O Palhostock foi um lendário festival de música ocorrido na cidade de Palhoça em 1974. a ideia era fazer um festival nos moldes do Woodstock, um fim de semana de som ininterrupto.
O Palhostock foi idealizado por 3 amigos (Jacob, Baldicero e Edagrd) Na época não havia muita diversão para os jovens; eles costumavam se reunir na casa de Edgard onde a juventude ouvia som em decibéis não recomendáveis. Foi em uma dessas festas que surgiu a ideia do festival. Mas os amigos não tinham experiência em eventos desse tipo, Jacob e Baldicero tinham emprego público e Edgard era contador, além disso a esposa de Jacob estava grávida e Edgard era recém-casado. Apesar de tudo isso eles largam seus empregos, vendem seus carros e motos, para poder financiar esse sonho.
O primeiro passo foi conseguir um local para o evento. A cidade da Palhoça, através do prefeito da época, Seu Odílio, que via no evento uma oportunidade de promover o município dá carta branca aos rapazes para promoverem o festival. O local escolhidoi foi o campo do Guarani, no centro da cidade, aparentemente um local ideal pois era uma área aberta, cercada por grades e por um rio.
Enquanto a prefeitura construia o palco os rapazes viajaram pelo Sul e Sudeste, contratando bandas, conseguindo apoio de mídias para divulgação,... e também contrataram o som mais potente da época.
Foi tudo muito rápido - apenas 3 meses entre a ideia e a realização desta. Para burlar a censura da ditadura eles tiveram a sacada de convidar a banda do exército para abrir o festival. Convite aceito havia carta branca dos militares para a realização.
A Palhoça era uma cidade pequena e calma. Naquela época todos encaravam o festival como uma espécie de festa de bairro, dessa maneira conseguiram o apoio dos militares, etc, até o padre anunciava o festival durante a missa. Mas por um desses misterios nada misteriosos a notícia começou a correr, o boca-a-boca funcionou e jovens do Brasil inteiro e da América Latina começaram a vir para a Palhoça, a maioria de carona, no melhor espírito hippie.
Uma semana antes do início do festival, no ritmo irregular das caronas, começaram a chegar os primeiros caroneiros: foi um choque cultural. A população se escandalizou com o aspecto dos novos visitantes, as roupas, os cabelos, a postura, etc. Mas a grande surpresa estava por vir... no sábado, dia do início do festival houve uma invasão na Palhoça. Milhares de jovens chegaram na cidade que não estava preparada para isso. A primeira consequência é que os organizadores não estavam preparados para tanto fluxo de maneira que houve uma invasão no campo; a maioria absoluta dos espectadores ou pulou a grade ou ia a nado através do rio, de maneira que apesar do sucesso de público foi um fracasso de bilheteria (lembre-se que os organizadores largaram os empregos e venderam seus bens esperando ser ressarcidos através da venda de ingressos). a segunda consequência é que a comida, a bebida e os cigarros acabaram na cidade e até hoje especula-se como tantos jopvens conseguiram se alimentar aqueles dias.
Apesar da aparente bagunça tudo transcorreu na absoluta paz, e aqueles jovens, que a princípio eram olhados com desconfiança aos poucos ganharam a simpatia dos moradores.
O FESTIVAL
O festival deu início com a apresentação da banda do Exército. Foi a cena mais surreal do evento: a malucada levou um susto quando viu os militares descendo do ônibus e os militares levaram um susto quando viram a platéia a qual deveriam tocar. Apesar do estranhamento a banda tocou seu repertório mais alegre sendo regida e acompanhada por milhares de hippies. Após deu-se início as apresentações programadas: Capuchon (banda de Floripa), Bixo da Seda e Almondegas (banda da qual participavam os irmãos Kleiton e Kledir), de Porto Alegre, A Chave (que tinha entre seus compositores o poeta Leminski) e Movimento Parado (que tocaram de cueca e sutien), de Curitiba. Além disso haveria a participação de Luis Henrique Rosa, músico catarinense, que não tocou por problemas de "bastidores" (medo dos militares?).
O grande momento do festival foi a noite de sábado. No domingo, após a chuva e o banho de lama da galera, o Festival foi terminando, até o apaghar das últimas fogueiras...
