Introdução sobre Aristóteles
Aristóteles | |||
Aristóteles afirmou que todos os seres humanos, pela sua natureza, desejam conhecer. Ele mesmo foi a maior prova disso ao escrever sobre vários campos do conhecimento. Da arte às ciências naturais, o filósofo revolucionou os sistemas de pensamento da Antiguidade até a Era Moderna. Ao dividir o conhecimento humano em categorias isoladas, ele possibilitou que a maneira do ser humano entender o mundo se desenvolvesse de forma sistemática.
Fazemos guerra para poder viver em paz. Ética a Nicômaco, Livro X, 1177b, 5-6 Dessa forma, sendo o movimento eterno, se existe uma causa inicial, ela também deve ser eterna... e nesse caso é suficiente admitir que há apenas uma causa, a primeira a pôr as coisas estacionárias em movimento, e sendo esta eterna se constituirá em princípio de movimento para todas as outras coisas. Física, 259a, 7-14 |
A maior realização intelectual de Aristóteles e com a qual se tornou tão importante foi a descoberta da lógica formal. O filósofo considerava que todo conhecimento repousa sobre a lógica. Assim, ele formalizou e desenvolveu um sistema de pensamento que mostra que as verdades podem ser deduzidas ou explicitadas através dela. Nas próximas páginas, conheça um pouco da vida e da obra de um dos mais importantes filósofos gregos.
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Aristóteles: a vida até a Academia
© iStockphoto.com / Snezana Negovanovic Detalhe da estátua de Aristóteles |
Todos os humanos são mortais. Todos os gregos são humanos. Portanto, podemos inferir que todos os gregos são mortais.
O processo acima se chama silogismo e foi descoberto por Aristóteles há mais de dois mil anos. Graças a ele, hoje essa forma de pensar lógica é tão óbvia que é difícil imaginarmos outro tipo de raciocínio. Mas nem sempre foi assim. O silogismo é um método em que a partir de duas premissas que podem ser provadas chega-se, por inferência, a uma terceira, a uma conclusão. Segundo Aristóteles, o silogismo mostra que quando certas coisas são afirmadas pode-se demonstrar que alguma coisa que não a afirmada necessariamente se segue. A partir desse raciocínio, Aristóteles fundou a lógica e com ela possibilitou que campos inteiros do conhecimento saíssem em busca de verdades. Grande parte do desenvolvimento humano durante dois milênios se deve à lógica aristotélica.
A trajetória de um dos mais importantes filósofos de todos os tempos iniciou-se na antiga cidade de Estagira, localizada na Macedônia grega. Lá nasceu Aristóteles no ano 384 a.C. Seu pai, Nicômaco, foi médico pessoal de Amintas, rei da Macedônia. Nascido em uma família rica, herdou uma fortuna ainda muito jovem em função da morte do pai. Uma das versões de sua biografia diz que ele esbanjou todo o dinheiro com mulheres, vinho e música. Falido, teria se alistado no exército. Quando retornou foi estudar medicina e rumou para a Academia dirigida por Platão em Atenas. Outra versão, mais digna de crédito, conta que ele foi direto para a Academia quando tinha 17 anos, ainda que registre um período que ele teria dedicado a vinho e diversões.
Enquanto estudante, ele venerava Platão e absorveu toda a filosofia platônica ensinada na Academia. Mas, seu brilhantismo logo se mostrou ao perceber contradições e falhas nas obras do grande filósofo grego, herdeiro direto de Sócrates. Em função dos recursos que herdou, exibia maneiras finas e um estilo de vida sofisticado. Montou uma biblioteca particular, comprando pergaminhos raros, que provocava inveja até em Platão.
As tendências práticas e científicas de Aristóteles o levaram a analisar as idéias do mestre de forma realista. Platão tinha um ponto de vista essencialmente religioso, pelo qual via o mundo ao nosso redor como mera aparência, já que para ele a realidade ficava em um distante mundo das ideias. Já a visão científica de Aristóteles não rejeitava o mundo ao nosso redor como irreal. Pelo contrário. E com o tempo, ele inverteu a filosofia de Platão, apresentando argumentos que devastaram as ideias do antigo mestre.
