30.9.11
Formação Economica do Brasil
DA EXPANSÃO COMERCIAL À EMPRESA AGRÍCOLA
A ocupação econômica das terras americanas constitui um episódio da expansão comercial da Europa. Não se trata de deslocamentos de população provocados por pressão demográfica - como fora na Grécia - ou de grandes movimentos de povos determinados pela ruptura de um sistema cujo equilíbrio se mantivesse pela força - caso das migrações germânicas em direção ao ocidente e sul da Europa. O comercio interno europeu , em intenso crescimento apartir do séc. XI, havia alcançado um elevado grau de desenvolvimento no séc. XV, quando as invasões turcas começaram a criar dificuldades crescentes as linhas orientais de abastecimento de produtos de alta qualidade, inclusive manufaturas.
O início da ocupação econômica do território brasileiro é em boa medida uma conseqüência da pressão política exercida sobre Portugal e Espanha pela demais nações européias. Nestas últimas prevalecia o princípio de que espanhóis e portugueses não tinham direito senão àquelas terras que houvessem efetivamente ocupado. A miragem do ouro que existia no interior das terras do Brasil - à qual não era estranha a pressão crescente dos franceses - pesou seguramente na decisão tomada de realizar um esforço relativamente grande para conservar as terras americanas.Em embargo, os recursos de que dispunha Portugal para colocar improdutivamente no Brasil eram limitados e dificilmente teriam sido suficientes para defender as novas terras por muito tempo. A Espanha, cujos recursos eram incomparavelmente superiores, teve que ceder à pressão dos invasores em grande parte das terras que lhe cabiam pelo Tratado de Tordesilhas. Para tornar mais efetiva a defesa de seu quinhão, foi-lhe necessário reduzir o perímetro deste. Demais, fez-se indispensável criar colônias de povoamento de reduzida importância econômica - como no caso de Cuba - com fins de abastecimento e de defesa. Coube a Portugal a tarefa de encontrar uma forma de utilização econômica das terras americanas que não fosse a fácil extração de letais preciosos. Somente assim seria possível cobrir os gastos de defesa dessas terras. Das medidas políticas que então foram tomadas resultou o início da exploração agrícola das terras brasileiras, acontecimento de enorme importância na história americana.
FATORES DO ÊXITO DA EMPRESA AGRÍCOLA
Um conjunto de fatores favoráveis tornou possível o êxito dessa primeira grande empresa colonial agrícola européia. Os portugueses haviam já iniciado há algumas dezenas de anos a produção, em escala relativamente grande, nas ilhas do Atlântico, de uma das especiarias mais apreciadas no mercado europeu: o Açúcar. Essa experiência permitiu a solução dos problemas técnicos relacionados com a produção do açúcar, fomentou o desenvolvimento em Portugal da indústria de equipamentos para os engenhos açucareiros. Se tem em conta as dificuldades que se enfrentavam na época para conhecer qualquer técnica de produção e as proibições que havia para exportação da equipamentos.
A significação maior da experiência das ilhas do Atlântico foi possivelmente no campo comercial.
A partir da metade do século XVI a produção portuguesa de açúcar passa a ser mais e mais uma empresa em comum com os flamengos, que recolhiam o produto de Lisboa, refinavam-no e faziam a distribuição por toda a Europa. A contribuição dos flamengos (particularmente dos holandeses) para a grande expansão do mercado do açúcar, na segunda metade do século XVI, constitui um fator fundamental do êxito da colonização do Brasil. Não somente com sua experiência comercial, pois parte substancial dos capitais requeridos pela empresa açucareira viera dos Países-Baixos.
O êxito da grande empresa agrícola do século XVI, constituiu portanto a razão de ser da continuidade da presença dos portugueses em uma grande extensão das terras americanas.
Nos século seguinte, quando se modifica a relação de forças na Europa com o predomínio das nações excluídas da América pelo Tratado de Tordesilhas, Portugal já havia avançado enormemente na ocupação efetiva da parte que lhe coubera.
RAZÕES DO MONOPÓLIO
Os magníficos resultados financeiros da colonização agrícola do Brasil abriram perspectivas atraentes à utilização econômica das novas terras. Sem embargo, os espanhóis continuaram concentrados em sua tarefa de extrair metais preciosos. Ao aumentar a pressão de seus adversários, limitaram-se a reforçar o cordão de isolamento em torno do seu rico quinhão.
A forma como estavam organizadas as relações entre Metrópole e colônias criava uma permanente escassez de meios de transporte; e era a causa de fretes excessivamente elevados. A política espanhola estava orientada no sentido de transformar as colônias em sistemas econômicos o quanto possível auto-suficientes e produtores de um excedente líquido -na forma de metais preciosos- que se transferia periodicamente para a Metrópole.
Sendo a Espanha o centro de uma inflação que chegou a propagar-se por toda a Europa, não é de estranhar que o nível geral de preços tenha sido persistentemente mais elevado nesse país que em seus vizinhos, o que necessariamente teria de provocar um aumento de importações e uma diminuição de exportações. Em conseqüência, os metais preciosos que a Espanha recebia da América sob a forma de transferências unilaterais provocavam um fluxo de importação de efeitos negativos, sobre a produção interna, e altamente estimulante para as demais economias européias.
O abastecimento de manufaturas das grandes massas de população indígena continuou a basear-se no artesanato local, o que retardou a transformação das economias de subsistência preexistentes na região.
Cabe portanto admitir que um dos fatores do êxito da empresa colonizadora agrícola portuguesa foi a decadência mesma da economia espanhola, a qual se deveu principalmente à descoberta precoce dos metais preciosos.
DESARTICULAÇÃO DO SISTEMA
O quadro político-econômico dentro do qual nasceu e progrediu de forma surpreendente a empresa agrícola em que assentou a colonização do Brasil foi profundamente modificado pela absorção de Portugal na Espanha. A guerra que contra este último país promoveu a Holanda, durante esse período, repercutiu profundamente na colônia portuguesa da América. A começos do séc. XVII os holandeses controlavam praticamente todo o comercio dos países europeus realizado por mar.
A luta pelo controle do açúcar torna-se, destarte, uma das razões de ser da guerra sem quartel que promovem os holandeses contra a Espanha. E um dos episódios dessa guerra foi a acupação pelos batavos, durante um quarto de século, de grande parte da região produtora de açúcar no Brasil.
Durante a permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o conhecimento de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. Esses conhecimentos vão constituir a base para a implantação e desenvolvimento de uma indústria concorrente, de grande escala, na região do Caribe. A partir desse momento, estaria perdido o monopólio, que nos três quartos de século anteriores se assentara na identidade de interesse entre os produtores portugueses e os grupos financeiros holandeses que controlavam o comércio europeu. No terceiro quartel do século XVIII os preços do açúcar estarão reduzidos à metade e persistirão nesse nível relativamente baixo durante todo o século seguinte.
AS COLÔNIAS DE POVOAMENTO DO HEMISFÉRIO NORTE
O principal acontecimento da história americana no século XVII foi, para o Brasil, o surgimento de uma poderosa economia concorrente no mercado dos produtos tropicais. O advento dessa economia decorreu, em boa medida, do debilitamento da potência militar espanhola na primeira metade do século XVII, debilitamento esse observado de perto pelas três potências cujo poder crescia na mesma época: Holanda, França e Inglaterra.
A colonização de povoamento que se inicia na América no século XVII constitui, portanto, seja uma operação com objetivos políticos, seja uma forma de exploração de mão-de-obra européia que um conjunto de circunstâncias tornara relativamente barata nas Ilhas Britânicas.
A Inglaterra do século XVII apresentava um considerável excedente da população, graças as profundas modificações de sua agricultura iniciadas no século anterior.
O início dessa colonização de povoamento no século XVII are uma etapa nova na história da América. Em seus primeiros tempos essas colônias acarretaram vultuosos prejuízos para companhias que a organizavam.
Por todos os meios procurava-se induzir as pessoas que haviam cometido qualquer crime ou mesmo contravenção a vender-se para trabalhar na América em vez de ir para o cárcere. Contudo o suprimento de mão- de- obra deveria ser insuficiente pois a prática do rapto de adultos e crianças tendeu a transformar-se em calamidade pública nesse país. Por esse e outros métodos a população européia das Antilhas cresceu intensamente, e só a Ilha de Bordados chegou a ter, em 1634, 37.200 habitantes dessa origem.
Na medida em que a agricultura tropical - particularmente a do fumo - transformava-se num êxito comercial, cresciam as dificuldades apresentadas pelo abastecimento de mão-de-obra européia.
As colônias de povoamento destas regiões, com efeito, resultaram ser simples estações experimentais para a produção de artigos de potencialidade econômica ainda incerta. Superada essa etapa de incerteza, as invenções maciças exigidas pelas grande plantações escravistas demonstraram ser negócio muito vantajoso.
A partir desse momento se modifica o curso da colonização antilhana, e essa modificação será de importância fundamental para o Brasil. A idéia original de colonização dessas regiões tropicais, à base de pequena propriedade, excluída per se toda cogitação em torno à produção de açúcar. Dentre os produtos tropicais, mais que qualquer outro, este era incompatível com o sistema da pequena propriedade.
A essas diferenças de estrutura econômica teriam necessariamente de corresponder grandes disparidades de comportamento dos grupos sociais dominantes nos dois tipos de colônias. Nas Antilhas inglesas os grupos dominantes estavam intimamente ligados a poderosos grupos financeiros da Metrópole e tinham inclusive uma enorme influencia no parlamento britânico. Esse entrelaçamento de interesses inclinava os grupos que dirigiam a economia antilhana a considera-la exclusivamente como parte integrante de importantes empresas manejadas da Inglaterra. As colônias setentrionais, ao contrário, eram dirigidas por grupos ligados uns a interesses comerciais em Boston e Nova York - os quais freqüentemente entrava em conflito com os interesses metropolitanos - e outros representativos de populações agrícolas praticamente sem qualquer afinidade de interesses com a Metrópole. Essa independência dos grupos dominantes vis-à-vis da Metrópole teria de ser um fator de fundamental importância para o desenvolvimento da colônia, pois significava que nela havia órgãos capazes de interpretar seus verdadeiros interesses e não apenas de refletir as ocorrências do centro econômico dominante.
CONSEQÜÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR NAS ANTILHAS
Na medida que a agricultura tropical se tornava um sucesso comercial, principalmente o fumo, cresciam as dificuldades apresentadas pelo abastecimento de mão-de-obra européia. Do ponto de vista das companhias interessadas no comércio das novas colônias, a solução natural do problema estava na introdução da mão-de-obra escrava africana. Na Virgínia aonde as terras não estavam todas divididas em mãos de pequenos produtores, a formação de grandes unidades agrícolas se desenvolveu mais rapidamente. Surge assim uma situação totalmente nova no mercado de produtos tropicais: uma intensa concorrência entre regiões que exploram mão-de-obra escrava em grandes unidades produtivas, e regiões de pequenas propriedades e mão-de-obra européia. As colônias de povoamento destas regiões resultaram ser simples estações experimentais para produção de artigos de potencialidade comercial ainda incerta. Superada essa etapa de incerteza, as inversões maciças exigidas pelas grandes plantações escravistas demonstram ser negocio muito vantajoso.
A partir deste momento se modifica o curso da colonização antilhana, e essa modificação será de importância fundamental para o Brasil. A idéia original de colonização dessas regiões tropicais, à base de pequena propriedade, excluía per se toda cogitação em torno à produção de açúcar. Dentre os produtos tropicais, mais que qualquer outro, este era incompatível com o sistema de pequenas propriedades. Nesta primeira fase da colonização agrícola não-portuguesa das terras americanas, aparentemente se dava por assentado que ao Brasil cabia o monopólio da produção açucareira. Às colônias antilhanas ficavam reservados os demais produtos tropicais. A razão de ser dessa divisão de tarefas derivada dos próprios objetivos políticos da colonização antilhana, onde franceses e ingleses pretendiam reunir fortes núcleos de população européia. Sem embargo, esses objetivos políticos tiveram de ser abandonados sob a forte pressão de fatores econômicos.
