Com o conceito de esquemas de ação, Jean Piaget mostrou como as ações dos indivíduos sobre o meio são o motor da aquisição de conhecimento.
(na foto em uma escola nos anos 1970)
deram relevo à primeira infância
Há inúmeras possibilidades de esquemas de ação (leia um resumo do conceito na última página). Mamar, sugar, puxar e prender são esquemas comuns no desenvolvimento da inteligência sensório-motora (em média, até 2 anos de idade). Imitar, representar e classificar é típico da inteligência pré-operatória (aproximadamente de 3 a 7 anos), assim como ordenar, relacionar e abstrair caracteriza o período operatório-concreto (de 8 a 11 anos). Já argumentar, deduzir e inferir aparece na estruturação da inteligência operatória formal (a partir dos 12 anos). É com base nesses esquemas que as pessoas constroem as estruturas mentais que possibilitam o aprendizado (leia um trecho de livro sobre o assunto no quadro da próxima página). "Inicialmente, isso se dá com a experiência empírica, concreta. Em seguida, conforme a criança vai se desenvolvendo, ela caminha em direção ao pensamento formal, abstrato", explica Agnela da Silva Giusta, professora de Ensino de Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG).
As pesquisas científicas de Piaget sobre as características do pensamento infantil receberam a contribuição de importantes acontecimentos em sua trajetória pessoal. Entre 1925 e 1931, nasceram seus três filhos, ponto de partida para uma etapa de observação de seus comportamentos. Após uma criteriosa análise dos dois primeiros anos de vida dos bebês, Piaget chegou à conclusão de que a inteligência se desenvolve desde o nascimento - e não com o surgimento da fala, como era comum pensar até o início do século 20.
No livro A Epistemologia Genética, o pensador suíço divide o processo "dinâmico e infinito" do desenvolvimento da capacidade de conhecer em quatro períodos. No sensório-motor, que vai desde o nascimento até os 2 anos, a criança conhece o mundo por meio dos esquemas de ações que trabalham sensações e movimentos. Ao nascer, o bebê percebe o mundo como uma extensão do seu corpo. Ao desenvolver o esquema de sucção, por exemplo, o bebê começa a diferenciar o que é seio da mãe, o bico da mamadeira, a chupeta ou mesmo o dedo. Com o tempo, consegue identificar objetos que são sugáveis ou não. Um dos principais resultados desse período é a criança tomar consciência de si mesma e dos objetos que a cercam. "Esse processo é chamado por Piaget de construção do objeto permanente, ou descentração", explica Cilene Charkur, professora aposentada da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp), campus de Araraquara.
Nessa fase, mesmo antes de falar e pensar, a criança consegue realizar condutas consideradas lógicas, ligadas à ação sobre objetos concretos. Um bebê de 8 meses, por exemplo, pode afastar um brinquedo para pegar outro de seu interesse. "Nesse caso, ele coordena dois esquemas: um esquema meio (afastar) e outro esquema fim (pegar). Trata-se de uma integração recíproca entre duas ações e não só uma associação mecânica", afirma Adrian Oscar Dongo Montoya, professor da Unesp, campus de Marília.
No terceiro período, chamado de operatório-concreto (de 8 a 11 anos), a criança amplia a capacidade de agir (ou seja, operar) sobre o real (os objetos concretos). Já é capaz de relacionar, classificar, comparar objetos seguindo critérios lógicos e realizar as primeiras operações aritméticas e geométricas. "É possível trabalhar com grandes números, superando os limites impostos pela contagem com suporte físico", diz Agnela.
O que marca a entrada no quarto período, o operatório formal, a partir dos 12 anos, é a capacidade de pensar por hipótese. O indivíduo pode agir não só sobre o real mas também sobre o possível, criando teorias. Por exemplo, pode imaginar que, se não houvesse a Revolução Francesa, a monarquia seria o sistema de governo predominante até hoje. Essa hipótese não é real, mas é possível.
Trecho de livro
"Conhecer um objeto implica a sua incorporação a esquemas de ação, e isto é verdade desde os comportamentos sensórios-motores elementares até as operações lógico-matemáticas superiores."
Jean Piaget no livro Biologia e Conhecimento.
Comentário
Na citação, Piaget aponta para o processo pelo qual as pessoas passam de um conhecimento mais simples a outro mais complexo. Nessa trajetória, os esquemas de ação se ampliam, expandem e incorporam novas informações com base na interação com o meio e de acordo com o período de desenvolvimento do indivíduo. É o que ocorre no esquema de reunião. No período sensório-motor, o bebê é capaz de brincar reunindo cubos. Uma criança um pouco mais velha irá classificar esses cubos segundo suas qualidades, como cor, tamanho, formas, peso etc. Finalmente, ao atingir o patamar formal, conseguirá reunir formas incontáveis, como aspectos comuns a diferentes teorias.
