Resumo A Guarda Nacional no Império brasileiro dá inicio a um processo de transferência legalizada do poder do estado para os grandes proprietários de terra, que eram a elite agrária do período imperial dando inicio ao que ficou conhecido como coronelismo, uma prática clientelista que se apresentou com maior força nos primeiros anos da república brasileira, o presente artigo procura dá conta da relação dessa guarda com o coronelismo.
Abstract. National Guard in Empire Brazilian give beginning to process of transference legalized of the power of state for great proprietors of land, that they were the agrarian elite of the imperial period giving to beginning what he was known as coronelismo, the one practical clientelista that if presented with bigger force in the first years of the Brazilian republic, the present article looks for of counts of the relation of this keeps with the coronelismo
Introdução
A Guarda Nacional criada durante o Império brasileiro se torna um instrumento de estímulo ao nacionalismo, uma vez que a recém formada nação independentes ainda almejava por seus sentimentos de autonomia, a grande influência dessa com a Guarda francesa da mesma época é motivo de estudo no presente artigo. A criação da Guarda Nacional foi marcante para compreendermos as relações da elite dentro do Império brasileiro, sendo que as pessoas que irão compor essa Guarda serão pessoas livres convocados para aliviar os movimentos do Período Regencial.
O processo desencadeado pela formação oficial de uma milícia cidadã no Império brasileiro com fins de manutenção da ordem, além de aprimorar o sistema punitivo e corretivo do Estado se torna um meio propagador da influência da elite imperial ao governo, uma vez que vai propiciar a formação de uma classe eleitoreira no meio rural ligada ao que ficou conhecido como coronelismo.
Durante o período Regencial, as lutas políticas se travaram em torno de questões atinentes à autonomia provincial e municipal. Neste momento, o particularismo regional pretendia emancipar-se do poder central. Nas intricadas disputas que se sucederam, afirmam-se, nas Províncias, os grandes grupos familiares detentores do poder que integrariam as oligarquias regionais. Com a criação da Guarda Nacional, e a aplicação do ato adicional de 1834, criaram-se mecanismos oficiais que institucionalizaram a participação dos proprietários no governo da municipalidade e das Províncias[1]
Buscando analisar o período imperial brasileiro, a estrutura política que levou a criação da Guarda Nacional e como esse fenômeno que chegou aos nossos dias como coronelismo se corporificou no Brasil, coronelismo, termo usado por Vitor Nunes em seu celebre livro Coronelismo, enxada e voto. Nesse sentido o presente trabalho procura dar conta das relações de poder dentro do Império, que vão nortear a formação dessa Milícia cidadã armada e sua manutenção dentro do sistema e sua conseqüente queda com o fim do Império. Embora essa instituição tenha refletido nas relações do Brasil até os dias atuais é interessante conhecer aquela condição, ou condições que a criaram.
O interesse por conhecer essas práticas imperiais está na necessidade que temos em adentrar na história do Império brasileiro em suas múltiplas atribuições, a Guarda Nacional vem ser para muitos historiadores uma das primeiras decisões no sentido nacional, ainda muito restrito aos moldes franceses, pois a lei de criação da Guarda foi quase transplantada para o Brasil.
A produção historiográfica que chega aos livros didáticos mostra a Guarda Nacional como uma instituição criada pela Regência para conter as forças do exército, cabe aqui analisar essas passagens e buscar nas produções historiográficas outras possibilidades de análises dentro dos novos padrões historiográficos, adentrar na vida do Império através dos textos que chegam até nós e procurar encontrar respostas as inquietações que rodeiam esse período.
Na procura por bibliografia para o presente artigo tive a oportunidade de encontrar artigos sobre o assunto, dando conta da vida das elites brasileira imperiais, onde faz menção a Guarda Nacional, mostrando em certo ponto que as famílias ricas tinham representantes na Guarda Nacional, nas produções de Raymundo Faoro, em especial "Os donos do poder" é possível encontrar uma relação direta entre a nobreza agrária da época e a Guarda Nacional, sendo este os herdeiros dos tão famosos coronéis da República. História Geral da Civilização Brasileira, sob a direção de Sérgio Buarque de Holanda, nos dá um rumo de como foi a institucionalização dessa organização armada no Império brasileiro. Fazendo uso dessas produções é que nos propomos a apresentar o presente artigo.
