Prof. Dr. Eduardo Marques da Silva
Entre a lembrança do passado e a expectativa do futuro, há uma estreita passagem, que se chama 'agora', em que o tempo não entra.Autor desconhecido
Introdução
Propomo-nos a pensar nas ferramentas da História Social e da formação sociocultural na pós-escravidão brasileira no tempo presente, observando as questões sociais e históricas à luz da alteridade, etnocentrismo, evangelização e religiosidade, sincretismo, resistência e tempo. A verdadeira revolução holística passava entre nossos valores e aparecia, como aparecem ainda, elementos novos como a emoção, que precisa ter seu lugar no interior e na trajetória dos fatos, desafiando a historiografia a encontrar ferramentas mais precisas. Ainda existem alguns dos reducionistas, marcados pela visão economicista da história, que não conseguem reconhecer tal desafio científico. É na crença que a nascente de tudo continua sendo o fato que advogamos novas ferramentas, mais adequadas ao trabalho do historiador.
A Metodologia do Ensino de Sociologia e História, de Isaiah Berlin, afirma que a inevitabilidade da conceituação histórica no tempo presente, em que somos indivíduos, traz a marca do velho cartesianismo em constante contenda com o holism, o holístico mundo eivado de mudanças que alteram o ‘tudo’ (que conhecemos como quantificável), e ‘o todo’ (que conhecemos como qualificável) (Oliveira, 2002; Perrot, 1991). Contudo, a nossa construção individualista é marcada pelo grupo social e sociocultural ao qual pertencemos. Ainda não sabemos utilizar competentemente habilidades como a percepção no embate competitivo como esse do jogo do capitalismo.
Nosso olhar ainda carece de um mundo de oportunidades; temos que produzir olatecomer, e essas oportunidades precisam urgentemente de decodificação. Tanto em termos formais quanto de suas possibilidades no seu mais acabado mundo de ‘conhecimento efetivo’, mesmo que seja por lembranças.
Caracterizamos a liberdade como: “o cuidado de cada um agir, respeitando os limites da liberdade alheia, pensamento este que a atual economia capitalista privilegia, pois estamos numa selva de extrema competição, em que a tônica da cooperação deve ser esquecida” (Silva, 2009).
Para tanto, podemos considerar duas posições contrárias: sofremos constrangimentos externos e internos, pois somos sujeitos dentro de uma cultura e a nossa liberdade está vinculada e determinada por essa cultura; temos, portanto, apenas a ilusão de escolher livremente. Em oposição, temos a liberdade absoluta, podendo agir de uma forma ou de outra, independente de forças internas e externas; portanto, “o mundo social não nos constrange”, como escreve Jean Claude Schmitt.
Essas duas posições antagônicas sempre foram apresentadas e respeitadas por sua rigidez. Por isso, devemos abordar a questão da liberdade a partir de uma visão dialética, em face de nossa realidade, admitindo que o homem é um ser social e cultural e sofre múltiplas interferências do seu meio. Mas é também consciente e inteligente, quando toma conhecimento da situação em que se encontra e dos seus obstáculos; é capaz de agir sobre a realidade, transformando-a. Portanto, temos que considerar o conhecimento da situação como sujeito atuante na sociedade.
Os anos 1960 aos 1980 foram os mais surpreendentes do século do não. Não se sabia em que confiar, em quais discursos acreditar e aqui ainda se vivia o terrível processo de inclusão social do ex-escravo, naquilo que seria considerado pós-escravidão.
O tráfico de drogas, que nos assola no urbano do tempo presente, principalmente em países como Bolívia ou Chile, se reverberava por todos da América Latina de forma contaminadora; possuía vários e diferentes braços, principalmente o do terrorismo.
Essa saga de lutas ideológicas merece melhor averiguação da historiografia e com metodologia nova como a de Carlo Ginzburg, que desenha uma ‘brecha’ ao olhar científico. Vemos agora que até os EUA participavam desse jogo político de manipulações político-sociais com seu poderoso braço (a CIA). Tudo ficava envolto em um misto de proteger/negar proteção. As máscaras civilizatórias, desde o período colonial brasileiro e por toda a América Latina, desabavam.
No inicio do século XX, a humanidade assistiu a duvidosos comportamentos do poder político. Não nos esqueçamos de Stalin e do episódio de Katyn, quando bebia na mesma taça de Adolf Hitler da Alemanha. O grande líder da Revolução Soviética trucidara na ocasião milhares de poloneses. Somente o tempo e suas distâncias e limites (Ginzburg, 2001) para permitir uma leitura mais ciosa e consistentemente clara.
Os anos 1940, já na guerra, traziam surpreendentemente figuras como Henry Ford. Um hoje conhecido antissemita histórico que, apesar disso, ganhava projeção com seu pensar manomecanicista revolucionário. A própria guerra de estratégias entre os alemães e os ingleses por Narvik e a desejada rota do ferro apontavam que o modelo de competição chegava para ficar. Talvez fosse o grande ensaio geral do que se teria no futuro próximo, um mundo que se globalizava a passos largos.
