Segundo as lendas chinesas, teria sido Cangjie o responsável por traçar os primeiros caracteres, inspirados em formas da natureza, como a Lua em suas diversas fases, os pássaros e outros animais. Seria a descoberta, pelos homens, de um segredo dos deuses.
O personagem relatado na forma de lendas é endossado por documentos históricos e pesquisas arqueológicas, que apontam Cangjie como precursor no estudo e na organização dos caracteres chineses.
Outro importante período na reconstituição histórica da escrita chinesa é o final do século XIX, quando foram descobertas peças do reino Shang, datadas de mais de três mil anos. As peças procediam da aldeia Xiaotun, no município de Anyang, província de Henan.
Os filólogos deram o nome de jiaguwen às inscrições encontradas em ossos de animais e carapaças de tartaruga, gravadas a estilete, com traços que chamavam atenção e, estudadas por Wang Yrong, se revelariam nos mais antigos exemplos da escrita chinesa.
Alguns estudos, porém, sugerem a possibilidade de existência de um sistema de escrita anterior às inscrições oraculares na China. Remontando ao período pré-histórico, com a comunicação baseada nas múltiplas formas e manifestações da linguagem oral, foram desenvolvidos sistemas que utilizavam símbolos. O objetivo era superar as limitações intrínsecas à comunicação oral.
Surgiram assim sistemas de escrita como o Bagua (oito diagramas), com configurações derivadas de diferentes combinações de linhas contínuas e quebradas, como "---" e "- -", significando coisas diferentes. Com o tempo, esse sistema caiu em desuso, permanecendo apenas em aplicações como adivinhações.
Assim como historicamente se verificou com outros povos, os nós também foram utilizados pelos chineses como um sistema de representação de números e registro de acontecimentos.
Os sistemas funcionavam como métodos mnemônicos, embora fossem insuficientes para registrar representações dos sons da língua falada. Mesmo distintos da escrita chinesa propriamente dita, estes sistemas são considerados seus precursores.
Pictogramas
Outra forma de registro, anterior ao desenvolvimento da escrita na China, era a dos pictogramas: desenhos utilizados para assinalar acontecimentos e transmitir informações. Em seu desenvolvimento, esses desenhos foram se simplificando e ganhando associações com determinados sons e sentidos, o que caracteriza os pictogramas, tidos como a origem comum de todos os sistemas de escrita.
Os caracteres da escrita chinesa já estariam contidos, de modo inicial, nos pictogramas. Mas o desenvolvimento dos primeiros caracteres chineses propriamente ditos segue motivando pesquisas, com diferentes marcos históricos. Analisando peças de cerâmica das culturas Yangshao (5000 - 7000 a.C.) e Dawenkou (4500 a.C.), arqueólogos encontraram símbolos muito parecidos com os caracteres mais evoluídos.
Nas ruínas de Jiahu (7000-8000 a.C.) também foram encontrados signos cuneiformes muito semelhantes às inscrições oraculares gravadas em ossos de animais. Apesar de a origem exata dos caracteres chineses permanecer um tema a desafiar os estudiosos, motivando discussões ainda distantes de conclusões definitivas, esses registros corroboram a tese de que as origens da escrita chinesa, como instrumento de comunicação, passam fundamentalmente pelos desenhos e símbolos rudimentares empregados para designar conceitos e objetos. Uma criação coletiva dos povos pré-históricos, a ser aperfeiçoada ao longo de milênios de evolução da civilização.
Pintura rupestre do período Neolítico: representações pré-históricas são as primeiras manifestações da longa tradição chinesa de inscrições visuais, que tem por base o universo sensível
Exemplos da escrita pictográfica Dongba, dos povos Naxi, na China
Há cinco mil anos, Cangjie foi o primeiro a estudar e catalogar os caracteres chineses
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=717557