Sendo de fundamental importância para a compreensão da vida política do Império, e da história política brasileira o coronelismo que tem início no período Imperial com a criação da Guarda Nacional vai se mostrar com mais nitidez no Nordeste brasileiro, sendo motivo de muitos estudos na região, sem deixar de contemporaneizar a questão em Hidrolândia, pequena cidade do Ceará onde tivemos uma amostra bem típica do coronel do sertão, este que em sua trajetória se confunde com um cangaceiro, outro elemento típico do Nordeste brasileiro, sendo que ambos os fenômenos conviveram na mesma época.
Regência e a Guarda Nacional
Após a independência do Brasil que não ocorreu de forma pacífica como afirmam algumas produções, para atender as elites locais, pois não queriam mais receber ordenação das cortes portuguesas, a grande luta foi para manter a unidade nacional. Outra preocupação da elite, pois não queriam ver acontecer no Brasil o que ocorreu com a América espanhola, com a formação de muitos pequenos países. O fato é que as transformações ocorridas após a independência foram poucas e no campo político, pois na economia continuou com a mesma estrutura, escravismo, dependência estrangeira e elite importada da Europa.
Para efetuar uma mudança na estrutura do estado de forma sutil e direta dando autonomia a elites locais e legalizar esse poder foi crido na regência a Guarda Nacional alem de diminuir a força e importância do exercito na época. Pois o exercito no Brasil imperial era tido como fiel a Dom João e não ao Brasil.
Uma das primeiras medidas nesse sentido foram a criação em 1830 da Guarda Nacional, era em decorrência das desconfianças e antipatias em relação ao exercito nutridas pelos liberais que se opunham a Dom Pedro, os quais viam essa instituição como um despotismo do imperador.[2]
O importante ressaltar é que para conter os movimentos contra a independência o Imperador D. Pedro I teve que convocar as milícias e contratar mercenários ingleses e franceses para conter os portugueses que se rebelaram contra a separação de Portugal. Sendo que o Brasil não tinha exército organizado, esse ponto é que nos chama atenção, a falta de um exército no Brasil no início do Império. Dessa forma os gastos com esses mercenários foram muito grande, sendo um verdadeiro arrojo às elites que tiveram que pagar mais impostos para pagar esses mercenários que lutaram para manter a independência.
Dessa forma é possível perceber a grande influência das elites brasileiras nos rumos do recém formado país. Tanto nas decisões políticas como nas decisões administrativas.
"A atuação das elites brasileiras na independência e na definição do perfil político nacional partiu de uma estrutura escravista a uma meta de ampliação dos direitos populares e mesmo contra o envolvimento participativo do conjunto da população brasileira. Até porque, por suas raízes, predominavam entres nossas elites as posições ideológicas de padrão bastante autoritário e conservador, mesmo quando se aproximavam das tendências liberais européias do período
A preocupação das elites brasileiras em criar um estado nacional que ativasse a fragmentação política da América espanhola foi prioritária sobre a construção de uma democracia liberal. Além do que, os liberais brasileiros, diferentemente das elites crioulas latinas – americanas, eram avessos ao liberalismo radical francês, considerando como propenso a anarquia, e optaram pelo liberalismo lockina e pré-democratico da tradição inglesa que dominava os cursos jurídicos de Coimbra. "[3]
Como percebemos nesse artigo, a elite brasileira da época imperial tinha suas intenções bem definidas com relação à manutenção de seus privilégios na administração imperial, sendo que a criação de instituições que lhes dessem suporte era de fundamental importância, nesse intento é que no período Regencial, época de maior turbulência no império, devido D. Pedro ter abdicado em favor de seu filho menor, com apenas 5 anos, sendo questionado em vários pontos do país. Dessa forma o regente Antonio Feijó como forma de fortalecer o seu poder e o da classe dominante cria a Guarda Nacional, para substituir as milícias e aos poucos tirar a força do exército.
