30.1.11

Alexandria

Alexandria
Clique na imagem para ampliá-la.
Alexandria, do Egito (Textos compilados por Carlos Fernandes / nov-2002)


A cidade
O reino egípcio dos Ptolomeus teve sua origem na fundação de Alexandria, um centro urbano no que era antes uma aldeia de pescadores.

A cidade foi fundada (332 a. C.) pelo conquistador macedônico Alexandre Magno (356-323 a. C.) para ser a principal cidade portuária da Antigüidade.

Ao chegar ao Egito, Alexandre logo tratou de fundar esse novo porto, cujo enorme potencial previu.

Batizada como Alexandria, como muitas das outras cidades fundadas pelo conquistador macedônico, essa cidade em breve se tornou uma das maiores de todo o mundo grego.

Ao norte possuía dois bons ancoradouros que davam para o Mar Mediterrâneo.

O porto foi construído com um imponente quebra-mar que chegava até a ilha de Faros, onde foi erguido um famoso farol para orientar o tráfego marítimo, o Farol de Alexandria, e ficou conhecido como uma das sete maravilhas do mundo antigo. Esse porto tinha capacidade para abrigar as grandes embarcações que se tornaram típicas da época helenística, o que permitiu a Alexandria exportar sua produção excedente para o resto do país e estender o comércio a outras regiões, tornando-se assim a principal base marítima de todo o Mediterrâneo.

Foi para lá que Ptolomeu I Sóter (304-283 a. C.) transferiu sua capital, antes localizada em Menphis, antiga e tradicional cidade do Baixo Egito. Cortada por uma avenida principal excepcionalmente ampla, sua área urbana ocupava um território retangular com 6,4 km de comprimento por 1,2 de largura, e sua população por volta de 200 a. C., chegava a meio milhão de habitantes. Estes eram em sua maioria colonos gregos e macedônios, que tinham organização autônoma de privilégios excepcionais.

A numerosa comunidade judaica também tinha sua própria administração.

Mas a cidade abrigava igualmente dezenas de milhares de egípcios e indivíduos de várias outras raças. Tratava-se de um centro urbano cosmopolita, em escala ainda maior do que Siracusa.

Na nova capital os Ptolomeus construíram muitos palácios e instituições públicas, e a cidade atingiu o nível de centro científico e literário por pelo menos durante o meio milênio seguinte, fato que se prolongou durante os primeiros anos da dominação romana.

Muitos dos belos edifícios de Alexandria tornaram-se célebres, como o Museu e a Biblioteca, que juntamente com outras instituições atenienses mais antigas figuravam entre os mais importantes centros culturais da época. Havia também os palácios dos Ptolomeus e o templo de Serápis, a divindade que fora introduzida par atender os reclamos nacionais e cujo culto propagara-se rapidamente, assim como o de Ísis, pelo mundo helenístico.

No entanto não parecia uma cidade que fizesse parte do território egípcio.

Apesar dos canais que a ligavam a o lago Marcótis e ao sul, parecia um superestrutura acrescentada ao país, e era comum as pessoas falarem em viajar de Alexandria para o Egito. A antiga e grande cidade de Alexandria, hoje terceiro núcleo urbano do país em população, com cerca de 3,5 milhões habitantes e principal porto do norte do Egito, fica localizada no delta do rio Nilo, fundada numa colina que separa o lago Mariotis do mar Mediterrâneo.

Nesta cidade sempre existiram dois portos, dos quais o ocidental é o principal centro comercial, com instalações como a alfândega e inúmeros armazéns. A fundação da cidade de Constantinopla contribuiu para a decadência da metrópole egípcia.

Com os muçulmanos, essa decadência de Alexandria foi acelerada, sobretudo a medida do crescimento da cidade do Cairo, hoje com aproximadamente 7,0 milhões de habitantes.


A história da grande Biblioteca
Chamada de A grande Biblioteca para distinguí-la da pequena biblioteca de Serapis, foi inaugurada por Ptolomeu Sóter II (309-247 a. C.), o Filadelfo, segundo rei (282-247 a. C.) dessa dinastia, com o propósito de firmar a manutenção da civilizacão grega no interior da conservadora civilizacão egípcia.

Provavelmente idealizada a partir da chegada de Demétrio Falero (350-283 a. C.), levado a Alexandria (295 a. C.) para este fim e atendendo a um projeto elaborado por Ptolomeu Sóter I (367-283 a. C.) cuja obra ficou completa com a construção de sua conexão com o Museu, a obra máxima de seu sucesor, Ptolomeu Filadelfo.

Como Estrabão (63 a. C. -24) não fez menção da biblioteca em sua descrição dos edificios do porto, possivelmente se encontrava em outra parte da cidade, além do mais, sua conexão com o Museu, parece localizá-la no Brucheião, a noroeste da cidade.

A formação do acervo foi constituída de várias formas, segundo muitos relatos tradicionais para aquisição dos livros, geralmente na forma de rolos. Por exemplo, os barcos que entravam no porto eram forçados a entregar algum manuscrito que transportavam.

A rivalidade entre Alexandría e Pérgamo chegou em tal nível que a exportação de papiro foi proibida com o fim de perjudicar a cidade italiana. Esta rivalidade levou ao desenvolvimento de envelhecimento artificial de papiros para falsificação de cópias como originais, para aumento do acervo.

