Estudos arqueológicos mostram que a utilização do petróleo iniciou-se 4000 anos antes de Cristo, sob diferentes denominações, tais como betume, asfalto, alcatrão, lama, resina, azeite, nafta, óleo de São Quirino, nafta da Pérsia, entre outras.
O petróleo é conhecido desde tempos remotos. A Bíblia já traz referências sobre a existência de lagos de asfalto e diversas ocasiões em que foi utilizado como impermeabilizante. O líquido foi utilizado por hebreus para acender fogueiras, nos altares onde eram realizados sacrifícios, por Nabucodonosor, que pavimentava estradas na Babilônia, pelos egípcios na construção de pirâmides e conservação de múmias, além do uso como combustível para iluminação por vários povos. Os gregos e romanos embebiam lanças incendiárias com betume, para atacar as muralhas inimigas. Após o declínio do Império Romano, os árabes também o empregaram com a mesma finalidade. Há relatos de que, quando os espanhóis chegaram à América, Pizarro deu conta da existência de uma destilaria que era operada por incas. Supõe-se que o líquido citado representava resíduo de petróleo encontrado em surgências na superfície.
A moderna era do petróleo teve início em meados do século XIX, quando um norte-americano conhecido como Coronel Drake encontrou petróleo a cerca de 20 metros de profundidade no oeste da Pensilvânia, utilizando uma máquina perfuratriz para a construção do poço. Os principais objetivos eram então a obtenção de querosene e lubrificantes. Nessa época, a gasolina resultante da destilação era lançada aos rios (prática comum na época) ou queimada, ou então misturada no querosene por ser um explosivo perigoso. Entretanto, a grande revolução do petróleo ocorreu com a invenção dos motores de combustão interna e a produção de automóveis em grande escala, que deram à gasolina (obtida a partir do refino do petróleo) uma utilidade mais nobre.
Para localizar o petróleo ou gás numa bacia sedimentar, os especialistas firmam-se em dois princípios fundamentais:
1) o petróleo se aloja numa estrutura localizada na parte mais alta de um compartimento de rocha porosa, isolada por camadas impermeáveis. Essa estrutura é denominada armadilha ou trapa;
2) essas estruturas são resultantes de modificações sofridas pelas rochas ao longo do tempo geológico, especialmente a sua deformação, através do desenvolvimento de dobras e falhas na crosta terrestre.
ESCASSEZ, PREÇO ALTO E A CORRIDA POR ALTERNATIVAS
Principal fonte de energia do mundo contemporâneo, o petróleo tornou-se um elemento decisivo para o equilíbrio do planeta nos últimos anos. Seu consumo em níveis elevados e a falta de alternativas viáveis a curto prazo contribuíram para pressionar os preços – e, desde 2003, uma preocupante perspectiva de grave crise do produto começou a pairar sobre o planeta. Nos cinco anos seguintes, o preço do barril mais do que quadruplicou. O uso do produto, é certo, sofre uma profunda transformação. As previsões catastróficas, porém, não devem se concretizar – a chance de um fim súbito das reservas é nula e ainda há tempo para a adaptação às novas fontes de energia.
Com o atual nível de consumo, as reservas conhecidas são suficientes para manter o abastecimento confortável por mais meio século. E é possível encontrar novas reservas e derrubar dramaticamente o consumo através da tecnologia. Mas o período marcado pela oferta abundante, pelo preço baixo e por gastança abusiva de petróleo está claramente encerrado. A energia, como havia muito tempo não se via, voltou a ser fonte de tensão entre os países. E a busca por uma nova mina de ouro do setor energético já recebe investimentos sem paralelo na história.
