Os índios Tapebas.
Analisar as comunidades indígenas atuais e buscar investigar suas permanências é uma atividade bastante complexa. Pensar o índio nos dias de hoje é ir ao encontro de um povo diferente do que costumávamos estudar nos livros de historia. Fica difícil pensar no índio sem imaginá-lo em sua forma tradicional de vestir-se, enfeitar-se e dançar. Entender o índio atual não significa apenas relembra-lo ao imaginar o índio passado, significa compreende-lo em suas limitações, entende-lo em sua tentativa de recuperar ao menos o mínimo de sua cultura passada, significa observar e aceitar suas diferenças que quase sempre são motivos de preconceito e exclusão social.
Bem, em meu primeiro contato com uma comunidade indígena foi com a Comunidade Indígena Tapeba, na cidade de Caucaia/Ceará, fiquei absorto, pois, não pensava que uma comunidade indígena estaria desprovida de sua própria cultura, ou seja, de suas raízes. A língua, por exemplo, foi totalmente apagada, já não existem Tapebas que falem a língua indígena nativa. As perdas dos povos indígenas são irreparáveis, a morte da cultura os deixou de certa forma perdidos e sem forte referencial em nosso mundo atual. Ao observar de perto os Tapebas tive dificuldade em entender aquele povo. Assumir uma identidade tão desprezada e vitima de preconceito não é de fato uma decisão qualquer. Pude perceber que a vida das comunidades indígenas atuais é referenciada por uma luta constante, um esforço permanente para serem reconhecidos, para serem considerados índios e ter sua identidade e seus direitos consolidados diante da sociedade atual.
A vida nas comunidades indígenas atuais não se difere muito do modo de vida dos sertanejos, a agricultura, a pesca e a criação de animais fazem parte dos meios de subsistência das famílias. Obviamente que se podem observar algumas diferenças quando se leva em conta o modo em que a terra é dividida. As terras Tapebas foram identificadas oficialmente pela FUNAI em 23 de julho de 1993, constituindo uma área de
Embora seja de suma importância analisar os meios de subsistência e divisão dos Tapebas, o que mais me chamou a atenção foi à busca da identidade, como citei anteriormente. O interesse de reafirmar os traços nativos, a luta pelo reconhecimento formal e a pratica dos ritos buscados do passado e praticados no presente é de fato algo bem presente dessa comunidade. Assistindo o documentário, Espelhos Nativos, pude perceber o interesse indígena em se organizar e em tomar decisões para a melhoria de vida e o reconhecimento dos povos indígenas por parte das autoridades. A sociedade despreza o índio quando ele afirma sua identidade, os conflitos entre o índio e os poderes públicos e privados são comuns em nossa sociedade, são questões complexas que quase sempre desfavorece o índio e favorece o interesse das elites da sociedade. Pude perceber que as lideranças indígenas buscam formar elos entre as comunidades indígenas, assim a força indígena tem uma chance maior de conquistar seus espaços na sociedade. Há perseguições e complicações em todas ou quase todas tentativas de afirmação de identidade e posse de terras. Quando se afirma a identidade indígena há de certa forma uma complexidade bem profunda perante a sociedade. Porque índio? E porque não mestiço? Como pode provar a identidade? Neste sentido a luta dos índios e das identidades étnicas se torna mais acentuada, o questionamento da sociedade para com os índios e negros é o que quase sempre os impedem de terem o direito ao acesso às terras que de fato muitas vezes os pertencem. “Ainda é comum se ouvir dos mais formados cidadãos cearenses que inexistem negros no estado e que os índios que restaram não são autênticos” (Alex Ratts). Essa ideologia opressiva, versão cearense do mito da democracia racial, tem relegado as comunidades indígenas e negras a completa invisibilidade até os dias atuais, privando-lhes de políticas publicas que são de direito das comunidades. No segundo capítulo do livro (p.17). Alex Ratts apresenta um trecho do relatório apresentado a Assembléia Provincial por José Bento da Cunha Figueiredo em 9 de outubro de 1863, no qual afirmava:
“Já não existem aqui índios ou bravios. [...] Ainda hoje se encontra maior números de descendentes das antigas raças; mas acha-se misturados na massa geral da população, composta na máxima parte de forasteiros, que excedendo-se em número, riqueza e industria, tem havido por usurpação ou as terras pertencentes aos aborígines.[...]Os respectivos patrimônios territoriais foram mandados incorporar a fazenda por ordem cultural imperial, respeitando-se a posse de alguns índios.”
Pode-se perceber a partir desse trecho a critica que é feita diretamente as comunidades étnicas, a afirmação da inexistência dos índios. Se em 1863 que de fato havia um maior número comunidades étnicas já existia um interesse da elite e do poder público em desapossar as terras das comunidades e incorpora-las a fazenda, é obvio que hoje as comunidades étnicas perderam mais espaço ainda, com o aumento das fábricas e busca por terras para novos investimentos os grupos étnicos ficam mais desprovidos de seus direitos.
Afirmo novamente que o analisar do índio nesse contexto atual é buscar entender como se dão as lutas pelos seus direitos. Como buscar soluções para esses grupos étnicos? Como resolver a questão das divisões de terras? A FUNAI e outras instituições têm feito o necessário para solucionar os problemas indígenas e étnicos? Acredito que se fez pouco ou quase nada por esses grupos, e que a cada dia a industrialização, o neoliberalismo de mercado, a força devastadora capitalista vem crescendo, e as cidades e grandes centros urbanos vem tirando de cena esses grupos étnicos que tem como forte característica o contato com a natureza, a moradia em regiões de florestas e que muitas vezes infelizmente extremam com as cidades.
Bem, minha visão construída sobre as comunidades indígenas foi essa que expressei em meu trabalho, tudo bem que tenha deixado de relatar ou de mencionar alguns pontos importantes, mas preferi levar em conta as questões políticas e sociais, preferi trazer as questões indígenas à reflexão, optei em não entrar tanto nos aspectos culturais, embora sejam interessantes, mesmo deixando de especificar os costumes, as danças (toré), os rituais, a bebida (mocororó), os segredos etc. O índio tem sido uma figura desprezada e tida como inferior desde as chegada dos portugueses, é importante o estudo com essas comunidades, as análises e pesquisas podem nos levar a contribuir muito para a Historia, e para esses povos que ficaram de certa forma excluídos da Historia, há grandes dificuldades, isto é, grande preconceito e falta de interesse por essas questões, mas cabe ao historiador vasculhar os vestígios disponíveis e tentar contribuir ajudando a consolidar a identidade indígena e de outros grupos étnicos. A cultura passada não pode ser movida para o presente, mas muito há o que fazer para estabilizar o pouco da cultura que existe. Há muito ainda que desmistificar da visão que a sociedade tem sobre esses povos. Romper com os preconceitos e com o racismo é um grande passo que a sociedade pode conquistar.
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/31456/1/os-ndios-tapebas/pagina1.html.