As colônias do norte dos EUA se desenvolveram, assim, na segunda metade do séc. XVII e primeira do séc XVIII, como parte integrante de um sistema maior dentro do qual o elemento dinâmico são as regiões antilhanas produtoras de artigos tropicais. O fato que as duas partes principais do sistema - a região produtora do artigo básico de exportação; e a região que abastecia a primeira - hajam estado separadas é de fundamental importância para explicar o desenvolvimento subsequente de ambas.
ENCERRAMENTO DA ETAPA COLONIAL
A partir da segunda metade do séc. XVII, será profundamente marcada pelo novo rumo que toma Portugal como potência colonial. Na época que esteve ligada a Espanha, perdeu esse país o melhor de seus entrepostos orientais, ao mesmo tempo que a melhor parte da colônia americana era ocupada pelos holandeses. Ao recuperar a independência Portugal encontro-se em posição extremamente débil, pois a ameaça da Espanha - que por mais de um quarto de século não reconheceu essa independência - pesava permanentemente sobre o território metropolitano. Por outro lado, o pequeno reino, perdido o comércio oriental e desorganizado o comércio do açúcar, não dispunha de meios para defender o que lhe sobrará das colônias numa época de crescente atividade imperialista. A neutralidade em face das grandes potências era impraticável. Portugal compreendeu, assim, que para sobreviver como metrópole colonial deveria ligar o seu destino a uma grande potência, o que significaria necessariamente alienar parte de sua soberania. Os acordos concluídos com a Inglaterra em 1642-54-61 estruturam essa aliança que marcará profundamente a vida política e econômica de Portugal e do Brasil durante os dois séculos seguintes.
ECONOMIA ESCRAVISTA DE AGRICULTURA TROPICAL
CAPITALIZAÇÃO E NÍVEL DE RENDA NA COLÔNIA AÇUCAREIRA
O rápido desenvolvimento da indústria açucareira , malgrado as enormes dificuldades decorrentes do meio físico , da hostilidade do silvícola e do custo dos transportes , indica claramente que o esforço do governo português se concentrara nesse setor . O privilegio , outorgado ao donatário , de só ele fabricar moenda e engenho de água , denota ser a lavoura do açúcar a que tinha especialmente em mira introduzir.
Observada de uma perspectiva ampla, a colonização do séc. XVI surge fundamentalmente ligada a atividade açucareira. Aí onde a produção de açúcar falhou - caso de São Vicente - o pequeno núcleo colonial conseguiu substituir graças à relativa abundância de mão-de-obra indígena.
O fato de que desde o começo da colonização algumas comunidades se hajam especializado na captura de escravos indígenas põe em evidência a importância da mão-de-obra nativa na etapa inicial de instalação da colônia. No processo de acumulação de riqueza quase sempre o esforço inicial é relativamente o maior. A mão-de-obra africana chegou para a expansão da empresa, que já estava instalada. É quando a rentabilidade do negócio está assegurada que entram em cena , na escala necessária, os escravos africanos: base de um sistema de produção mais eficiente e mais densamente capitalizado.
FLUXO DE RENDA E CRESCIMENTO
O que mais singulariza a economia escravista é, seguramente, a forma como nela opera o processo de formação de capital. O empresário açucareiro teve, no Brasil, desde o começo, que operar em escala relativamente grande. As condições do meio não permitiam pensar em pequenos engenhos, como fora o caso das ilhas do Atlântico. Cabe deduzir, por tanto, que os capitais foram importados. Mas o que se importava, na etapa inicial, eram os equipamentos e a mão-de-obra especializada. A introdução do trabalhador africano não constitui modificação fundamental pois apenas veio substituir outro escravo menos eficiente e de recrutamento mais incerto.
Na segunda metade do séc. XVII, quando se desorganizou o mercado do açúcar e teve inicio a forte concorrência antilhana, os preços se reduziram a metade. Contudo, os empresários brasileiros fizeram o possível para manter um nível de produção relativamente elevado.
PROJEÇÃO DA ECONOMIA AÇUCAREIRA: A PECUÁRIA
Pode-se admitir como ponto pacífico, que a economia açucareira constituía um mercado de dimensões relativamente grandes, portanto, atuar como fator altamente dinâmico do desenvolvimento de outras regiões do país. Um conjunto de circunstancia tenderam, sem embargo, a desviar para o exterior em quase sua totalidade esse impulso dinâmico. Em primeiro lugar havia os interesses criados dos exportadores portugueses e holandeses, os quais gozavam dos fretes excepcionalmente baixos que podiam propiciar os barcos que seguiam para colher açúcar. Em segundo estava a preocupação política de evitar o surgimento na colônia de qualquer atividade que concorresse com a economia metropolitana.
Ao expandir-se a economia açucareira, a necessidade de animais de tiro tendeu a crescer mais que proporcionalmente, pois a desvastação das florestas litorâneas obrigava a buscar a lenha a distancia cada vez maiores. Por outro lado, logo se evidenciou a impraticabilidade de criar o gado na faixa litorânea, isto é, dentro das próprias unidades produtoras de açúcar. Os conflitos provocados pela penetração de animais em plantações deve ter sido grandes, pois o próprio governo português proibiu, finalmente, a criação de gado na faixa litorânea. E foi a separação das duas atividades econômicas - a açucareira e a criatória - que deu lugar ao surgimento de uma economia dependente na própria região nordestina.
FORMAÇÃO DO COMPLEXO ECONÔMICA NORDESTINO
As formas que assumem os dois sistemas da economia nordestina - o açucareiro e o criatório - no lento processo de decadência que se inicia na segunda metade do séc. XVII, constitui elementos fundamentais na formação do que no séc. XX viria a ser a economia brasileira. Vimos jà que as unidades produtivas, tanto na economia açucareira como na criatória, tendiam a preservar sua forma original seja nas etapas de expansão seja nas de contração. Por um lado o crescimento era de caráter puramente extensivo, mediante a incorporação de terra e mão-de-obra, não implicando modificação estruturais que repercutissem nos custos de produção e por tanto na produtividade. Por outro lado, a reduzida expressão dos custos monetários - isto é, a pequena proporção da folha de salários e da compra de serviços a outras unidades produtivas - tornava a economia enormemente resistente aos efeitos a curto prazo de uma baixa de preços. Convinha continuar operando, não obstante os preços sofressem uma forte baixa, pois os fatores de produção não tinham uso alternativo. Como se diz hoje em dia, a curto prazo a oferta era totalmente inelástica. Contudo, seus efeitos a curto prazo de uma contração da procura eram muito parecidos nas economias açucareira e criatória, a longo prazo as diferenças eram substanciais.
CONTRAÇÃO ECONÔMICA E EXPANSÃO TERRITORIAL
O séc. XVII constitui a etapa de maiores dificuldades na vida política da colônia. Em sua primeira metade, o desenvolvimento da economia açucareira foi interrompido pelas invasões holandesas. Nessa etapa os prejuízos são bem maiores para Portugal que para o próprio Brasil, teatro das operações de guerra. A administração holandesa se preocupou em reter na colônia parte das rendas fiscais proporcionadas pelo açúcar, o que permitiu um desenvolvimento mais intenso da vida urbana. Do ponto de vista do comércio e do fisco portugueses, entretanto, os prejuízos deveriam ser consideráveis. Simonsen estimou em vinte milhões de libras o valor das mercadorias subtraídas ao comércio lusitano. Isso concomitantemente com gastos militares vultosos. Encerrada a etapa militar, tem inicio a baixa nos preços do açúcar provocada pela perda do monopólio. Na segunda metade do século a rentabilidade da colônia baixou substancialmente, tanto para o comércio como para o erário lusitanos, ao mesmo tempo que cresciam suas próprias dificuldades de administração e defesa.
ECONOMIA ESCRAVISTA MINEIRA
POVOAMENTO E ARTICULAÇÃO DAS REGIÕES MERIDIONAIS
Que poderia Portugal esperar da extensa colônia sul-americana, que se empobrecia a cada dia, crescendo ao mesmo tempo seus gastos de manutenção? Era mais ou menos evidente que da agricultura tropical não se podia esperar outro milagre similar ao do açúcar. Iniciara-se uma intensa concorrência no mercado de produtos tropicais, apoiando-se os principais produtores - colônias francesas e inglesas - nos respectivos mercados metropolitanos. Para um observador de fins do séc. XVII, os destinos da colônia deveriam parecer incertos. Em Portugal compreendeu-se claramente que a única saída estava na descoberta de metais preciosos. Retrocedia-se, assim, à idéia primitiva de que as terras americanas só se justificavam economicamente se chegassem a produzir ditos metais. Os governantes portugueses cedo se deram conta do enorme capital que, para a busca de minas, representavam os conhecimentos que do interior do país tinham os homens do planalto de Piratininga. Com efeito, se estes já não haviam descobertos o ouro em suas entradas pelos sertões, era por falta de conhecimentos técnicos. A ajuda técnica que então receberam da metrópole foi decisiva.
FLUXO DA RENDA
A base geográfica da economia mineira estava situada numa vasta região compreendida entre a serra da Mantiqueira, no atual Estado de Minas, e a região de Cuiabá, no Mato Grosso, passando por Goiás. Em algumas regiões a curva de produção subiu e baixou rapidamente provocando grandes fluxos e refluxos de população; noutras, essa curva foi menos abrupta tornando-se possível um desenvolvimento demográfico mais regular e a fixação definitiva de núcleos importantes de população. A renda média dessa economia, isto é, sua produtividade média, é algo que dificilmente pode se definir. Em dados momentos deveria alcançar pontos altíssimos em uma sub-região, e, quanto mais altos fossem esses pontos, maiores seriam as quedas subseqüentes. Os depósitos de aluvião se esgotam tanto mais rapidamente quanto é mais fácil sua exploração. Dessa forma, as regiões mais “ricas” se incluem entre as de vida produtiva mais curta.
REGRESSÃO ECONÔMICA E EXPANSÃO DA ÁREA DE SUBSISTÊNCIA
Não se havendo criado nas regiões mineiras formas permanentes de atividades econômicas - à exceção de alguma agricultura de subsistência - era natural que, com o declínio da produção de ouro, viesse uma rápida e geral decadência. Na medida em que se reduzia a produção, as maiores empresas se iam descapitalizando e desagregando. A reposição da mão de obra escrava já não se podia fazer, e muitos empresários de lavras, com o tempo, se foram reduzindo a simples faiscadores. Dessa forma, a decadência se processava através de uma lenta diminuição do capital aplicado no setor mineratório. A ilusão de que uma nova descoberta poderia vir a qualquer momento induzia o empresário a persistir na lenta destruição de seu ativo, antes que transferir algum saldo liquidável para outra atividade econômica. Todo o sistema se ia assim atrofiando, perdendo vitalidade, para finalmente desagregar-se numa economia de subsistência.
ECONOMIA DE TRANSIÇÃO PARA O TRABALHO ASSALARIADO
O MARANHÃO E A FALSA EUFORIA DA ÉPOCA COLONIAL
O ultimo quartel do século XVIII constitui uma nova etapa de dificuldades para a colônia. as exportações, que em torno de 1760 se haviam aproximado de cinco milhões de libras, pouco excedem em média, nos últimos vinte e cinco anos do século, os três milhões. O açúcar enfrenta novas dificuldades e o valor total de suas vendas desce a níveis tão baixos como não se havia conhecido nos dois séculos anteriores. As exportações de ouro, durante esse período, promediaram pouco mais de meio milhão de libras. Enquanto isso a população havia subido a algo mais de três milhões de habitantes. A renda per capita, ao terminar o século, provavelmente não seria superior a cinqüenta dólares de poder aquisitivo atual - admitida uma população livre de dois milhões - sendo esse provavelmente o nível de renda mais baixo que haja conhecido o Brasil em todo período colonial.
