Diplomata, político, orador, poeta, abolicionista. De todo
s os títulos que o pernambucano Joaquim Nabuco poderia receber, talvez o mais adequado fosse o de profeta. Abolicionista desde a infância, vivida no engenho de Massangana, de seus padrinhos, no Cabo de Santo Agostinho, cercanias de sua Recife natal, levou da rotina dos negros uma retumbante ojeriza pela escravatura e, dela, a capacidade para antever: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mito
s, suas legendas, seus encantamentos”.
Nabuco falava assim, em suas memórias (“Minha formação”, de 1900), do Brasil do futuro, país que manteria vivas as relações entre casagrande e senzala. Nascido Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, em 19 de agosto de 1849 e morto em 17 de janeiro de 1910, viveu para ser u
m dos principais nomes do abolicionismo brasileiro. Filho do senador José Tomás Nabuco de Araújo e de Ana Benigna Barreto Nabuco de Araújo, irmã do marquês do Recife, Francisco Pais Barreto, teve na família, espécie de celeiro de políticos importantes, impulso vocacional. Em 1857, foi para a casa dos pais, no Rio, onde estudou até o secundário. Mais tarde, estudaria Direito na Faculdade de São Paulo. O curso, no entanto, foi terminado no Recife, onde
escandalizou a elite local ao defender, ainda aluno,
um escravo negro acusado de assassinar seu senhor. Ingressou na vida pública em 1876 como diplomata, tornando-se adido nos Estados Unidos. Foi deputado por Pernambuco várias vezes desde 1878. Em 1885 defendeu a Lei dos
Sexagenários, que libertava os escravos de mais de 65 anos. Na preparação da Lei Áurea, defendeu-a, embora fosse do Partido Conservador.
Monarquista, deixou a vida política com a chegada da República, apesar de os chefes da nova ordem quererem sua permanência na diplomacia. Instalado no Rio, mergulhou nos livros. Na capital, entre processos e reportagens, encontrava-se com amigos como Machado de Assis e José Veríssimo, na redação da Revista Brasileira. Das conversas, nasceria, em 1897, a Academia Brasileira de Letras, da qual foi secretário e fundador da Cadeira 27. Em 1900, voltava aos quadros do governo, novamente como diplomata, passando a servir na Inglaterra. No fim da vida, até o falecimento, em 1910, trabalhou como embaixador nos EUA. Em Washington, seu corpo foi conduzido solenemente ao cemitério da capital — graças à simpatia angariada no país em sua luta pelo pan-americanismo —, e, depois, trazido para o Rio de Janeiro, de onde foi transportado para o Recife.
Fonte:
Livro 100 Brasileiros (2004)