São anos difíceis de abordar, principalmente aqui no Brasil, mostrando-se eivados de mimeses malfeitas (Maffesoli, 1990). Vários personagens surgiram daí por diante, até os anos 1980. No meio artístico poderíamos citar dos anos 1960 até os 1980 o fantástico Raul Seixas, que de mimeses em mimeses culturais, construía trajetória fantástica pela música popular brasileira.Talvez fosse sua voz o grito diferenciado das crias perdidas, fruto do desdobramento da linhagem na pós-escravidão sociocultural em nossa perdida juventude de classe média expressando o desejo contestatório da época em forma de contracultura.
Os crioulos, vivendo nas favelas, mesmo tendo origem em um discurso oriundo da classe média, apresentavam-se como contestatórios. Misturados ao desejo da crítica feroz, porém tocados fortemente pela mimese malfeita, porque vinha mascarada como cópia do exterior, que se revelava como a revolução nipônica tecnológica industrial, uma grande construção, revolucionária nos comportamentos da juventude acabava em uma brilhante chuva de inventiva sociocultural e musical.
O desafio está principalmente no campo social e, obviamente, pertenceria a um corpo da velha prática de construção histórica, a qual estaria sempre em construção. Não nos esqueçamos do acontecimento; ele também tem importância no tempo.
A questão da pós-escravidão mal resolvida ainda continua a nos atormentar, em uma economia absolutamente subcapitalizada; reiteramos, na construção do chileno Hernando de Sotto, que dificulta padronizações comportamentais, criando problemas à aplicação em um momento de pleno impasse do que se concebe no social e sociocultural como o império da lei, a qual luta contra a lei do império.
Et verbum caro factum est (e a palavra se faz carne)
Ao fornecer às matemáticas a totalidade do existente e do conhecível, e não apenas de uma região, e também ao constatar sua função efetivamente operatória e construtora, é encerrada a era da separação entre a abstração e o concreto (Silva, s/d). O cartesiano, portanto, obriga a repensar a filosofia da linguagem tanto quanto da existência. Ela não fabrica mais as mesmas máquinas e não subscreve a mesma metafísica.
A liberdade é uma construção sobre as condições concretas e históricas, pois o homem é o sujeito social. Por isso age sempre de forma pessoal, individual e autônoma; por ser social, pertence de forma quase homogênea ao grupo, ao corpo (Lyotard, 1988; Bavcar, 2003, p. 197); o social não é composto por um somatório de indivíduos, mas sim de sincronismo. Lembremos que a visão operativa deve ser do ‘todo’ e não do ‘tudo’, mais integrativa, apesar de seus imbricamentos.
Diante da desordem populista e a obstinação nacionalista terceiro-mundista que se vivia no final do século do não, destacava-se o modelo asiático no mundo, principalmente o coreano. Os trabalhadores se dedicavam a trabalhar sem perder tempo com aventuras políticas e/ou sindicais. Mercado e pulso forte eram a tônica das ações administrativas. Essa fora a fórmula milagrosa à qual aderiram militares, homens de negócios e até especialistas, estimulados por relatórios técnicos do FMI e do Banco Mundial.
No Brasil tínhamos sérios problemas socioculturais para serem resolvidos. Nossa realidade era delicadíssima diante de uma sociedade da ordem, que ainda respirava ares da velha prática de produção, com mão de obra escrava e pós-escravista.
Aos quatro tigres asiáticos juntaram-se outros: Tailândia, Malásia, Indonésia e Filipinas, em marcha para o Primeiro Mundo. O poder de sedução do capitalismo chegou inclusive a persuadir a antiga China comunista, que decidiu se abrir aos investimentos estrangeiros e ao comércio internacional. O paradigma capitalista de então, que estava em desencontro com o quadro de transformações, habilmente se modificava, se reinventava e se adaptava à realidade cotidiana do mundo moderno. Em oposição às dificuldades do Japão, apresentada a pujança dos tigres e dragões de então, os grandes organismos internacionais cultivaram a imagem do milagre da ‘economia de mercado’ no Leste asiático e continuaram, enquanto o desastre aparecia no horizonte próximo.
Para tanto, se fazia urgente a discussão como uma extensão em História Social e Sociocultural principalmente e da sociológica da formação cultural-religiosa afrodescendente que fosse oferecida a todos os profissionais da área e correlatas, possuindo qualidade única na área de distinção para o mercado de cérebro de obra, que se nos apresenta impositivamente uma visão da saga da pós-escravidão. Ele antecipará, ampliará, atualizará, direcionará nossas certezas e especializará os conhecimentos com qualidade e segurança, oriunda da tradição e seriedade de um trabalho mais sólido.