A Guarda Nacional era recrutada entre os cidadãos com renda anual superior a 200 mil réis, nas grandes cidades, e 100 mil réis nas demais regiões. Era vista por seus idealizadores como o instrumento apto para a garantia da segurança e da ordem, vale dizer, para a manutenção do espaço da liberdade entre os limites da tirania e da anarquia. Tinha como finalidade defender a Constituição, a liberdade, a independência e a integridade do Império, mantendo a obediência às leis, conservando a ordem e a tranqüilidade pública.
A Constituição de 1824 e a Guarda Nacional
A base legal para criação da Guarda Nacional pode ser encontrada no texto oficial da Constituição de 1824, esta que é vista por Faoro como voltada para os interesses das elites imperiais.
Em 1958 temos uma tentativa bem considerada de interpretar a fundação e o desenvolvimento da milícia na organização social do Império brasileiro. No trabalho de Raymundo Faoro sobre a origem do patronato político brasileiro. Procurando analisar as estruturas políticas de poder desde o período colonial, o autor retorna e examina mais rigorosamente a idéia de Guarda Nacional constituiu uma tropa militar sempre posta a serviço da elite política do país. Sendo pois para o autor a constituição de 1824 a base legar para fundação da milícia.
"O sistema criado pela carta de 1824 e calcado sobre a tradição portuguesa assume caráter próximo á oligarquia que o imperador preside. A supremacia da coroa mitiga – se por órgãos de controle saídos das estranhas monarquias, o senado e o conselho do estado, e por via de um órgão dependente da eleição, a Câmara dos deputados. A inautenticidade eleitoral, inautenticidade derivada menos do senso, que restringem o número de eleitores, do que de circunstancias sócias, optas a selecionar o corpo liberante e de circunstancias ligais, agendadas para filtrar a vontade primaria, reduz a importância, o peso e densidade do elo popular e representativo."[4]
Com o instrumento que já havia sido criado antes, que foi a Carta Constitucional de 1824, o regente fazendo uso dessa em seu favor e da elite que sustenta o governo cria a Guarda e lhe dá um amplo apoio. Cabe ressaltar que o instrumento de fundamental importância para manutenção das oligarquias nacionais foi a Constituição de 1824 onde dá amplos poderes para criação de corpo armado para defender a nação, ou seja, em momento posterior já se previa a necessidade de substituir o exército por outra força leal aos interesses da unidade nacional e das elites imperiais. Assim a Guarda Nacional foi criada sob os signos do nacionalismo sendo o texto da lei de sua criação uma inspiração muito próxima do original da Guarda francesa Pós-Revolução, onde na ocasião essa substituiu o Exército do rei. Sendo usada para patrulhar as ruas.
No Brasil a Guarda além de ser usada para patrulhar as ruas seria usada para sufocar revoltas sendo que em pouco tempo essa procura substituir o exército imperial. Com a criação da Guarda Nacional, Feijó fortalecia as elites políticas locais, pois eram elas que formavam ou dirigiam o Corpo de Guardas e, ao mesmo tempo, demonstrava a falta de confiança do governo na fidelidade do Exército. A posição das tropas, participando das lutas políticas e posicionando-se pela volta de D. Pedro I, no caso da oficialidade, e reivindicando por melhores soldos e mostrando-se contra as discriminações raciais e sociais, no caso das patentes mais baixas, tornavam-no suspeito para garantir a ordem no país.