PASSIVO COLONIAL, CRISE FINANCEIRA E INSTABILIDADE POLÍTICA
A repercussão, no Brasil, dos acontecimentos políticos da Europa de fins do século XVIII e começo do seguinte, se por um lado acelerou a evolução política do pais, por outro contribuiu para prolongar a etapa de dificuldades econômicas que se iniciara com a decadência do ouro. Ocupado o reino português pelas tropas francesas,desapareceu o entreposto que representava Lisboa para o comercio da colônia, tornando-se indispensável o contato direto desta com os mercados ainda acessíveis. A “abertura dos portos” decretada ainda em 1808, resultava de uma imposição de acontecimentos. Vem em seguida os tratados de 1810 que transformaram a Inglaterra em potência privilegiada, com direitos de extraterritorialidade e tarifas preferenciais a níveis extremamente baixos, tratados esses que constituirão, em toda a primeira metade do século, uma seria limitação à autonomia do governo brasileiro no setor econômico. A separação definitiva de Portugal em 1822 e o acordo pelo qual a Inglaterra consegue consolidar sua posição em 1827 são outros dois marcos fundamentais nessa etapa de grandes acontecimentos políticos. Por ultimo cabe referir a eliminação do poder pessoal de Dom Pedro I, em 1831, e a conseqüente ascensão definitiva ao poder da classe colonial dominante formada pelos senhores da grande agricultura de exportação.
CONFRONTO COM O DESENVOLVIMENTO DOS EUA
As observações anteriores põem em evidencia as dificuldades criadas indiretamente, ou agravadas, pelas limitações impostas ao governo brasileiro nos acordos comerciais com a Inglaterra, firmados entre 1810 e 1827. Sem embargo, não parece ter fundamento a critica corrente que se faz a esses acordos, segundo a qual eles impossibilitaram a industrialização do Brasil nessa época, retirando das mãos do governo o instrumento do protecionismo. Observando atentamente o que ocorreu na época, comprova-se que a economia brasileira atravessou uma fase de fortes desequilíbrio, determinados principalmente pela baixa relativa dos preços das exportações e pela tentativa do governo, cujas responsabilidades se haviam avolumado com a independência política, de aumentar sua participação no dispêndio nacional. A exclusão do entreposto português, as maiores facilidades de transporte e comercialização - devidas ao estabelecimento de inúmeras firmas inglesas no pais - provocaram uma baixa relativa dos preços das importações e um rápido crescimento da procura de artigos importados. criou-se, assim, uma forte pressão sobre a balança de pagamentos, que teria de repercutir na taxa de cambio. Por outro lado, conforme indicamos, a forma como se financiou o déficit do governo central veio reforçar enormemente essa pressão sobre a taxa de cambio. Na ausência de uma corrente substancial de capitais estrangeiros ou de uma expansão adequada das exportações, a pressão teve de resolver-se em depreciação externa da moeda, o que provocou por seu lado um forte aumento relativo dos preços dos produtos importados. Se houvesse adotado, desde o começo, uma tarifa geral de 50% ad valorem, possivelmente o efeito protecionista não tivesse sido tão grande como resultou ser com a desvalorização da moeda.
DECLÍNIO A LONGO PRAZO DO NÍVEL DE RENDA: PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX
Condição básica para o desenvolvimento da economia brasileira, na primeira metade do século XIX, teria sido a expansão de suas exportações. Fomentar a industrialização nessa época, sem o apoio de uma capacidade para importar em exportação, seria tentar o impossível num pais totalmente carente de base técnica. As iniciativas de industria siderúrgica da época de Dom João VI fracassaram não exatamente por falta de proteção, mas simplesmente porque nenhuma industria cria mercado para si mesma, e o mercado para produtos siderúrgicos era praticamente inexistente .O pequeno consumo dos pais estavam declínio com a decadência da mineração, e espalhava-se pelas distintas províncias exigindo uma complexa organização comercial. A industrialização teria de começar por aqueles produtos que já dispunham de um mercado de certa magnitude, como era o caso dos tecidos, única manufatura cujo mercado se estendia inclusive a população escrava. Ocorre, porem, que a forte baixa dos preços dos tecidos ingleses, a que nos referimos, tornou difícil a própria subsistência do pouco artesanato têxtil que existia no pais. A baixa de preços foi de tal ordem que se tornava praticamente impossível defender qualquer industria local por meio de tarifas. Houvera sido necessário estabelecer cotas de importação. Cabe reconhecer, entretanto, que dificultar a entrada no pais de um produto cujo preço apresentavam tão grande declínio seria reduzir substancialmente a renda real da população numa etapa em que esta atravessava grandes dificuldades. Por ultimo e necessário não esquecer que a instalação de uma industria têxtil moderna em contraria serias dificuldades, pois os ingleses impediam por todos os meios a seu alcance a exportação de maquinas.
GESTAÇÃO DA ECONOMIA CAFEEIRA
Dificilmente um observador que estudasse a economia brasileira pela metade do século XIX chegaria a perceber a amplitude das transformações que nela se operariam no correr dos meio século que se iniciavam. Haviam três quartos de século em que a característica dominante fora a estagnação ou a decadência. Ao rápido crescimento demográfico de base migratória dos três primeiros quartéis do século XVIII sucedera um crescimento vegetativo relativamente lento no período subsequente . As fases de progresso, como a que conheceu o Maranhão, haviam sido de efeitos locais, sem chegar a afetar o panorama geral. A instalação de um rudimentar sistema administrativo, a criação de um banco nacional e umas poucas outras iniciativas governamentais constituíam - ao lado da preservação da unidade nacional - o resultado liquido desse longo período de dificuldades. As novas técnicas criadas pela revolução industrial escassamente haviam penetrado no pais, e quando o fizeram foi sob a forma de bens ou serviços de consumo sem afetar a estrutura do sistema produtivo. Por ultimo o problema nacional básico - a expansão da força de trabalho do pais - encontrava-se em verdadeiro impasse : estancara-se a tradicional fonte africana sem que se vislumbrasse uma solução alternativa.
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA
I - OFERTA INTERNA POTENCIAL
Pela metade do séc. XIX, a força de trabalho da economia brasileira estava basicamente consthtuída por uma massa de escravos que talvez não alcançasse dois milhões de indivíduos. Qualquer empreendimento que se pretendesse realizar teria de chocar-se com a inelasticidade da oferta de trabalho. O primeiro senso demográfico, realizado em 1872, indica que nesse ano existiam no Brasil aproximadamente 1,5 milhão de escravos. Tendo em conta que o numero de escravos, no começo do século, era de algo mais de 1 milhão, e que nos primeiros 50 anos do século XIX se importou muito provavelmente mais de ½ milhão deduz-se que a taxa de mortalidade era superior à de natalidade. É interessante observar a evolução diversa que teve o estoque de escravo dos dois principais países escravistas do continente: os EUA e o Brasil. Ambos os países começaram o século XIX com um estoque de aproximadamente 1 milhão de escravos. As importações brasileiras, no correr do século, foram cerca de 3 vezes maiores do que as norte-americanas. Sem embargo, a iniciar-se a Guerra de Secessão, os EUA tinham uma força de trabalho escrava de cerca de 4 milhões e o Brasil na mesma época algo como 1,5 milhão. A explicação desse fenômeno está na elevada taxa de crescimento vegetativo da população escrava norte-americana, grande parte da qual vivia em propriedades relativamente pequenas, nos Estados do chamado Old South. As condições de alimentação e de trabalho nesses Estados deveriam ser relativamente favoráveis, tanto mais que, com a elevação permanente dos preços dos escravos seus proprietários passaram a derivar uma renda do incremento natural dos mesmos.
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA
II - A IMIGRAÇÃO EUROPÉIA
Como solução alternativa do problema da mão-de-obra sugeria-se fomentar uma corrente de imigração européia. O espetáculo do enorme fluxo de população que espontaneamente se dirigia da Europa para os EUA parecia indicar a direção que cabia tomar. E, com efeito, já antes da independência começara, por iniciativa governamental, a instalação de “colônias” de imigrantes europeus. Entretanto, essas colônias que, as palavras de Mauá, “pesavam com a mão de ferro” sobre as finanças do país, vegetavam raquíticas sem contribuir em coisa alguma para alterar os termos do problema da inadequada oferta de mão-de-obra. E a questão fundamental era aumentar a oferta de força de trabalho disponível para a grande lavoura, denominação brasileira da época correspondente à plantation dos ingleses. Ora, não existia nenhum precedente, no continente, de imigração de origem européia de mão de obra livre para trabalhar em grandes plantações. As dificuldades que encontraram os ingleses para solucionar o problema da falta de braços, em suas plantações da região do Caribe são bem conhecidas. É sabido, por exemplo, que grande parte dos africanos aprendidos nos navios que traficavam para o Brasil eram reexportados para as Antilhas como trabalhadores “livres”.
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA
III - TRANSUMÂNCIA AMAZÔNICA
Além da grande corrente migratória de origem européia para a região cafeeira, o Brasil conheceu no ultimo quartel do século XIX e primeiro decênio deste um outro grande movimento de população: da região nordestina para a amazônica.
A economia amazônica entrará em decadência desde fins do século XVIII. Desorganizado o engenhoso sistema de exploração da mão-de-obra indígena estruturado pelos jesuítas, a imensa região reverteu a um estado de letargia econômica. Em pequena zona do Pará se desenvolveu uma agricultura de exportação que seguiu de perto a evolução da maranhense, com a qual estivera integrada comercialmente através dos negócios da companhia de comercio criada na época de Pombal. O algodão e o arroz aí tiveram sua etapa de prosperidade, durante as guerras napoleonicas, sem contudo jamais alcançar cifras de significação para conjunto do país. A base da economia da bacia amazônica eram sempre as mesmas especiarias extraídas da floresta que haviam tornado possível a penetração jesuítica na extensa região. Desses produtos extrativos o cacau continuava a ser mais importante. A forma como era produzido, entretanto, não permitia que o produto alcançasse maior significação econômica. A exportação anual média, nos anos 40 do século passado, foi de 2.900 toneladas, no decênio seguinte alcança 3.500 e nos anos 60 baixa para 3.300. O aproveitamento dos demais produtos da floresta deparava-se com a mesma dificuldade: a quase inexistência de população e a dificuldade de organizar a produção com base no escasso elemento indígena local.
O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA
IV - ELIMINAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO
Já observamos que, na segunda metade do século XIX, não obstante a permanente expansão do setor de subsistência, a inadequada oferta de mão-de-obra constitui o problema central da economia brasileira. Vimos também como este problema foi resolvido nas duas regiões em rápida expansão econômica: o planalto paulista e a bacia amazônica. Sem embargo, não seria avisado deixar de lado um outro aspecto desse problema, que aos contemporâneos pareceu serem realidade de todos os mais fundamental: a chamada “questão do trabalho servil”.
A abolição da escravatura, à semelhança de uma “reforma agraria”, não constitui per se nem destruição nem criação de riqueza. Constitui simplesmente numa redistribuição da propriedade de uma coletividade. A aparente complexidade desse problema deriva de que a propriedade da força de trabalho, ao passar do senhor de escravos para o indivíduo, deixa de ser um ativo que figura numa contabilidade para constituir-se em simples virtualidade. Do ponto de vista econômico, o aspecto fundamental desse problema radica no tipo de repercussões que a redistribuição da propriedade terá na organização da produção, no aproveitamento dos fatores disponíveis, na distribuição da renda e na utilização final desse renda.
