Por volta de 1942 Max Planck era um homem atormentado. Fazia 40 anos que suas descobertas científicas haviam aberto à física novos horizontes, permitindo um progresso vertiginoso na compreensão dos fenômenos subatômicos: agora, cientistas alemães, utilizando suas descobertas, propunham-se a construir o mais temível engenho bélico de todos os tempos: a bomba atômica.
A Alemanha, porém, não conseguiu levá-la a termo. Isso foi feito pela América do Norte, que três anos mais tarde explodia o artefato sobre Hiroxima e Nagasáqui. E Max Planck viveu o bastante para testemunhar o triste acontecimento.
Uma das grandes conquistas do início do século XIX foi a "redescoberta" da descontinuidade da matéria. Esta mostrava-se composta de "unidades", os átomos (ou as moléculas), entre os quais havia o vácuo. Coube a Planck estender o conceito de descontinuidade também à energia. Planck postulou que as trocas de energia entre átomos, ou, mais geralmente, entre corpos, não eram quantidades quaisquer. Parecia existir, para a energia, uma estrutura granular, pois as trocas faziam-se envolvendo quantidades bem determinadas.
Isso foi a descoberta do caminho para o interior do átomo, para o conhecimento de sua estrutura e para a elucidação de fenômenos até então inexplicados; implicava também a existência, nele, de propriedades ainda não percebidas.
Contudo, a idéia de descontinuidade da energia mostrava-se inverossímil; parecia excessivamente transcendente, completamente desligada da intuição. O próprio criador da idéia mantinha-se céptico a respeito. Definiu-a à perfeição, dela extraindo todas as conseqüências possíveis. Mas, apesar de constituir uma hipótese promissora, Planck sempre a considerou apenas como tal: uma simples hipótese, capaz de explicar parte da verdade, mas que posteriormente seria substituída por outra. Planck seguia fielmente o princípio de Leibniz, segundo o qual "Natura non facit saltum" - a natureza não dá salto. Na época da formulação da hipótese da descontinuidade da energia, o cientista não sabia ainda ter penetrado em uma das mais importantes características do universo físico. Sua concepção seria mais tarde confirmada por estudos profundos sobre os átomos e seus núcleos.
Max Planck nasceu em Kiel, a 23 de abril de 1858, descendendo de uma família de teólogos e juristas. Com nove anos de idade seguiu com seu pai, professor de direito, para Munique. Enquanto rapaz, suas preferências dividiam-se entre a arte e a ciência. No colégio, sua habilidade com a matemática era tal que, quando o professor dessa cadeira não comparecia, ele era chamado a substituí-lo. E, dentro da arte, o seu maior entusiasmo era pela música, à qual se dedicou com grande paixão. Foi regente da orquestra da Universidade de Munique e também de alguns coros particulares. Foi compositor, tendo deixado, entre outras obras, uma opereta de câmara. Embora sua verdadeira vocação fosse a ciência, a música constituiu um refúgio onde podia esquecer seus problemas, permanecendo até o fim de sua vida como uma fonte de conforto e satisfação.
Outra das distrações de Max Planck era o alpinismo, que praticou até idade avançada. Aos 62 anos escalou o Jungfrau, monte suíço com cerca de 4.000 metros de altura.
Seus estudos superiores na Universidade de Munique sofreram um hiato de um ano, durante o qual teve oportunidade de acompanhar na Universidade de Berlim cursos de física ministrados por Von Helmholtz e Kirchhoff. Nessa época, teve sua atenção vivamente despertada pelo estudo da termodinâmica. De volta a Munique, prosseguiu suas pesquisas nesse campo, não conseguindo, porém, grande sucesso. Apesar disso, laureou-se com uma tese sobre o segundo princípio da termodinâmica.
Na expectativa de conquistar uma cátedra em uma universidade européia, realizou uma série de conferências sobre o ramo científico no qual se havia especializado. Contudo, a cátedra, à qual Planck realmente aspirava, era a de física teórica.
Em 1885, foi nomeado professor de física teórica da Universidade de Kiel e a partir de então começou a projetar-se no mundo científico. Entre seus trabalhos dessa época, destaca-se um estudo sobre a natureza da energia, enviado à Universidade de Göttingen. Dos pesquisadores que remeteram seus trabalhos, Planck foi o único a ser premiado.
Em 1889 a influente amizade de Von Helmholtz valeu-lhe a transferência para a Universidade de Berlim, como sucessor de Kirchhoff. Alguns anos mais tarde, passou a ocupar a cátedra de física teórica - seu grande sonho. Essa permanência em Berlim deu-lhe a possibilidade de conviver com pesquisadores famosos, como Reymond, Mommsen, Nernst, Ostwald, além do grande Helmholtz.