"A constituição de 1824, de tendências antimilitaristas, determinou o fortalecimento do poder civil contra os perigos do militarismo, seja adiando a reorganização das forças armadas, seja submetendo-a ao poder civil. Um dos seus artigos de lei – o artigo 145 – tornou-se a base da criação da futura Guarda Nacional, quando estabeleceu ' A Nação em Armas' isto é, que a defesa da nação está nas mãos de todos os cidadãos. Por outro lado, a Guarda Nacional formada de cidadãos eleitores participava da vida política nacional, ao contrário dos soldados de 1ª linha, excluídos dessa participação." [5]
Como podemos perceber nesse trecho os fundamentos legais para a existência de uma Guarda civil organizada já era articulada bem antes de sua fundação em 1831, pois a constituição de 1824 já lhe dava suporte.Com o objetivo de realizar um enxugamento no Exército, a Regência tomou uma série de medidas: em maio de 1831 o número de efetivos das tropas já havia baixado de 30 mil para 14.342 homens e, em 30 de agosto, reduziu-se ainda mais caindo para 10 mil homens. As demissões e licenças de militares são facilitadas, enquanto cessa, por tempo indeterminado, o recrutamento militar. Em relatório de seu Ministério, datado de maio de 1832, Feijó faz um balanço da situação militar no Rio de Janeiro: "A tropa de primeira linha da capital desapareceu: as guarnições de terra, as rondas policiais, o auxílio à justiça são prestados pelos guardas nacionais."[6]
Nessas palavras fica evidente a preocupação do então regente Antônio Feijó em tirar as forças do exercito e transferir essas para a Guarda Nacional. O que ele consegue em um espaço de tempo muito curto, uma vez que os jovens que antes eram obrigados a servir na 1ª linha, ou seja, o Exercito brasileiro, agora com o advento da Guarda Nacional os jovens que fossem para a Guarda estavam isentos do serviço militar no exercito, com essa medida o numero de soldados para o exercito diminui sensivelmente.
Como no Exército brasileiro eram aceitos pessoas de famílias pobres, até mesmo negros forros, e estes podiam ascender de cargo, mesmo que não tivessem muitas oportunidades, o fim dessa instituição seria uma forma de conter avanços desses no meio social, uma forma de manter as elites no poder sem perturbações por parte dos militares. Embora a Guarda não tivesse o mesmo respaldo de um Exercito, no caso de uma guerra externa. No entanto essa guarda é que vai abafar as várias revoltas do período Regencial, sendo sua primeira experiência internacional na guerra do Paraguai.
Guarda Nacional e a Nobreza da terra
Após a independência do Brasil politicamente, a guarda nacional passa a ser usada pelas elites como força eleitoreira, sendo os cargos da guarda distribuídos aos grandes proprietários rurais que com o tempo passaram a ter um enorme poder nas regiões controladas por eles. Sendo uma forma bem clara de imposição eleitoral.
"Uma vez que a guarda nacional se formava de cidadãos eleitorais, era natural que fosse ela envolvida no processo eleitoral, ora coletivamente, como força de manutenção da ordem publica ora individualmente. Podia-se impedir o comparecimento do Guarda nacional ás urnas mediante uma ordem de destacamento. Mas tal medida era de pouca significação, pois atingia um reduzido numero de cidadãos eleitorais da Guarda nacional, acrescido do fato que se permitiam votos por procuração. A defeituosa organização eleitoral do império gerava desmandos e violências e a Guarda nacional constituía parte dessa engrenagem e não o instrumento preponderante e único de coação eleitoral." [7]
É importante salientar que mesmo sem a força da Guarda Nacional os proprietários rurais já tinham grande poder durante o Império brasileiro, tendo, no entanto se acentuado com mais nitidez nesse período, uma vez que os proprietários que já recebiam o titulo de Juiz de paz, e com o advento da regência e da Guarda Nacional passaram a receber títulos de coronéis e outros títulos conferidos pela Guarda. Sendo que mesmo assim, sem a interferência da Guarda o Império já tinha seus próprios meios de coerção eleitoral nas vilas e pequenas cidades do país.
A idéia de nobreza relacionada à Guarda Nacional é preciso situar bem quem eram esses nobres e quais suas posições dentro do Império, haja vista que em alguns momentos os oficiais da Guarda não assumiam um titulo mais alto porque não podiam comprar a farda, Sendo que o estado não lhes dava o fardamento.
