A idéia do relógio surgiu desde o início da humanidade. Era dia, era noite, e isso indicava a hora de caçar ou proteger-se. Olhava-se o sol e isso ficava definido. Com a evolução o homem precisou organizar as suas tarefas ao longo do dia. O primeiro relógio, uma simples vara fincada no chão e cuja sombra se deslocava ao comando do sol, não marcava as horas: apenas dividia o dia e era extremamente impreciso. Servia para o gasto, porque naquela época não precisávamos da exatidão de hoje. Com a necessidade de medidas mais seguras, surgiram a clepsidra (o relógio a base de água) e a ampulheta (a base de areia). Tinham o mesmo princípio: a constância do tempo para escoar uma substância de um local para outro, através de um orifício. Surgiram porque o relógio de sol não funcionava durante a noite ou em dias nublados. As horas ainda não eram marcadas: somente intervalos de tempo. Isso foi mais ou menos em 400 a.C. e começou a existir também formas sofisticadas e artísticas de construir clepsidras e ampulhetas. Como em tudo o mais em que se mete, o homem colocou arte. Ainda no tempo do relógio de sol, alguns deles são de construção rebuscada e verdadeiras jóias.
Relógio de sol - a primeira forma de dividir o dia em partes
Os primeiros relógios mecânicos, muito rudimentares, surgiram por volta de 1200 no norte da Europa, na região da atual Alemanha. A divisão do dia em horas só aconteceu quando o astrofísico Galileu Galilei definiu as regras do movimento pendular e sua impressionante regularidade. Isso foi por volta de 1600 e somente uns 100 anos depois é que surgiriam os ponteiros indicadores de minutos. Por essa ocasião, os relógios já eram olhados como jóias e caracterizavam-se pela beleza e riqueza. Como jóias, tinham a característica do artesão e freqüentavam a corte embelezando senhoras e senhores da nobreza, assim como o ambiente dos castelos. Nessa luta para tornar-se senhor do tempo, o homem acabou também por criar uma máquina que o escravizaria. Somos, quase todos, hoje, escravos do relógio.
Relógios de mesa do século XIX - verdadeiras jóias com mecanismos já sofisticados
Superado o problema de tecnologia de criar um mecanismo medidor do tempo, o homem sempre partiu para a sofisticação e criação de novas necessidades. Horas precisas não eram mais suficientes; minutos exatos não satisfaziam mais; segundos regulares de pouco valiam. Criamos mecanismos para os décimos, centésimos e milésimos de segundo e frações de tempo tão pequenas que só os cientistas se preocupam com isso. Sem desmerecer a validade desse esforço, prefiro ficar com a beleza e a história dessa maquininha.
Relógios de bolso no século XIX - depois de dominar o tempo, o homem passou a ser dominado por ele
Durante muitos séculos, os relógios rivalizaram com os sinos na demarcação das tarefas da comunidade. Entre os mouros, o muazim anunciava a hora do sol nascer e da primeira oração. Assim se chamavam os homens que subiam na mesquita para avisar a todos com sua voz sagrada. No mundo cristão essa tarefa cabia ao sineiro, que se pendurava na corda para fazer soar enormes sinos nas catedrais. O sino avisava dos incêndios, lamentava a morte, acompanhava os enterros, alegrava as festas da comunidade, os casamentos, nascimento e morte dos reis e príncipes, as festas dos senhores e do Senhor. O som dos sinos alertava a todos nas comunidades e espalhava-se pelos campos levantando as orelhas dos animais. Quando surgiu o relógio, o sino começou paulatinamente a perder essas funções. Hoje, não tem mais a importância que tinha para a comunidade, até porque as comunidades tornaram-se tão grandes que ultrapassaram o limite do seu alcance; permanece como um símbolo medieval.
O Big Ben em Londres e sinos de uma catedral - serviços para toda uma comunidade
Os famosos relógios suíços tiveram origem em Genebra, por volta do século XVI e um nome é registrado como o iniciador de tudo: Daniel Jeanrichard. A indústria relojoeira evoluiu rapidamente e tornou-se um marco naquele pais, tanto pelo designer como pela tecnologia de precisão. Com o advento dos relógios de quartzo, os suíços perderam a hegemonia mundial e nunca mais a recuperaram. Os relógios de quartzo são muito mais baratos e precisos do que os relógios mecânicos. No entanto, alguns relógios desse tipo são altamente valorizados pelos amantes da arte e da relojoaria. Mecanismos extremamente complexos com mais de setecentas peças e um custo de aproximadamente um quarto de milhão de dólares não podem competir em precisão e praticidade com os modernos relógios, mas continuam sendo motivo de orgulho para os fabricantes e para os raros proprietários, encarados como jóias exclusivas.
