8.6.11
Imprensa e Poder: os EUA e o Golpe de 1964
Governo dos EUA buscou o apoio do "New York Times" ao golpe
A Casa Branca tentou fazer com que os maiores jornais americanos publicassem textos críticos a João Goulart e favoráveis aos militares antes do golpe de 1964.
Memorando que resume reunião de integrantes do governo Lyndon Johnson em 28 de março de 1964 mostra intenção de pedir ao "New York Times" e ao "Washington Post" apoio à saída de Jango em "editoriais satisfatórios, chamando a atenção para a situação no Brasil".
Temia-se, porém, o risco de os jornais não seguirem a linha desejada: "Isso teria de ser gerenciado com cuidado, pois o editorial poderia facilmente sair insatisfatório".
A estratégia é comum nos EUA e foi usada pelo então presidente George W. Bush (2001-2009) para obter apoio à Guerra do Iraque. Boa parte dos jornais fez posteriormente mea-culpa por ter cedido à pressão da Casa Branca.
Em 1964, o plano só funcionou em parte. Instados ou não pelo governo americano, os jornais criticaram Jango. Em 3 de abril, o "New York Times" publicou editorial dizendo que "Goulart era um general sem regimento" e, no dia 7, que sua gestão era ruim de todos os pontos de vista.
O "Post" disse em 3 de abril que Jango era um oportunista errático "com poucos talentos". Mas eles também criticaram os golpistas.
"A impressão é que, para defender o país da subversão totalitária, os novos governantes estão usando métodos totalitários", escreveu o "Post". "A saída [de Jango], ainda que desejável, não precisa e não deve levar a uma ditadura", afirmou o "NYT".
Consultado sobre a pressão da Casa Branca em 1964, o "New York Times" disse não ter dados tão antigos, mas que seu "conselho editorial se reúne com integrantes de governos do mundo todo há mais de cem anos". (ANDREA MURTA e FELIPE SELIGMAN)
Fonte: Folha de São Paulo