Para compreender a Guarda como instrumento de dominação política, dentro do Império é necessário adentrar para a questão estamental da tropa auxiliar, no caso Guarda Nacional.
A ocupação dos postos de comando constituiria prerrogativa de determinados extratos sociais. Assim podemos estabelecer o seguinte esquema estabelece o seguinte esquema: alta e média 'nobreza rural', ocupariam os postos mais importantes; pequena, postos intermediários e também a posição de guardas de cavalaria. A atenção dada e este último posto, o mais baixo na hierarquia, só se explica em relação à cavalaria pois esta era considerada uma arma militar nobre.[8]
A pesquisa de Adilson de Almeida é uma oportunidade para conhecermos a Guarda a partir do pode que a farda, o uniforme confere a Guarda Nacional, uma vez procurando fazer um contraponto com a situação da Guarda e do Exercito, a questão não é o uso da farda é a situação que ela lhe proporciona, em alguns casos as pessoas que serviam a Guarda passavam por necessidades financeiras, pois não recebiam o suficiente para viver, sendo que antes do serviço na milícia vivia melhor.
Mesmo sendo os cargos da Guarda Nacional distribuídos entre os senhores da terra nas províncias e vilas, nas cidades também se formava o patronato da Guarda nacional. Em muitos casos nas cidades para fazer parte da Guarda precisava de um poder aquisitivo maior do que no campo, pois o coronel nomeado em sua propriedade logo tratava de formar sua tropa miliciana, dessa forma muitos trabalhadores livres eram convocados pelos coronéis para compor o corpo de Guardas.
Guarda Nacional e o Exército
O Exército no Império passou por momentos de crise, uma vez que com a formação da Guarda Nacional, muitos recursos foram usados para manutenção da milícia, e o Exercito foi aos poucos sendo esquecido, no entanto havia uma relação entre Exercito e Guarda Nacional, uma vez que em momento de guerra era o Exército que era convocado para combater em primeira linha, outro fator importante para ressaltar é que o Exército podia aceitar qualquer cidadão em sua tropa, até mesmo ex-escravo em caso de guerra principalmente.
Uma questão importante é que a Guarda foi uma associação armada formada por civis, e não por soldados profissionais, sendo uma sociedade estamental, que vai perdendo força até sua extinção no final do período imperial.
"Fundada como tropa auxiliar do exército. Assim, eram seus objetivos institucionais subsidiar as tropas de primeira linha na defesa da soberania do país frente aos países estrangeiros e garantir a manutenção da ordem interna associação armada, a guarda nacional era, portanto, uma instituição organizada para desenvolver diferentes modalidades de controle social, que definiam tanto sua atuação quanto sua estruturação interna. È, então, em relação as estratégias e táticas de controle social que, também, devemos estudar a concepção e utilização dos uniformes na guarda Nacional. "[9]
A Guarda Nacional fundada como tropa auxiliar e como tal fim teve uma importância grande na vida política do Brasil. Todavia, torna-se um instrumento legitimador na manutenção de uma nobreza rural que chegou ao século XX como o coronelismo em praticamente todo o território nacional.
O Nordeste brasileiro foi uma região que recebeu essa influência direta, uma vez que nessa região do Brasil os aspectos físicos do território favoreceram desde então a formação de grandes propriedades rurais e como esses coronéis que recebiam títulos da guarda Nacional sempre viviam em uma grande propriedade rural tendo em seu comando uma milícia armada ligada a Guarda Nacional. Formou se no Nordeste uma verdadeira política de controle social.
Raymundo Faoro, em os "Os donos do poder" analisa o sistema coronelista diz que o mesmo ganhou força no interior na política brasileira, e principalmente no interior dos estados.