NÍVEL DE RENDA E RITMO DE CRESCIMENTO NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX
Considerada em conjunto, a economia brasileira parece haver alcançada uma taxa relativamente alta de crescimento na segunda metade do século XIX. Sendo o comercio exterior o setor dinâmico do sistema, é no seu comportamento que está a chave do processo de crescimento nessa etapa. Comparando os valores médios correspondentes aos anos 90 com os relativos ao decênio dos 40, depreende-se que o quantum das exportações brasileiras aumentou 214%. Esse aumento do volume físico da exportação foi acompanhado de uma elevação dos preços médios dos produtos exportados de aproximadamente 46%. Por outro lado, observa-se uma redução de cerca de 8% no índice de preços dos produtos importados, sendo, portanto, de 58% a melhora na relação de preços dk intercâmbio externo. Um aumento de 214% do quantum das exportações acompanhado de uma melhora de 58% na relação de preços do intercâmbio, significa um incremento de 396% na renda real gerada pelo setor exportador.
O FLUXO DE RENDA NA ECONOMIA DE TRABALHO ASSALARIADO
O fato de maior relevância ocorrido na economia brasileira no ultimo quartel do século XIX foi, sem lugar à duvida, o aumento da importância relativa do setor assalariado. A expansão anterior se fizera, seja através do crescimento do setor escravista, seja pela multiplicação dos núcleos de subsistência. Em um e outro caso o fluxo de renda, real ou virtual, circunscrevia-se a unidades relativamente pequenas, cujos contatos externos assumiam caráter internacional no primeiro caso e eram de limitadíssimo alcance no segundo. A nova expansão tem lugar no setor que se baseia no trabalho assalariado. O mecanismo desse nova sistema, cuja a importância relativa cresce rapidamente, apresenta diferenças profundas com respeito à antiga economia exclusivamente de subsistência. Essa ultima, como vimos , caracteriza-se por um elevado grau de estabilidade, mantendo-se imutável sua estrutura tanto nas etapas de crescimento como nas de decadência. A dinâmica do novo sistema é distinta. Convém analiza-la detidamente, se pretendemos compreender as transformações estruturais que levariam, na primeira metade do século atual, à formação no Brasil de uma economia de mercado interno.
A TENDÊNCIA AO DESEQUILÍBRIO EXTERNO
O funcionamento do novo sistema econômico, baseado no trabalho assalariado, apresentava uma serie de problemas que, na antiga economia exportadora-escravista, apenas se haviam esboçado. Um desses problemas - alias comum a outras economias de características similares - consistiria na impossibilidade de adaptar-se às regras do padrão-ouro, base de toda a economia internacional no período que aqui nos ocupa. O principio fundamental do sistema do padrão-ouro radicava em que cada país deveria dispor de uma reserva metálica - ou de divisas conversíveis, na variante mais corrente, - suficientemente grande para cobrir os deficits ocasionais de sua balança de pagamentos. É fácil compreender que uma reserva metálica - estivesse ela amoedada ou não - constituía uma inversão improdutiva que era na verdade a contribuição de cada país para o financiamento a curto prazo das trocas internacionais. A dificuldade estava em que cada país deveria contribuir para este financiamento em função de sua participação no comercio internacional e da amplitude das flutuações de sua balança de pagamentos.
A DEFESA DO NÍVEL DE EMPREGO E A CONCENTRAÇÃO DA RENDA
Vimos que a existência de uma reserva de mão-de-obra dentro do país , reforçada pelo fluxo imigratório , permitiu que a economia cafeeira se expandisse durante um longo período sem que os salários reais apresentassem tendência para a alta . A elevação do salário médio no país refletia a aumento de produtividade que se ia alcançando através da simples transferência de mão-de-obra da economia estacionária de subsistência para a economia exportadora . As melhoras de produtividade obtidas dentro da própria economia exportadora , essas o empresário podia retê-las , pois nenhuma pressão se formava dentro do sistema que o obrigasse a transferi-las total ou parcialmente para os assalariados . Também assinalamos que esses aumentos de produtividade do setor exportador eram de natureza puramente econômica, e refletiam modificações nos preços do café . Para que houvesse aumento na produtividade física , seja da mão-de-obra ,seja da terra , era necessário que o empresário aperfeiçoasse os processos de cultivo ou intensificasse a capitalização , isto é , aplicasse maior quantidade de capital por unidade de terra ou de mão-de-obra .
A DESCENTRALIZAÇÃO REPUBLICANA E A FORMAÇÃO DE NOVOS GRUPOS DE PRESSÃO
Observando mais detidamente o processo de depreciação cambial , depreende-se facilmente que as transferências de renda assumiam várias formas . Por outro lado havia transferências entre o setor de subsistência e o exportador , em benefício deste último , pois os preços que pagava o setor de subsistência pelo que imputava cresciam relativamente aos preços que pagava o setor exportador pelos produtos de subsistência . Por outro lado havia importantes transferências dentro do próprio setor exportador , uma vez que os assalariados rurais empregados neste último, se bem que produzissem boa parte de seus próprios alimentos , recebiam em moeda a principal parte de seu salário e consumiam uma série de artigos de uso corrente que eram importados ou semimanufaturados no país com matéria-prima importada . Os núcleos mais prejudicados eram , entretanto , as populações urbanas . Vivendo de ordenados e salários e consumindo grandes quantidades de artigos importados , inclusive alimentos , o salário real dessas populações era particularmente afetado pelas modificações da taxa cambial .
ECONOMIA DE TRANSIÇÃO PARA UM SISTEMA INDUSTRIAL
A CRISE DA ECONOMIA CAFEEIRA
No último decênio do século XIX criou-se uma situação excepcionalmente favorável à expansão da cultuara do café no Brasil. Por outro lado a oferta não-brasileira atravessou uma etapa de dificuldades , sendo a produção asiática grandemente prejudicada por enfermidades , que praticamente destruíram os cafezais da ilha do Ceilão. Por outro lado , com a descentralização republicana o problema da imigração passou às mãos dos Estados , sendo abordado de forma muito mais ampla pelo governo do Estado de São Paulo, vale dizer, pela própria classe dos fazendeiros de café. Finalmente , o efeito estimulante da grande inflação de crédito desse período beneficiou duplamente a classe de cafeicultores : proporcionou o crédito necessário para financiar a abertura de novas terras e elevou os preços dos produtos em moedas nacional com a depreciação cambial. A produção brasileira , que havia aumentado de 3,7 milhões de sacas (de 60 Kg) em 1880-81 para 5,5 em 1890-91, alcançaria em 1901-02 16,3 milhões .
OS MECANISMOS DE DEFESA E A CRISE DE 1929
Ao deflagrar-se a crise mundial a situação da economia cafeeira se apresentava como segue . A produção , que se encontrava a altos níveis , teria de seguir crescendo , pois os produtores haviam continuado a expandir as plantações até aquele momento . Com efeito , a produção máxima seria alcançada em 1933 , ou , seja , no ponto mais baixo da depressão , como reflexo das grandes plantações de 1927-28 . Por outro lado , era totalmente impossível obter crédito no exterior para financiar a retenção de novos estoques , pois o mercado internacional de capitais se encontrava em profunda depressão e o crédito do governo desaparecera com a evaporação das reservas .
A grande acumulação de estoques de 1929, a rápida liquidação das reservas metálicas brasileiras e as precárias perspectivas de financiamento das grandes safras previstas para o futuro , aceleraram a queda do preço internacional do café iniciada conjuntamente com a de todos os produtos primários em fins de 1929 . Essa queda assumiu proporções catastróficas, pois, de setembro de 1929 a esse mesmo mês de 1931, a baixa foi de 22,5 centavos de dólar por libra para 8 centavos .
DESLOCAMENTO DO CENTRO DINÂMICO
Vimos como a política de defesa do setor cafeeiro contribuiu para manter a procura efetiva e o nível de emprego nos outros setores da economia . Vejamos agora o que significou isso como pressão sobre a estrutura do sistema econômico . O financiamento dos estoques de café com recursos externos evitava , conforme indicamos , o desequilíbrio na balança de pagamentos . Com efeito, a expansão das importações induzida pela inversão em estoques de café dificilmente poderia exceder o valor desses estoques, os quais tinham uma cobertura cambial de 100 por cento .
Suponhamos que cada mil-réis invertido em estoques de café se multiplicasse, de acordo com o mecanismo já exposto, por 3, e criasse assim uma renda final de 3 mil-réis .Seria necessário que as importações induzidas pelo aumento da renda global ultrapassassem a terça parte desse aumento para que se criasse um desequilíbrio externo . Por uma série de razões fáceis de perceber, esse tipo de desequilíbrio não se concretiza sem que interfiram outros fatores, pois a propagação da renda dentro da economia reflete em grande parte as possibilidades que tem essa economia de satisfazer ela mesma as necessidades decorrentes do aumento da procura . No caso limite de que essas possibilidades fossem nulas, isto é, de que todo o aumento da procura tivesse de ser atendido com importações, o multiplicador seria 1, crescendo a renda global apenas no montante em que tivessem crescido as exportações. Neste caso não haveria nenhuma possibilidade de desequilíbrio, pois as importações induzidas seriam exatamente iguais ao aumento das exportações .
O DESEQUILÍBRIO EXTERNO E SUA PROPAGAÇÃO
No capítulo anterior se fez referência ao fato de que a baixa do coeficiente de importação havia sido obtida, nos anos trinta, à custa de um reajustamento profundo dos preços relativos . A alta da taxa cambial reduziu praticamente à metade o poder aquisitivo externo da moeda brasileira e, se bem houve flutuações durante o decênio nesse poder aquisitivo , a situação em 1938-1939 era praticamente idêntica à do ponto mais agudo da crise . Esta situação permitira um amplo barateamento relativo nas mercadorias de produção interna , e foi sobre a base desse novo nível de preços relativos que se processou o desenvolvimento industrial dos anos trinta .
Observamos também que a formação de um só mercado para produtores internos e importadores - conseqüência natural do desenvolvimento do setor ligado ao mercado interno - transformou a taxa cambial em um instrumento de enorme importância para todo o sistema econômico . Qualquer modificação , num sentido ou noutro, dessa taxa, acarretaria uma alteração no nível dos preços relativos dos produtos importados e produzidos no país , os quais concorriam em um pequeno mercado. Era perfeitamente óbvio que a eficiência do sistema econômico teria de prejudicar-se com os sobressaltos provocados pelas flutuações cambiais .
REAJUSTAMENTO DO COEFICIENTE DE IMPORTAÇÕES
Ao liberarem-se as importações no após-guerra e ao regularizar-se a oferta externa, o coeficiente de importações subiu bruscamente, alcançando em 1947, 15 por cento. Aos observadores do momento , esse crescimento relativo das importações pareceu refletir apenas a compressão da procura nos anos anteriores. Tratava-se, entretanto , de um fenômeno muito mais profundo. Ao estabelecer-se o nível de preços relativos de 1929, a população novamente pretendeu voltar ao nível relativo de gastos em produtos importados, que havia prevalecido naquela época. Ora, uma tal situação era incompatível com a capacidade para importar. Essa capacidade em 1947 era praticamente idêntica à de 1929, enquanto que a renda nacional havia aumentado em cerca de 50 por cento. Era, portanto, natural de que os desejos de importação manifestados pela população (consumidores e inversionistas) tendessem a superar em escala considerável as reais possibilidades de pagamento no exterior . Para corrigir esse desequilíbrio, as soluções que se apresentavam eram estas : desvalorizar substancialmente a moeda , ou introduzir uma série de controles seletivos das importações. A decisão de adotar a segunda dessas soluções teve profunda significação para o futuro imediato, se bem que foi tomada com aparente desconhecimento de seu verdadeiro alcance. Trata-se de uma relação que teve importância básica na intensificação do processo de industrialização do país .