Em fins do século XVIII, uma das dificuldades da física consistia na interpretação das leis que governam a emissão de radiação por parte dos corpos negros.
Tais corpos são dotados de alto coeficiente de absorção de radiações; por isso, parecem negros para a vista humana. Eles possuem a interessante propriedade de emitirem radiações de diferentes comprimentos de onda, à medida que muda a temperatura à qual são levados. Quanto mais alta esta última, mais completa se mostra a gama da radiação emitida, tendendo para a cor branca; quanto mais baixa a temperatura, mais deslocado se mostra o espectro da radiação emitida, que tende então para o vermelho. Sob temperaturas inferiores a certo limite, situado em torno de 5000 C, o corpo negro emite sensivelmente apenas radiações infravermelhas.
Utilizando os preceitos científicos então existentes, podia-se explicar facilmente que um corpo idealmente negro deve ser também um perfeito emissor de radiação: com o tempo, o corpo negro irradia no espaço, sob a forma de radiação térmica, toda a energia que contém.
Não era, porém, possível explicar a distribuição da energia pelos vários comprimentos de onda: a emissão de radiação não se dá em um só comprimento de onda; além disso, o que se desloca com a temperatura é o comprimento de onda correspondente à máxima emissão de energia.
Segundo as teorias vigentes, um átomo estaria em condições de emitir ou absorver radiações com continuidade. Essa foi a primeira dificuldade com a qual Planck deparou quando abordou o problema. Entretanto, com sua imaginação fecunda, percebeu que era possível interpretar a curva de distribuição das radiações emitidas pelo corpo negro simplesmente supondo que cada átomo agia como uma corda vibrante, capaz de emitir, de uma só vez, sob a forma de um pequeno grupo de ondas, toda a energia nele contida. Seria como se a corda vibrante, quando excitada, pudesse descarregar de uma só vez todo o som que é capaz de gerar, ao invés de sofrer uma lenta atenuação em sua vibração.
Planck, seguindo essa linha de raciocínio, supôs que o átomo emitisse radiação em "pacotes", que denominou, no singular, de quantum. Cada um deles conduziria toda a energia de uma excitação atômica. E mais: todo quantum deveria ser constituído de radiação eletromagnética, com freqüência que dependia de energia nele contida. A hipótese completava-se com as considerações de que a freqüência da oscilação eletromagnética seria proporcional à energia do quantum. Em qualquer quantum do universo, a relação entre a energia contida e a freqüência da radiação emitida deveria apresentar um mesmo valor, isto é, deveria ser uma constante universal.
Essa constante foi indicada pela letra h e hoje é conhecida como constante de, Planck (h = 6,62 x 10-34 J x s).
Em 14 de dezembro de 1900 veio à luz sua teoria sob a forma de uma comunicação à Sociedade Alemã de Física. Os estudos de Einstein e Bohr, posteriormente, vieram complementá-la.
Por quarenta anos Planck lecionou na Universidade de Berlim, da qual foi também reitor, de 1913 a 1915.
Seu pensamento filosófico considerava o materialismo dialético como premissa fundamental de toda pesquisa científica. Embora condenando a intromissão de questões religiosas na ciência, admitia uma função social na religião.
(Planck com Einstein)
As inúmeras honrarias que recebeu - foi presidente do Instituto Kaiser Guilherme de Física, membro da Academia de Ciências, Prêmio Nobel de Física em 1918 e inspirador da Medalha Planck em 1929 - não foram suficientes para confortá-lo das muitas mágoas que o atingiram. De dois casamentos havia tido cinco filhos. Uma das filhas casou-se com Max von Laue (Prêmio Nobel por seus estudos sobre raios X), mas dois filhos tiveram sorte trágica. Um tombou em Verdun, durante a I Guerra Mundial, e outro foi morto por agentes da Gestapo, em 1944, por haver participado de um atentado contra a vida de Hitler.
Ao fim da guerra, sua casa em Berlim estava destruída. E também arrasada estava sua preciosa biblioteca. Max Planck, fugindo ao palco da tragédia, retirou-se para Göttingen, onde faleceu a 3 de outubro de 1947. Sua morte passou completamente despercebida no mundo ainda conturbado pelas conseqüências da guerra recém-finda.
Fonte:
http://br.geocities.com/saladefisica3/biografias/planck.htm