Aborda a questão da transição do sistema imperial para o republicano, pois, fala que, só podemos entender o coronelismo no meio da política se voltamos um pouco ao sistema imperial, ou seja, quando se deu a formação da Guarda Nacional. A partir daí, se tem um processo histórico, "onde o coronelismo, se afirma, num casamento, cujo regime de bens e relações pessoais será necessário determinar, com as oligarquias estaduais."[10]
Essa relação que se perpetuou no Nordeste do Brasil, esse poder de comando do voto é que mantém o coronel com status perante o governo estadual. Os trabalhadores vêem nesse individuo um uma pessoa de bem, pois há uma ausência da organização social do estado para ajudar essas pessoas e seu vinculo com sociedade de certa forma se dá por meio desse coronel, assim o sistema tem raízes bem profundas. Macedo ainda afirma que o coronel é um formador de bandos armados por meio apoio que dá todo tipo de homens que sendo perseguidos pela policia procuram o coronel e dele recebem apoio.
Todavia, como se acabou de afirmar, servindo os governos estaduais de esteio ao poder central, os coronéis propiciando apoio aos governadores estaduais, precisavam eles de uma base de sustentação nos seus domínios e encontraram na capangagem. Seus redutos transformaram-se em covis de cabras armados e em valhacoutos de cangaceiros"[11]
Um caso de coronel armado com seu bando de homens de deu no município de Hidrolândia Ceará, na época pertencia a cidade de Ipu, o Coronel João Martins da Jacanã. Que sendo um desses coronel do Nordeste em luta por causa da mudança das lideranças estaduais entra em conflito com as forças do estado e resistindo com sua tropa na sua fazenda se torna na historiografia local um herói, pois mesmo tendo sua fazenda destruída consegue fugir com seu bando e reorganiza as relações políticas e retorna a sua posição de coronel na região.
"O coronel João Martins, mais conhecido por " Coronel" João Martins da Jaçanã, é hoje lembrado por muitos 'por ouvir dizer', sobre alguns atos desse homem, que se tornou um personagem lendário por ter enfrentado e resistindo às perseguições e a força militar do governo de 1915, quando prevalecia a violência policial nesta região, entretanto, ele também se utilizava dessa violência para legitimar seu poder diante do povo que estava ao seu redor"[12]
O coronel João Martins na cidade de Hidrolândia foi um típico coronel do Nordeste com suas ações e práticas, seu grupo armado que em muitos pontos se confunde com um cangaceiro, tendo na literatura local uma homenagem principalmente por parte de sua família, no entanto a historiografia local, como nos afirmou Martins em sua monografia este homem e suas práticas eram arbitrárias.
Os oficiais da Guarda nacional tinham sob sua autoridade batalhões permanentes e de reserva, cujo recrutamento era controlado por eles próprios, pois a convocação era da competência do poder municipal. Recrutamento para o exército também se constituía numa arma de violência, empregado pelo grupo da situação, contra adversários caídos em desgraça, seus parentes e dependentes. Estes eram enviados para servir em outras Províncias.[13]
O que percebemos é uma continuidade das relações uma vez que eram esses coronéis quem convocavam os recrutamentos, mesmo após o fim da Guarda Nacional esses homens continuaram exercendo um enorme poder em suas regiões e fazendas, pois sempre tinham o apoio político para coerção social, principalmente na organização da política no período republicano causando mandos e desmandos no interior do país em nome da manutenção da ordem.
Um fato curioso do coronelismo nascente da Guarda nacional é que mesmo sem o respaldo legal de leis esses homens formavam bandos armados e eram os donos da lei em seus territórios, sendo uma prática ainda existente no Brasil de Hoje, não com a mesma intensidade e com a mesma cara, no entanto muitos mandos e desmandos ainda são praticados por grandes proprietários de terras e políticos no Brasil.
Considerações finais
Apresentar uma discussão sobre um assunto tão amplo é um tanto complicado, sintetizar de forma clara foi nossa intenção nesse artigo, tentando sempre ser o mais direto possível dentro da temática abordada, conhecer a formação do patronato rural no Brasil é uma questão muito interessante principalmente para compreendermos a nossa própria vida política local.