OS DOIS LADOS DO PROCESSO INFLACIONÁRIO
As observações feitas anteriormente põem em evidência que a aceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira no após-guerra está fundamentalmente ligada à política cambial e ao tipo de controle seletivo que se impôs às importações. Mantendo-se baixos os custos dos equipamentos importados enquanto se elevaram os preços internos das manufaturadas produzidas no país, é evidente que aumentava a eficácia marginal das inversões nas indústrias. Não se pode ignorar, entretanto, que um dos fatores que atuam nesse processo era a alta dos preços nas manufaturadas de produção interna . É este um ponto de grande interesse, que vale a pena analisar . Chamamos a atenção para o fato de que os capitais adicionais de que dispuseram os industriais para intensificar suas inversões não foram o fruto de uma simples redistribuição de renda e, portanto, não resultaram do processo inflacionário, isto é, da elevação dos preços. Esses capitais foram criados por assim dizer fora da economia , através do aumento geral de produtividade econômica que advinha da baixa relativa dos preços de importação. Atribuir à inflação um aumento de capitalização da magnitude do que teve lugar no Brasil entre 1948 e 1952 é uma simplificação grosseira do problema que em nada contribui para esclarecê-lo. A experiência de outros países latino-americanos , onde se tem lançado mão amplamente da inflação, demonstra que esse processo não é capaz, por si só, de aumentar a capitalização de forma persistente e efetiva. Contudo seria errôneo querer ignorar o papel que, no após-guerra, desempenhou no Brasil a elevação de preços .
PERSPECTIVA DOS PRÓXIMOS DECÊNIOS
Assim como a segunda metade do século XIX se caracteriza pela transformação de uma economia escravista de grandes plantações em um sistema econômico baseado no trabalho assalariado, a primeira metade do século XX está marcada pela progressiva emergência de um sistema cujo principal centro dinâmico é o mercado interno.
O desenvolvimento econômico não acarreta necessariamente redução da participação do comércio exterior no produto nacional. Nas primeiras etapas do desenvolvimento das regiões de escassa população e abundantes recursos naturais - conforme observamos ao comparar as experiências do Brasil e dos EUA na primeira metade do século XIX - uma rápida expansão do setor externo possibilita uma alta capitalização e abre o caminho à absorção do progresso técnico . Sem embargo, na medida em que uma economia se desenvolve, o papel que nela desempenha o comércio exterior se vai modificando. Na primeira etapa a indução externa constitui o fator dinâmico principal na determinação do nível da procura efetiva. Ao debilitar-se o estímulo externo, todo o sistema se contrai em um processo de atrofiamento. As reações ocorridas na etapa de contração não são suficientes, entretanto, para engendrar transformações estruturais cumulativas em sentido inverso. Se se prolonga a contração da procura externa, tem início um processo de desagregação e a conseqüente reversão a formas de economia de subsistência. Esse tipo de interdependência entre o estímulo externo e o desenvolvimento interno existiu plenamente na economia brasileira até a Primeira Guerra Mundial, e de forma atenuada até fins do terceiro decênio deste século .
Bibliografia
Formação Econômica do Brasil
Érico Veríssimo
Érico Veríssimo é o representante gaúcho do regionalismo modernista. Parte de seus romances - desde Clarissa até Saga, passando por Música ao longe, Caminhos cruzados e Olhai os lírios do campo - retrata a vida urbana da provinciana Porto Alegre, a crise da sociedade moderna, cuja nota marcante é a falta de solidariedade, o cotidiano caótico. Seus personagens, com destaque para Clarissa e Vasco, reaparecem em várias situações c em vários momentos, o que levou o crítico Wilson Martins a reconhecer um ciclo de Clarissa. Como seu eixo se repete ao longo de vários romances, o autor tem sido acusado de ser redundante, o que vai evidenciar seu maior defeito: a superficialidade, tanto na abordagem psicológica como na social. Entretanto, esses primeiros romances são responsáveis pela popularidade alcançada pelo autor, igualando-o, em termos de aceitação pública, a Jorge Amado.
Entre suas obras inclui-se ainda a trilogia épica O tempo e o vento, que remonta ao passado histórico do Rio Grande do Sul dos séculos XVIII e XIX e aborda as disputas de terra e poder pelas famílias Amaral, Terra e Cambará. Desse painel saltam alguns personagens heróicos, como Ana Terra e o Capitão Rodrigo. O tempo e o vento aparece dividido em O continente, que cobre o período histórico do século XVIII até 1895, com as lutas do início da República, 0 retrato, que enfoca as primeiras décadas do século XX, e O arquipélago, narrativa mais contemporânea, que chega até o governo Vargas.
À última fase da produção de Veríssimo, mais dedicada aos temas da atualidade, pertencem os romances O senhor embaixador, O prisioneiro e Incidente em Antares
A revolução de Gorbachev
Roberto Pompeu de Toledo, de Moscou.
"O que está em jogo é a habilidade da União Soviética em entrar no novo milênio de maneira digna de uma grande e próspera potência. Sem o trabalho duro e a completa dedicação de cada um não será nem mesmo possível preservar o que já foi conseguido".
Mikhail Gorbachev.
"Duas Romas caíram. Resta uma terceira, invencível, e não haverá outra".
Monge Phlotkee, escrevendo ao czar Vassily III, no século XVI, a propósito da queda de Bizâncio e do papel de Moscou.
Segundo uma anedota que circulou na União Soviética nos tempos de Leonid Brejnev, líder do país entre 1964 e 1982, certa vez reuniram-se num mesmo trem os três dirigentes que se sucederam ao pioneiro Vladimir Lênin no comando da nação - Josef Stálin, Nikita Kruchev e o próprio Brejnev. A certa altura o trem parou, porque faltavam trilhos à sua frente. Stálin, o primeiro a dar as ordens, mandou fuzilar metade dos funcionários da ferrovia e condenou a outra metade, enquanto recrutava os camponeses da região para o trabalho forçado de construir novos trilhos. Mais adiante o trem parou de novo, pelo mesmo motivo, e desta vez coube a Kruchev assumir a situação. Sua estratégia foi reabilitar os funcionários postos em desgraça por Stálin e ordenar-lhes que retirassem os trilhos atrás do trem e os colocassem na frente. Enfim, na parada seguinte, foi a vez de Brejnev, que ordenou aos passageiros: "Fechem todas as cortinas e balancem os corpos para trás e para frente". O trem continuava parado, mas pelo menos, dentro dele, tinha-se a impressão de movimento. A mesma anedota sofreu um adendo depois da espetacular ascensão de Mikhail Sergeievitch Gorbachev, de 56 anos, o homem que, com uma mancha na testa e cheio de autoconfiança, assombrou o mundo com o ímpeto de furacão com que assumiu o poder, em março de 1985. Quando chegou a vez de Gorbachev haver-se com o problema do trem, primeiro ele entregou-se a uma frenética doutrinação dos passageiros. Depois convidou-os a descer e a gritar alto, em coro: "Faltam trilhos! Faltam trilhos!".
No fim deste 1987 comemoram-se os setenta anos da Grande Revolução de Outubro, como dizem os soviéticos - aquele extraordinário momento de 1917 em que Lênin e um punhado de seguidores, como que pegando a História no contrapé, forçaram passagem entre a falência do reinado dos czares e os escombros da I Guerra Mundial para invadir o século XX com um regime de tipo único no planeta. Eles queriam tudo - o perfeito regime da bonança, da justiça e da igualdade. De Lênin a Gorbachev alguma água passou sob as pontes do Rio Neva, na antiga capital, Petrogrado, rebatizada de Leningrado, e do Rio Moskva, em Moscou, para onde foi retransferida a sede do governo. Hoje, os setenta anos da Revolução coincidem com um fascinante momento de questionamento - o qual, entre muitos outros sinais, é revelado pela anedota do trem. Enquanto sob a liderança morna, quase preguiçosa, de Brejnev, os problemas eram jogados debaixo do tapete, com Gorbachev os soviéticos são convidados a encará-los. Brejnev era o líder para quem tudo corria da melhor maneira, no melhor dos mundos. Gorbachev esforça-se por denunciar o que está errado. Se há um traço principal em sua liderança, até agora, é a proclamação incessante de que há problemas e de que esses problemas poderão se transformar em perigos a curto prazo. "Vivemos uma situação de pré-crise", disse ele no fim do mês passado, durante uma reunião do Comitê Central do Partido Comunista.
Na verdade, Gorbachev está colocando dentro da URSS aquelas perguntas duras, alimentadas na realidade e terrivelmente factuais, que, até agora, só eram feitas fora do país - e pelos mais incômodos críticos do regime soviético. Não tem sido fácil, para o mundo exterior, entender esse Gorbachev irrequieto, impaciente em seu desejo de ver as coisas se moverem e tomado de um vigor duplicado pelo contraste com a liderança velha e doente a que veio suceder. Exatamente o que ele quer e até onde está disposto a ir - eis uma questão que intriga e apaixona nesse líder de 56 anos de idade que fez quase toda sua carreira em sua província natal, Stavropol, ao sul de Moscou, e irrompeu de forma fulminante das sombras da política doméstica para a cena mundial. A rigor, a liderança que se esconde atrás do Kremlin nunca deixou de intrigar o Ocidente, mas Gorbachev chegou com características especiais, entre as quais não é a menor o magnetismo pessoal e o charme burguês de se fazer acompanhar da mulher, Raisa, nas viagens e outros compromissos.
Com todo seu capital de campeão de audiência no Ocidente, Gorbachev não é invulnerável às ironias em seu próprio país. Mesmo a anedota do trem tem uma segunda intenção, menos lisonjeira - a de caracterizá-lo como líder que fala muito mas não faz, que grita diante dos problemas mas não os soluciona. Não há dúvida de que, nestes dois anos, o que Gorbachev construiu de mais vistoso está no campo dos gestos e das palavras. O melhor dele está embalado na palavra glasnost - transparência, em russo -, movimento pelo qual a imprensa ganhou uma certa descompressão, obras artísticas antes proibidas foram divulgadas e os próprios líderes passaram a abordar problemas antes inabordáveis. Quanto à outra palavrinha mágica do vocabulário-base do novo líder - peristroika, ou reestruturação, rótulo que resume seu desejo de revolucionar as relações econômicas do país -, por enquanto ela continua basicamente uma promessa para o futuro.
Daí, porém, a caracterizar Gorbachev como um líder fátuo, que fala mas não faz, vão uma distância e uma injustiça - em primeiro lugar, porque a glasnost tem um valor em si. "Breve, glasnost será uma palavra russa tão conhecida no mundo quanto a palavra sputnik", extasia-se o poeta Yevgeny Yevtuchenko, que há 25 anos vem conseguindo equilibrar-se entre o que quer colocar em seus versos e o que os censores permitem que coloque. Outro escritor, Ieremei Parnov, autor de romances históricos de vastas tiragens, resumiu a glasnost para VEJA com uma fórmula que toca fundo a essência do gorbachevismo. "A conquista mais importante foi que agora temos a tendência de ver as coisas como são, não como queremos que sejam", disse Parnov.
Começa-se a compreender Gorbachev quando se imagina um médico que já precisou seu diagnóstico, mas que, para acertar na cura, ainda consulta seus livros de receitas. O diagnóstico é de que a URSS teve seu crescimento perigosamente estagnado durante a última década do reinado de Brejnev, de que o moral do povo se esgarçou e de que entre ela e os países adiantados do Ocidente abriu-se um descompasso, cada vez mais amplo, que ameaça desbancar o país de sua condição de potência mundial. Está-se a anos de distância do ufanismo brejneviano, época em que oficialmente se considerava a URSS na fase do "socialismo avançado" e a um passo do "comunismo". Na linguagem marxista, isso significaria que o país já teria ultrapassado a fase mais dura de "construção do socialismo" e se colocaria na véspera da situação de paraíso social, sem conflitos nem entraves, a que a teoria chama de comunismo.
