Modernidade e Morte na Terra da Rainha
Em 1854, Londres quase sucumbiu a sua pior epidemia de Cólera. Crescimento desordenado e falta de infraestrutura foram os culpados

Bactéria em forma de bastonete, a cólera se multiplica no intestino humano com grande diversidade, produzindo uma potente toxina responsável por uma poderosa diarréia. É encontrada nos dejetos humanos e contamina grandes volumes de água ao menor contato. Assim, em 1854, o micro-organismo encontrou o ambiente perfeito para se proliferar e assustar a Londres vitoriana. Na época, a cidade era uma das mais modernas do mundo, berço de filósofos, poetas e grandes científicas, lar para mais de 2 milhões de pessoas. No entanto, sua infraestrutura não era adequada para a demografia crescente. A então capital do império mais poderoso do mundo carecia de serviços básicos de qualidade, tais como remoção de lixo e limpeza de água potável.
Não que os londrinos desconhecessem a doença. Ela já havia aparecido antes, como no final da década de 1840. Mas daquela vez tudo foi diferente. Dois motivos explicam a nova epidemia. O primeiro é o crescimento descontrolado da cidade. A população triplicara em um intervalo de 50 anos. Isso gerava uma quantidade de lixo nunca antes vista, que se misturava a outras condições nada aprazíveis de uma cidade industrial sem muitas preocupações com o meio ambiente. Na época, o lixo era recolhido manualmente, trabalho realizado por catadores e limpadores de fossa, contratados pelos senhorios da cidade. O segundo motivo potencializou o problema do lixo. No início da década de 1850, os vasos sanitários com descarga d’água se popularizaram bastante, tornando-se o bastião da civilidade. No entanto, não havia, na cidade, sistema de encanamento que desse conta do imenso volume de água com dejetos. A maioria dos vasos despejava seus conteúdos diretamente nas fossas existentes, tornando comum o seu transbordamento. Para piorar a situação, a comunidade científica não fazia a menor idéia da existência de organismos invisíveis aos olhos humanos.
Primeiro, a epidemia assolou o baixo do Soho, o mais populoso da cidade, onde viviam poetas e filósofos. Em seguida, logo após os primeiros casos, a epidemia alcançou praticamente todos os bairros de Londres, matando em pouco tempo homens, mulheres e crianças. Começava ali uma batalha que só terminaria mesmo em 1875, com a reforma dos sistemas de saneamento básico da cidade.

Se você deseja ler o primeiro capítulo do livro (em português), pode clicar aqui. Boa leitura e reveja a importância do saneamento básico. Essa guerra é de todos nós!
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Os Penetras na Formação do Brasil
França e Holanda protagonizaram episódios de invasões e debates inflamados na tentativa de conquistar o seu pedaço do Novo Mundo

Em 2009, com as comemorações do ano da França no Brasil, livros, jornais, revistas e historiadores especialistas lembraram a presença dos franceses nos tempos do Brasil Colônia. Mas ao invés de charmosas idéias de liberdade ou tendências da moda, a França daquela época protagonizou episódios violentos, que quase deram outro futuro aos brasileiros.
O interesse francês no Brasil começou com o questionamento de Francisco I (1594-1547), rei da França, do Tratado de Tordesilhas, firmado por Portugal e Espanha para assegurar o domínio ibérico sobre as terras do Novo Mundo. No século XVI, navios comerciais franceses criaram bases ao longo da costa brasileira. Uma delas deu origem à colônia “França Antártica”, em 1555, localizada na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Anos depois de serem expulsos do Rio de Janeiro, os franceses investiram no Maranhão, a chamada “França Equinocial”. As ações dos franceses incluíam também debates jurídicos e acordos com lideranças indígenas inimigas dos portugueses. Atualmente, a presença do Maranhão ainda é bastante viva, lembrada praticamente em todas as comemorações de aniversário da cidade de São Luis.
Os holandeses também deixaram a sua marca de penetras na festa do Novo Mundo. Por meio da Companhia das Índias Ocidentais, conquistaram quase todo o nordeste açucareiro no Brasil, no século XVII. O primeiro ataque holandês ocorreu na Bahia, em 1624. Bastaram pouco mais de 24 horas para o domínio da região então governada por Diogo de Mendonça Furtado. O domínio na região durou até 1625. As investidas dos holandeses, inimigos de portugueses e espanhóis, unidos sob o absolutismo de Felipe II, porém, continuou. Em 1630, os holandeses tomaram de assalta Pernambuco, dominando, sem muitos problemas, Olinda e Recife. A “Nova Holanda” era para a Companhia das Índias Ocidentais um empreendimento do qual se esperava altos lucros. Maurício de Nassau (imagem) foi um ícone desse período. O domínio holandês acabou logo após o fim da União Ibérica (1580-1640). No entanto, memórias, costumes e tradições holandesas permaneceram vivas no nordeste e no imaginário de boa parte dos nordestinos. Pernambuco sabe bem disso e transformou-se em um dos maiores destinos turísticos do nordeste brasileiro, conservando, por exemplo, construções da época dos holandeses. Hoje, inclusive, Pernambuco é o segundo estado brasileiro que mais recebe investimentos holandeses, perdendo apenas para São Paulo.
Para relembrar essas outras “presenças” no Brasil e fazer valer, ainda mais, a expressão “caldeirão cultural”, o Café Historia traz algumas sugestões de conteúdos, nos domínios da internet. O primeiro é o artigo "Imaginária França Antártica", de Monique Augras. O artigo analisa as narrativas de dois autores franceses, o franciscano André Thevet e o calvinista Jean de Léry, sobre suas estadas na França Antártica, pouco após ela ter sido fundada. Clique aqui para ler ou baixar esse artigo. O outro destaque do Café História é o vídeo "Invasões Holandesas", do programa humanidades, que você pode ver clicandoaqui.
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Fonte: Café História