Por Antonio Gasparetto Junior |
No século XIX, Zanzibari era um país insular independente no Oceano Índico. Hoje o território faz parte daTanzânia. Os Sultões de Omã tomaram o controle da ilha em 1698 com a expulsão dos portugueses do território, permaneceram então durante muito tempo com o controle nominal do local. Em 1858, o sultão Majid Bin Saiddeclarou a independência de Zanzibari e recebeu o apoio imediato do Reino Unido. Entretanto a iniciativa dividiu o sultanato.
O Reino Unido desenvolveu cordiais relações com a ilha após a independência e foi favorecido pela inserção da influência britânica na região. Naquele momento da história, final do século XIX, ocorria uma nova fase de colonialismo dos países ricos no mundo, chamada de imperialismo. Diferentemente do colonialismo do século XVI, neste novo momento o interesse dos países era conquistar zonas de influência e de consumo para seus produtos industrializados. Na ocasião, a Alemanha competia com o Reino Unido pelo controle do comércio e de territórios na África Oriental. Foi a intensificação das disputas entre os países europeus por zonas de controle que gerou aPrimeira Grande Guerra Mundial.
Zanzibari era governada por sultões com afinidades com os britânicos, no dia 25 de agosto de 1896 o sultãoHamad Bin Thuwaini faleceu subitamente e o processo de sucessão geraria a mais breve guerra da história. Para o lugar do sultão falecido entrou o sultão Khalid Bin Barghash, o qual não era bem visto pelos britânicos. Estes preferiam o sultão Hamud Bin Muhammed, pois era favorável aos interesses britânicos. Além disso, um tratado foi assinado em 1886 determinando que para ascender ao sultanato o candidato escolhido deveria ter a permissão do cônsul britânico, o que não aconteceu com Khalid.
Os britânicos ficaram inconformados com a situação e entenderam o ocorrido como motivo para intervenção. O sultão Khalid recebeu um ultimato para abandonar o palácio juntamente com suas tropas, mas em lugar disso montou sua barricada no interior do mesmo. Sem abandonar o local, às 9 horas do dia 27 de agosto de 1896 os britânicos deram a ordem de ataque que iniciou a Guerra Anglo-Zanzibari. Neste momento, os europeus já dispunham de três cruzadores, dois navios de guerra, 150 fuzileiros navais e marinheiros no local. A maior parte da população da ilha ficou ao lado dos britânicos também.
O sultão Khalid, por sua vez, reuniu 2800 homens para defender o palácio, entre população civil, guarda nacional, funcionários e escravos. Quando o bombardeio teve início, a artilharia de defesa foi toda neutralizada. A força militar dos britânicos era notoriamente superior e, apenas 40 minutos depois, a bandeira do palácio foi abatida e a guerra chegou ao fim.
O resultado da guerra foi a morte de aproximadamente 500 defensores do palácio, sendo que os operadores de armas do sultão foram dizimados. Enquanto isso, apenas um marinheiro britânico sofreu ferimentos graves. O sultão Khalid recebeu asilo no consulado alemão e só veio a ser capturado pelos britânicos em 1916, quando acontecia a Campanha da África Oriental na Primeira Guerra Mundial. Rapidamente o sultão Hamud Bin Muhammed foi colocado pelos britânicos no poder para promover um governo de fantoche. Hamud era fiel aos britânicos e desenvolveu seu governo com ações favoráveis ao interesse dos mesmos, foi o responsável pela extinção da escravidão na ilha.
A Guerra Anglo-Zanzibari durou apenas 40 minutos, mas acabou com a soberania do país. Abriu espaço para a forte influência britânica que prevaleceu por mais 67 anos, sem haver mais nenhum tipo de revolta.