Por Antonio Gasparetto Junior |
Os portugueses possuem uma história muito íntima com a história do Brasil. Do mesmo modo, o Brasil tem todo seu processo de desenvolvimento histórico muito aliado aos portugueses, inicialmente porque fomos colônia de Portugal por mais de trezentos anos e, em segundo lugar, porque abrigamos amplo fluxo de imigrantes portugueses no decorrer do século XIX e início do XX.
A Imigração Portuguesa no Brasil tem origem com o descobrimento. Quando Pedro Alvarez Cabral tomou posse do Brasil, em 1500, em nome de Portugal, vieram para as novas terras alguns imigrantes, por força do Estado português. Neste momento inicial, contudo, os portugueses não tinham interesse em viver no Brasil, acarretando a emigração de indivíduos problemáticos, em maioria, como alternativa de Portugal se livrar dos indesejáveis, transferindo-os para o Brasil. Tampouco Portugal estava obstinado a empreender esforços na colonização do Brasil, a situação só mudou quando outras nacionalidades, como é o caso dos franceses, tentaram se apropriar do Brasil. Esta fase primeira que marca o século XVI e XVII é caracterizada pela baixa imigração portuguesa, é um período restrito, ainda sem muitos atrativos nas terras do Novo Mundo.
A situação sofreu um grande revés em 1696 quando foi encontrado ouro no Brasil. O metal precioso era muito cobiçado na Europa e despertava enorme interesse das nações, Portugal tinha grande ressentimento por ainda não ter encontrado ouro nas suas terras na América, uma vez que sua vizinha e colonizadora da maior parte do continente, Espanha, encontrou o metal em pouco tempo de colonização. A notícia se espalhou rapidamente por Portugal e gerou uma enorme emigração para o país, milhares de portugueses abandonaram o país de origem e se dirigiram para o Brasil atrás do cobiçado metal. Vilas inteiras chegaram a ficar vazias em terras lusas. O Brasil recebeu um sem número de portugueses que exploraram as minas e fizeram a situação colonial sofrer uma alteração sem precedentes. A colônia, acostumada a exportar seus produtos, passou a comprar as mais variadas mercadorias por causa do fluxo de ouro. A fase do ouro no Brasil marcou todo o século XVIII.
No início do século XIX, o ouro já não consistia mais na principal atividade e renda para o Brasil, as minas tinham se esgotado. O novo século já determinava o café como o principal produto gerado no Brasil para o mundo. Em 1808, impulsionado por fatores políticos e pressões de Napoleão na Europa, o rei de Portugal, juntamente com toda sua corte, muda-se para o Brasil a fim de salvar o Império Português da expansão napoleônica. Nesta época, muitos portugueses acompanharam a corte e emigraram para o Brasil, que passou a ser o centro administrativo de todo o Império Português. Em 1822 o Brasil fica independente e, em termos técnicos, é quando realmente os portugueses passam a ser imigrantes, pois o Brasil é então um Estado diferente de Portugal.
É ao longo do século XIX e na metade inicial do século XX que ocorre a grande imigração portuguesa no Brasil. A perda da colônia gera problemas econômicos para Portugal, que fica incapaz de sustentar sua população adequadamente. A Europa passa por momentos revolucionários e contestatórios no século XIX, oferecendo outro elemento para emigração. Mas, no caso do Brasil, é principalmente a necessidade de mão-de-obra na lavoura e nas nascentes indústrias que faz impulsionar a imigração. Neste contexto, os portugueses ficam atrás apenas dos italianos como correntes imigratórias que chegaram no Brasil. O crescente, embora lento, cenário de abolição do trabalho escravo desperta nos cafeicultores o interesse pelo trabalhador livre estrangeiro.
O último momento de imigração portuguesa no Brasil tem início no governo de Getúlio Vargas quando, de forma geral, todas as nacionalidades passam a entrar no Brasil em menor número. É uma fase de declínio da imigração marcada pelas políticas de controle dos estrangeiros no país. A partir de então o número de imigrantes portugueses, assim como de outras nacionalidades, caí seguidamente. Depois disso, o que temos hoje, é um número irrisório de imigrantes portugueses, não são contabilizados mais com tanta ênfase como nas fases anteriores.
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Fontes:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01882003000100014&script=sci_arttext
DIEGUES JR, Manuel. Imigração, Urbanização, Industrialização. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1964.
LANNA, Ana Lúcia Duarte. A Transformação do Trabalho. Campinas: Editora da UNICAMP, 1988.
MARTINS, José de Souza, A Imigração e a Crise do Brasil Agrário.
PAIM, Antonio. Momentos Decisivos da História do Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2000.