Introdução sobre São Tomás de Aquino
São Tomás de Aquino | |||
O que Tomás de Aquino escreveu ao longo do século 13 virou consulta obrigatória para responder às questões doutrinárias da Igreja. Durante sua vida tornou-se a autoridade intelectual máxima do catolicismo. A escolástica, filosofia em que ele se consagrou, permaneceu vigorando mesmo após o final da Idade Média e só foi questionada e varrida de cena quando Descartes publicou o “Discurso do Método” em 1637.
Tudo que existe na natureza tem que ser movido por alguma outra coisa. Da mesma forma, essa outra coisa na medida em que está em movimento, deve também ser movida por algo mais. Mas essa cadeia de eventos não pode retroceder para sempre, porque se o fizesse não poderia haver um primeiro motor e portanto nenhum outro. Pois os segundos motores não podem se mover a não ser que sejam movidos por um primeiro motor, da mesma forma que uma vareta não move nada a não ser que seja movida por uma mão. Dessa forma devemos chegar a um motor primeiro que não seja movido por nada. E todos compreendemos que este é Deus.
Suma Teológica
Uma das principais obras escritas por São Tomás de Aquino foi a “Suma Teológica”. Nela, ele apresenta cinco provas da existência de Deus, além de discutir como será o mundo após o Juízo Final e se fraqueza, ignorância, malícia e luxúria são resultados do pecado, entre outros temas.
São Tomás de Aquino: de nobre a dominicano
Seis quilômetros ao norte da cidade de Aquino, no sul da Itália, nasceu em 1225 Tomás de Aquino, o sétimo filho do conde Landolfo d’Aquino. Num castelo sombrio, ele já nasceu duplamente nobre, além de filho de um conde, ele era também sobrinho de Frederico 2, imperador do Sacro Império Romano-Germânico.© iStockphoto.com / Giuseppe Lancia Ruínas do castelo onde nasceu São Tomás de Aquino |
Tomás foi para uma escola monástica em Mote Cassino quando tinha cinco anos de idade. De lá seguiu para a Universidade de Nápoles, um importante pólo disseminador do conhecimento clássico que começava a ser redescoberto na Europa. Lá, Tomás conheceu os pensamentos deAristóteles, principalmente os tratados do filósofo grego sobre lógica.
Enquanto demonstrava ter um intelecto aguçado no uso da lógica aristotélica e ao fazer especulações filosóficas mais profundas, Tomás de Aquino começou a se interessar pela ordem monástica dos dominicanos. De hábitos negros e vivendo à base de esmolas, os dominicanos existiam desde o século anterior para combater a heresia. Mas sua família não viu com bons olhos a adesão de um Aquino a um estilo de vida que o faria perambular pela Itália, sem dinheiro e esmolando. A inteligência de Tomás e as relações importantes de sua família facilmente o colocariam numa posição de prestígio na Igreja. Mas Tomás queria mesmo ser um dominicano. Com 19 anos de idade, ele ingressou na ordem, abandonou os estudos em Nápoles e tentou seguir a pé para Paris, que era o maior centro de estudos da cristandade. Seus irmãos, no entanto, o alcançaram e o levaram para o castelo da família, onde ele ficou preso numa torre até “recuperar o bom senso”.
Aquino ficou na torre do castelo por um ano até o dia em que a irmã o ajudou a fugir. Nesse período, leu a Bíblia e estudou a Metafísica de Aristóteles. Quando fugiu conseguiu finalmente chegar a Paris e depois a Colônia, onde virou um discípulo de Alberto Magno, um sábio que o fez absorver todos os ensinamentos de Aristóteles. Apesar da Igreja naquele momento não gostar dos pensamentos aristotélicos, Tomás de Aquino usou uma interpretação dos pensamentos do filósofo grego para mostrar que a teologia poderia virar uma ciência.
Além de tentar essa conciliação entre teologia e os pensamentos aristotélicos, Tomás de Aquino procurou também resolver a controvérsia que surgira entre os dominicanos e as autoridades universitárias. Graças a influência dos dominicanos na Cúria, o tribunal papal, a disputa terminou com a conquista da respeitabilidade pelos dominicanos nas universidades e nos tribunais europeus e com a nomeação de Tomás de Aquino como professor na Universidade de Paris. Lá ele iniciaria sua grande obra filosófica ao escrever “Suma contra os gentios”.
São Tomás de Aquino e a escolástica
Enquanto lecionava na Universidade de Paris, Tomás de Aquino escreveu uma obra enciclopédica na qual incorporou o pensamento de Aristóteles à teologia da Igreja Católica. Oito séculos antes Santo Agostinho tinha feito o mesmo processo de fusão da filosofia clássica grega com a teologia cristã, só que usando os pensamentos de Platão.Usando argumentos filosóficos para demonstrar a verdade das crenças cristãs, Tomás de Aquino escreveu sua primeira obra-prima: “Suma contra os gentios”. Nesse livro, ele começa seus argumentos com um lugar-comum e avança gradualmente até alcançar as mais profundas conclusões. Claro que ao não diferenciar o reino da razão do da fé, Aquino encontraria dificuldades em relação a seus argumentos racionais considerados verdadeiros. Mas quando esse conflito ocorria, ele era desconsiderado e “escondido”. O objetivo do uso da razão por Aquino era provar a existência de Deus. Ele fez isso começando justamente por rejeitar o que era até então a mais consolidada dessas provas, o Argumento Ontológico desenvolvido por Santo Anselmo cerca de um século antes. Aquino constroi sua prova a partir da reformulação do argumento aristotélico do Primeiro Motor.
“Suma contra os gentios” exigiu vários anos de dedicação de Tomás de Aquino. Antes de finalizar a obra, ele foi nomeado conselheiro da Cúria. No período em que permaneceu nesse cargo, além de finalizar o livro, ele ainda escreveu comentários sobre os Evangelhos e sobre os textos de Aristóteles e compôs hinos e sermões. Enquanto esteve na Cúria, Aquino também dedicou grande parte de seu tempo nos preparativos para uma união da Igreja Católica Romana com a Igreja Bizantina, o que não aconteceu.
Em 1268, ele foi para Paris. Lá ganhou um importante admirador. O rei da França Luís 9. Quatro anos depois voltou à Itália para ser professor na Universidade de Nápoles, onde havia estudado. Ele se dedicou com afinco a sua segunda grande obra: “Suma Teológica”. Nela, ele pretendia reunir e articular todo o seu pensamento para construir um sistema filosófico abrangente. A obra, que ficou incompleta, é considerada o melhor retrato da mente medieval.
Na “Suma Teológica”, Aquino desenvolve cinco argumentos que seriam as provas da existência de Deus. Mostra também elementos de sua filosofia moral. Ele e Aristóteles acreditavam que a felicidade humana é o objetivo de todos nesta vida. Para Aquino, a felicidade deveria ser alcançada de uma forma moral. Ele define quatro virtudes essenciais para alcançarmos a bondade moral: prudência, justiça, força e temperança. Pouco mais de um ano após estar lecionando na Universidade de Nápoles e trabalhando na “Suma Teológica”, Aquino disse ter vivenciado uma experiência mística numa noite ao ter uma visão da Verdade e da alegria da vida eterna. Desde então parou de escrever e ficou mais solitário. Com cerca de 50 anos de idade, estava doente e ao ser convocado pelo papa para participar do Segundo Concílio de Lyon não resistiu à viagem de mais de mil quilômetros. Tomás de Aquino morreu em 7 de março de 1274 e menos de meio século depois já era considerado santo oficialmente.
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