Almirante na Rádio Nacional
A primeira transmissão de rádio realizada no Brasil ocorreu no dia 7 de setembro de 1922, durante a inauguração da Exposição do Centenário da Independência na Esplanada do Castelo. Foi um grande acontecimento. O público ouviu o pronunciamento do Presidente da República, Epitácio Pessoa, a ópera O Guarani, de Carlos Gomes, transmitida diretamente do Teatro Municipal, além de conferências e diversas atrações. Muitas pessoas ficaram impressionadas, pensando que se tratava de algo sobrenatural.
Desde 1922 as experiências com rádio-clubes vinham sendo realizadas; entretanto, foi somente em 1923 que Roquette Pinto inaugurou a primeira emissora de rádio, a Rádio Sociedade. O projeto, pioneiro no país, avançou com a instalação de um possante transmissor Marconi com dois mil wats de potência - o melhor da América do Sul - e a criação de uma escola de radiotelegrafia. No ano seguinte, foi inaugurada a Rádio Clube do Brasil, marcando o início da expansão. A tecnologia era ainda muito incipiente. "Os ouvintes utilizavam-se dos rádios de galena montados em casa, quase sempre por eles mesmos, usando normalmente caixas de charutos. Isso se tornava possível pelo fato dos aparelhos serem compostos por apenas cinco peças" (Tinhorão, José Ramos. In: Cabral, Sérgio. No tempo de Almirante: uma história do rádio e da MPB. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1990). As experiências se sucederam e, em 1926, foi inaugurada a Rádio Mairynk Veiga, seguida da Rádio Educadora, além de outras da Bahia, Pará e Pernambuco.
A década de 30 marcou o apogeu do rádio como veículo de comunicação de massa, refletindo as mudanças pelas quais o país passava. O crescimento da economia nacional atraía investimentos estrangeiros, que encontravam no Brasil um mercado promissor. A indústria elétrica, aliada à indústria fonográfica, proporcionaram um grande impulso à expansão radiofônica.
O rádio trouxe inovações técnicas e modificou hábitos, transformando-se na maior atração cultural do país. Desde 1932 a Rádio Philips investia no Programa Casé, que representou uma revolução na forma de apresentar programas de rádio. Foi Adhemar Casé, juntamente com Nássara, quem criou os primeiros jingles publicitários. Seu programa foi pioneiro em abrir espaços para patrocinadores e em veicular quadros humorísticos.
As empresas multinacionais foram as primeiras a utilizar o rádio na publicidade. Os programas de auditório e as rádio-novelas tinham o patrocínio de marcas como Philips, Gessy e Bayer. Na política, o rádio também exerceu enorme influência: a propaganda eleitoral, os pronunciamentos do presidente e a Hora do Brasil faziam parte da programação e alcançavam milhares de ouvintes/eleitores. A partir de 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial, o rádio se transformou num importante veículo para difundir fatos diários e notícias do front. Surgia o radiojornalismo, sendo o Réporter Esso um marco dessa época.
A Rádio Nacional, inaugurada em 1936, marcou a radiofonia no Brasil. Em seus quadros, brilhavam os talentos de Iberê Gomes Grosso, Luciano Perrone, Almirante, Radamés Gnattali e Dorival Caymmi. Com a encampação da Rádio Nacional pelo governo de Getúlio Vargas, em 1940, a programação ganhou novo formato, sob a direção de Gilberto de Andrade. O programa Um Milhão de Melodias, sob a regência de Radamés Gnattali, estreou com sucesso em 1943, tendo como patrocinador a Coca-Cola, que lançava seu refrigerante no Brasil. Almirante passou a apresentar diversos programas que registravam, a partir do valioso acervo do próprio radialista, a história da música popular brasileira, destacando-se A História do Rio pela Música, Clube dos Fantasmas e Vida Pitoresca e Musical dos Compositores da nossa Música Popular.
O rádio, apesar das críticas dos puristas que o acusavam de não possuir a mesma credibilidade da imprensa escrita, marcou profundamente a história da vida artística brasileira, inaugurando tendências e fazendo escola. Grandes nomes da nossa música surgiram no rádio, como Carmem Miranda, Silvio Caldas, Noel Rosa, Moreira da Silva, Ciro Monteiro, Francisco Alves, Orlando Silva, Emilinha Borba, Marlene.
Fonte: www.brasilcultura.com.br