Território invadido pelo Marrocos luta pela liberdade há mais de 30 anos.
por Isabelle Somma
Quando a China relembra os dez anos da devolução de Hong Kong ao país – ocorrida em 1º de julho de 1997, após ter sido uma colônia britânica por 156 anos –, na África um pequeno país ainda sonha com a independência. O Saara Ocidental, com seus cerca de 260 mil habitantes, é a última colônia africana.
O local é chamado de Timor Leste da África não à toa. Assim como o Timor, colonizado por Portugal até 1975, o rincão africano foi dominado pela Espanha até o mesmo ano. Após a saída dos colonizadores europeus, ambos foram invadidos pelos vizinhos: a Indonésia, no caso timorense, e o Marrocos e a Mauritânia, no caso saarauí.
A Organização das Nações Unidas marcou um referendo para ambos definirem seu futuro. Mas, enquanto o Timor se decidiu pela independência há cinco anos, o Saara ainda aguarda a realização do plebiscito. Por meio dele deve ser selado o futuro da colônia.
Ao abandonar o norte africano, a Espanha deu a dois dos países vizinhos, o Reino do Marrocos e a Mauritânia, respectivamente dois terços e um terço da ex-colônia. A população saarauí, que não foi consultada, resistiu à nova invasão. A Mauritânia desistiu de sua parte devido à custosa guerra que se seguiu com a Frente Polisário, uma abreviação para Frente Popular para a Libertação de Saguia el Hamra e Rio de Oro (regiões do Saara Ocidental). O país assinou um tratado de paz com a guerrilha saarauí em 1979.
O grupo, que declarou a independência do Saara Ocidental em 1973, também resistiu à ocupação marroquina, que se estendeu por todo o território. O Marrocos afirma que as terras são suas e, por isso, tem o direito de explorá-las: elas são ricas em fosfato, cobre, ferro e urânio.
Os combates duraram até 1991, quando a ONU promoveu um cessar-fogo. Os dois lados se comprometeram a participar de um referendo para que a população decida o futuro do Saara Ocidental. O problema é que, desde então, não há acordo sobre quem tem direito a voto. O Marrocos defende que todos os moradores podem votar – o que inclui todos os marroquinos que imigraram para o Saara nos últimos 30 anos (o governo não divulga quantos são). A guerrilha afirma, por seu lado, que quem tem o direito de decidir o futuro do Saara Ocidental são os habitantes originais, que participaram do censo de 1974.
No último mês de abril, o rei marroquino Muhammad VI propôs que seu país anexasse o Saara Ocidental, em troca de autonomia. A Frente Polisário recusou o plano. Reiterou a necessidade do referendo, mas ofereceu uma contrapartida: preferência de exploração econômica do território ao Marrocos. A ONU, que mantém observadores no Saara e ajuda humanitária nos campos de refugiados, ainda não conseguiu desfazer esse nó.
Muro da discórdia
Exército marroquino dividiu o Saara Ocidental em dois
A briga entre a Frente Polisário e o exército marroquino rendeu a construção de um muro e a fuga de milhares de saarauís pelo deserto. A guerrilha diz que os marroquinos usaram até napalm, substância proibida por convenções internacionais, para reprimir a resistência.
Para defender seus interesses econômicos dos ataques da Frente, os marroquinos dividiram o Saara Ocidental em dois, em 1987. A separação foi feita com um muro de 1800 quilômetros e a instalação de mais de 1 milhão de minas terrestres. No lado oeste, que inclui a parte costeira e os campos de exploração de fosfato, fica o território dominado pelo Marrocos. No leste, ficam o Saara profundo, os refugiados e os guerrilheiros.
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