Um anel com aproximadamente 150 anos e o moderno designer de hoje - jóias
Medir o tempo com precisão foi um desafio, por longos séculos, que sempre fascinou a humanidade. Quando os pêndulos pareciam haver resolvido o problema de se medir horas exatas, novos desafios surgiram. Considerando que vivíamos então uma época de navegação imprecisa, como medir o tempo a bordo dos navios, onde o movimento pendular era fundamentalmente comprometido com o balanço dos navios? Isso pode parecer simples hoje para qualquer criança com um relógio com a figurinha do Pato Donald no pulso mas, as academias de ciência e os governos ofereciam prêmios a quem resolvesse esse problema. Enfim, essa coisinha corriqueira, que é um relógio, é o resultado e enormes desafios vencidos ao longo da história do homem.
Medindo o tempo com jóias sofisticadas - tecnologia superada, mas uma arte que se perpetua
Filipe III da Espanha e Filipe II de Portugal (que eram a mesma pessoa), assim como Luis XIV, da França, ofereceram verdadeiras fortunas a quem apresentasse uma fórmula de medir o tempo com exatidão a bordo dos navios. Isso era extremamente importante para se calcular a exata posição dos navios e evitar perigos e mesmo chegar onde se pretendia. Em 1714, a Inglaterra perdeu uma esquadra inteira por um erro de cálculo da longitude devido a tempos avaliados erradamente. O parlamento inglês ofereceu 20000 libras de prêmio a quem resolvesse o problema.
O vencedor foi um carinha chamado John Harrison (1693-1776), que inventou um mecanismo que, sinceramente, acho difícil de explicar aqui e creio que não interessa muito ao assunto de arte. Em uma viagem pelo mar, de nove semanas, o relógio de Harrison atrasou cinco segundos. Na época, isso foi fenomenal. Ao final, indicarei alguns endereços onde isso pode ser visto com mais detalhes técnicos - andei lendo um livro sobre esse desafio de construir um relógio que funcionasse a bordo dos navios e confesso que parei no meio porque não consegui compreender sequer qual era exatamente o problema e muito menos a solução. É interessante para quem gosta de física, astronomia... dessas coisas!
Medir o tempo e exercer a arte - atividades muito antigas, mas a arte chegou primeiro
Como jóia, o relógio tem uma posição de destaque. Freqüentemente, o mecanismo e a função de marcar o tempo tem se tornado secundária. Desejava-se o adorno, a jóia, como uma coroa ou gargantilha - o relógio era só a desculpa. Relógios, tanto os de mesa como os de uso pessoal, foram fabricados das mais diferentes maneiras para adorno dos ricos e das suas casas. Até mesmo de cidades, como é o caso do Big Ben em Londres. Esse relógio, com quatro faces, começou a funcionar desde 31 de maio de 1859: o ponteiro dos minutos tem 4 metros de comprimento.
Sofisticado relógio com 700 peças e alto custo e modernos relógios de quartzo, precisos e baratos
A divisão das horas em 60 minutos de 60 segundos pode ter resultado do sistema sexagesimal usado na antiga Babilônia e que depois foi usado no Egito. Eles dividiam o círculo em 360 graus e tudo girava em torno dessa forma de medir, acabando por interferir na nossa medida de horas.
O antigo e o moderno - o tempo não pára!
O relógio de pulso tem uma história bastante interessante que envolve um brasileiro famoso: Santos Dumont vivia sujando a roupa ao tirar o relógio do bolso, com as mãos manchadas de óleo enquanto trabalhava nos seus modelos de aviões. Para evitar esse contratempo, pediu a seu amigo Cartier que fabricasse um relógio que pudesse ser acomodado no pulso, e esse foi o primeiro relógio de pulso fabricado na França e chegou a ser chamado de Santos Watch. O relógio de pulso já era conhecido, mas raramente usado: o exército inglês havia encomendado 1500 relógios a um fabricante suíço para colocar no pulso de militares, considerando que seriam mais úteis assim, durante a batalha. Mas foi depois do episódio com Santos Dumont que Cartier passou a fabricar relógios de pulso, criou fama como fabricante de relógios e difusor da nova moda por todo o mundo.
Fonte: www.cyberartes.com.br