Entre os legados do conceito, a importância da infância
filhos, retratados nesta foto de 1936,
forneceu elementos à teoria
Um dos grandes legados da noção de esquemas de ação foi a compreensão da importância da primeira infância no desenvolvimento da inteligência. "O resultado disso é que há hoje em todo o mundo uma grande demanda por uma Educação Infantil de qualidade, que possibilite aos pequenos vivenciar, interagir, experimentar e, com isso, ampliar o desenvolvimento de suas possibilidades cognitivas", lembra Adrian.
Isso não impediu que algumas nuances da ideia fossem mal interpretadas. O apego excessivo à faixa etária de cada período é um deles. "Muitos professores compreendem os estágios como uma forma congelada de classificação dos alunos, sem perceber que a indicação de idade é apenas uma aproximação e que as passagens de uma fase para outra dependem da qualidade das interações de cada um com o meio", explica Agnela.
Essa postura pode gerar dois problemas. O primeiro é considerar apenas o ensino do conteúdo sem notar os conhecimentos e as habilidades de que o aluno dispõe para compreendê-lo. No outro extremo, está o comportamento de ficar apenas focado no que o aluno consegue fazer e não atentar para ensinar outros conteúdos mais complexos. "Um bom trabalho deve congregar os dois pontos de vista: enxergar as potencialidades das crianças e também aonde se quer chegar, tendo claros os conteúdos que não devem ser deixados de ensinar", explica Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). O próprio Piaget refutava a ideia de que é necessário esperar passivamente que as estruturas mentais se formem. Ao contrário, a ação educativa favorece fortemente essa construção.
Para cumprir esse objetivo, vale sempre favorecer uma atitude inquiridora, com a utilização, por exemplo, de situações-problema (leia a última página). "Em qualquer idade, a criança precisa ser provocada", afirma Cilene. Para ela, um dos grandes desafios do professor é gerar interesse pelo que deve ser ensinado. "Não existe uma criança que não tenha vontade de aprender. O problema é que muitas vezes as condições ofertadas nas aulas não são favoráveis."
Com o conceito de esquemas de ação, Jean Piaget mostrou como as ações dos indivíduos sobre o meio são o motor da aquisição de conhecimento.
Prefeitura Municipal de Parauapebas, PA, 2006
Processo seletivo para professor do Ensino Fundamental
Organizar a prática pedagógica baseado no modelo metodológico de resolução de problemas requer por parte do professor o planejamento de situações de ensino e aprendizagem que sejam atividades e intervenções pedagógicas adequadas às necessidades e possibilidades de aprendizagem dos alunos. Considerando essa perspectiva, assinale "certo" ou "errado" para as seguintes práticas pedagógicas:
1) Rejeitar diferenças no nível de aprendizado entre os alunos.
2) Analisar o conhecimento prévio dos alunos.
3) Favorecer a segregação de alunos na sala de aula.
4) Sobrepor os objetivos de ensino aos objetivos de realização dos alunos.
5) Favorecer a construção da autonomia intelectual dos alunos.
Respostas: 1 errado; 2 certo; 3 errado; 4 errado; 5 certo
Comentário
Para responder à questão, é preciso saber que a metodologia de resolução de problemas compartilha muitos preceitos da perspectiva construtivista. Entre eles, a necessidade de considerar o que os alunos sabem e como cada um evolui para criar as condições de avanço. O objetivo deve ser associar (e não sobrepor) os conteúdos às expectativas dos alunos, de forma que eles se sintam motivados a aprender o que precisam. Além disso, a interação (e não a segregação) entre estudantes auxilia o aprendizado por favorecer o intercâmbio de conhecimentos para resolver desafios.
Esquemas de ação
Elaborador : Jean Piaget (1896-1980)
Esquemas de ação são as formas como o ser humano interage com o mundo. Nesse processo, ele organiza mentalmente a realidade para entendê-la, desenvolvendo a inteligência. As formas de interação evoluem progressivamente conforme a faixa etária e as experiências individuais. Segundo Piaget, o desenvolvimento se dá em quatro períodos: sensório-motor (até 2 anos), pré-operatório (de 3 a 7 anos), operatório concreto (de 8 a 11 anos) e operatório formal (a partir de 12 anos).
Quer saber mais?
CONTATOS
Adrian Oscar Dongo Montoya
Agnela da Silva Giusta
Cilene Charkur
Lino de Macedo
BIBLIOGRAFIA
A Construção do Real na Criança, Jean Piaget, 392 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-152, esgotado
A Epistemologia Genética, Jean Piaget, 136 págs. Ed. Martins Fontes, tel. (11) 3293-8150, 30,10 reais
Biologia e Conhecimento, Jean Piaget, 423 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2233-9000, 65,90 reais
O Construtivismo na Pesquisa Vol. 2 - Alternativas Metodológicas, Cilene Ribeiro de Sá Leite Charkur, Ed. CRV, 191 págs., tel. (41) 3039-6418, 32,13 reais
O Nascimento da Inteligência na Criança, Jean Piaget, 382 págs, Ed. LTC, tel. (11) 5080-0780, 98 reais
Fonte: