wall Street: filas quilométricas para conseguir um prato de sopa...
A incapacidade para vencer a Crise acarretou a perda de prestígio político dos Republicanos: a opinião pública reclamava mudanças radicais. Em 1932 o candidato democrata, Franklin Delano Roosevelt, foi eleito por grande maioria, tendo apresentado em sua campanha um plano de possível intervenção dos poderes públicos na economia.
Reunindo uma equipe de tecnocratas, logo que ascendeu ao poder (1933) tomou medidas severas: fechamento temporário dos bancos e requisição dos estoques de ouro. Desenvolveu também uma política de inflação moderada: a desvalorização do dólar permitiu o pagamento das dívidas e a revalorização dos estoques e salários, aumentando o poder aquisitivo da população e os lucros dos empresários.
“Uma multidão de cidadãos desempregados enfrenta o grave problema da subsistência e um número igualmente grande recebe pequeno salário pelo seu trabalho. Somente um otimista pode negar as realidades sombrias do momento.”
(Trecho do discurso de posse de Franklin Delano Roosevelt, citado por MORRIS, R. B., Documentos Básicos da História dos Estados Unidos, Editora Fundo de Cultura, pág. 203 .)
O New Deal, termo retirado de um discurso de Roosevelt, foi o conjunto de medidas novas adotadas para combater a Crise. Para os tecnocratas que cercavam a presidência, influenciados pelas idéias do economista inglês J. M. Keynes, a Crise resultara de um excedente de produção (superprodução) e de uma insuficiência do consumo (subconsumo), tornando-se necessária uma melhor distribuição da renda de modo a diminuir a capacidade de produção e aumentar o poder de consumo. Na aparência, o New Deal, limitando o poder do grande capital e aumentando a renda dos trabalhadores, assemelhava-se ao Socialismo. Aliás, esta foi a acusação dos opositores de Roosevelt, mas na realidade era uma política dirigista que visava a defender o capitalismo mediante medidas novas.
O Estado passou a investir na construção de grandes obras públicas, tornando se o principal agente do reativamento econômico. Por outro lado, as grandes construções valorizaram algumas áreas-problema e aumentaram a taxa de emprego. O caso mais célebre foi o projeto criado em 1933 pela Lei do Vale do Tennessee (Tennessee Valley Authority - TVA), medida estatal encarregada de valorizar aquela região.
A fim de acabar com a onda de falências, o Federal Reserve System concedeu créditos ilimitados que levaram a uma inflação moderada.
Na luta contra o desemprego, desde abril de 1933, o Governo Federal passou a conceder créditos aos Estados para a distribuição de seguros aos desempregados e, em novembro desse mesmo ano, um programa de grandes trabalhos foi lançado pela TVA.
A intervenção na agricultura deu-se através da Lei de Ajustamento Agrícola (Agricultural Adjustment Act - AAA), que propôs aos agricultores reduzirem a produção em troca de indenização, ao mesmo tempo que o governo fornecia crédito abundante, a fim de aumentar o poder aquisitivo dos setores rurais é elevar os preços dos produtos agrícolas.
A intervenção na indústria visou, nas palavras do próprio Roosevelt, a “dar à indústria a certeza de lucros razoáveis e aos trabalhadores a certeza de um salário suficiente”. Em 1933 começou a aplicação da Lei de Recuperação da Indústria Nacional (National Industrial Recovery Act ou NIRA), pela qual todos os setores industriais e comerciais deveriam redigir um “código de concorrência leal” garantindo aos trabalhadares um salário mínimo e a liberdade sindical, limitando a duração da jornada de trabalho semanal e impedindo a venda a preços de monopólios. O Governo Federal reservava-se o direito de arbitrar tais disposições se não fossem livremente resolvidas de comum acordo.
Apesar do sucesso e do otimismo despertado, a aplicação do New Deal encontrou sérias resistências, destacando-se a oposição da Suprema Corte, composta de elementos conservadores escolhidos pelos antigos. presidentes republicanos. A Suprema Corte refletia a inquietação dos tradicionalistas, que se sentiam ameaçados com a limitação dos poderes patronais, o aumento crescente das despesas do Estado e a limitação dos poderes dos Estados da União que anteriormente gozavam de grande autonomia, como consagrava a Constituição. A NIRA e a AAA foram declaradas inconstitucionais e a Lei Wagner, que confirmava a liberdade sindical e o direito de greve, colocada em dúvida.