Portanto, no mundo do cérebro de obra se assiste à dança de um novo pensar histórico social global, que insere questões como as distâncias, limites, novidades surpreendentes aos olhos da ciência. Mostra-se também o fato revelado e descoberto, pois objetivamente não se trata de observar apenas a concretude do fato, mas é prudente observar a sua subjetividade e seu espectro ao longo do tempo. Trata-se de entender sua sanha moderna, seus mistérios, intenções e ações ao longo do tempo, como afirmou Carlo Ginzburg (2001).
A chegada e a configuração do sociocultural religioso brasileiro pela lusofonia, antes ilhada por um mundo marcadamente hispanófono, acabou nos diferenciando de forma continental. Legando-nos inclusive heranças incômodas (se observarmos de uma ótica eurocêntrica) que remontam aos tempos coloniais e que hoje configuram signos da complexidade, proximidades e distanciamentos de nossa convivência (Ginzburg, 2001).
Nosso problema maior continua sendo a identidade, tão bem abordada por Boaventura de Sousa Santos em sua obra (2003).A história do presente sempre iluminou a do passado! E a cada olhar uma história nova para se descobrir e contar (Silva, s/d). Temos certeza de que sempre haverá espaço para um novo viés crítico, capaz de mudar a historiografia do que se viu e que se vê.
Como entender uma sociedade culturalmente marcada pela profunda necessidade do trabalho de inclusão social? Temos mesmo uma escravidão ainda mal resolvida. Com relação a esse segundo componente de dúvida, moveu-nos a vontade de lê-lo em corpo e alma no jogo/dança/luta de relacionamentos da construção da sociedade urbana fluminense. Como o afrodescendente sofre ainda com os reflexos do passado?
‘Dar, de carne se face verb’ seria talvez a opção na pós-escravidão que temos
Cultura vem do verbo colere, que significa habitar, cultivar. As influências de culturas diversas são essenciais aos avanços de um povo ou povos, de uma comunidade. Mas influências não devem ser confundidas com substituição de identidades. Somos capazes de digerir e até recriar o que incorporamos mimeticamente; por isso a pérola da afrodescendência, num processo transcultural livre e insubmisso. Mas é fundamental que a diversidade tenha espaço e tempo para manifestar-se livremente, como ocorre no Brasil, com seu caldo de cultura multifacetado. Na estratégia dominante, os meios de comunicação são essenciais para garantir a hegemonia eurocêntrica, na versão maquiada dos anglo-saxões e dos Estados Unidos.
O enraizamento da dominação econômica que implica uma dominação também cultural não é possível sem a abdução de identidades, as quais se configuram na dominação cultural, verdade conhecida e empregada já há milênios entre nós. No entanto, nunca meios técnicos e o próprio mundo tecnológico (que é fruto do desenvolvimento científico por excelência) estiveram tão propícios a essa estratégia com tal economia de recursos e garantia de controle sobre sua aplicação.
Queremos olhar na história social e sociocultural do período proposto questões vitais como o processo de inclusão social, aceitação, assimilação e inserção no novo perfil de vida urbana da cidade. A proposição de descrever os principais desafios do ex-escravo no novo quadro histórico social e sociocultural, observando a ideia de corpos em conflito, verdadeiramente nos impulsionou a vasculhar onde poderá se configurar, no futuro, o que a sociedade abriga e onde se abriga.
Ficaram marcas gritantes em hábitos e costumes culturais dos africanos e dos afrodescendentes em nossa historiografia social e sociocultural. A ideia de corpo sociocultural diferente no Brasil fluminense é motivo de candentes discussões e agora recebe a contribuição de um novo personagem: o seu sucessor, o afrodescendente livre.
O fenômeno de favelização e o tráfico de drogas constituem, nos dizeres do professor chileno Hernando de Sotto, uma economia subcapitalizada que ganha cada vez mais espaços. A alteridade sempre virá embebida em ocultamentos (Ginzburg, 2001) de difíceis percepções.
Com relação à segurança coletiva, pode-se afirmar que o corpo sociocultural aqui observado foi marcado por ameaças de uma espécie de síndrome do medo, como afirma a professora Vera Malaguti (2004), e da repugnância pela sociedade oficial, derivada dos velhos senhores escravocratas. Nossa macrocefalia urbana abriga síntese legível para podermos diagnosticar os estranhos desenhos de hábitos coletivos violentos, comuns e inadequados ao novo modelo de civilização por atribuição ensinada que nos identifica até hoje.
Temos mesmo uma escravidão mal resolvida ou a cidadania efetivamente se faz presente para todos os incluídos e os excluídos do nosso passado recente? É preciso ter coragem para admitir que o descalabro do cenário sociopolítico carece de tratamento hominescente, com os olhos voltados para a realidade inclusiva educacional contemporânea de um mundo globalizado, que vive desafios como o surpreendente local/global e o global/local (Cortezão, 2003), que não pode ser visto como apenas um mero trocadilho de palavras, um jogo inteligente.