NO MUNDO ÁRABE, UM BARRIL DE PETRÓLEO E PÓLVORA - Produto alimenta a riqueza - e as guerras - do Oriente Médio
A natureza reservou a uma das regiões mais instáveis e explosivas do globo o privilégio de abrigar a grande maioria dos poços de petróleo existentes no subsolo. A descoberta das espetaculares reservas do produto alimentou o rápido enriquecimento dos países do Oriente Médio nas últimas décadas. Essa riqueza, contudo, não trouxe apenas desenvolvimento econômico: o domínio do produto numa era em que o petróleo é a maior fonte de energia usada no planeta colocou a região no centro das preocupações do mundo. Prova inconteste disso é a relação especialíssima entre a superpotência Estados Unidos e a fervilhante Arábia Saudita.
Maiores produtores mundiais de petróleo (e donos das maiores reservas), os sauditas não são democráticos, violam os direitos humanos e abrigam batalhões de muçulmanos radicais. Os americanos, porém, não abrem mão de sua íntima amizade com os árabes. A guerra no Iraque é outro caso exemplar: a invasão pode não ter sido motivada pelo petróleo, mas as fartas reservas do país certamente influenciaram na decisão de ir à guerra. Com isso, as reservas ganharam um guardião: o arsenal bélico americano.
OS SUCESSOS E TROPEÇOS DA GIGANTE PETROBRAS
Principal empresa estatal do Brasil, a Petrobras entrou no novo milênio com fôlego notável. Com mais de 50 anos de atividade, a companhia acumula avanços em diversos setores, consolidando sua força e dando pistas de novas façanhas no futuro.
No início de 2005, a empresa anunciava recordes em várias áreas diferentes: lucro líquido de 5 bilhões de reais no primeiro trimestre do ano; a marca inédita de produção diária de 1,819 milhão de barris; o processamento inédito de 1,869 milhão de barris por dia nas refinarias. Para alimentar o crescimento, a empresa também vem investindo pesado em sua presença no exterior, com uma série de negócios de compra e participação em companhias energéticas estrangeiras e até um contrato de patrocínio na Fórmula 1, fornecendo combustível para a tradicionalíssima equipe Williams. Enquanto avança e se expande, a empresa ainda enfrenta um desafio: reduzir a ocorrência de acidentes de grande repercussão em suas instalações. O afundamento de duas plataformas e os freqüentes derramamentos de petróleo em suas áreas de extração ainda estabelecem ressalvas à atuação da gigante brasileira.
A PETROBRAS E A AUTOSSUFICIÊNCIA NA PRODUÇÃO DE PETRÓLEO
A produção de 1,8 milhão de barris diários representa a auto-suficiência em termos de petróleo. A grande responsável pelo feito é a mais nova e maior plataforma da empresa, a P-50. Localizada no Campo de Albacora Leste (dentro da Bacia de Campos), situado a 120 km do litoral, esta plataforma terá a capacidade de produzir cerca de 180 mil barris/dia de petróleo, e seis milhões de metros cúbicos de gás natural/dia. Essa plataforma entrou em produção em abril de 2006, tão logo os técnicos interligaram os 16 poços produtores que a abastecerão.
O petróleo, enfim, é nosso! Para um ex-presidente da empresa, o marechal Waldemar Levy Cardoso, a auto-suficiência é a libertação do Brasil do exterior. Palavras de quem, hoje com 104 anos, viveu os tempos da luta pelo monopólio e pela criação da Petrobras!
Além disso, essa conquista chega exatamente no momento em que o mundo antevê nova crise no fornecimento de petróleo, com forte elevação em sua cotação, e cinqüenta e três anos após a criação da Petrobras!
Autossuficiência, um longo caminho
O anúncio da auto-suficiência brasileira em relação à produção petrolífera pode ser entendido como o resultado de uma série de decisões governamentais estratégicas que viabilizaram não apenas um novo modelo de atuação para a Petrobras, mas também um novo patamar tecnológico e um novo perfil gerencial para a empresa. Sendo assim, não é possível proceder a uma análise coerente em relação ao sentido e ao impacto de tal anúncio fixando-se o problema a uma mera discussão de conjunturas políticas e econômicas contemporâneas. Para uma melhor compreensão do marco alcançado, singular no perfil da matriz energética brasileira, é preciso avaliar uma série de medidas que, associadas a momentos históricos específicos, construíram as pré-condições para o atual perfil da exploração e produção de petróleo no território nacional.
