Homem de fé, devotado ao Brasil e à sua gente, Dom Hélder Câmara nasceu em Fortaleza em fevereiro de 1909, décimo primeiro filho de uma família de treze, dos quais cinco não sobreviveram a uma epidemia de gripe que atingiu a região em 1905. Aos quatro anos, frequentava a igreja e brincava de celebrar missas. Em agosto de 1931, com uma autorização especial da Santa Sé, foi ordenado padre já que, aos 22 anos, não possuía a idade mínima exigida.
Iniciava assim o sacerdócio, caminho que iria mudar os rumos da Igreja no Brasil e do próprio país. A criação da Legião Cearense do Trabalho e da Sindicalização Operária Feminina Católica foram duas das suas primeiras iniciativas depois de ordenado. O empenho como educador tornou-o espécie de Secretário da Educação do Ceará, tendo, assim, contribuído de maneira decisiva para a reforma do método de ensino e melhor desenvolvimento da educação pública do estado.
Em 1936, desembarcou no Rio de Janeiro com a missão de dedicar-se às atividades episcopais e atuar no sistema educacional estadual. Inquieto e idealizador, Dom Hélder estabeleceu, durante a década de 50, estreito contato em Roma com Monsenhor Montini, futuro Papa Paulo VI. Assim, deu os primeiros passos para a implantação da CNBB — Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Dom Hélder Câmara foi um homem de ação e ajudou decisivamente na realização de mudanças sociais no país. Entre as importantes iniciativas, destaca-se a criação, no Rio, em 1956, da Cruzada de São Sebastião, destinada ao atendimento dos favelados. Três anos mais tarde, funda o Banco da Previdência, concretizando a proposta de prestar auxílio prático às camadas miseráveis brasileiras.
Dom Hélder tornava realidade o que muitas vezes parecia utópico. “A injustiça é una e indivisível: atacá-la e fazê-la recuar, aqui e ali, é sempre fazer avançar a justiça”. Sublinhava, assim, sua intenção de luta. A criação do Conselho Episcopal Latino-Americano, que tinha como objetivo capital reunir Bispos da América Latina para impulsionar trocas e ações conjuntas, foi mais uma vitória. Nomeado Arcebispo de Olinda e Recife em 1964, estabeleceu na região claro foco de resistência ao golpe militar. A posição lhe rende a alcunha de arcebispo vermelho. Durante o regime ditatorial é perseguido, mas não intimidado.
Em 1969, recebe da Universidade de Saint Louis, Estados Unidos, o título de doctor honoris causa, o primeiro de muitos a ele conferidos ao longo de toda a vida, em diversos países. Morreu aos 90 anos, em 1999, mantendo até o fim, intactas, suas convicções. “A única guerra legítima é aquela que se declara contra o subdesenvolvimento e a miséria”. Para a luta, Dom Hélder criou sua própria estratégia: se não fosse possível levar o mundo para dentro da Igreja, colocaria a igreja no mundo.
Fonte:
Livro 100 Brasileiros (2004)