A questão agora é sobre o diálogo que se estabelecerá na relação tanto econômica, quanto social e sociocultural que na escola inclusiva se tornará difícil estabelecer. Ela terá dificuldades: observe os discursos dos vários lados sociais; os seus códigos não percebidos e até não lidos convenientemente.
Oriundo de uma nova e variada tipologia de comportamentos sociais e socioculturais, a violência é marca forte, que há muito tempo se alastra por toda a sociedade fluminense. Ela tem história, e o presente pretende observá-la com a máxima verossimilhança possível. Em nosso entender, o oriundo da escravidão tanto representou como compôs um dos corpos socioculturais do diferente e oculto em traço e verdade. E se apresenta aos olhos das instituições desde o alvorecer do século XX como um importante desafio a enfrentar e definitivamente se decodificar.
Os velhos senhores de escravos que viviam novidades e modismos vindos do exterior (como telefone, automóvel etc.) buscavam um comportamento distante daqueles oriundos da escravidão ultrapassada para o mundo do trabalho. Contudo, não abandonaram velhas práticas da cultura escravista. Em alguns casos, chegavam até a utilizá-las. A permanência de fortes sinais dessas práticas era tão gritante, embora no presente seja camuflada a demonstração de poder, que nos leva a concebê-las ainda como fruto da permanência de uma relação educação/submissão (Silva, s/d) de raízes profundas no nosso corpo cultural urbano. A desescravização não provocou o desvencilhar fácil das velhas práticas. Como o afrodescendente sofre ainda com os reflexos do passado?
Com relação a esse segundo componente, moveu-nos a vontade de lê-lo em corpo e alma no jogo dos relacionamentos sociais. A nossa preocupação foi com as razões históricas de sua corporificação introjetada na sociedade da cidade como um diferente sociocultural. O confronto aparente seria entre o que será configurado futuramente como favela na historiografia social e sociocultural, onde o afrodescendente é grande número. Trata-se de uma área de habitação de excluídos, com história solidificada desde os velhos cortiços do Império e sofrendo do abandono e repugnância da sociedade cidadã.
Certamente escondem choques de corpos socioculturais distintos, plenamente identitários (Santos, 2003) e independentes, com notoriedade principalmente quando a cidade começa a viver o fenômeno da presença do modelo de globalização e a se beneficiar de suas vantagens tecnológicas. O medo que uma causa na outra é paralisante e distanciador na história dos confrontos. Surpreende o novo ethos que acompanha e distancia-lhe o entendimento. Altera os sentidos e desmascara o que o historiador esloveno Evgen Bavkar chamou de “a maquiagem do conceito de cidadania”:
Para além das expressões que, a título de maquiagem conceitual, designam o corpo deficiente, prefiro lançar a hipótese de que o corpo deficiente apenas de uma consciência do corpo um pouco mais aguda e um pouco mais dolorosa, sem poder dizê-lo, devido a toda a aparelhagem conceitual que impede essa mesma consciência de dizer sua própria visão da história. Se o corpo não pode dizer o que é, já está do lado dos vencidos do progresso, de todos aqueles que não participam de pleno direito do trabalho da história e que, em consequência, não podem escrevê-la. Os cronistas da história, os observadores documentaristas dos acontecimentos do passado, por exemplo, notam e inscrevem os acontecimentos do passado, por exemplo, que se destacam do comum, e o mesmo acontece com o direito à palavra, uma vez que a tradição oral não tem direito à escrita, se não lhe derem a possibilidade de se tornar também letra, como fez Braille no século XIX e o Abdé de Pépée com a linguagem codificada dos gestos (2003, p. 197).
Por ter sido uma referência identitária, a vida urbana do Rio de Janeiro merece um olhar crítico mais vertical, capaz de traduzir os que não tiveram direito à palavra em seus desafiadores comportamentos sociais que passaram a praticar como livres/libertos. A população da cidade, nosso melhor espelho, encontra-se partido. Ele, que foi por muito tempo síntese nacional em dimensão e presença, possui agora a tarefa árdua de recolher e recompor seus ‘cacos’ com reflexos diferenciados.
O Rio de Janeiro, ostentando por mais de 300 anos o peso de ser centro referencial político-administrativo e sociocultural, não permite que fiquemos impassíveis diante da síndrome do medo. Há muito tempo sua história recente ameaça desestabilizar qualquer construção historiográfica feita que não leve em consideração tal conflito. É inexorável que, na era do conflito inclusão social versus exclusão social (Cortezão, 2003), tenha sido atropelado pelo velocíssimo fenômeno da informação globalizada. Será que gerou um tipo de capilaridade irradiadora fixa e definitiva das identidades mortíferas sociais na nossa história, como afirma o professor português Paulo Guinote (Malouf, 1998)? Sempre ao sabor do tempo da cultura dos ex-escravos no Brasil fluminense, com irradiações incontestes, a saga dos que deveriam ser incluídos socialmente contra a cultura das velhas forças escravistas precisa ser contada, precisa ter página no cenário historiográfico nacional. Mas uma coisa já se pode concluir: sem a presença da escola não teremos resultados alvissareiros.