FONTE : http://palhosblogstock.blogspot.com/2009/11/palhostock.html
Ainda sobre o Documentário "Ilha 70", em uma das ilustrações que ali eram exibidas, uma delas era de uma reportagem em um jornal. Congelei a imagem e peguei o nome do Jornal e o Título da matéria. Fiquei curioso e entrei em contato com Jornal "O Palhocense", e falei sobre esta reportegem. A matéria republicada na edição do dia 22/04/2010. Segue a Matéria :
1974: o ano em que Palhoça foi invadida por cabeludos
Texto: J.J. Silva
Palhoça, outubro de 1974. A população de pouco mais de 30 mil habitantes na época, voltava sua atenção e acompanhava espantada, e por que não dizer, aflita, o anúncio de um evento por meio de cartazes colados em bares, armazéns e postes por toda Palhoça e pelos municípios vizinhos.
Os cartazes anunciavam: “1º Festival de música pop – o Palhostock”. Dias: 19 e 20 de outubro de 1974. Local: Estádio Renato Silveira – Centro de Palhoça. Obs: Existem condições para acampar”.
A ousadia de fazer um festival de música no estilo Woodstock, o primeiro ao ar livre no Sul do Brasil, partiu de três jovens: Baldicero Filomeno, Jacob Silveira e Edgar Scheidt, que largaram seus empregos e venderam seus bens para organizar o festival. Apesar do sucesso de público, o festival foi um fracasso comercial, até porque, a maior parte da plateia entrou sem pagar, pulando o muro ou atravessando pelo mangue que circundava o Estádio Renato Silveira (Guarani FC).
No dia 19 de outubro, uma sexta-feira, pela manhã, Dona Aurora Balbina da Silva, (já falecida), moradora do Alto Aririú, foi acompanhada de seu neto até a Farmácia do seu Chico Schwinden, na sede do município e voltou de lá apavorada, dizendo aos vizinhos: “Palhoça está sendo invadida pelos cabeludos! É maconheiro pra tudo quanto é lado”!
Realmente, a transformação já era visível nos dias que antecederam o evento, principalmente ao se transitar pela BR 101. Jovens cabeludos e moças com roupas extravagantes e coloridas chegavam às pencas. Caminhoneiros passavam buzinando seus caminhões sem entender o porquê da procissão. Não sabiam eles que esses fieis vinham de várias partes do Brasil de carona, de ônibus ou a pé, seguindo o santo e bom Rock’n Roll.
Naquele final de semana Palhoça, que tinha a fama de uma cidade que cheirava a mel, por causa das abelhas que vinham colher seu pólen nas flores do jardim da Praça, cheirou mal pela primeira vez, já que a falta de infraestrutura e o grande número de pessoas na cidade fez com que as necessidades fisiológicas fossem feitas em qualquer cantinho. Os admiradores do Rock e da música dizem que até isso, naquele final de semana, cheirou bem. Opinião que não era compartilhada pela grande maioria dos moradores da sede do Município, acostumados a ir para cama, no “fusqui-fusqui” da noite e acordar com o cantar do galo. Conclusão: ninguém dormiu naquele final de semana na Praça de Palhoça, e quem cantou de galo foram os roqueiros!.
No Estádio do Guarani, os jovens Baldicero, Jacob e Edgar, não entendiam direito o que estava acontecendo, pois na verdade não esperavam que o Palhostock ganhasse a projeção nacional que teve.
Na Prefeitura, o Prefeito Odílio José de Souza (MDB), embora fosse oposição ao regime militar, não deixava de se preocupar com a dita “invasão de alegria”. A sua preocupação maior era a questão da falta de infraestrutura da cidade. Mesmo assim, o pouco que tinha foi colocado a disposição do evento. Palhoça era uma pequena cidade e não estava preparada para a invasão dos cabeludos, de maneira que até o estoque de comida logo se esgotou, gerando diversas especulações de como tantas bocas foram alimentadas.
Segundo Baldicero Filomeno, inicialmente o projeto estava previsto para acontecer em Florianópolis, “mas as autoridades que administravam a capital não quiseram arriscar, mesmo porque a época era de repressão, não sendo permitido nenhum tipo de aglomeração”, diz o produtor.
A preocupação com o Palhostock também fez com que o pároco da Matriz Senhor Bom Jesus de Nazaré, Padre Neri, não dormisse nas noites que antecederam o evento e durante a sua realização. Era público e notório, na época, que para um evento como esse acontecer numa “pequena” cidade, a igreja católica necessariamente teria que dizer “amém”. Mesmo porque, dificilmente a classe política da época apoiaria um evento que a igreja local fosse contrária.
