Marquesa de Santos: uma aventura amorosa que abalou a imagem política de Dom Pedro I.
Durante o século XIX, a condição da mulher era cercada por rígidos padrões morais que determinavam o seu lugar em uma sociedade dominada por homens. No entanto, as exigências de recato e subserviência nem sempre acabavam por selar o destino de todas as mulheres do Brasil Imperial. Escapando dos valores da época, é possível encontrar várias histórias em que mulheres extrapolaram seus limites estabelecidos para viver outra espécie de destino.
Entre esse singular tipo de mulher, podemos enquadrar a bela e jovem Domitila de Castro Canto e Melo. Nascida em São Paulo de Piratininga, em 27 de dezembro de 1797, a filha do coronel reforma João de Castro Cantão e Melo e de Escolástica Bonifácio de Toledo Ribas, marcou os primeiros e conturbados anos do Brasil Império. Um pouco antes disso, já congregando fervorosos admiradores na juventude, ela se casou com apenas quinze anos de idade.
Esse primeiro casamento acabou em rápida separação, o que levou a jovem retornar à fazenda dos pais. No decisivo ano de 1822, quando a independência seria consumada, foi que a bela jovem paulistana teria o seu primeiro encontro com Dom Pedro I. Deixando à parte os detalhes do primeiro encontro (sobre o qual existem diferentes versões) vemos que o enlace do casal, logo impeliu nosso jovem imperador a colocar a bela Domitila mais próxima de seus olhos.
No ano de 1823, ela se mudava para a cidade do Rio de Janeiro, onde residiu inicialmente na Quinta da Boa Vista. Casado com Leopoldina de Habsburgo, Dom Pedro I chocava a sociedade da época ao sustentar seu caso extraconjugal sem a mínima preocupação de encobrir a amante ou sustentar a imagem de uma autoridade respeitável. Ao tornar a amante primeira-dama da imperatriz e assumir a paternidade de Isabel Maria, primeira filha com Domitila, D, Pedro I inquietava a opinião pública.
Com a seguida morte da imperatriz, os ataques ao romance intensificavam-se ainda mais. Vários ministros renegavam o poder de influência e as aspirações de uma mulher que tanto chamava a atenção do imperador do Brasil. Em diferentes ocasiões, D. Pedro I demitiu esses ministros e outros funcionários que discordavam de sua aventura amorosa. À medida que a paixão se ampliava, o imperador concedeu os títulos de viscondessa e marquesa de Santos para sua amante.
Para muitos, a ação daquela mulher moldava o comportamento político do imperador e sua grande ambição seria ocupar a condição de Imperatriz do Brasil. Entretanto, contrariando às expectativas, Dom Pedro I acabou escolhendo Amélia Beauharnais, a Duquesa de Luuchtemberg, como mulher de posição mais adequada para estar ao seu lado no governo imperial. Mediante o novo e inesperado matrimônio real, o relacionamento entre o imperador e a marquesa de Santos chegava ao seu fim.
Voltando grávida de seu último filho com D. Pedro I à São Paulo, a marquesa de Santos resolveu domiciliar-se na chácara de Francisco Ignácio de Souza Queiroz. Nesse tempo, passou a constituir uma nova relação com o coronel Rafael Tobias de Aguiar, com quem se casou em 1842. Teve seis filhos com esse seu novo marido, passou a ajudar pobres, doentes e estudantes, e ficou viúva em 1857. Dez anos mais tarde, aos setenta nos de idade, ela veio a falecer deixando um vasto patrimônio.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
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