A infomotricidade de hoje comanda as ações humanas quase na totalidade de suas relações sociais. Hoje, o cibercidadão se impõe como uma exigência imperiosa, requisito indispensável para a inserção no moderno mundo global. Porém, a nossa urbana multiface e a complexidade sociocultural dificultam a tarefa nessa direção. Os desníveis de escolaridade, acesso ao emprego, qualificação profissional, estruturação e padrão familiar demonstram sempre a impossibilidade de realização da tal tarefa, ou, para não sermos tão radicais, dificultam bastante. Os dizeres de Manoel Castels alertam:
A revolução da tecnologia da informação e a reestruturação do capitalismo introduziram nova forma de sociedade, a sociedade em rede. (...) Caracterizada pela globalização das atividades econômicas decisivas do ponto de vista estratégico; por sua forma de organização em rede; pela flexibilidade e instabilidade do emprego e a individualização da mão de obra. (...) Cultura de virtualidade real constituída de sistema de mídia onipresente, interligado e diversificado. E pela transformação das bases materiais da vida, o tempo e o espaço. (...) Criação de um espaço de fluxos e (...) tempo intemporal como expressões das atividades e elites dominantes (Cardoso, 1999).
Para tanto, faz-se mister estabelecer um eficaz elo entre as várias faces de nossa herança socioinstitucional na época até aqui. É necessária uma eficiente catequese de cidadania pela escola, e não a que foi implantada por uma constituição imperial cuja durabilidade de seu caráter centralizador, unitário em seu passado escravocrata, confirmava um poder fundado no célebre Pacto das Elites (Carvalho, 1987), que se apoderou do Estado, cultuando o autoritarismo que escondia (Ginzburg, 2001) seus atos criminosos.
O hábito de imaginar uma nação sem tê-la em totalidade nas mãos era o diapasão do medo declarado que se revelava ao exercê-lo. Enfim, um país que somente se encontra identitariamente na velha capital, Rio de Janeiro, o que ainda pode ser considerado síntese desse multifacetado quadro.
Por último, acreditamos que algumas leituras da história social recente dos relacionamentos sociais do espaço da exclusão social da cidade poderão esclarecer os elementos mais ocultos que alicerçam as razões na direção de abordar o tema. Acreditamos que sua leitura possibilitará a revelação de um corpo multifacetado, capaz de contribuir para compreensão e redução dos efeitos dos complexos contornos sociais com os quais convivemos.
O Rio de Janeiro escondeu uma historia social e sociocultural peculiar e de singular quadro de injustiças sociais. Focando o viés das relações sociais, o Rio guardou a construção do fenômeno da capilaridade irradiadora e/ou capitalidade irradiadora(Lessa, 2003) . É ainda a única cidade da América Latina a ter expressão diferenciada de todas as outras. A única capital que não teve nem tem adversários intranacionais, tampouco extranacionais. A única capital a saborear forte processo de aceitação, admiração e assimilação por identificação entre a esmagadora maioria da população do território nacional. Ostentou a condição de ser a convergência de todos os Brasis, como afirmou Carlos Lessa (2003).
Externamente, não enfrenta adversidades e oposições ferozes. É ainda a síntese do desejo e da identidade de um Brasil multicultural complexo, que só se vê no espelho quando se reporta ao Rio de Janeiro. Muito disso se deve à história da irradiação comercial provocada pela velha condição de capital imperial e nacionalmente herdada na República, que provocou e disparou com mais intensidade a interiorização da metrópole, como afirmou a professora Maria Odília (1989), pelo comércio feito nas tropas e tropeiros da fase colonial no sertão brasileiro. Levavam o modelo de sociedade construída e idealizada sob o signo daprosperidade na capital. É inexorável a importância fluminense no cenário da construção identitária de sociedade e cidadania que praticamos.
Identidade ainda sem rosto sociocultural definido pela efervesceste ebulição de raças, ideologias, culturas, socioculturas, comportamentos e práticas. Embora nossa pretensão seja apresentar uma pequena contribuição nessa direção, sabemos que a cidade ainda vive a urgência da exigência de novas leituras socioculturais em seu todo social.
Optamos por focar no urbano as nossas observações, nos revolucionários hábitos sociais e socioculturais, costumes, comportamentos, manifestações culturais e, principalmente, relações políticas dos excluídos sociais nas favelas cariocas que afloraram e se cristalizaram como prática e reflexo da violência da então cidade do medo.
O medo é uma arma poderosa pela possibilidade de causar paralisia, engessamento da iniciativa de resposta de qualquer cidadão. Afeta o psique social, individualiza a ação e afeta o coletivo. Hoje não causa apenas temor, mas também ação de resposta-defesa. A situação do conflito que se nos apresentam os corpos em disputa é marcada por necessidade da evidencia do primeiro. Daí a gravidade e urgência de leitura de seu estado, corporificação, choques e conflitos após a abolição da escravidão.
