Era o mais importante centro religioso da Grécia antiga. Entre os séculos 8 a.C. e 2 a.C., ele foi muito procurado por pessoas que supostamente recebiam previsões sobre o futuro, conselhos e orientações. A cidade de Delfos era a sede do principal templo grego, dedicado ao deus Apolo, e em cujos subterrâneos funcionava o famoso oráculo. Na mitologia, o local pertencia originariamente a Gaia (divindade que representa a Terra) e era guardado por sua filha, a serpente Píton. O deus Apolo, associado ao dom da profecia, teria assumido o controle do lugar após matar a serpente, que caiu numa fenda do solo e teria entrado em decomposição, passando a emitir vapores intoxicantes. Os gregos acreditavam que quando uma sacerdotisa - uma mulher de vida irrepreensível escolhida entre as camponesas - inalava tais gases, ela tinha seu espírito possuído por Apolo, que fazia as profecias por meio dela. "A forma mais conhecida de consulta consistia em fazer uma pergunta à sacerdotisa, conhecida como pítia.
Numa espécie de transe mediúnico, ela pronunciava as respostas em versos semelhantes aos usados nos poemas Ilíada e Odisséia, de Homero", diz Fernando Brandão dos Santos, professor de literatura grega da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara (SP). O centro religioso era consultado por cidadãos comuns e também por líderes políticos, que usavam as profecias para orientar seus governos. Após o Império Romano tomar Delfos, no século 2 a.C., o local sofreu diversas pilhagens e a posterior expansão do cristianismo também contribuiu para a sua decadência. O templo pagão foi fechado definitivamente por um decreto do imperador Teodósio no final do século 4. Algumas questões sobre Delfos, porém, intrigariam cientistas muitos séculos depois. Na década passada, geólogos, químicos e arqueólogos trabalharam na região e concluíram que realmente gases estranhos podiam emanar do Templo de Apolo.
Mas tais vapores não têm nada a ver com a mitológica decomposição da serpente Píton, como você pode conferir neste infográfico.
Mergulhe nessa
Na livraria:
The Road to Delphi: Scenes from the History of Oracles, Michael Wood, Farrar Straus & Giroux, 2003
Na internet:
www.ancient-greece.org/history/delphi.html
www.oracleofdelphi.com/oraclestory.htm
Capital das previsões
Embaladas por gases alucinógenos, sacerdotisas adivinhavam o futuro dos gregos antigos
1. Ao chegar à cidade grega de Delfos, o visitante se registrava e pagava uma taxa. Quando se aproximava o momento da sua consulta, ele se purificava numa fonte de água e seguia pelo caminho sagrado. Este o levava até o Templo de Apolo, onde ficava o famoso oráculo. Ali uma sacerdotisa fazia previsões auxiliada por vários sacerdotes
2. Ao longo do caminho sagrado, que seguia por um terreno acidentado e íngreme, havia estátuas, relicários com tesouros sagrados e outros edifícios dedicados a Apolo. Tais monumentos eram construídos por cidades-estado, como Tebas e Atenas, ou por cidadãos ricos, como agradecimento às previsões e conselhos do oráculo
3. Antes de entrar no Templo de Apolo, os peregrinos sacrificavam uma ovelha ou uma cabra, que tinha suas entranhas examinadas por sacerdotes à procura de sinais proféticos. Em seguida, os visitantes entravam um de cada vez no templo - que era rodeado por colunas e hoje está em ruínas. Lá, apresentavam as consultas à sacerdotisa
4. Antes de cada sessão, a profetisa descia até uma câmara subterrânea sob o templo, onde inalava vapores "sagrados", que induziam suas profecias. Alguns historiadores acreditam que as respostas eram interpretadas e passadas aos peregrinos pelos sacerdotes. Outros dizem que a própria profetisa falava com o visitante, usando palavras enigmáticas
5. Duas falhas geológicas atravessam Delfos. Estudos feitos em 1996 mostraram que o subsolo do local é formado por pedra calcárea betuminosa, que pode emitir etileno, um gás capaz de produzir alucinações. Isso explicaria os "vapores sagrados", que subiriam por fendas no terreno, pois as falhas geológicas se cruzam bem abaixo do Templo de Apolo
6. Uma das falhas geológicas está alinhada com uma série de fontes de água , algumas hoje secas, sendo que uma das nascentes fica diretamente abaixo do templo. Quando a água quente, vinda das profundezas da Terra, passava pela camada de pedra calcárea betuminosa, criava condições para a liberação dos vapores de etileno
7. Ao lado do Templo de Apolo havia um teatro, construído no século 4 a.C., que podia acomodar cerca de 5 mil pessoas. Ali eram apresentados espetáculos musicais, peças e sessões de leitura de poesia durante os festivais religiosos realizados em Delfos. O teatro oferecia aos espectadores uma vista majestosa do Templo de Apolo
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