Para entender a Guerra Guaranítica temos de lembrar as disputas entre Portugal e Espanha em relação às terras deste continente e à indefinição de fronteiras de suas colônias. A área mais conflitiva situava-se junto ao estuário do rio da Prata, onde os portugueses haviam fundado a Colônia do Sacramento, em 1680, quase em frente a Buenos Aires. A Espanha não admitia a presença portuguesa na região, sobretudo ali, que era porta de acesso às riquezas minerais do Peru.
No início do século XVIII, com a instalação de algumas vilas no Rio Grande, em decorrência do desenvolvimento da pecuária, houve um acirramento da disputa. A Colônia do Sacramento permaneceu bloqueada pelas forças espanholas por 22 meses (1735-1737). Após árduas negociações, portugueses e espanhóis assinaram o Tratado de Madrid, em 1750, que legitimava um novo território bem diferente daquele determinado pelo Tratado de Tordesilhas, aliás, nunca cumprido. Portugal cedia a Colônia do Sacramento em troca do território dos Sete Povos das Missões, na margem esquerda do rio Uruguai, onde viviam cerca de 30 mil índios que deveriam ser evacuados.
Quando os Guarani tomaram consciência do acordo entre os portugueses, espanhóis e a própria Companhia de Jesus, que havia mandado missionários pra convencê-los a aceitar o tratado, revoltaram-se. "Como poderá ser a vontade de Deus que vós tomeis e arruineis tudo o que nos pertence? Aquilo que possuímos é exclusivamente o fruto de nossas fadigas, e o nosso rei não nos deu coisa alguma... Não somos apenas as sete missões da margem esquerda, mas doze outras reduções estão decididas a sacrificarem-se conosco desde que tenteis apoderar-vos de nossas terras..." Os jesuítas ficaram num dilema. Se apoiassem os indígenas seriam considerados rebeldes. Se não se solidarizassem com eles perderiam sua confiança. Dos quatorze jesuítas, onze permaneceram junto aos Guarani, até o fim, como o padre Lourenço Balda, que foi um dos estrategistas da resistência.
Estourou então a Guerra Guaranítica, que durou três anos, de 1753 a 1756. Sepé Tiaraju foi o grande líder a enfrentar as tropas portuguesas e espanholas, juntamente com outros caciques Guarani, como Nicolau Languiru.
Esta terra tem dono. Ela foi dada por Deus e São Miguel!
Esse grito de resistência, lançado pelos Guarani, espalhou-se por todas as reduções, que se prepararam para a guerra. A repressão foi dura, pois neste momento se uniram os exércitos portugueses e espanhóis. Mesmo com a participação direta de vários jesuítas, os Guarani não conseguiram impor-se às forças inimigas. Resistiram até 1767 graças às táticas de guerrilha.
Sepé Tiaraju foi morto numa emboscada, um dia antes da grande batalha de Cayboaté, onde morreu o líder Nicolau Languiru e mais de mil Guarani. Perdida a guerra, os indígenas e os padres abandonaram as aldeias e passaram com os sobreviventes para o lado paraguaio.
Vendo que a presença dos jesuítas dificultava o controle da região, o rei de Espanha os expulsou das províncias platinas em 1768, acabando com um trabalho de quase 160 anos em mais de sessenta aldeias cristãs fundadas nesse período.
Em 1777 foi assinado o Tratado de Santo Ildefonso, que anulava o Tratado de Madri e propunha novas fronteiras. Expulsos de suas terras, os Guarani se espalharam pela Argentina, Paraguai e Brasil, misturando-se com a população de origem européia.
Líderes da Guerra Guaranítica
Sepé Tiaraju - Corregedor da Missão de São Miguel e cacique-geral da Guerra Guaranítica, morto em 1756.
Nicolau Languiru - Corregedor da Missão de Concepción, sucedeu Sepé no comando geral da guerra. Morreu em 1756 na batalha de Cayboaté.
Cristóforo Acatu, Bartolomeu Candiú e Tiago Pindó - Caciques das reduções de São Luís e Santo Ângelo, respectivamente.
Miguel Javat - Corregedor da Missão São Luís e um dos primeiros a comandar a rebelião Guarani.
Fonte: www.terrabrasileira.net