Em teoria, quando se considera a União Soviética, está-se diante da segunda potência industrial do planeta. Para impor respeito o país assenta-se num arsenal de 10.000 cabeças nucleares. E para mostrar de que fantásticas proezas é capaz tem astronautas que voam pelo espaço com mais segurança e desembaraço do que os americanos, vitimados na carne e no moral com o desastre da nave Challenger. Visita-se Moscou ou Leningrado, porém, e sente-se nas coisas mais simples a disparidade existente entre o status de superpotência da URSS e as realidades de seu dia-a-dia.
Tome-se um carro, para começar, e se constatará que os buracos das ruas, assim como as condições do veículo, em geral já muito rodado e com um desenho de segunda classe, são de qualidade, por assim dizer, latino-americana. Já ao descer do automóvel e necessitar de qualquer coisa, o visitante enfrentará problemas maiores - os serviços, na URSS, podem descer ao padrão africano. Num restaurante, depois de uma espera colossal, jamais se deve manter a expectativa de que o garçom perguntará se o freguês prefere seu bife bem ou malpassado. Não se chegou a esse grau de atenção. Tampouco se pode confiar que existam todos os pratos do cardápio. Nem sempre a relação coincide com as imprevisíveis disponibilidades da cozinha.
Os russos costumam sair às ruas armados sempre de uma sacola na mão e dinheiro no bolso. Estão sempre prevenidos porque, quando menos se espera, se pode deparar com um armazém que esteja vendendo tomates, por exemplo - e é bom garantir a compra na hora porque, assim como o tomate esteve sumido da praça por semanas a fio, depois dessa breve aparição sumirá outra vez. Russo também tem o costume de muitas vezes entrar nas lendárias filas que se formam no país sem saber o que se está vendendo. Primeiro garante-se o lugar para depois se ver o que há para comprar.
À distribuição lotérica dos artigos de consumo soma-se outro problema sua qualidade. "Precisamos acabar com a fixação nos grandes números", afirma o escritor e jornalista Vitaly Korotich, editor da revista Ogoniok, a mais em moda hoje em Moscou. "Sempre produzimos o dobro, em metais, do que os EUA, mas nossos metais são piores. Também produzimos mais sapatos do que qualquer país do mundo, mas na Hungria encontrei sapatos brasileiros e comprei-os. São melhores."
O dinamismo de Gorbachev contrasta com a natureza rústica e inepta da URSS do dia-a-dia, mas é preciso dar ao líder vários descontos. Precisa-se ter em conta, por exemplo, a natureza das sucessões em Moscou, caracterizadas por um ritmo que faz com que dois anos no poder - metade de um mandato ou quase isso numa democracia ocidental - não sejam nada na URSS. "Sucessões de liderança são marcos na história soviética", escreve o professor americano Seweryn Bialer, um especialista em URSS. "Nenhum prazo determinado existe para o ocupante do cargo máximo. Os termos em que exercerá o poder também não são claros, nem seus direitos e obrigações."
Em princípio, um líder da URSS liga-se ao poder até que a vida os separe. Nesse sentido, as sucessões no país lembram a sucessão de um império antigo. Da mesma forma, as marcas deixadas pelos líderes são como as marcas dos antigos imperadores. Um soviético tem na ponta da língua a época em que foram construídos os edifícios de sua cidade. "Este é da era de Stálin", dizem. "Aquele outro foi erguido sob Kruchev." Imagine-se se um brasileiro saísse por sua cidade dizendo que tal edifício revela a marca de Castello Branco ou que aquele outro foi erguido sob José Sarney. Em Moscou se está como em Roma, onde se sabia perfeitamente que tal coluna é de Augusto e tal arco de Adriano.
A comparação de Moscou com Roma é do tempo dos czares mais remotos. Para eles sua capital era a "Terceira Roma", depois da própria capital do Império Romano e de Bizâncio, dotada da mesma missão civilizatória. Não é por acaso que a comparação possa voltar à mente, hoje: Moscou continua comandando um império. Além das quinze repúblicas que formam a "União" a que se refere o nome oficial do país, incluem-se ainda nele vinte "repúblicas autônomas", tudo isso englobando nas imensidões de seu território mais de 100 nacionalidades e outros tantos idiomas. Um asiático da República do Turcomenistão é para um russo tão estrangeiro quanto para um francês é um boliviano. Os tipos morenos da República da Geórgia, no sul do país, habituados a um clima tão ameno quanto o da Itália, nada têm a ver com os russos da Sibéria, que se cobrem de peles e se movem em trenós.
O significado da palavra "soviético" - conceito em que os russos propriamente ditos se incluem como apenas a metade da população da URSS, de 285 milhões de habitantes - toma forma e conteúdo quando se passeia pela Praça Vermelha, lugar de peregrinação para os visitantes que chegam de todos os cantos do império. Olha-se para um canto e depara-se com um grupo de armênios. Olha-se para outro e flagra-se uma família do Usbequistão que se oferece em versão três gerações - pais, crianças e avós. O pai, Bahredi, em roupas mais modernas, explica que já esteve outras vezes em Moscou, mas é a primeira em que está trazendo os velhos, enrolados em trajes típicos. Ele acrescenta com orgulho que o velho é veterano da "Grande Guerra Patriótica", como os soviéticos chamam a II Guerra Mundial. A velha, por sua vez, ganhou o título de "Mãe Heroína", por dar à luz onze filhos.
É um paradoxo que a URSS, pioneira do socialismo e do "mundo novo", seja ao mesmo tempo o último dos impérios à moda antiga, onde se agrupam nacionalidades diversas, distintos idiomas e terras distantes - como o Império Austro-Húngaro ou o Império Otomano. Isso só complica o impulso reformador de Gorbachev. Na verdade, por enquanto, o novo senhor do Kremlin apenas afia suas armas - e uma das que vêm sendo mais bem afiadas é a imagem de marca do país. Contra a idéia de uma União Soviética cinzenta, fechada e inflexível, Gorbachev ataca com inovações como a conferência de imprensa que agora é concedida aos jornalistas no auditório de um prédio da Avenida Zubovski pertencente ao Ministério das Relações Exteriores. Nesse auditório, às terças e quintas-feiras, um jornalista com experiência de seis anos como correspondente em Nova York, Guenadi Guerassimov, transformou-se num dos símbolos mais visíveis da glasnost ao aceitar o papel de porta-voz do Ministério do Exterior - e, por extensão, do governo em geral, já que não há em outros ministérios figura equivalente. Nada mais banal, em outras partes, do que um porta-voz para dar conta dos atos do governo. Na URSS, o hábito, instituído há um ano, é um marco dos novos tempos.
Aos 56 anos, como Gorbachev, Guerassimov exibe ternos de fino corte e um humor frio, capaz de oferecer aos jornalistas comentários como o que fez a propósito do escândalo dos marines americanos acusados de se embriagar e promover orgias na Embaixada dos Estados Unidos em Moscou. "Sinto que, depois do grande triunfo de Granada, os marines tenham conhecido nesse episódio sua primeira derrota", disse. O humor e os ternos - mais o inglês impecável - sugerem que têm fundamento as análises de que há no fenômeno Gorbachev um substrato de geração, ou seja: a ascensão ao comando de uma geração mais educada, segura de si e sofisticada. Por que essa geração demorou tanto a chegar ao poder? "Por polidez", respondeu Guerassimov a VEJA. "Nós não poderíamos chegar aos velhos e dizer: 'Olha, vocês já ficaram muito tempo'. Tínhamos que obedecer ao processo democrático, o nosso próprio processo democrático."
No fundo Guerassimov é como Raisa Maximova, a mulher de Gorbachev - um enfeite. Mas os enfeites têm seu peso no jogo de gestos e simbolismos que constitui a política. O que Gorbachev mostrou sobretudo, nestes dois anos, é que é um grande político, hábil na alternância das ousadias com o cálculo de até onde é possível avançar. "Ele não é um voluntarista como Kruchev, um impulsivo com boas intenções mas fraco nas bases", analisa Guerassimov. "Também não é outro Pedro, o Grande, que quer virar o país do avesso. Ele tem caminhado por consenso, única forma de se fazer as coisas politicamente."
Fonte: Revista Veja
Publicado na Revista VEJA em 29 de julho de 1987
http://w3.ufsm.br/mundogeo/geopolitica/more/glasnost.htm
Augusto Comte
Augusto Comte, cujo nome completo era Isidore-Auguste-Marie-François-Xavier Comte, nasceu em 19 de janeiro de 1798, em Montpellier, e faleceu em 5 de setembro de 1857, em Paris. Filósofo e auto-proclamado líder religioso, deu à ciência da Sociologia seu nome e estabeleceu a nova disciplina em uma forma sistemática.
Fatos importantes:
Luiz XVIII, Rei de França
Segundo julgamento de Augusto Comte, foi no reinado de Luiz XVIII, irmão de Luiz XVI, que a França gozou o mais honesto, o mais nobre e o mais liberal de todos os regimens. Foi rei de França de 1814 a 1824.
Auguste Comte e Saint Simon
Em 1817, Augusto Comte foi apresentado por um dos seus camaradas ao Conte Saint Simon, de quem foi secretário durante sete anos e que afinal, desencantado com sua orientação filosófica, com ele rompeu suas relações em 1824. Augusto Comte durante toda a vida lastimou esse tempo perdido com um homem que não possuia a cultura científico-filosófica indispensável ao papel que pretendia desempenhar.
Carlos X, Rei de França
Com a morte de Luiz XVIII, sobe ao trono, seu irmão, Carlos X que governa a França no período de 1824 a 1830. A França inicia a conquista da Argélia, contrariando todos os sentimentos altruísticos de Augusto Comte.
Exposição oral da Filosofia Positiva
Em 2 de abril de 1826, em sua residência, na rua Faubourg Montmatre, 13, iniciou Augusto Comte a exposição oral da Filosofia Positiva. A assistência era a mais seleta possível: Alexandre Humbolt, Blainville, Poinsot, Dunoyer, Tourier, Broussais, Montebello, Gustave d'Eichthal, Cerclet, alunos da Escola Politécnica, médicos e alguns curiosos.
Augusto Comte doente
Os assistentes que tinham ouvido entusiasmados as três primeiras lições de Filosofia Positiva, ficaram surpresos ao voltarem para a quarta conferência e encontrarem fechada a porta de seu apartamento. Augusto Comte havia enlouquecido: ludibriado pela infeliz companheira, a quem erguera da deshonra e esgotado pelos trabalhso intelectuais.
A Terrível Confissão de Augusto Comte
Augusto Comte, fora de si, se ajoelha diante dos abades Lamentais e Gerbert, confessando todos os males que lhe afligiam; conta-lhes a amargura de sua vida e com a razão transtornada mostra-lhes as traições de sua esposa Carolina Massin.
