Em meados do século XVI, os Países Baixos eram compostos de 17 províncias, que correspondiam às atuais Bélgica, Holanda, Luxemburgo e partes francesas da Flandres. Carlos V recebeu-os como herança. As províncias faziam parte de um Estado federado, cujo soberano era o rei da Áustria e Espanha. Cada província tinha um governador e uma assembléia. O principal órgão político eram os Estados Gerais, espécie de assembléia do clero, nobreza e burguesia, formada por delegações de todas as províncias. Como Carlos V era um rei viajante, algumas vezes governava de Bruxelas, capital dos Países Baixos.
Quando Filipe II tomou-se o soberano, abandonou o hábito de governar em seus diversos rei- nos e passou a residir em Madri, capital da Espanha. Os Países Baixos passaram a ser tratados como uma província qualquer, dirigidas por um representante do soberano, embora fossem uma importante região comercial e financeira, onde existia uma forte burguesia. Apesar das leis contra as heresias, a burguesia e a nobreza daquela região aderiram ao calvinismo. A repressão espanhola foi violenta e muitos calvinistas foram executados em público. A Espanha estava sempre necessitada de dinheiro. Para resolver os problemas do tesouro, o rei espanhol aumentou os impostos nos Países Baixos.
Devido à falta de liberdade religiosa e ao aumento dos impostos, as sete províncias do Norte, onde o calvinismo era dominante, resolveram se libertar, formando as Províncias Unidas. O rei Filipe II enviou uma tropa para combater a rebelião e esses soldados promoveram verdadeiros massacres. As Províncias Unidas, apesar de sua riqueza material e financeira, não tinham condições de enfrentar e vencer sozinhas o poderoso exército castelhano. Mas havia outros países também interessados em derrotar os Habsburgo. A França católica, a Inglaterra protestante e príncipes alemães enviaram forças para auxiliar os rebeldes. Na verdade, não existia um exército das Províncias Uni- das, mas um enorme exército multinacional, comandado por um holandês. Em 1609, foi assinado um acordo pelo qual a Espanha reconhecia de fato a independência das Províncias Unidas. Porém o estado de guerra permaneceu por várias décadas.
A longa guerra de libertação provocou destruições nas Províncias Unidas. Em algumas regiões, houve declínio da população, o comércio e as ma nu faturas retrocederam. Embora a guerra tenha despendido recursos das Províncias Unidas, não os exauriu. Na última década do século XVI, a economia voltou a crescer e a população aumentou, devido à imigração de artesãos, capitalistas, professores e cientistas de várias partes da Europa. Essas pessoas que impulsionaram o progresso da Holanda eram judeus, protestantes e outros perseguidos que foram atraídos pela liberdade religiosa e de pensamento.
Na primeira metade do século XVII, a Holanda era o modelo de país moderno na Europa. Terra de liberdade, era uma república dominada por uma alta burguesia, formada de grandes comerciantes, empresários e banqueiros. Amsterdã, sua capital, era a principal praça financeira do mundo, e o comércio holandês havia adquirido um poder de alcance internacional. Principal país manufatureiro da Europa, com grande desenvolvimento do trabalho assalariado, a Holanda era também a maior potência marítima mundial, presente no comércio europeu, asiático, americano e oriental.
Até o final do século XVII, a Holanda foi a principal potência naval e o modelo de país capitalista. Toda a política holandesa visava desenvolver o comércio, principalmente o marítimo, e as manufaturas. Ao contrário das monarquias absolutistas européias que dirigiam a economia com mãos-de-ferro, a República da Holanda deixava sua economia nas mãos do capital privado das companhias privilegiadas de comércio.País de território e população exíguos, com 2 milhões de habitantes, a Holanda era o mais próspero Estado europeu, no momento em que quase toda a Europa conhecia pestes e fome. Boa parte desse progresso devia-se a seus comerciantes e marinheiros, ativos no mundo todo. Dominavam o Mar Báltico e penetraram no Mediterrâneo e no Império Turco europeu. Fora da Europa, no início do século XVII, já haviam tomado o monopólio dos portugueses e espanhóis no comércio de especiarias no Oriente. Possuíam feitorias na China, no Japão e na África, onde traficavam escravos negros. No Japão, depois de 1638, quando o comércio foi fechado aos estrangeiros, os holandeses foram os únicos a continuar mantendo relações comerciais e feitorias no país. A Companhia das Índias Orientais, encarregada do comércio holandês com o Oriente, desfrutava inteira liberdade de ação. Seus acionistas pertenciam à alta burguesia holandesa e eram membros dos Estados Gerais, o órgão supremo do poder político.
Com base no sucesso da Companhia Oriental e devido à retomada da guerra com a Espanha, em 1621 foi fundada a Companhia das Índias Ocidentais, cujo objetivo era pilhar o Império espanhol nas Américas. Seu maior desenvolvimento ocorreu durante o domínio holandês no Nordeste brasileiro. Para iniciar a colonização do Brasil com a cana-de-açúcar, Portugal obteve empréstimos com financistas e comerciantes holandeses. Em troca desse capital, a burguesia holandesa ficou com o monopólio do transporte, do refino e da distribuição do açúcar na Europa. Quando Portugal passou para o domínio espanhol (1580-1640), os holandeses foram proibidos de comercializar com o império espanhol, perdendo todos os investimentos realizados anteriormente. Por isso, resolveram ocupar as fontes produtoras de açúcar no Brasil. medialmente, estabeleceram-se na Bahia (1624), de onde foram rapidamente expulsos. Invadiram então Pernambuco, ocupando quase todo o nordeste brasileiro e lá permanecendo de 1630 a 1654. Expulsos do Nordeste, os holandeses montaram um formidável sistema produtor açucareiro nas Antilhas, conquistando grande parcela do mercado internacional, a ponto de gerar uma grave crise econômica em nosso país. Os holandeses também fundaram uma feitoria, chamada Nova Amsterdã, na costa atlântica dos Estados Unidos, que, ocupada mais tarde por colonos ingleses, foi rebatizada de Nova York.
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