O nordeste brasileiro foi à região que mais sofreu com o avento do coronelismo e como sabemos que os processos históricos não se dão de uma maneira brusca, apenas temos rupturas e continuidades o processo que deflagrou o coronelismo de certo modo ainda está presente de forma latente em muitas cidades do Nordeste. No enfoque dado no artigo sobre Hidrolândia foi apenas uma forma encontrada por nós de mostrar a grande problemática que se apresenta em analisar essa questão.
Compreender o processo histórico que culminou na formação desse clientelismo no Brasil é uma oportunidade para pesquisas futuras dentro da nossa possibilidade de produção da micro-história local, atentar para nossas regiões, localidades e ver os resquícios e permanências desse sistema. Esse esboço produzido sobre a Guarda Nacional como embrião do coronelismo no Brasil foi uma oportunidade para ir além de outros fatores, atentando para a questão de que nem só o Brasil desenvolver esse tipo de estrutura como é possível encontrar nos países da América sistemas semelhantes como caudilhismo, caçiquismo e outros.
Dessa forma agora temos a oportunidade vivenciar essa possibilidade de produzir uma história das relações de poder na atualidade e fazer contrapontos com as relações de poder produzido no passado, observar suas permanências e continuidades na sociedade atual.
Referencia bibliográfica
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[1] JANOTTI, Monaco Maria de Lurdes, O Coronelismo uma política de compromissos, 6ªed. Editora brasiliense, 1987.
[2] LINHARES, Maria Iedda,(organizadora) História Geral do Brasil. 9ªed. Rio de Janeiro: Campus, 1990.
[3] TRIDADE, Helgió. "Construção da cidadania e representação política: lógica liberal e prórxis autoritária". In BAQUERIO, Marcello( Org.). Cultura política e democracia: Desafios das sociedades contemporâneas. Porto Alegre, Editora da Universidade – UFRGS, 1994. PP.47-8.
[4] FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder. Formação do patronato político brasileiro.15 ª edição. Porto Alegre: Globo, 2000.pp.620-654.
[5] ELLIS, Myrian. O Brasil Monárquico, tomo II: declínio e queda do Império. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
[6]RODRIGUES, Antônio Edmílson Martins; FALCON, Francisco José Calazans e NEVES, Margarida de Souza. A Guarda Nacional no Rio de Janeiro 1831–1918. Estudo das características histórico-sociais das instituições policiais brasileiras, militares e paramilitares, de suas origens até 1930. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), 1981
[7][7] ELLIS, Myrian. O Brasil Monárquico, tomo II: declínio e queda do Império. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
[8] JOSÉ. Adilson de Almeida,Monografia. Uniformes da Guarda Nacional:1831-1852 a indumentária na organização e funcionamento de uma associação armada.Departamento de história, faculdade de filosofia, letras e ciências humanas da USP. Tese,1999, 194 páginas. WWW.usp.com.br, Internet, acesso em 15/05;2009.
[9] JOSÉ. Adilson de Almeida,Monografia. Uniformes da Guarda Nacional:1831-1852 a indumentária na organização e funcionamento de uma associação armada.Departamento de história, faculdade de filosofia, letras e ciências humanas da USP. Tese,1999, 194 páginas. WWW.usp.com.br, Internet, acesso em 15/05;2009.
[10] FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder. Formação do patronato político brasileiro. 15 ª edição. Porto Alegre: Globo, 2000.pp.620-654.
[11] MACEDO, Joaryvar, O impériodo bacamarte, uma abordagem sobre o coronelismo noCariri cerense. Fortaleza, Universidade Federal do Ceará, 1990. 270 pp.
[12] MARTINS, Tarciso Rodrigues,O território do Coronel João Martins (1912-1915)Monografia.46pp. apresentada a Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, 2003, como requisito para obtenção do titulo de graduação.
[13] JANOTTI, Monaco Maria de Lurdes, O Coronelismo uma política de compromissos, 6ªed. Editora brasiliense, 1987.Fonte: Webartigos.com | Textos e artigos gratuitos, conteúdo livre para reprodução. 1