Todas as Datas Comemorativas do Brasil
JANEIRO
01 Dia da Confraternização Universal
Dia Mundial da Paz
03 Dia Nacional da Abreugrafia
Dia do Hemofílico
Dia da Criação da 1ª Tipografia no Brasil (1808)
06 Dia de Reis
Dia da Gratidão
07 Dia da Liberdade de Culto
08 Dia Nacional do Fotógrafo e da Fotografia
09 Dia do Astronauta
Dia do Fico (1822)
14 Dia dos Enfermos
15 Dia Mundial do Compositor
Dia dos Adultos
17 Dia dos Tribunais de Contas do Brasil
20 Dia do Farmacêutico
21 Dia Mundial da Religião
22 Aniv. da Fund. da Vila de S. Vicente (1532)
24 Dia da Previdência Social
Dia Mundial do Aposentado
25 Aniv. da Fund. da Cidade de São Paulo (1554)
Dia do Carteiro
27 Dia do Orador
28 Dia da Abertura dos Portos (1808)
Dia Mundial do Hanseniano
Dia do Portuário
Dia do Comércio Exterior
30 Dia Mundial dos Quadrinhos
Dia da não-violência
Dia da Saudade
31 Dia Mundial do Mágico
FEVEREIRO
01 Dia do Publicitário
02 Dia de Iemanjá
05 Dia do Datiscopista
07 Dia Nacional do Gráfico
10 Dia do Atleta Profissional
11 Dia Mundial do Enfermo
Dia do Zelador
16 Dia do Repórter
18 à 23 Semana Nacional contra o Álcool
19 Dia do Esportista
24 Dia da Promulgação Primeira Constituição Republicana (1891)
27 Dia Nacional do Livro Didático
Dia do Agente Fiscal
Dia do Idoso
MARÇO
01 Aniv. da fund. da Cidade do Rio de Janeiro (1565)
Dia do Turismo
02 Dia da Oração
05 Dia do Filatelista
07 Carnaval
Dia do Fuzileiro Naval
08 Cinzas (até às 12h)
Dia Internacional da Mulher
10 Dia do Sogro
Dia do Telefone
12 Dia do Bibliotecário
12 à 19 Semana da Biblioteca
14 Dia do Vendedor de Livros
Dia Mundial da Poesia
15 Dia do Consumidor
Dia do Circo
19 Dia Nacional do Artesão
Dia do Carpinteiro
Dia da Escola
21 Início do Outono
Dia Internacional para Eliminação da Discriminação Racial
23 Dia Mundial da Meteorologia
25 Dia da Promulgação da Constituição do Império (1824)
26 Dia do Cacau
27 Dia do Teatro
28 Dia do Diagramador
Dia do Revisor
30 Dia Mundial da Juventude
31 Dia da Revolução de 1964
Dia Nacional da Saúde e da Nutrição
Dia da Integração Nacional
31/03 à 08/04 Semana da Merenda Escolar
* A Semana Santa costuma cair em março
(o Domingo de Ramos vem 40 dias após o Carnaval;
esses 40 dias constituem a Quaresma).
ABRIL
31/03 à 08/04 Semana da Merenda Escolar
A Semana Santa costuma cair em março
(o Domingo de Ramos vem 40 dias após o Carnaval;
esses 40 dias constituem a Quaresma).
01 Dia da Mentira
Dia da Abolição da Escravidão do Índios (1680)
02 Dia Internacional do Livro Infantil
07 Dia da Abdicação de D. Pedro I (1831)
Dia Mundial da Saúde
Dia do Corretor
Dia do Médico Legista
08 Dia Mundial da Luta Contra o Câncer
Dia da Lembrança do Holocausto (2º Guerra Mundial)
Dia da Natação
Dia do Correio
09 Dia Nacional do Aço
10 Dia da Engenharia
11 Dia do OIT - Org. Inter. do Trabalho
12 Dia da Carta Régia (1577)
Dia do Hino Nacional Brasileiro
Dia Pan - Americano
Dia do Café
13 Dia da 1º Execução do Hino Nacional Brasileiro (1831)
14 Dia Pan-americano
15 Dia da Conservação do Solo
Dia do Desenhista
18 Dia Nacional do Livro Infantil
(Nasc. de Monteiro Lobato, 1882)
19 Dia do Índio
20 Dia do Diplomata
Dia do Disco
21 Aniv. da Fund. da Cidade de Brasília (1960)
Dia do Café
Dia de Tiradentes (falecimento em 1792)
Dia da Latinidade
Dia do Metalúrgico
Dia da Polícia Civil
Dia da Transferência da Capital para Brasília
Sexta-feira santa
22 Dia do Diplomata
Dia do Descobrimento do Brasil (1500)
Dia da Comunidade Luso- brasileira
Dia do Planeta Terra
Dia da Força Aérea
22 à 28 Semana da Educação
23 Dia dos Escoteiros
Dia Mundial do Livro e do Diretor do Autor
Páscoa
24 Dia internacional do Jovem Trabalhador
25 Dia do Contabilista
Dia Mundial das Vocações
26 Dia do Engraxate
Dia do Goleiro
27 Dia da Empregada Doméstica
28 Dia da Sogra
Dia da Educação
30 Dia Nacional da Mulher
Dia do Ferroviário
MAIO
01 Dia do Trabalho
03 Dia do Sertanejo
Dia do Sol
Dia da Comunidade
05 Dia Nacional das Comunicações
Dia do Expedicionário
06 Dia do Cartógrafo
Dia do Taquígrafo
07 Dia do Silêncio
Dia do Oftalmologista
08 Dia da Cruz Vermelha
Dia do Artista Plástico
Dia do Pintor
Dia da Vitória na II Guerra Mundial (1945)
10 Dia da Cavalaria
Dia das Mães
Dia da Cozinheira
Dia do Guia de Turismo
Dia do Campo
12 Dia da Enfermagem
Dia dos Enfermeiros
13 Dia da Abolição da Escravatura (1888)
Dia da Fraternidade Brasileira
Dia da Estrada de Rodagem
Dia do Automóvel
Dia do Zootecnista
14 Dia do Seguro
Dia do Gerente do Banco
15 Dia do Assistente Social
16 Dia do Gari
17 Dia Mundial das Comunicações
18 Dia das Raças Indígenas da América
Dia Mundial dos Museus
Dia dos Vidreiros
21 Dia da Língua Nacional
22 Dia do Apicultor
24 Dia do Datilógrafo
Dia do Vestibulando
Dia do Café
Dia do Telegrafista
Dia da Infantaria
Dia do Massagista
25 Dia da Indústria
Dia da Costureira
Dia do Massagista
Dia do Trabalhador Rural
Dia da Libertação da África
26 Dia do Revendedor Lotérico
27 Dia do Profissional Liberal
29 Dia do Estatístico
Dia do Geógrafo
30 Dia da Aeromoça
Dia do Decorador
31 Dia Mundial dos Meios de Comunicação Social
Dia Mundial do Combate ao Fumo
Dia Mundial do Comissário de Bordo
Dia da Aeromoça
JUNHO
04 Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão
05 Dia Mundial do Meio Ambiente e da Ecologia
07 Dia da Liberdade de Imprensa
08 Dia do Citricultor
09 Dia Nacional de Anchieta. Apóstolo do Brasil
Dia do Porteiro
Dia do Tenista
10 Dia da Artilharia
Dia da Raça
11 Dia da Marinha Brasileira
Dia do Educador Sanitário
12 Dia dos Namorados
Dia do Correio Nacional
13 Dia do Santo Antônio de Pádua
Dia do Turista
15 Dia do Paleontólogo
16 Dia da Unidade Nacional
17 Dia do Funcionário Público Aposentado
18 Dia do Imigrante Japonês
Dia do Químico
20 Dia do Revendedor
21 Início do Inverno
Dia Universal Olímpico
Dia da Mídia
Dia do Intelectual
22 Corpus Christi
Dia do Orquidófilo
24 Festa de São João Batista
Dia da Comunidade Britânica
Dia do Caboclo
Dia Mundial dos Discos Voadores
Dia do Gráfico
25 Dia do Imigrante
26 Dia Internacional do Combate às Drogas
27 Dia Nacional do Vôlei
29 Dia dos Pescadores
Dia de São Paulo e São Pedro
Dia da Telefonista
Dia do Pescador
30 Dia do Caminhoneiro
* Corpus Christi, festa religiosa móvel, costuma cair no início deste mês
JULHO
01 Dia do Hospital
02 Dia do Bombeiros
04 Dia Internacional do Cooperativismo
08 Dia do Padeiro
09 Dia da Revolução Constitucionalista (1932)
10 Dia Mundial da Lei
Dia da Saúde Ocular
Dia da Pizza
Dia do Truco
11 Dia Mundial da População
12 Dia do Engenheiro Florestal
13 Dia do Engenheiro Sanitarista
Dia Mundial do Rock
14 Dia Nacional do Enfermo
Dia da Liberdade de Pensamento
15 Dia do Doente
16 Dia do Comerciante
17 Dia da Proteção às Florestas
18 Dia Nacional do Travador
19 Dia do Futebol
Dia da Caridade
20 Dia da Amizade
Dia Panamericano do Engenheiro
Aniv. da chegada do homem à lua (1969)
22 à 28 Semana do Agricultor
25 Dia do Escritor
Dia do Colono
Dia do Motorista
26 Dia da Vovó
27 Dia Nacional da Prevenção de Acidente de Trabalho
Dia do Despachante
Dia da Motociclista
28 Dia do agricultor
AGOSTO
01 Dia do Selo
03 Dia do Tintureiro
04 Dia do Padre
05 Dia do Carteiro
Dia Nacional da Saúde
09 Dia dos Pais
11 Dia do Garçom
Dia Internacional da Logosofia
Dia da Consciência Nacional
Dia do Advogado
Dia da Pintura
Dia Nacional do Estudante
Dia do Hoteleiro
Dia da Televisão
12 Dia Nacional das Artes
13 Dia do Economista
14 Dia de Combate à Poluição
Dia do Protesto
Dia da Unidade Humana
15 Dia dos Solteiros
Dia da Informática
17 Dia do Patrimônio Histórico
18 à 25 Semana da Exército
19 à 23 Semana do Livro Escolar
19 Dia da Fotografia
20 Dia do Vizinho
21 Dia da Habilitação
22 Dia do Folclore
Dia do Supervisor Educacional
22 à 28 Semana da Legião Brasileira de Assistência em São Paulo, agosto é o mês do Folclore.
23 Dia dos Artistas
25 Dia do Duque de Caxias
Dia do Soldado
Dia do Feirante
26 Dia da Igualdade da Mulher
27 Dia do Corretor de Imóveis
Dia do Psicólogo
28 Dia da Avicultura
Dia dos Bancários
29 Dia Nacional de Combate ao Fumo
31 Dia do Nutricionista
SETEMBRO
1 à 7 Semana da Pátria
01 Dia do Caixeiro Viajante
02 Dia do Repórter Fotográfico
03 Dia das Organizações Populares
Dia da Guarda Civil
Dia do Biólogo
Dia da Polícia Militar
05 Dia da Amazônia
Dia do Farmacêutico
06 Dia do Cabeleireiro
Dia do Alfaiate
Dia do Barbeiro
Dia do Hino Nacional
07 Dia da Proclamação da Independência do Brasil (1822)
08 Dia Mundial da Alfabetização
09 Dia do Administrador de Empresas
Dia do Veterinário
10 Dia da Imprensa
12 Dia Nacional da Recreação
Dia da Seresta
13 Dia do Agrônomo
14 Dia do Frevo
16 Dia Internacional do Ozônio
17 Dia da Compreensão entre os homens
18 Dia da Criação, por D. Pedro I, dos Símbolos Nacionais
18 à 23 Semana da Comunidade -último domingo- Dia da Bíblia
19 Dia do Comprador
20 Dia do Pombo da Paz
21 Início da Primavera
Dia da Árvore
Dia do Fazendeiro
Dia do Radialista e da Radiofusão
22 Dia Nacional da Fauna
Dia do Técnico Agropecuário
Dia da Juventude
24 Dia do Soldador
25 Dia Nacional do Trânsito
Dia do Rádio
26 Dia de São Cosme e São Damião
Dia Internacional das Relações Públicas
27 Dia do Ancião
Dia Mundial do Turismo
Dia da Caridade
Dia do Cantor
Dia do Encanador
28 Dia da Lei do Sexagenário (1885) e da Lei do Ventre Livre (1971)
29 Dia do Professor de Educação Física
Dia do Petróleo
30 Dia Mundial da Navegação
Dia Mundial do Tradutor
Dia da Secretária
OUTUBRO
01 Dia do Viajante Comercial
Dia Mundial do Vendedor
Dia Internacional das Pessoas da Terceira Idade
03 Dia do Dentista
04 Dia dos Animais
Dia do Rádio inter-americamo
Dia da Instituição do Cruzeiro como Moeda Nacional (1942)
Dia de São Francisco de Assis
Dia Mundial da Anistia
04 à 10 Semana de Proteção dos Animais
05 Dia da Ave
Dia da Promugação da Atual Constituição Brasileira (1988)
Dia do Bóia-fria
06 à 12 Semana da Criança
07 Dia do Compositor
09 Dia Mundial do Correio
Dia do Atletismo
11 Dia do Deficiente Físico
12 Dia do Agrônomo
Dia da Hispanidade
Dia do Descobrimento da América (1492)
Dia do Basquete
Dia do Engenheiro Agrônomo
Dia da Criança
Dia do Mar
Dia da Aclamação de D. Pedro I (1822)
Dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil
14 Dia Nacional da Pecuária
15 Dia do Professor
Dia da Normalista
16 Dia Mundial da Alimentação
Dia da Ciência e Tecnologia
Dia da Anestesista
Dia do instrutor de Auto-escola
17 à 23 Semana da Asa
17 Dia Mundial de Recusa à Miséria
Dia do Eletricista
18 Dia do Médico
Dia do Securitário
Dia do Pintor
19 Dia do Guarda Noturno
19 à 25 Semana da Nutrição
20 Dia do Arquivista
Dia Internacional do Controlador de Tráfego Aéreo
22 Dia do Rádio- Amador
Dia do Pára-quedista
23 Dia da Força Aérea Brasileira
Dia do Aviador
Dia de Santos Dumont
24 Dia das Nações Unidas
Dia Mundial do Desenvolvimento
25 Dia da Saúde Dentária
Dia das Missões
Dia da Democracia
Dia do Sapateiro
28 Dia do Funcionário Público
29 Dia Nacional do Livro
30 Dia do Comércio
Dia do Balconista
31 Dia Mundial da Poupança
Dia da Dona de Casa
Dia do Repórter Policial
Dia das Bruxas
* O primeiro domingo deste mês é o Dia do Prefeito e
O terceiro domingo é o Dia da Apicultura.