Primeiros passos
O primeiro destes momentos localiza-se pouco mais de cinco após o início da extração de petróleo em águas profundas (com lâmina d'água superior a 300 metros de profundidade) na região do Mar do Norte, quando o governo brasileiro se deparou com uma decisão estratégica de alto risco: estudos técnicos preliminares, iniciados nos anos de 1973 e 1974, haviam indicado que algumas áreas submersas da plataforma continental brasileira, em especial o litoral norte da costa fluminense, apresentavam indícios da existência de campos petrolíferos situados em águas de grande profundidade. Nesta ocasião, o governo do general Ernesto Geisel - ele próprio um ex-presidente da empresa - precisou definir as políticas que seriam adotadas na condução do processo de identificação, testagem e exploração destes campos.
Vale lembrar que, mesmo diante da pressão sobre os preços internacionais do barril de óleo cru, motivada pelas crises internacionais de preços e pela diminuição de cotas de extração pelos países da OPEP, os custos associados à condução deste empreendimento pela Petrobras eram considerados extremamente onerosos e apresentavam ainda poucos indícios consistentes de sua efetiva viabilidade operacional e comercial. No entanto, mesmo diante de inúmeras críticas internas e da pressão de alguns grupos petrolíferos transnacionais, o governo Geisel autorizou o aumento das dotações orçamentárias que sustentariam o início do processo de exploração da área que mais tarde seria identificada como Bacia Petrolífera de Campos.
Capacitação tecnológica
A decisão política do governo Geisel de aumentar as dotações orçamentárias permitiu que a Petrobras iniciasse um processo de capacitação tecnológica (consubstanciado em algumas linhas de atuação do seu centro de pesquisas, o Cenpes, e na formulação dos chamados Procap) para a atuação nesta área específica de exploração e produção. O resultado mais evidente disto foi o estabelecimento de um patamar tecnológico para a exploração de petróleo em águas profundas, que consignou a empresa brasileira como um dos principais referenciais internacionais na área de exploração petrolífera em águas profundas e ultra-profundas (estendendo o limite de operações a lâminas d´água de mais de 2.000 metros de profundidade).
Um segundo momento encontra-se quando das transformações operadas no estatuto do monopólio estatal da exploração de petróleo, que acabariam por colocar em risco a manutenção do sistema brasileiro de produção e abastecimento de petróleo e de seus derivados. A década de 1990 marcou assim um período de acirrada disputa política em torno não apenas de uma possível redefinição do caráter estatal da exploração petrolífera, como da própria gestão da Petrobras.
A Agência Nacional do Petróleo
Em 6 de agosto de 1997, foi promulgada a Lei nº 9.478, que passou a ser conhecida como a nova "Lei do Petróleo". Ao enviar ao Congresso Nacional o projeto de lei propondo a criação da Agência, o governo de Fernando Henrique Cardoso teve por objetivo criar uma agência executiva que regulasse o funcionamento de todo o setor petróleo, inclusive as concessões para a exploração. Em outras palavras, significava dizer também, uma agência que imporia à Petrobras as diretrizes definidas pelo governo para o setor, incluindo-se aí sua abertura efetiva aos capitais privados.
Pelos dispositivos legais da nova lei, foi reafirmado o monopólio da União sobre os depósitos de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos, abrindo, portanto, o mercado para outras empresas competirem com a Petrobras. Instituíram-se também dois novos agentes: o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão de assessoria e consulta da Presidência da República, com atribuição de propor políticas nacionais e medidas específicas para o setor petróleo; e a Agência Nacional do Petróleo (ANP), órgão regulador da indústria do petróleo, que definiria diretrizes para a participação do setor privado na pesquisa, exploração, refino, exportação e importação de petróleo e derivados. Mas evitou também estender o afã privatista à estrutura da Petrobras.
