Artefatos encontrados em sítio arqueológico no Texas (EUA) confirmam suspeitas recentes de que as Américas foram povoadas muito antes do que se pensava. Cerca de 2,5 mil anos separam o velho do novo “começo” da história do continente.
Por: Carolina Drago
Artefatos escavados comprovam que povoamento na América começou pelo menos 2,5 mil anos antes do que se pensava. Feitos de sílex, uma variedade do quartzo, são pequenos e apresentam formatos variados. (foto: Michael R. Waters)
Descobertas arqueológicas recentes estão prestes a reescrever um capítulo da pré-história das Américas. Um rico conjunto de artefatos encontrado no Texas foi datado por pesquisadores dos Estados Unidos como pertencente a um período de 15 mil anos e meio atrás. O achado contraria o modelo corrente, segundo o qual os primeiros grupos humanos a povoarem o continente teriam chegado aqui há cerca de 13 mil anos.
Esse modelo já vinha sendo colocado em xeque por arqueólogos depois que escavações na América do Norte revelaram artefatos mais antigos que 13 mil anos. Nesses sítios, no entanto, a quantidade de objetos encontrados era muito pequena para servir de evidência.
Já no sítio arqueológico do Texas, a história foi outra: os quase 16 mil artefatos escavados comprovam que há 15,5 mil anos houve uma civilização que antecedeu a cultura Clóvis – como é conhecido o grupo até hoje considerado o primeiro a povoar as Américas.
“Essa descoberta implica no fim do modelo de que a cultura Clóvis teria sido a primeira a chegar aqui e na necessidade de desenvolver um novo modelo para o povoamento das Américas”, avalia Michael Waters, do Departamento de Antropologia e Geografia da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e autor principal do artigo publicado hoje (25/3) na revista Science.
Kit portátil
Os pesquisadores descreveram os 15.528 artefatos encontrados no complexo Buttermilk Creeck – próximo a Austin, capital do Texas –, no sítio arqueológico Debra L. Friedkin. Destes, 56 foram identificados como ferramentas e os demais, como resíduos do processo de lascamento da pedra para a fabricação dos instrumentos.
Os artefatos encontrados foram feitos de sílex, uma variedade do quartzo. Seus formatos variam de lâminas a bifaces, ferramentas de base quadrada ou arredondada que afinam na parte superior.
“Alguns artefatos bifaciais indicam que o grupo estava fazendo pontas de projéteis e facas”, avalia Waters, em comunicado à imprensa. “Nós encontramos ainda ferramentas e lâminas usadas para o corte e raspagem.”
A maneira como os instrumentos da era pré-Clovis foram construídos assemelha-se à usada pela cultura Clóvis. Segundo os pesquisadores, isso mostra que a tecnologia mais antiga foi provavelmente adaptada – e aperfeiçoada – por esse segundo povo.
“Uma das principais diferenças entre as ferramentas dos dois períodos é o tamanho. Os artefatos pré-Clóvis são menores”, afirma Waters. A equipe sugere que eles teriam sido projetados como um conjunto de ferramentas portátil – algo que poderia ser facilmente empacotado e transferido de um lugar para outro.
“Nas camadas arqueológicas correspondentes ao período pré-Clóvis, também encontramos muitos objetos quebrados, que provavelmente foram usados para trabalhar osso e madeira”, complementa o pesquisador.
Os artefatos foram datados com o auxílio de uma técnica óptica que mede a quantidade de energia luminosa contida nos grãos de minerais como o quartzo. Com essa informação, indica a última vez em que estiveram expostos ao sol. No caso dessas ferramentas, a datação indicou 15 mil anos e meio atrás.
Registros no sul
Waters explica que, de fato, a cultura Clóvis não poderia ter sido a primeira a povoar as Américas. Isso porque, 13 mil anos atrás, quando se pensava que o povoamento no continente havia começado, a América do Sul já abrigava outra cultura.
“Objetos desse período foram identificados em pelo menos seis sítios arqueológicos na América do Sul e, nesses lugares, não havia tecnologia alguma da civilização Clóvis”, destaca o autor.
Para ele e sua equipe, a civilização pré-Clóvis teria vindo do Nordeste da Ásia para o Novo Mundo, há 15 mil anos e meio, de barco. “As pessoas teriam atravessado o Estreito de Bering pelo mar, já que o corredor de gelo estava fechado nesse período. Essa é a única forma lógica pela qual elas podem ter viajado até os Estados Unidos”, conclui.
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