Muitas greves ocorreram no período de 1934 a 1939. Até 1938, a entidade sindical que agrupava os trabalhadores norte-americanos era a Federação Americana do Trabalho (AFL), que unificava os operários segundo as profissões - isto é, segundo as especialidades de cada um. Assim, em uma mesma fábrica, existiam diversas associações (de foguistas, de carpinteiros etc..), o que enfraquecia e isolava os operários. Alguns dos sindicatos mais poderosos, desiludidos com a política sindical desenvolvida pela AFL, fundaram em 1935 o Comitê para a Organização Industrial (CIO), que, diferentemente da AFL, unificava os operários de um determinado ramo da produção (por exemplo: metalúrgicos, têxteis etc.) independentemente da sua respectiva especialidade. Esse fato criava condições favoráveis para a consolidação da unidade da classe operária na luta por seus direitos e pela elevação do seu nível de vida. “O poder do operariado passou a fazer-se sentir não só na indústria (principalmente do aço e automobilística), mas também na vida política em virtude da organização das massas operárias com um objetivo político comum.” (Sinopse da História das Estados Unidos da América, Ministério das Relações Exteriores, EUA, pág. 69.)
Nas eleições de 1936, Roosevelt, utilizando uma plataforma populista e tendo a seu favor as realizações de seu governo, foi reeleito triunfalmente. A reeleição deu-lhe a força necessária para ameaçar de reforma a Suprema Corte, já que se estava à beira de um conflito constitucional entre o Executivo e o Judiciário. Mas a questão resolveu-se tranqüilamente: os juízes opositores se aposentaram e a oposição não se manifestou mais abertamente.
O ritmo de crescimento econômico foi retomado, embora o setor agrícola não acompanhasse o industrial. Apesar de um ligeiro declínio (recessão) na produção industrial em 1937 – 1938, quando o número de desempregados atingiu quase 11 milhões, o aumento da demanda de produtos industrializados e de armamentos por parte dos países europeus estimulou a maior produção. A aproximação da guerra, provocando uma corrida armamentista, e depois o próprio esforço militar norte-americano eliminaram definitivamente a ameaça de nova crise.
Como a Inglaterra e a França enfrentaram a Crise?
A Inglaterra, que só em 1928 recuperou os índices de produção de antes da guerra, vivendo em crise crônica, foi duramente atingida, o que no plano político favoreceu a ascensão dos Conservadores, embora os Trabalhistas mantivessem o poder com Ramsay MacDonald que formou um governo de coalizão. A intervenção do Estado na economia encontrou sérias resistências, não só entre os grupos conservadores, mas também na opinião pública em geral, que se agarrava à estabilidade da libra e à manutenção do padrão-ouro. Uma política deflacionária implicava o congelamento de salários, o que era inviável para um governo trabalhista apoiado nos sindicatos. Entretanto, o Primeiro-Ministro obteve da Câmara dos Comuns o reagrupamento das empresas carboníferas, pouco rentáveis, mas teve de renunciar à diminuição de salários diante da ameaça de nova greve geral.
A Crise, entretanto, levou o governo a tomar medidas drásticas, rompendo com os expedientes tradicionais; em setembro de 1931 o padrão-ouro foi abandonado, a libra esterlina desvalorizada e a conversão do papel-moeda em ouro suspensa, ao mesmo tempo que, depois de mais de um século de livre-cambismo, abandonou-o em favor de um ainda tímido intervencionismo, o que era uma medida retardada, de vez que há muito o país perdera a condição de “oficina do mundo”; a Commonwealth (Comunidade Britânica das Nações) formou um bloco econômico, no qual os produtos ingleses e dos Dominions gozariam de tarifas preferenciais. Só um único país de fora do bloco teve seus interesses salvaguardados: a Argentina, tradicional exportadora de trigo e carne para a Grã-Bretanha, como fixou o Tratado Roca-Runciman.
Tal conjunto de medidas permitiu à economia inglesa recuperar-se. O padrão devida da população equilibrou-se, embora continuassem existindo 500 mil desempregados, amparados em medidas assistenciais do Estado: era o “welfare State” (Estado do Bem-Estar).
Na França, só em 1931 a economia foi afetada pela Crise mundial e, desde 1933, os preços franceses para a exportação superavam sensivelmente os preços estrangeiros: a partir desse momento, o principal escoadouro ainda aberto era o Império Colonial, mas a renda nacional diminuiu. Contudo, os sucessivos gabinetes direitistas recusaram-se a tomar novas medidas, limitando-se a uma política deflacionista através dos chamados “decretos-leis de miséria”.
O fracasso da política deflacionária e a insatisfação social reinante levaram ao poder, em 1936, a Frente Popular, aliança de comunistas, socialistas e radicais, sob a liderança do socialista moderado Léon Blum. O novo governo elevou os salários dos operários, prejudicados por uma política extremamente conservadora de dez anos, mas sucumbiu às pressões da direita, que se sentia ameaçada pelas sucessivas greves (1937).
A partir de 1938 os elementos da direita retornaram ao poder, abandonando aos poucos as tímidas reformas sociais do período da Frente Popular, conhecendo a França, durante todo o período de Crise uma estagnação que contrastava com o dinamismo dos demais países.
Bibliografia:
História Geral - Aquino, Denize e Oscar - Ed. Ao Livro Técnico
Toda a História - José Jobson Arruda - Ed. Ática
História - Luiz Koshiba - Ed. Atual