Por Fernando Rebouças |
Na época, a sua cidade natal era referida somente pelo nome de “Encruzilhada” e fazia parte da Província do Rio Grande do Sul. João Cândido era filho de João Feliberto, um ex-escravo, e Inácia Felisberto, também ex-escrava. Ingressou na Companhia de Artífices Militares e Menores Aprendizes no Arsenal de Guerra de Porto Alegre em 1894, sob recomendação do capitão de fragata Alexandrino de Alencar, seu amigo.
Em 1895, transferiu-se para a Escola de Aprendizes de Porto Alegre, no mesmo ano, aos quatorze anos, já pertencia à Marinha do Brasil, na então capital do Brasil, Rio de Janeiro. Antes desse fato, trabalhou como soldado do General Pinheiro Machado, durante a Revolução Federalista em 1893.
Nos seus quinze anos de Marinha, viajou pelo Brasil e pelo mundo, em viagens que realizou para receber instruções e para ensinar os novatos. Em 1909, viajou para a Grã-Bretanha para aprender a respeito dos navios de guerra lá construído sob encomenda do governo brasileiro.
Na época, na Marinha do Brasil, era comum o uso da chibata para castigar e humilhar marinheiros, principalmente os afrodescendentes. A prática já havia sido abolida no início da República, no decreto nº 3, assinado em 16 de novembro de 1889, por Deodoro da Fonseca.
Apesar das medidas do governo, o castigo permanecia sobre os marinheiros negros. Além do castigo, havia profunda insatisfação pelos baixos soldos e má alimentação. O primeiro levante foi iniciado por João Cândido em 22 de novembro de 1910, ao assumir o comando do Minas Gerais na solicitação da abolição dos castigos corporais na Marinha.
Durante quatro dias, os navios de guerra Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro estiveram com os seus canhões apontados para a cidade do Rio de Janeiro, então Capital Federal. Acreditando no compromisso assumido pelo governo federal de dar fim à chibata e da concessão da anistia aos revoltosos , a rebelião terminou.
O compromisso da anistia não foi cumprido, todos os marinheiros foram expulsos. Novas revoltas foram planejada e, apesar de não ter participado dos últimos levantes, João Cândido foi expulso da Marinha, foi preso em 13 de dezembro de 1910, e , em 24 de dezembro, transferido para a masmorra na Ilha das Cobras. Nesse local sobreviveu entre 17 companheiros que morreram asfixiados. Em 1911, foi transferido para o Hospital dos Alienados, nunca mais seria o mesmo.
Depois de retornar à Ilha das cobras, foi solto e absolvido em 1912. Fora da Marinha e sem emprego, trabalhou como estivador, em cargas de peixe na Praça XV. Seria novamente preso, por subversão, em 1930. Em 1933, entrou para a Ação Integralista Brasileira. Foi perseguido até o dia de sua morte, quando faleceu aos 89 anos, vítima de câncer.
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