Nos dois dias de evento, o Estádio do Guarani FC ficou rodeado por barracas de camping e os taxistas da Praça 7 diziam que até os maruins se enfiaram mangue adentro, fugindo do som das guitarras, baterias e baixos, que eram ouvidos em diversos bairros do município. As senhoras de nossa sociedade, principalmente as que moravam na sede, evitavam sair de suas residências, para não cruzar pelas ruas com aqueles moços e moças com mochilas nas costas, barbas e cabelos ao vento que pregavam a paz e o amor. “Muitas pessoas de nossa sociedade viam aqueles jovens como objetos não identificados, vindos de outro planeta”, relembra Edgar Scheidt.
O hoje artista plástico Jacob Silveira, diz que, o que foi considerado surreal no evento foi o fato de, em pleno regime militar, o festival ser oficialmente aberto pela Banda de Música do Exército Brasileiro. “E foi “regida”, para o delírio da galera, pelo grande Gelci Coelho, o Peninha, que subiu no palco e fez o público pedir bis, desestruturando toda a formação da banda. Foi uma cena surreal ver a Banda do Exército dando uma volta olímpica no estádio, seguida por milhares de hippies”, diz Jacob.
Ainda se apresentaram no Palhostock bandas que faziam sucesso na época como: Capuchon, Som Nosso de Cada Dia, A Comunidade e Sidharta, de Florianópolis, Mostarda, de Joinville e Bicho da Seda e Almôndegas, de Porto Alegre. “Aliás, a Banda Gaúcha Almôndegas, fez sua última apresentação no festival, mas revelou para o Brasil a Dupla Kleiton e Kledir, integrantes da banda gaúcha na época”, explica Edgar.
Testemunhos de jovens palhocenses dos anos 70 relatam que o Movimento Paz e Amor ou o Movimento Hippie, eram em suas cabeças apenas figurações que viam através das poucas TVs existentes no Município, nas revistas ou nos filmes e documentários exibidos pelos cines Pax ou Scharf. “Muitos de nós ficamos animados e acreditávamos que se fôssemos ao Estádio alguma daquelas moças iriam fazer amor com a gente, já que pregavam o amor livre e a liberdade”, diz João José da Silva, na época com 18 anos.
João conta que seus pais o proibiram de vir no Palhostock. Como a família dormia cedo, ele colocou travesseiros sob a coberta na cama, pulou a janela e veio de “magrela” do Alto Aririú até a Praça de Palhoça com mais seis jovens da localidade. “Alguns se atolaram no mangue na tentativa de não pagarem o ingresso. Eu e dois amigos entramos e nos misturamos com a “malucada”, mas nossas roupas nos identificavam como sendo nativos. Sempre achei que foi isso que fez com que saíssemos de lá sem “comer” ninguém”, relembra.
Alguns jovens da época se caracterizaram de hippies para curtirem o evento. Foi o caso dos palhocenses José Elias dos Santos (já falecido) e de Odilon Agenor da Silva, ambos servindo o Exército. Como estavam de cabeças raspadas, entraram no Guarani usando perucas compridas e, na maior cara de pau, acamparam no Palhostock com uma barraca do Exército. Elias com roupas coloridas e extravagantes, medalhão no peito, cinturão de fivela grande segurando uma calça boca de sino, exibia-se o tempo todo, frente aos seus colegas do Exército, que trabalhavam na segurança. Enquanto Odilon, mais retraído, temia que os militares o descobrissem e fosse curtir o Palhostock na cadeia.
Ao término do festival, a Praça de Palhoça, parecia um campo de batalha. Os poucos garis da Prefeitura trabalharam duro para que o Jardim voltasse a cheirar mel.
Dias após a realização do evento, o Prefeito de Palhoça, o Pároco da Matriz e os promotores do evento tiveram que se explicar ao SNI – Serviço Nacional de Informações. Os militares queriam saber: “Com que intenção mais de 10 mil jovens de várias partes do país, haviam rumado para uma pequena cidade, só agora vista no mapa, chamada Palhoça”?! Para os ditadores, essa alegria toda tinha cheiro de subversão.
Fonte : http://www.palhocense.com.br/area_6