Reprodução Símbolo do Partido Nacional-Socialista da Alemanha |
Até hoje um dos mais intrigantes fenômenos provocados pelo nazismo diz respeito à adesão e o comportamento da população alemã durante o período em que o Partido Nacional-Socialista, sob a liderança de Hitler, ascendeu e manteve-se no poder. Milhões de cidadãos comuns levavam uma vida rotineira enquanto vivenciavam, participavam ou, simplesmente, aprovavam as atrocidades cometidas diariamente pelo regime nazista. Assim, trabalhadores, soldados e oficiais que passavam o dia transportando ou executando judeus em campos de concentração voltavam normalmente para casa à noite para brincar com os filhos ou sair para jantar e dançar. Com Hitler, as ideias nazistas mais grotescas, como a da superioridade e pureza racial dos arianos, foram colocadas em prática em experimentos médicos bizarros feitos com prisioneiros ou na eliminação de deficientes físicos e mentais com o objetivo de "melhorar a humanidade".
As relações entre importantes intelectuais alemães e o nazismo também alimentam várias polêmicas. Uma delas diz respeito à defesa da superioridade cultural e racial do povo alemão feita pelo compositor Richard Wagner no século 19, que teria servido para incentivar as ideias do nacional-socialismo. Outra está relacionada à adesão do filósofo Martin Heidegger ao Partido Nazista. A filiação era necessária para que Heidegger ocupasse o cargo de reitor da Universidade de Freiburg, mas alguns historiadores acreditam que ela parece ter sido o resultado da simpatia que Heidegger tinha com alguns aspectos do nazismo, e não somente como um ato carreirista.
O nazismo foi diretamente responsável pelo início da pior guerra já vivida pela humanidade e por alguns dos episódios mais cruéis da História. Na próxima página, conheça quais são as raízes do nacional-socialismo e como ele prosperou na Alemanha na primeira metade do século 20.
A Ciência Nazista.
A ascensão e a permanência do nazismo ao poder na Alemanha entre 1933 e 1945 levou ao desenvolvimento de uma ciência baseada na ideologia nazista. Durante esse período, médicos e cientistas dedicaram-se a experimentos macabros e a inventar bizarras teorias que sustentassem as ideias de racismo, antissemitismo e de superioridade da raça ariana. Um dos mais importantes "cientista" nazista foi o médico Josef Mengele, o "anjo da morte". Oficial da SS, tropa de elite do nazismo, e atuando no campo de concentração de Auschwitz, ele conduziu sob o nome de "experiências genéticas" algumas das maiores atrocidades nazistas. Mengele costumava usar crianças gêmeas como cobaias em experiências de mudança de cor de olhos e tentativas de criação artificial de siameses.
As raízes do nazismo
As raízes do nazismo estão na história germânica e num conjunto de ideias aparentemente não tão nocivas como demonstraram ser quando foram colocadas em prática por Adolf Hitler, o principal líder do Partido Nacional-Socialista alemão entre as décadas de 1920 e 1940.
Foto cortesia U.S. NARA O líder nazista Adolph Hitler (direita) junto com o lider fascista italiano Benito Mussolini, em 1940 |
Uma das principais características nazistas foi a disciplina militar e o espírito militante que o partido impôs a seus integrantes e depois a toda a população alemã. Este comportamento pode ser creditado à tradição prussiana desenvolvida desde o século 17 por líderes como o rei Frederico, o Grande, e o primeiro-ministro Otto Von Bismarck, que usavam o exército prussiano como modelo para a vida civil de todos os cidadãos. Já o nacionalismo exacerbado e o antissemitismo, outras marcas fortes do nazismo, têm suas origens nos ideais de expansionismo pan-Germânico da Áustria e em movimentos políticos austríacos que alimentavam o ódio contra os judeus.
