- O sertanista Orlando Vilas Boas foi o melhor amigo dos índios na floresta
Filho de uma terra de nome indígena — Botucatu, SP — o sertanista Orlando Vilas Boas foi o melhor amigo dos índios quando embrenhou-se na floresta.
Nasceu em 12 de janeiro de 1914. Aos 27 anos levava uma vida pacata de escriturário em sua cidade, quando o Governo Vargas começou a recrutar trabalhadores para a expedição Roncador - Xingu. Admirador do Marechal Cândido Rondon, Orlando ficou entusiasmado com a possibilidade de participar da grande marcha para o Oeste e, junto com seus irmãos mais novos, Cláudio e Leonardo, se inscreveu no posto de recrutamento, em São Paulo. Foram reprovados, porque sabiam ler e escrever. Mas os Vilas Boas não desistiram: deixaram a barba crescer, tomaram sol durante um mês, voltaram ao posto, se declararam analfabetos e foram aceitos.
Começava ali, em 1943, uma das maiores aventuras do século XX, a história de 35 anos de dedicação de uma família, Orlando à frente, às causas indígenas. Orlando foi ajudante de pedreiro até descobrirem que sabia ler e escrever. Foi então promovido a secretário e dois anos depois, assumiu o comando da expedição. Junto com seus comandados, percorreu mais de mil quilômetros de rios e 1.500 quilômetros de picadas abertas. Nesse caminho, nasceram 43 cidades e vilas e 19 campos de pouso, que seriam transformados em bases militares, pontos de apoio da aviação e postos de assistência à população indígena. Foram contatados mais de cinco mil índios de 20 tribos e 14 etnias. Dezenove vezes a expedição foi atacada, mas, por ordem do comandante, os índios eram repelidos com tiros para o alto.
Seu maior feito, que levou os índios a lhe dedicarem o Quarup (mais importante cerimônia religiosa e esportiva dos índios do Xingu), em 2003, foi a criação do Parque Nacional Indígena do Xingu, em 1961. Com área maior do que a do Estado de Sergipe, a reserva é fruto da luta do Índio Branco, como Orlando era chamado, e de seus irmãos.
Nos anos vividos na floresta, os irmãos Vilas Boas contraíram malária mais de 200 vezes. No entanto, a vida deu compensações a Orlando: por duas vezes,foi indicado, na década de 70, por personalidades e instituições internacionais, para o Prêmio Nobel da Paz. Depois de anos na floresta, em 1973, Orlando decidiu voltar a morar em São Paulo, onde continuou defendendo a causa indígena. “Precisamos salvar esta outra humanidade”, costumava dizer. Junto com seu irmão Cláudio, além do diário sobre a grande expedição, publicou livros, entre eles, Índios do Xingu; e Xingu: os índios e seus mitos.
Morreu de falência múltipla dos órgãos, aos 88 anos, no dia 12 de dezembro de 2002. Deixou viúva Marina Vilas Boas, com quem teve dois filhos, Noel e Orlando Júnior.
Fonte:
Livro 100 Brasileiros (2004)