De técnico de uma multinacional que fabrica produtos agrícolas a apaixonado ecologista. O gaúcho José Antônio Lutzenberger passou a defender o meio-ambiente em 1971, quando abandonou sua bem-sucedida carreira numa indústria agroquímica para fundar, com um grupo de simpatizantes da causa, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), a primeira organização não-governamental ecológica do Brasil.
Lutzenberger nasceu em Porto Alegre, onde formou-se em agronomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Especializou-se em agroquímica concluindo a pósgraduação em 1953 na Universidade de Louisiana, Estados Unidos. Prestava assessoria técnica em Porto Alegre quando, em 1957, foi contratado como técnico na matriz de uma empresa alemã. Transferido para chefiar o departamento agrícola, morou em Caracas de 1959 a 1966, quando voltou a trabalhar na Alemanha. Em 1967, foi mandado para Casablanca, no Marrocos.
Presidiu a Agapan de 1971 a 1987, período em que se destacou nas lutas contra a poluição provocada por uma fábrica norueguesa de celulose, em Guaíba (RS), e pela correta maneira de podar as árvores, em Porto Alegre. Em 1972, foi assessor da Comissão Parlamentar de Estudos da Poluição e Defesa do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. Em 1978, por encomenda do governo gaúcho, projetou o Parque da Doca Turística de Porto Alegre. Um ano depois, fundou a empresa Vida Produtos Biológicos, especializada em reciclagem de resíduos industriais.
Em 1987, preocupado com a destruição da vida na terra, criou a Fundação Gaia, um centro de estudos que visa a conservação do planeta. No ano seguinte ganhou o troféu The Right Livelihood Award, prêmio concedido, na Suécia, a personalidades que se destacam na defesa da ecologia em todo o mundo. Em 1990, foi nomeado pelo presidente Fernando Collor Secretário Nacional do Meio Ambiente. Foi destituído dois anos depois, antes da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, a Rio-92, por discordar das teses da Comissão Interministerial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Levantou suspeita de que havia corrupção no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e afirmou que o departamento responsável por florestas e madeiras no Brasil era uma sucursal das madeireiras.
A obra de Lutzenberger, morto em 2002, aos 75 anos, é a perfeita tradução de que é possível a economia crescer sem agredir a natureza.
Fonte:
Livro 100 Brasileiros (2004)