O antissemitismo não foi uma invenção nazista, mas o nacional-socialismo alemão conseguiu transformá-lo numa política de Estado e dar ao ato de extermínio dos judeus justificativas "científicas". A perseguição e a intolerância com os judeus existia desde a Antiguidade - os babilônicos e os romanos foram responsáveis pelas primeiras diásporas deles - e, na Idade Média, a Igreja Católica associou os judeus ao diabo, forçando muitos deles à conversão ao Cistianismo para escapar da Inquisição.
Esse estigma contra os judeus foi usado pelo nazismo junto com uma teoria científica chamada de "eugenia". Espécie de aplicação distorcida ao mundo social da teoria da evolução de Darwin e das ideias de Gregor Mendel, pai da genética, a eugenia acreditava na manipulação dos genes humanos para criar uma "raça" melhor e pura. Essa também não era uma ideia original dos nazistas, já que vários experimentos ligados à ideia de eugenia estavam em andamento nos Estados Unidos e países europeus, resultando em esterilizações em massa dos portadores de genes "degenerados", segundo os defensores da teoria, como deficientes, negros, judeus, alcoólatras e latinos, entre outros. O que os nazistas fizeram foi aproveitar o estigma existente contra os judeus no imaginário da população alemã e apresentar um argumento "científico" para justificar a perseguição e o extermínio deles.
Esse conjunto de ideias numa plataforma política, no entanto, provavelmente não levaria ninguém ao poder em uma sociedade que estivesse em uma situação socioeconômica estabilizada. Mas esse não era o caso da Alemanha. Além de derrotada na Primeira Guerra Mundial e obrigada a aceitar um tratado que não só a humilhava internacionalmente como também lhe dava um enorme ônus econômico, a sociedade alemã foi uma das que mais sofreu as consequências da Grande Depressão dos anos 1930, causada pela quebra da Bolsa de Nova York em 1929. Esse cenário foi propício a um partido político com um líder com capacidade de inflamar as multidões com seus discursos e propostas que apelavam a um ódio ancestral, ao patriotismo e prometiam transformar a Alemanha no que foram Grécia e Roma na Antiguidade.
A ascensão nazista ao poder começou na década de 1920. Fundado em 1919, e sob liderança de um ex-cabo do exército alemão chamado Adolf Hitler desde o ano seguinte a sua fundação, o Partido Nacional-Socialista da Alemanha alcançou o poder central em 1933 aproveitando-se das liberdades políticas e da democracia da então República de Weimar (nome dado ao governo alemão entre 1919 e 1933, por governar sobre os princípios democráticos da constituição de 1919, elaborada na cidade de Weimar). Mas não foi só a democracia que facilitou a ascensão nazista. A precária situação econômica e social da Alemanha contribuiu muito para isso.
Em 1923, Hitler liderou uma revolta em Munique contra a república, aproveitando-se do descontentamento popular com a hiperinflação. O movimento foi sufocado e ele acabou preso. Nos oito meses em que permaneceu na cadeia escreveu "Minha Luta", que se tornaria o livro de cabeceira dos nazistas. Após esse episódio, o nazismo permaneceu na obscuridade. Uma nova oportunidade para tentar emplacar suas ideias demagógicas, racistas e ufanistas surgiu no período logo após a quebra da Bolsa de Nova York de 1929.
A deterioração econômica e social da Alemanha se agravou profundamente e o partido começou a eleger cada vez mais deputados. Além da população desesperada, as Forças Armadas e os empresários também viam em Hitler uma solução contra a ameaça comunista e uma forma de recuperar a autoestima alemã. Além disso, os nazistas formaram suas próprias tropas de proteção, forças paramilitares conhecidas como "SS". O caminho para que o Partido Nazista chegasse ao poder na Alemanha estava pavimentado. Na próxima página, saiba como o nazismo impôs seu regime totalitário e conheça quais foram as graves consequências disso para o mundo.