O corpo calado (Lemos, 2001) tem a marca dos estranhos costumes dos vistos como dominados mas não lidos, que eram os excluídos socioculturais de nossa urbanidade e, assim, acabaram por se configurar como desafiadores e ameaçadores corpos em seu interior até hoje. Aqui não se trata apenas de cuidar da cansada dialética dos vencidos e do fanatismo vitorioso dos vencedores, é preciso ver mais.
Conceitos recentes, como o de corpo calado e espaço sagrado, ganham uma inovação independente, aplicando-os a vencedores e vencidos, conquistadores e conquistados, favela e condomínios de luxo. Comparar o que tinham e apresentaram de comum e o que possuíam de particular possibilitará compor um amplo e mais completo quadro possível de suas razões e relações, tomando como pano de fundo uma cidade onde o lusófono e o afrófono de sua construção histórico social e sociocultural refletem a sociedade que temos.
A visão ideológica da questão, na qual as fórmulas mentais que orientarão a atuação dos principais protagonistas da história sejam capazes de assumir o comando e a orientação da análise, constitui-se fio condutor da nossa narrativa. Pretendemos assumir uma visão integrativa do desafio de desenhar os corpos em conflito na qual as unidades constitutivas do tema superam o particularismo da análise puramente cartesiana.
Sociedade da subcapitalização e sociedade paralela: uma como prática econômica, base da outra
Sabemos que a subcapitalização, cunhada por Hernando de Sotto, representa ‘pobre vendendo para pobre’. A pergunta que não quer calar: como se daria a ‘acumulação de capital’? Como se daria seu processo de valores? Qual seria o quadro de licitude e ilicitude? Seria o trafico de drogas, o crime-negócio do morro (favelas), parte integrante de sua realidade econômica ou apenas algo que se inseriu por suas brechas? Tal desafio não seria suficiente para abandonarmos a tarefa posta em um Brasil urbano moderno. Sendo assim, acreditamos que estudar a pós-escravidão no Rio de Janeiro é condição sine qua non.
A cosmovisão pautada pelo sagrado, numa relação intrínseca com os deuses dos afrodescendentes, também fica com certo comprometimento e hoje organiza o ‘espaço dos esquecidos’. Eles lhe dão estrutura, normas e formas marcadas pelo poder tirânico da violência, causadoras do medo. Esses corpos reverberavam e hoje ainda, de maneira monolítica, tanto no aspecto político, quanto no econômico e social. Infelizmente trazem sentimentos de uma culpada sociedade da ordem que, vez por outra, é pega de surpresa amenizando seus atos, praticando a internalização, por identificação de sua culpabilidade, com doações de sobras, de sua opulenta obesidade de capital.
Esses grupos se formam no espaço do esquecimento, as favelas. Formavam-se na marginalidade, identificavam pessoas e ações e formavam (como formam ainda) em conjunto uma atmosfera interna própria, demarcando seu espaço de poder, hierarquizando-o e estabelecendo sistemas de subordinação e proteção. O que predominava nesses corpos era o dispêndio, o acaso. O embriagado, o ladrão e o fugitivo acabavam na sociedade paralela. Sua força de grupo gerava uma forma de potência oposta ao poder da sociedade tradicional. Dentre suas características estava a vida promíscua, analisada por Maffesoli (Le Goff e Nora, 1990).
Eles possivelmente somente estão assim pela absoluta ausência de um Estado formal, pois refletem o retrato mais do conflito que do medo! Como afirma o historiador Bavkar quando fala do direito à palavra:
O direito à palavra deve então existir para todos os que, de um modo ou de outro, representam uma consciência do corpo diferente, reconhecida ou velada, evidente ou dissimulada, mas, seja como for, um saber reconhecido pelas instituições, pelas mentalidades e pela terminologia contemporâneas (2003, p. 179).
É sabido que ocupam espaços sagrados distintos, aproximam-se pela suas concepções mentais religiosas e fanáticas, mas só não têm direito a palavra. São tolhidos pelo preconceito do outro. Possivelmente diferenciam-se nas suas representações socioculturais, confundem-se nos seus rituais. A delimitação contextual torna-se necessária para evitar as generalizações grosseiras.
A partir das constatações, das analogias, das concepções mentais em relação à construção dos seus espaços sagrados, procuraremos estabelecer as questões relativas à alteridade, ao etnocentrismo, evangelização, sincretismo e resistência. Michel Certeau (1984) embasa e dispara o reexaminar do presente para além dos códigos, gírias e jargões utilizados.
A complexidade desse tipo de análise reside nas circunstâncias dos objetos a serem estudados. Suas representações simbólicas, que foram interpretadas pela historiografia social de acordo com os paradigmas quase sempre da visão eurocêntrica, acolheu os espectros do outro sob a condição de se calarem para sempre, mas não se calaram.