Em 347 a.C., Platão morreu e Aristóteles não foi o escolhido para substituí-lo à frente da Academia. Revoltado, ele deixa Atenas e atravessa o mar Egeu rumo à cidade de Aterneus, onde iniciaria uma nova etapa em sua vida.
Aristóteles: o Liceu e a Metafísica
Aristóteles foi muito bem recebido em Aterneus. Hérmias, mercenário grego que governava a região, queria transformar a cidade em um centro de cultura grega e conseguiu que Aristóteles o ajudasse nisso. Ao contrário do idealismo de Platão, Aristóteles tinha uma atitude muito pragmática na política.
Nessa época, já na meia-idade e agindo como um professor reservado, ele se apaixonou e casou com Pítia, uma mulher bem mais jovem. Seu interesse pelo naturalismo o fez se aprofundar num trabalho de classificação de plantas e animais. Convencido de que a natureza nada faz em vão, ele acreditava que cada traço específico de um animal existia para cumprir uma determinada função.
Em 343 a.C., Aristóteles era considerado um líder intelectual em toda a Grécia e Filipe da Macedônia havia conquistado a região e unido pela primeira vez as cidades-estados gregas. O filósofo foi então convidado para ser tutor do jovem e indomável Alexandre, filho de Filipe. Com 42 anos de idade e dono de um dos espíritos mais brilhantes que o mundo já conheceu, Aristóteles aceitou o desafio de educar um jovem e voluntarioso aluno de 13 anos, que se tornaria um dos maiores megalomaníacos que o mundo já conheceu. Durante três anos ele foi o tutor de Alexandre, que aos 16 anos de idade assumiu o lugar do pai morto para se tornar Alexandre, o Grande, e iniciar seu projeto de reinar sobre todo o mundo conhecido naqueles tempos.
Sem a incumbência de ser o tutor de Alexandre e mais uma vez preterido para a direção da Academia, Aristóteles decidiu fundar uma nova escola em Atenas. O Liceu, como ficou conhecido, ensinava uma ampla gama de assuntos e parecia-se muita mais com uma universidade moderna do que a Academia. A opinião do filósofo que era levada aos alunos e que depois estes espalharam pelo mundo era que a razão é a mais elevada faculdade do homem.
Ao desenvolver a lógica, que ele chamava de “analitika”, pois era explicitadora, ele fundou um pensamento que perdurou por muitos séculos. Mas seus últimos anos de vida foram tempestuosos. Sua mulher Pítia morreu e ele casou-se com sua criada Herpilis com quem teve seu primeiro filho, Nicômaco. Com a morte de Alexandre, o Grande, os atenienses iniciaram uma onda de antimacedonismo e Aristóteles, que havia nascido na Macedônia e tinha sido tutor do mais importante dos macedônios, foi vítima dela. Em 323 a.C., ele teve de abandonar sua escola e refugiar-se na cidade de Cálcis, onde morreu um ano depois. Parece que a amargura por ter perdido o Liceu o fez considerar que aquela não era mais uma vida que valia a pena ser vivida.
As obras originalmente sem títulos de Aristóteles sobre ontologia e a natureza última das coisas foram reunidas sob o nome de “Metafísica”. Quem fez essa organização foi Andrônico de Rodes, último líder do Liceu. É na “Metafísica” que Aristóteles atribui ao ser humano um desejo que nos impele na direção do conhecimento. Na era romana, Aristóteles foi reconhecido como o maior lógico e a lógica aristotélica foi adotada por pensadores como Tomás de Aquino e tornou-se parte do cânone cristão. Mas não foi apenas na cultura ocidental que sua influência foi decisiva. A filosofia aristotélica foi também desenvolvida por dois importantes filósofos islâmicos: Avicena e Averróis. Os trabalhos de Aristóteles como hoje são conhecidos somente foram reunidos cerca de três séculos após sua morte. |
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