O nazismo no poder
© istockphoto.com /Wwing Nazistas tentaram impor sua dominação por toda a Europa e Norte da África |
Na economia, o nazismo conseguiu rapidamente progressos e drásticas reduções no desemprego, principalmente com grandes projetos públicos que usavam muita mão de obra e a reconstrução da indústria bélica e o início da produção de armamentos, que estava proibida na Alemanha desde o final da Primeira Guerra Mundial por conta do Tratado de Versalhes, que Hitler decidiu romper. Isso fez os nazistas conquistarem cada vez mais o apoio popular, inclusive de antigos opositores. A recuperação da autoestima e do orgulho alemão também era obtida com uma impressionante máquina de propaganda montada pelo governo. Chefiada por Joseph Goebbels, a propaganda nazista exercia um forte controle dos meios de comunicação e do sistema educacional e foi capaz de fazer o povo alemão acreditar nas principais ideias nazistas, da superioridade do povo ariano até a necessidade de uma guerra total. Ela também foi importante na coerção e manipulação das massas para manter os nazistas no poder.
Enquanto recuperava a economia, os nazistas agiam também no âmbito cultural, desenvolvendo a ideia de que os judeus eram os inimigos de todas as classes sociais. O antisemitismo tirava a atenção da máquina de terror que o nazismo estava montando no governo alemão, com sua polícia secreta e suas tropas de proteção, a "SS" - elevada à posição de principal instrumento de coerção e controle de qualquer tentativa de oposição ao regime. O sistema judicial ficou totalmente subordinado aos desmandos nazistas e foram criados campos de concentração para prisioneiros onde a "SS" tinha plena autoridade e podia aplicar seu sistema de torturas e brutalidades.
O nazismo começou a colocar em prática seus planos expansionistas na segunda metade dos anos 1930 junto a territórios ocupados por populações majoritariamente germânicas, como a Áustria e a Prússia. A ideia de conquistar espaço para a Alemanha alcançar autonomia econômica e militar justificava para a população do país a invasão da Polônia em 1.° de setembro de 1939, fato que marcou o início da Segunda Guerra Mundial. A partir daí a ideia de subordinar povos "inferiores" à superioridade ariana comandou a campanha militar alemã contra nações na Europa, África e Ásia. Até 1945, o nazismo comandou uma nação na guerra mais devastadora que o mundo já assistiu, com cerca de 40 milhões de mortos e uma tentativa de genocídio que perseguiu e assassinou seis milhões de judeus. O fim do nazismo como movimento de massa ocorreu em 30 de abril de 1945 quando Hitler cometeu suicídio pouco antes das tropas soviéticas ocuparem Berlim, mas suas ideias ainda sobrevivem em vários grupos e movimentos neonazistas.
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O suicídio de Adolf Hitler em 1945 marcou o fim do nazismo como movimento de massa. Mas não enterrou as ideias nazistas para sempre. Na Alemanha e em outros países do mundo continuaram a surgir partidos, grupos e movimentos simpáticos ao nazismo, que usam seus símbolos, métodos violentos e defendem suas ideias racistas. No final da década de 60, jovens da classe operária na Inglaterra formaram o movimento skinhead. Parte dele, com o passar do tempo, aderiu ao extremismo político nazi-fascista, mantendo ostensivas e violentas práticas racistas contra imigrantes, judeus e negros. Nos anos 1990, gangues de jovens neonazistas da Alemanha atacaram imigrantes e profanaram cemitérios judeus no país, além de se envolverem em violentos confrontos contra partidários dosocialismo e do comunismo.
Fontes:
BRITANNICA ENCYCLOPEDIA ONLINE
CREW, David F. Nazism and German society. Londres: Routledge, 1994.
FRIEDLÄNDER, Saul. Probing the limits of representation: Nazism and the "final solution". Boston: Harvard College, 1992.
SZKLARZ, Eduardo. Nazismo in Superinteressante, edição 215, de julho de 2005.
BRITANNICA ENCYCLOPEDIA ONLINE
CREW, David F. Nazism and German society. Londres: Routledge, 1994.
FRIEDLÄNDER, Saul. Probing the limits of representation: Nazism and the "final solution". Boston: Harvard College, 1992.
SZKLARZ, Eduardo. Nazismo in Superinteressante, edição 215, de julho de 2005.