Tais alterações, que poderiam levar ao comprometimento do modelo de exploração de petróleo encetado pela empresa, resultaram, no entanto, na definição de um novo modelo organizacional e de gestão que viria a capacitar a empresa a operar em um mercado concorrencial.
Petrobras e o novo modelo de gestão
Aprovado formalmente em 2000, durante o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, o novo desenho organizacional da Petrobras orientou a companhia a operar em conformidade com as quatro áreas de negócios então definidas (E&P, Abastecimento, Gás e Energia e Internacional), perseguindo o objetivo da geração de lucros em campos de atuação que transcendiam as fronteiras brasileiras. Este modelo, que inicialmente encontrou algumas resistências à sua implementação, acabou capacitando a empresa a operar com maior margem de resultados financeiros positivos, gerando assim condições para a manutenção de sólidos investimentos em áreas estratégicas.
Já no início do governo Lula, a Petrobras havia consolidado este novo modelo de negócios e se apresentava como uma empresa com um padrão de lucratividade ainda inédito em suas cinco décadas de trajetória. Convencido a não alterar a estrutura organizacional e gerencial da empresa, o novo governo não abriu mão da perspectiva de transformar a Petrobras em uma efetiva ferramenta para o desenvolvimento de políticas econômicas e industriais do Estado Brasileiro. A fixação do objetivo de alcance da auto-suficiência serviu como linha de condução das decisões gerenciais da empresa, ao mesmo tempo em que favoreceu a estabilização dos preços internos de derivados do petróleo e contribuiu significativamente para o incremento da produção industrial (através da fixação das políticas de nacionalização das encomendas de navios e plataformas).
A auto-suficiência e o dia-a-dia do brasileiro
Algumas idéias certamente passam pelo pensamento de qualquer um de nós, brasileiros, ao lermos notícias como a da auto-suficiência no petróleo. Certamente, os proprietários de automóveis devem ter pensado imediatamente no preço dos combustíveis. Outros, mais preocupados com as contas externas do país, imaginariam que a empresa deixaria de importar óleo bruto.
Na prática, nem uma coisa, nem outra. Muito provavelmente, a auto-suficiência na produção de petróleo não se refletirá nos preços estampados nas bombas de gasolina do país, como desejariam os consumidores. Isto porque a política de preços que vem sendo aplicada pela empresa tem por diretriz manter os preços dos combustíveis atrelados ao câmbio e aos preços internacionais, de modo a poder garantir os recursos necessários à contínua ampliação da produção interna.
Por outro lado, o país continuará a importar o produto, pois a maior parte de nossas refinarias, construídas ainda na década de 1970, está capacitada para processar apenas petróleo leve, enquanto que a maior parte da produção nacional é de óleo pesado. Isto, no entanto, não diminui a importância da meta alcançada, uma vez que, a cada ano, as importações vêm caindo, ao mesmo tempo em que as exportações da empresa aumentam. Se hoje as refinarias nacionais refinam cerca de 80% do petróleo produzido no país, é certo que os investimentos realizados pela Petrobras - que neste ano de 2006 chegaram à cifra de US$ 2,8 bilhões - garantirão à empresa processar, já até o final de 2010, cerca de 90%.
A mais importante vantagem para o país a ser obtida com a auto-suficiência na produção de petróleo, no entanto, está na maior estabilidade a ser obtida pela economia brasileira, protegendo-a um pouco mais das oscilações e crises assinaladas pelo mercado internacional de petróleo. Em outras palavras, a vantagem de tornar a economia do país imune às flutuações dos preços internacionais do produto.
Fonte: Revista Veja | Biblioteca Virtual do Governo do Estado de São Paulo | Fundação Getúlio Vargas