Pioneiro na sociologia de Durkheim, o legado do autor na educação permanece vivo |
Alexandre Camargo |
Humanista, intelectual, educador e homem de ação. Virtudes que encontraram em Fernando de Azevedo sua mais profunda acepção. Exímio estudioso da realidade brasileira, ele se destacou como o principal difusor da sociologia de Émile Durkheim no país. Suas inclinações de pensador inspiraram as mais altas realizações no comando de importantes setores da educação nacional, tornando ainda hoje presente sua marca, tanto nas interpretações sobre a ciência e a cultura no Brasil, quanto nas políticas de educação. Após a revolução de 1930, Azevedo se tornou o principal formulador de políticas educacionais no país, ao lado de Lourenço Filho e Anísio Teixeira. Teve papel decisivo na criação da Universidade de São Paulo, apoiando o envio diplomático da missão de intelectuais e professores franceses. Graças à sua intervenção, vieram ao Brasil o historiador Fernand Braudel, os antropólogos Claude Lévi-Strauss e Roger Bastide, além dos geógrafos Pierre Monbeig e Pierre Deffontaines. Na USP, foi três vezes diretor e chefe do departamento de Sociologia e Antropologia. Em São Paulo, seria ainda secretário de educação do município (1961) e do Estado (1947). Professor inveterado, amava ensinar. Entendia a educação não apenas como ofício e ação, mas também como humanismo, que “não está na matéria que ensinamos, mas no espírito que nos anima no ensino de qualquer disciplina e na maneira de ensiná-la”, segundo suas próprias palavras. Dirigente da Companhia Editora Nacional por mais de quinze anos, Fernando de Azevedo também criou a Biblioteca Pedagógica Brasileira, selo editorial do qual fazia parte a série Brasiliana, a primeira coleção de estudos brasileiros do país. Destinada a “descobrir o Brasil aos brasileiros”, segundo Anísio Teixeira, a publicação revelou ao grande público os cronistas do século XVI e XVII; naturalistas e viajantes estrangeiros cujas obras permaneciam sendo privilégio de iniciados; historiadores do século XIX, como Varnhagen e pensadores como Tavares Bastos; mestres da cultura dos primeiros anos da República, como Capistrano de Abreu, João Ribeiro, Pandiá Calógeras, Manuel Bonfim, Celso Garcia e Afonso Taunay; escritores como Sílvio Romero e Euclides da Cunha; desbravadores do território nacional como Marechal Rondon e muitos outros. Os volumes eram acompanhados de ensaios introdutórios assinados por especialistas de renome, outra inovação editorial de Azevedo. Seu legado estendeu-se também às ciências sociais. No livro A cultura brasileira, publicada como introdução ao censo de 1940, Azevedo nos oferece um dos primeiros estudos a consagrar a centralidade dos fatores econômicos e sociais para a formação da cultura, deslocando a importância ainda atribuída à raça e ao meio físico. Descreve o processo de ocupação do território, define suas fronteiras e aponta os recursos disponíveis para a construção de uma poderosa nação. Também identifica os elementos culturais que estavam transformando o país em uma sociedade moderna, nos moldes ocidentais. Já em As ciências no Brasil, de 1956, o autor analisa o processo de implantação da ciência no país e os obstáculos a seu desenvolvimento, consagrando uma interpretação que perdura até hoje. Autor de extensa obra, Fernando de Azevedo escreveu ainda vários outros títulos: Novos caminhos e novos fins - A nova política da educação no Brasil, de 1935; Canaviais e engenhos na vida política do Brasil, de 1948; A educação e seus problemas, de 1952; Princípios de sociologia, de 1958 e Sociologia educacional, de 1959. Em um momento de perplexidade coletiva diante de sucessivas crises institucionais, em particular no campo educacional, toda esta produção intelectual e o exemplo biográfico de Fernando de Azevedo podem ser um convite oportuno para superar a paralisia, apontar caminhos e construir soluções. Fonte: |