Demétrio Falero (350-283 a. C.) mencionou o número de 200.000 rolos de papiro, para uma meta de 500.000. Calímaco (294-224 a. C.) criador do primeiro catálogo sistematizado da biblioteca, os Pinakes, contabilizou em 490.000 rollos e, mais tarde, Aulo Gélio (120-175) e Amiano Marcelio ( 330 - 395) em 700.000 rollos.

Paolo Orósio ( 370-417), por outro lado, mencionou 400.000. João Tzetzes (1110-1181), comentarista bizantino, concluiu que o acervo estaria dividido, com 42.800 manuscritos em Serapis e 490.000 no Museu. Autores modernos falam em milhões de originais.

Depois da catalogação das obras por Calímaco e Apolônio de Rodes, o primeiro bibliotecário de fato (234 a.C.) foi Zenódoto (325-234 a. C.), seguido (234-194 a. C.) por Eratóstenes (276-194 a. C.), (194-180 a. C.) Aristófanes de Bizâncio (257-180 a. C.) e (180-131 a.C.) Aristarco de Samotrácia (217-131a. C.), todos nomes de famosos estudiosos daquele período da civilização.

A inclusão nesta lista do gramático Calímaco (294-224 a. C.) e do gramático e poeta épico Apolônio de Rodes (295-215 a. C.) é pouco convincente e parece cronologicamente impossível, a não ser como colaboradores iniciais na fundação da instituição e organização do acervo inicial.

O trabalho dos bibliotecários consistiu na clasificacão, catalogação e edição das obras da literatura grega e exerceram uma profunda e permanente influência não só pela forma dos livros, de suas subdivisões e sua disposição, como também pela transmissão de textos em todas as fases da história da literatura. Depois de Aristarco a importância da biblioteca decaiu. Júlio César (100-44 a. C.) viu-se impelido (47 a. C.) a queimar sua frota para impedir que caísse em mãos dos Egípcios.

O fogo se extendeu aos documentos e o arsenal naval e acredita-se destruiu cerca de 400.000 rolos de papiros. É mais provável, segundo o relato de Orósio, que isto não ocorreu na próprio biblioteca, e sim, depois que os rolos tivessem sido transportados de lá para porto para serem embarcardos para Roma. Sêneca (4 a. C.-65) e Aulo Gélio (120-175) também escreveram sobre essa ocorrência, porém só da queima dos manuscritos, este último apresentando-a como completa.

Menos cuidadosamente os historiadores Plutarco (46-119) e Dio Cássio escreveram sobre a queima da biblioteca, porém o assunto não foi tratado pelos historiadores Cícero (106-43 a. C.) nem por Estrabão (63 a. C.-24). O prejuízo foi parcialmente reparado (41 a. C.) por Marco Antônio (83-30 a. C.) e Cleópatra VII (69-30 a. C.), com o aporte de 200.000 volumes provenientes da biblioteca de Pérgamo. Sob o imperador romano Aureliano (215-275), uma grande parte do Brucheion foi destruída (272) e é possível que a biblioteca tenha desaparecido nessa época.

A mais generalizada versão da destruição da biblioteca é a que aconteceu quando Alexandria foi capturada pelos muçulmanos (642), que sob o argumento de que os escritos gregos não eram necesários e não necessitavam ser preservados, porque estavam em desacordo com os ensinamentos de Alá e, portanto, eram perniciosos e deveriam ser destruídos.

A versão de que teriam sido usados como lenha, hoje está descartada, pois o gesto não seria coerente com os costumes muçulmanos e, além disso, segundo alguns historiadores essa versão ganhou corpo cerca de um século depois da captura da cidade, aumentando as possibilidades de que a monumental biblioteca tenha sido destruída muito antes da invasão muçulmana. Segundo a lenda, no entanto, a biblioteca foi destruída pelo fogo em três ocasiões, sendo a primeira (272) por ordem do imperador romano Aureliano (215-275), depois (391), quando o imperador Teodósio I (347-395) arrasou-a, juntamente com outros edifícios pagãos, e finalmente (640) pelos muçulmanos, sob a chefia do califa Omar I (581-644).

Saliente-se ainda que existe uma suposição de que a pequena biblioteca de Serapis, com pouco mais de 40 mil volumes, foi destruída quando o Templo de Serapis foi demolido (391) por ordem do cristão radical Teófilo (335-412), nomeado (385) patriarca de Alexandria, durante sua violenta campanha de destruição de todos os templos e santuários não-cristãos daquela cidade, com o apoio do imperador FlávioTeodósio (347-395), após a proclamação (380) do Cristianismo como Religião do Estado.

Essa loucura destruidora já teria sido responsável, então, pela demolição dos templos de Mitríade e de Dionísio, porém não há uma informação definitiva dos acontecimentos em relação à biblioteca.

Saliente-se ainda que Hipatia (370-415), a última grande matemática da Escola de Alexandria, a bela filha de Téon de Alexandria (335-395), foi assassinada por uma multidão de monges cristãos, incitada por Cirilo (376-444), sobrinho e e sucessor de Teófilo como patriarca de Alexandria, que depois seria canonizado pela Igreja Católica.

Após o seu assassinato, numerosos pesquisadores e filósofos trocaram Alexandria pela Índia e pela Pérsia, e a cidade deixou de ser o grande centro de ensino das ciências do Mundo Antigo.



Bibliografia principal:
1. GRANT, M. - História Resumida da Civilização Clássica - Grécia e Roma, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1994.
2. Sites da Internet


Fonte do texto: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/Alexandria.html