Falar sobre as variantes do pensamento racista pode abrir portas para um rico debate.
Presente em toda a vida escolar e cotidiana, a discussão sobre o racismo suscita um acalorado debate sobre suas diferentes concepções e justificativas. Contudo, apesar de ser uma temática promotora de grandes resultados em sala de aula, devemos salientar este problema levando em consideração a especificidade do contexto histórico em que tais distinções se elaboram. Afinal de contas, seria um erro absurdo dizer que tal questão se orientou com a mesma lógica em diferentes culturas.
Um dos mais recorrentes e problemáticos erros gira em torno de falas que consideram o racismo como uma justificativa posterior a outros interesses de ordem política e econômica, por exemplo. Será mesmo que foi simplesmente a lucratividade do tráfico negreiro e a expansão capitalista que, respectivamente, motivaram as ações coloniais e imperialistas nos séculos XVI e XIX? Por meio dessa questão, podemos mostrar à turma a feição que o discurso racista toma em determinadas épocas.
Antes que essa temática seja iniciada, o professor pode salientar que a ciência contemporânea rejeita completamente os sistemas classificatórios que buscaram dizer que um tipo humano era necessariamente melhor que outro. O conceito de raça é completamente infundado tendo em vista as diferentes formas de se criar subespécies humanas e o natural processo de mutação que pode, com a ocorrência de mudanças climáticas e entrecruzamentos, reorientar os sistemas classificatórios.
Dessa forma, sob o ponto de vista biológico, a distinção dos grupos humanos poder ser útil para o desenvolvimento de pesquisas restritas a esse campo. Caso a distinção racial seja ampliada para os campos cultural e ético acabará estabelecendo uma hierarquia que desconsidera o fato material de que as diferenças genéticas entre as raças são muito pequenas. Com isso, evidencia-se que os comportamentos e valores de um determinado sujeito não podem ser considerados melhores por causa da coloração de sua pele.
Fechado esse pequeno parêntese, o professor pode demonstrar à classe um traço específico que marcou as teorias raciais do século XIX. Para iniciar esse trabalho é importante falar que muitos cientistas dessa época, influenciados por valores da razão cartesiana e do positivismo, se julgavam capazes de formular meios de classificar e agrupar qualquer tipo de objeto por meio de leis apoiadas pelo experimento e demonstração.
Contudo, ao falarmos sobre o comportamento do homem e sua capacidade de conceber diferentes hábitos, sabemos hoje que o rígido sistema criado por esse tipo de conhecimento se torna falho. Para exemplificarmos esse tipo de questão, o docente pode trabalhar com uma interessante ilustração que consegue representar como funcionava esse tipo de hierarquia. Como sugestão, disponibilizamos um desenho de 1868 encontrado na obra dos cientistas Nott e Gliddon.
Por meio dessa gravura, podemos observar que esses estudiosos buscaram justificar a distinção intelectual e ética entre as raças por meio de um pressuposto que compara a caixa craniana de um branco, um negro e um primata. Analisando a anatomia de cada exemplar, tentaram sugerir que o homem estaria menos próximo às características físicas e comportamentais do macaco, enquanto os negros dentro dessa escala apresentariam maior semelhança.
Hoje, sabemos que o esquema apresentado é repleto de incoerências onde ocorrem graves distorções no desenho que representa o crânio de cada um dos exemplos apresentados. Contudo, podemos ver que tais estudiosos procuraram defender uma hipótese que foi buscar na natureza uma justificativa anterior às relações de dominação dos europeus sob as populações africanas. Diferentemente, a dominação do período mercantil apresentava outras argumentações de cunho religioso.
Segundo os relatos daqueles que defendiam a escravidão no período moderno, os africanos seriam considerados inferiores por serem descendentes diretos dos “filhos de Cam”, que segundo a narrativa bíblica, seriam condenados à servidão pelo fato de seu descendente ter zombado do próprio pai. Além disso, muitos religiosos dessa época julgavam os africanos como ateus e, por isso, deviam se submeter à escravidão como um tipo de punição divina.
Caso o professor queira, pode até mesmo citar sobre essa passagem bíblica e mostrar que nem mesmo a história contada pelo livro cristão não especifica alguma raça ou cor de pele para Cam. Dessa maneira, é possível demonstrar que o racismo tem características distintas ao longo da História e, por isso, deve ser tratado como um objeto de caráter dinâmico e temporal. Por fim, a turma acaba certificando mais uma nuance viva da matéria estudada.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Hoje, sabemos que o esquema apresentado é repleto de incoerências onde ocorrem graves distorções no desenho que representa o crânio de cada um dos exemplos apresentados. Contudo, podemos ver que tais estudiosos procuraram defender uma hipótese que foi buscar na natureza uma justificativa anterior às relações de dominação dos europeus sob as populações africanas. Diferentemente, a dominação do período mercantil apresentava outras argumentações de cunho religioso.
Segundo os relatos daqueles que defendiam a escravidão no período moderno, os africanos seriam considerados inferiores por serem descendentes diretos dos “filhos de Cam”, que segundo a narrativa bíblica, seriam condenados à servidão pelo fato de seu descendente ter zombado do próprio pai. Além disso, muitos religiosos dessa época julgavam os africanos como ateus e, por isso, deviam se submeter à escravidão como um tipo de punição divina.
Caso o professor queira, pode até mesmo citar sobre essa passagem bíblica e mostrar que nem mesmo a história contada pelo livro cristão não especifica alguma raça ou cor de pele para Cam. Dessa maneira, é possível demonstrar que o racismo tem características distintas ao longo da História e, por isso, deve ser tratado como um objeto de caráter dinâmico e temporal. Por fim, a turma acaba certificando mais uma nuance viva da matéria estudada.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Fonte: Canal Educador