Modernidade e Morte na Terra da Rainha
Em 1854, Londres quase sucumbiu a sua pior epidemia de Cólera. Crescimento desordenado e falta de infraestrutura foram os culpados
No verão de 1854, os ingleses travaram uma terrível guerra que resultou na morte de milhares de pessoas. Mas ao contrário de outras guerras, aquela tinha um inimigo bem diferente. Nada de França ou de Alemanha. O grande inimigo dos ingleses em meados do século XIX era unicelular e tinha de 1 a 6 μm (micro metros ou 0,000001 metro). Seu nome científico, Vibrio cholerae. Mas, na intimidade da dor, todos o chamavam mesmo é de “Cólera”.
Bactéria em forma de bastonete, a cólera se multiplica no intestino humano com grande diversidade, produzindo uma potente toxina responsável por uma poderosa diarréia. É encontrada nos dejetos humanos e contamina grandes volumes de água ao menor contato. Assim, em 1854, o micro-organismo encontrou o ambiente perfeito para se proliferar e assustar a Londres vitoriana. Na época, a cidade era uma das mais modernas do mundo, berço de filósofos, poetas e grandes científicas, lar para mais de 2 milhões de pessoas. No entanto, sua infraestrutura não era adequada para a demografia crescente. A então capital do império mais poderoso do mundo carecia de serviços básicos de qualidade, tais como remoção de lixo e limpeza de água potável.
Não que os londrinos desconhecessem a doença. Ela já havia aparecido antes, como no final da década de 1840. Mas daquela vez tudo foi diferente. Dois motivos explicam a nova epidemia. O primeiro é o crescimento descontrolado da cidade. A população triplicara em um intervalo de 50 anos. Isso gerava uma quantidade de lixo nunca antes vista, que se misturava a outras condições nada aprazíveis de uma cidade industrial sem muitas preocupações com o meio ambiente. Na época, o lixo era recolhido manualmente, trabalho realizado por catadores e limpadores de fossa, contratados pelos senhorios da cidade. O segundo motivo potencializou o problema do lixo. No início da década de 1850, os vasos sanitários com descarga d’água se popularizaram bastante, tornando-se o bastião da civilidade. No entanto, não havia, na cidade, sistema de encanamento que desse conta do imenso volume de água com dejetos. A maioria dos vasos despejava seus conteúdos diretamente nas fossas existentes, tornando comum o seu transbordamento. Para piorar a situação, a comunidade científica não fazia a menor idéia da existência de organismos invisíveis aos olhos humanos.
Primeiro, a epidemia assolou o baixo do Soho, o mais populoso da cidade, onde viviam poetas e filósofos. Em seguida, logo após os primeiros casos, a epidemia alcançou praticamente todos os bairros de Londres, matando em pouco tempo homens, mulheres e crianças. Começava ali uma batalha que só terminaria mesmo em 1875, com a reforma dos sistemas de saneamento básico da cidade.
Se você deseja saber mais sobre essa epidemia, que até hoje provoca arrepios entre os ingleses, o Café História lhe dá boas dicas. A primeira é o site“The Ghost Map” (O Mapa Fantasma, em português) de Steven Johnoson, que recentemente lançou o livro de mesmo nome. A obra é uma das referências para se compreender a epidemia inglesa de 1854. No site (em inglês), é possível assistir a entrevistas com o historiador, fazer o download da cidade da cidade à época da epidemia e acessar ainda alguns outros textos.
Se você deseja ler o primeiro capítulo do livro (em português), pode clicar aqui. Boa leitura e reveja a importância do saneamento básico. Essa guerra é de todos nós!
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Os Penetras na Formação do Brasil
França e Holanda protagonizaram episódios de invasões e debates inflamados na tentativa de conquistar o seu pedaço do Novo Mundo
De tão usada, a metáfora “caldeirão cultural” já se tornou um lugar-comum para se referir a formação da sociedade brasileira. Gilberto Freire deu literalmente cores para esse caldeirão. Para o famoso antropólogo, a gênese do povo brasileiro explica-se pela combinação do negro africano com o branco europeu (quase sempre português) e com os nativos indígenas. Mas é bem verdade quando se diz que há muitos outros ingredientes nesse caldeirão. E alguns desses ingredientes entraram no Brasil como verdadeiros penetras.
Em 2009, com as comemorações do ano da França no Brasil, livros, jornais, revistas e historiadores especialistas lembraram a presença dos franceses nos tempos do Brasil Colônia. Mas ao invés de charmosas idéias de liberdade ou tendências da moda, a França daquela época protagonizou episódios violentos, que quase deram outro futuro aos brasileiros.
O interesse francês no Brasil começou com o questionamento de Francisco I (1594-1547), rei da França, do Tratado de Tordesilhas, firmado por Portugal e Espanha para assegurar o domínio ibérico sobre as terras do Novo Mundo. No século XVI, navios comerciais franceses criaram bases ao longo da costa brasileira. Uma delas deu origem à colônia “França Antártica”, em 1555, localizada na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Anos depois de serem expulsos do Rio de Janeiro, os franceses investiram no Maranhão, a chamada “França Equinocial”. As ações dos franceses incluíam também debates jurídicos e acordos com lideranças indígenas inimigas dos portugueses. Atualmente, a presença do Maranhão ainda é bastante viva, lembrada praticamente em todas as comemorações de aniversário da cidade de São Luis.
Os holandeses também deixaram a sua marca de penetras na festa do Novo Mundo. Por meio da Companhia das Índias Ocidentais, conquistaram quase todo o nordeste açucareiro no Brasil, no século XVII. O primeiro ataque holandês ocorreu na Bahia, em 1624. Bastaram pouco mais de 24 horas para o domínio da região então governada por Diogo de Mendonça Furtado. O domínio na região durou até 1625. As investidas dos holandeses, inimigos de portugueses e espanhóis, unidos sob o absolutismo de Felipe II, porém, continuou. Em 1630, os holandeses tomaram de assalta Pernambuco, dominando, sem muitos problemas, Olinda e Recife. A “Nova Holanda” era para a Companhia das Índias Ocidentais um empreendimento do qual se esperava altos lucros. Maurício de Nassau (imagem) foi um ícone desse período. O domínio holandês acabou logo após o fim da União Ibérica (1580-1640). No entanto, memórias, costumes e tradições holandesas permaneceram vivas no nordeste e no imaginário de boa parte dos nordestinos. Pernambuco sabe bem disso e transformou-se em um dos maiores destinos turísticos do nordeste brasileiro, conservando, por exemplo, construções da época dos holandeses. Hoje, inclusive, Pernambuco é o segundo estado brasileiro que mais recebe investimentos holandeses, perdendo apenas para São Paulo.
Para relembrar essas outras “presenças” no Brasil e fazer valer, ainda mais, a expressão “caldeirão cultural”, o Café Historia traz algumas sugestões de conteúdos, nos domínios da internet. O primeiro é o artigo "Imaginária França Antártica", de Monique Augras. O artigo analisa as narrativas de dois autores franceses, o franciscano André Thevet e o calvinista Jean de Léry, sobre suas estadas na França Antártica, pouco após ela ter sido fundada. Clique aqui para ler ou baixar esse artigo. O outro destaque do Café História é o vídeo "Invasões Holandesas", do programa humanidades, que você pode ver clicandoaqui.
Gostou do tema? Quer aprofundá-lo? Aproveite o espaço que possui no Café História: publique textos em seu blog, abra fóruns e grupos. Adicione fotos e vídeos sobre esse tema.
Fonte: Café História