Certamente é inquietante interpretá-los pela ótica etnocêntrica, muitas vezes não apreendendo o que o outro fez. Trata-se, sim, daquilo que consideramos que fosse o real. O que para os da sociedade formal pode constituir apenas o inteligível se desloca modificando aquilo que faz, não considerando pelo flanco do imaginário. Segundo Certeau, nesse contexto é que se situou a complexidade do saber dizer a respeito daquilo que o outro cala. Apesar de o outro consistir no fantasma da historiografia (Certeau, 1982, p. 14), a produção historiográfica que nos foi legada representará um acervo valioso para recuperar a história das sociedades em conflito.
É prudente tomar cuidado com os procedimentos e ferramentas utilizadas para a análise das fontes e com o reexame de suas representações do não-dito, o oculto nos documentos do sem direito a palavra (Ginzburg, 2001), sua história social oral. Na historiografia oficial, o conhecimento do outro pode ser captado com ‘aquilo que o excluiu’, criando assim um espaço próprio ou mesmo fazendo-os criá-lo, e que encontrou sua segurança nos dados que se extraem do ‘dominado’. Constrói-se assim o ‘saber sobre o outro’ e a compreensão do seu passado.
O ‘querer saber’ ou ‘querer dominar o corpo’ transformou a tradição recebida em texto produzido sem escrita, que não se interessou por uma verdade escondida que será necessário encontrar’ (Certeau, 1982, 1984).. O ‘corpo’ se revelará, supomos, como um código que aguarda ser decifrado.
Segundo Foucault, o ‘corpo’ se converte em extensão, em ‘interioridade aberta’, em ‘cadáver mundo exposto ao olhar’. O ‘corpo’ visto transforma-se em ‘corpo sabido’ e as consideradas ‘heterologias’ (discursos sobre o outro) se constroem em função da separação entre o ‘saber’ que contém o discurso e o ‘corpo mundo’ que o sustenta (Foucault, 1963, p. 5).
Todorov analisou o ‘corpo que cala’, o ‘outro’ como uma tipologia para tratar a alteridade. Destacou três planos fundamentais para compreender essa problemática: o axiológico, o paraxiológico e o epistêmico. Eles precisam também de novas leituras, uma vez que todos estão envolvidos em um mundo marcado pelo grande conflito mundial da globalização, pela falta de diálogo entre as globalizações locais e as localizações globais (Cortezão, 2003). A primeira, quando se faz um ‘julgamento de valor’; a segunda, por meio de uma ‘ação de aproximação ou de distanciamento’, adotando seus valores, identificando-se com o outro ou então lhe impondo submissão e, o último, quando se conhece ou ignora a identidade do ‘outro’. Embora haja interligação entre os três, não significa que possam se reduzir um ao outro.
A historiografia europeia não reconhece a ‘alteridade’. Os dominados foram tratados como inferiores. Seus valores culturais foram ignorados e a política empenhou-se em assimilá-la aos princípios cristãos. Porém aqui se vivia a liberdade do abandono por um momento, e o dilema da ‘lei do império’ tanto quanto o ‘império da lei’.
Todorov destacou como mais importante que a ideia de divindade a religiosidade, e não a religião. Ele permitiu uma nova discussão sobre a alteridade e o etnocentrismo, por isso os ’corpos’ ganham em complexidade em suas leituras de conflitos. Segundo ele, a igualdade não se estabeleceu à custa da identidade, pois cada um tem o direito de se aproximar de Deus, pelo caminho que lhe convier (Lemos, 2001, p. 188). Isso permite lê-los com mais independência, pois podemos suspeitar que se aproprie de seu Deus, fazendo dele um instrumento da luta territorial no cotidiano da cidade. Evidenciam uma nova relatividade da noção de barbárie.
Os estudos da etno-história e da arqueologia, sobretudo os de Alfredo Austin, Angel M. Garibay e Pina-Chan, sobre a escrita e a língua, apresentaram excelentes resultados para maior compreensão dessas sociedades. Nosso propósito tem sido reconstituir as concepções mentais dos vários ‘corpos’ da cidade na pós-escravidão.
Mikhail Bakhtin, em sua obra sobre Rabelais (Ginzburg, 2001) revelou a visão de mundo elaborada no correr do século pela cultura popular que se contrapõe, sobretudo na Idade Média, ao dogmatismo da cultura das classes dominantes. Dados que nos levam a inferir, como Bakhtin, que temos, por um lado, ‘dicotomia cultural’, mas, por outro, circularidade, influxo recíproco entre cultura subalterna e cultura hegemônica, particularmente intensa na primeira metade do século XVI.
