Contrariando tal idéia, podemos assinalar claramente como existem algumas permanências de origem clássica e germânica que subsistem em meio às profundas transformações da Idade Média. Dessa maneira, podemos ver que o consolidado ideal renascentista que coloca a Idade Média como o momento de interrupção da cultura greco-romana, pode ser observado em outra perspectiva.
A economia dos povos germânicos também estabeleceu uma série de práticas que foram desenvolvidas no interior dos feudos. A produção de riquezas era concentrada no uso das terras cultiváveis. A produção agrícola, o pastoreio e a caça eram as principais atividades desenvolvidas. A lógica da produção não era voltada para o acúmulo, mas para a subsistência da população local. O comércio era feito em baixa quantidade, sendo a grande parte feita a partir de trocas naturais.
Outro traço característico da cultura germânica a se introduzir na Europa Medieval tem a ver com a organização social. Divididos entre guerreiros, homens livres inferiores e escravos, a sociedade germânica era desprovida de mecanismos capazes de permitir a ascensão social dos indivíduos. Na sociedade medieval essa mesma imobilidade era justificada pela influência cultural e ideológica exercida pela Igreja no interior dos feudos.
Entre os romanos, as mudanças causadas pela crise da sociedade escravista trouxeram uma série de práticas que também se instituíram no mundo medieval. A crise agrícola promovida pela falta de escravos incentivou a divisão das grandes propriedades em villas que se dedicavam ao consumo local e tinham suas terras distribuídas entre arrendatários que davam parte de sua produção ao proprietário das terras.
Além disso, a desintegração das classes sociais romanas e a ruralização da população trouxeram à tona a formação de novos grupos sociais. Os colonos, que arrendavam as terras de um grande proprietário, poderiam ser antigos escravos, plebeus e clientes que não mais poderiam se servir da assistência do Estado, do poder econômico de um senhor, ou de práticas econômicas vinculadas ao comércio. Essa transformação proporcionou o aparecimento da vindoura e predominante classe servil da Idade Média.
A partir do entrecruzamento dessas características dos povos romanos e germânicos temos uma compreensão maior de como a Idade Média e as práticas feudais se instituíram durante determinado período histórico. De fato, os traços predominantes do sistema feudal se consolidaram a partir do século IX. Entre os séculos XII e XV o predomínio do sistema feudal perdeu espaço para outro conjunto de transformações que abriu portas para a formação das sociedades modernas.
Por Rainer Sousa
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