Segundo Carlo Ginzburg (2001), o que tem caracterizado os estudos da história das mentalidades, no campo de observação cultural do ‘corpo’, é a insistência nos elementos inertes, obscuros e inconscientes de uma determinada visão de mundo, mas hoje a maior violência é a inexorável necessidade de se globalizar. Diz ele que as sobrevivências, os arcaísmos, a afetividade e a irracionalidade da violência delimitam o campo específico da história das mentalidades, distinguindo-a com clareza de disciplinas paralelas e hoje consolidadas como história das ideias.
Muito se deve à história de irradiação comercial provocada pela condição de capital imperial e nacional, que provocou e disparou com mais intensidade a ‘interiorização da metrópole’ (Odília, 1989), pelo comércio feito nas antigas ‘tropas e tropeiros’ da fase colonial, rumando para o interior do país, mascateando pelo sertão do País. Como sabemos, os tropeiros levavam o modelo de sociedade daqui, construída e idealizada sob o signo da prosperidade e da vida moderna. Passou por essas terras grande parte do processo transformador do interior do Brasil. É muito difícil negar a importância fluminense no cenário da construção identitária de sociedade e de cidadania que praticamos.
Optamos por usar a lente do urbano para direcionar o foco central de nossas observações nos revolucionários hábitos sociais e socioculturais de sua mistura, costumes, comportamentos, manifestações culturais e, principalmente, relações políticas dos excluídos sociais nas favelas de uma pós-escravidão até os nossos dias. Antes corpos calados (Lemos, 2001), hoje, presença marcante no cenário urbano da cidade, introjetada na sociedade dos ‘incluídos’, representam um componente desestabilizador da ordem social estabelecida.
O ‘medo’ é uma arma poderosa, pela possibilidade de causar paralisia, engessamento da iniciativa de resposta de qualquer cidadão. Afeta o psique de quem quer que seja, individual ou coletivo. Hoje não causa apenas ‘temor’, que pode provocar, diferentemente do anterior, uma ação de resposta-defesa. A situação do conflito que nos apresenta os citados ‘corpos’ em disputa é de evidenciar o primeiro. Daí sua gravidade e urgência de leitura.
Conceitos recentes, como o de ‘corpo calado’ da professora Tereza Turíbio Lemos, e ‘espaço sagrado’, ganham uma inovação independente do seu uso, ao aplicá-los a vencedores e vencidos, conquistadores e conquistados, favelas e condomínios de luxo. Comparando-os, compõe-se um quadro significativo e o mais completo possível de suas relações, tomando como pano de fundo uma cidade lusófona/afrófona da construção histórica, refletida no que há de recente nela.
Acreditamos que não se trata somente de dois corpos distintos, mas sim de dois conjuntos sociais que podem se identificar por conceitos gentílicos de origens também diferenciadas que compartilham, em muitos aspectos, formas similares de encarar ‘o outro’, assim como a natureza circundante.
Utilizando esses corpos como elemento organizador, chegamos a uma compreensão mais clara da dança de seu ‘tudo no todo’. É fundamental observar que em ambos formava-se uma organização multicentralizadora de poderes violentos, ainda que baseada em gêneses diferenciadas. A convergência não se reduz ao movimento similar da esfera político-administrativa interna. Ambas se baseiam também no papel exercido pela conquista de territórios, verdadeiros territórios do medo, vistos como de fundamental importância para a sobrevivência de seu Estado e/ou corpo(s) calado(s). Eles convivem ou lutam? Seria essa guerra o agente efetivo de aglutinação de poder e a religião afro-brasileira a incentivadora do processo de sua identificação maior? A mantenedora dos resultados por sua múltipla face de ritos e práticas de fé? Cremos que aqui reside o principal elemento de disparidade, pois a tecnologia de produção, vinculada aos objetivos a serem alcançados, se materializa de forma diferenciada, explicando em parte o sucesso dos cidadãos urbanos formais ao longo do tempo.
Esses cidadãos entendiam (e entendem) a territorialidade do espaço dos povos como a submissão completa ao Estado dominante, ou seja, o deles, com a imposição de suas leis, língua, hábitos e costumes. A catequese da ordem era e é a única reconhecidamente capaz de tornar o dominado um ser integrado, aceitável, tolerável ao novo sistema de vida imposto. Desenvolvido, era este o presente e o resultado do conjunto das partes, cada qual desempenhando um papel segundo a sua importância na ‘dança do tudo no todo’. Nesse mundo supostamente organizado segundo valores hierarquizados, o outro vencido e conquistado ocuparia um lugar subalterno e desprezado, de excluídos sociais, os ‘eliminados sociais’ (Forrester, 1997), cuja história se encontra nos escombros que não vale a pena olhar, pois atrasa o objetivo maior, que é o progresso!
Assim, a população da cidade, componente importante do conjunto patrimonial da história social do brasileiro, que se encontra partida em cacos, é a síntese da nacional em dimensão e presença. Não nos esqueçamos de que “Dar, de carne se face verb”, em uma economia subcapitalizada, seria talvez a opção na pós-escravidão que temos e vivemos!
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