NOVEMBRO
01 à 08 Semana do Urbanismo
01 Dia de Todos os Santos
02 Dia de Finados
03 Dia da Instituição do Direito de Voto para a Mulher (1930)
04 Dia Mundial do Rádio - Amador
Dia do Inventor
05 Dia do Cinema Brasileiro
Dia Nacional da Cultura e da Ciência
Dia do Escrivão da Polícia
08 Dia Mundial do Urbanismo
09 Dia Nacional do Hoteleiro
Dia do Manequim
10 Dia do Trigo
10 à 16 Semana do Rotariano
11 Dia do Armistício da I Guerra Mundial
Dia dos Supermercados
12 Dia do Diretor de Escola
14 Dia do Bandeirante
Dia Nacional da Alfabetização
15 Dia da Proclamação da República (1889)
Dia do Jornaleiro
Dia do Esporte Amador
16 à 21 Semana da Seda
17 Dia da Criatividade
19 Dia da Bandeira
Dia Mundial do Xadrez
20 Dia Mundial da Consciência Negra
Dia do Auditor Interno
21 Dia Nacional da Homeopatia
22 Dia da Música
Dia do Músico
25 Dia Mundial do Doador de Sangue
Dia Internacional Contra a Exploração da Mulher
26 Dia Nacional de Ação de Graças
Dia do Ministério Público
27 Dia da Infância
Dia do Técnico de Segurança do Trabalho
28 Dia Inter-americano do Ministério Público
Dia do soldado Desconhecido
29 Dia do Café
30 Dia da Reforma Agrária
Dia do Estatuto da Terra
Dia do Síndico
Dia do Teólogo
* Última quinta-feira do mês é o Dia Nacional de Ação de Graças
DEZEMBRO
01 Dia Mundial da Luta Contra a AIDS
02 Dia do Samba
Dia Panamericano da Saúde
Dia do Astronauta
Dia das Relações Públicas
03 Dia Internacional do Deficiente Físico
04 Dia da Propaganda
Dia do Pedicuro
Dia do Trabalhador em Minas de Carvão
05 Dia Internacional do Voluntário
06 Dia de São Nicolau (chegada de Papai Noel)
07 Dia do Pau-Brasil
Dia da Bíblia (para os Evangélicos)
08 Dia da Família
Dia da justiça
09 Dia Nacional do Fonoaudiólogo
Dia do Alcoólatra Recuperado
10 Dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
Dia Internacional dos Povos Índigenas
Dia do Palhaço
11 Dia do Agrimensor
Dia do Arquiteto
Dia do Tango
Dia do Engenheiro
13 Dia do Marinheiro
Dia do Deficiente Visual
Dia do Lapidador
Dia do Pedreiro
Dia do Cego
14 Dia do Ministério Público
15 Dia do Jardineiro
Dia do Esperanto
16 Dia do Reservista
Dia da Elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves (1815)
Dia do Teatro Amador
20 Dia do Mecânico
21 Início do Verão
Dia dos Artistas Profissionais
Dia do Atleta
23 Dia do Vizinho
24 Dia do Órfão
25 Dia de Natal
26 Dia da Lembrança
28 Dia da Marinha Mercante
Dia do Salva- Vidas
31 Dia da Corrida de São Silvestre
Dia da Esperança
Dia das Devoluções
Fonte:
http://oskaras.com/todas-as-datas-comemorativas-do-ano/
Dia do Professor - 15 de Outubro
Tudo começou com um decreto imperial, de 15 de outubro de 1827, que trata da primeira Lei Geral relativa ao Ensino Elementar. Este decreto, outorgado por Dom Pedro I, veio a se tornar um marco na educação imperial, de tal modo que passou a ser a principal referência para os docentes do primário e ginásio nas províncias. A Lei tratou dos mais diversos assuntos como descentralização do ensino, remuneração dos professores e mestras, ensino mútuo, currículo mínimo, admissão de professores e escolas das meninas.
A primeira contribuição da Lei de 15 de outubro de 1827 foi a de determinar, no seu artigo 1º, que as Escolas de Primeiras Letras (hoje, ensino fundamental) deveriam ensinar, para os meninos, a leitura, a escrita, as quatro operações de cálculo e as noções mais gerais de geometria prática. Às meninas, sem qualquer embasamento pedagógico, estavam excluídas as noções de geometria. Aprenderiam, sim, as prendas (costurar, bordar, cozinhar etc) para a economia doméstica.
Se compararmos a lei geral do período imperial com a nossa atual lei geral da educação republicana, a Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), persegue ainda ideais imperiais, ao estabelecer, entre os fins do ensino fundamental, a tarefa de desenvolver a “capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo”. Portanto, mais de um sesquicentenário da lei, perseguimos os meus objetivos da educação imperial.
A Lei de 15 de novembro também inovou no processo de descentralização do ensino ao mandar criar escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do Império. Hoje, além da descentralização do ensino, para maior cobertura de matrícula do ensino fundamental, obrigatório e gratuito, o poder público assegura, por imperativo constitucional, sua oferta gratuita, inclusive, para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria (Inciso I, artigo 208, Constituição Federal).
A remuneração dos professores é, historicamente, o grande gargalo da política educacional, do Império à Nova República, de Dom Pedro I a Fernando Henrique Cardoso I e II. O grande mérito do Imperador, ao outorgar a Lei de 15 de outubro de 1827, foi o de não se descuidar, pelo menos, formalmente, dos salários dos professores. No artigo 3º da lei imperial, determinou Dom Pedro que os presidentes, em Conselho, taxariam interinamente os ordenados dos Professores, regulando-os de 200$000 a 500$000 anuais, com atenção às circunstâncias da população e carestia dos lugares.
O economista Antônio Luiz Monteiro Coelho da Costa, especialista em cotação de moedas, atendendo minha solicitação, por e-mail, fez a conversão dos réis, de 1827, em reais de 2001 (discutíveis): estima Luiz Monteiro que 200$000 eqüivalem a aproximadamente R$ 8.800,00 (isto é, a um salário mensal de R$ 680, considerando o 13º) e 500$000 a aproximadamente R$ 22.000(R$ 1.700, por mês).
Os dados mostram como os professores, no século XXI, em se tratando de remuneração, recebem bem aquém dos parâmetros estabelecidos pela lei imperial, no longínquo século XIX. De acordo com dados recentes do Ministério de Educação, do total de professores, 65% ganham menos que R$650, 15% ganham entre R$650 e R$900 e 16% ganham mais de R$900. O salário médio mensal, de acordo com o senso do Ministério de Educação, é de R$1.474 nas escolas federais, R$656 nas particulares, R$584 nas estaduais e R$372 na municipais. Nos municípios cearenses, ainda encontramos milhares de professores recebendo (e com atraso) menos do que um salário mínimo vigente.
Atualmente, a Constituição Federal de 1988, no seu inciso V, artigo 206, garante, como princípio de ensino, aos profissionais de ensino, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional, mas até agora, não há vontade política para se determinar o valor do piso salarial profissional condigno para os professores.
A Lei de 15 de outubro de 1827 trouxe, por fim, para época, inovações de cunho liberal como a co-educação, revelada através da inclusão das meninos no sistema escolar e que as mestras, pelo artigo 13, não poderiam perceber menos do que os mestres.
A formação dos professores foi lembrada pela lei imperial. No seu artigo 5º, os professores que não tinham a necessária instrução do ensino elementar iriam instruir-se em curto prazo e à custa dos seus ordenados nas escolas das capitais.
Preocupados, hoje, com os 210 mil professores leigos, sem formação sequer do pedagógico ofertado no ensino médio, o Brasil contemporâneo, através da Emenda Constitucional n.º 14, de 12 de setembro de 1996 , a LDB, o Fundef, todos promulgados em 1996, orientam os governantes e as universidades para as licenciaturas breves, na luta contra esse déficit de professores habilitados para o magistério escolar, mas com o apoio financeiro do poder público em favor dos professores de rede pública de ensino (Magister, no Ceará, é um bom exemplo).
A expectativa da sociedade, política e civil, é a de habilitar, em nível superior, até o ano de 2007, o grande contigente de professores leigos da educação básica. Será que, ao comemorarmos o Dia do Professor em 2007, 180 anos depois da primeira geral da educação imperial, teremos atingido esse desiderato republicano?
Vicente Martins
Professor Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), de Sobral.
Fonte de Pesquisa
http://www.psicopedagogia.com.br
50 Dicas para fazer a redação de monografia de conclusão
2 - Construa períodos com no máximo duas ou três linhas de 70 toques. Os parágrafos, para facilitar a leitura, deverão ter cinco linhas datilografadas, em média, e no máximo oito. A cada 3 páginas, convém abrir um sub-tíítulo.
3 - A simplicidade é condição essencial do texto acadêmico. Lembre-se de que você escreve para o público universitário, em nível universitário, o que significa um grau de complexidade compatível entre a análise conceitual e o direito de entender qualquer texto.
4 - Adote como norma a ordem direta, por ser aquela que conduz mais facilmente o professor à essência da argumento. Não confunda detalhes importantes da vida cotidiana com detalhes irrelevantes e vá diretamente ao que interessa, sem rodeios.
5 - A simplicidade do texto não implica necessariamente repetição de formas e frases desgastadas, uso exagerado de voz passiva (será iniciado, será realizado), pobreza vocabular, etc. Com palavras conhecidas de todos, é possível escrever uma monografia de maneira original e criativa e produzir frases elegantes, variadas, fluentes e bem alinhavadas. Nunca é demais insistir: fuja, isto sim, do academicismo, dos rebuscamentos, dos pedantismos vocabulares, dos termos técnicos evitáveis e da erudição. Isto não é acadêmico.
6 - Não comece períodos ou parágrafos seguidos com a mesma palavra, nem use repetidamente a mesma estrutura de frase.
7 - O estilo universitário é superior a linguagem jornalística e falada. Por isso, evite tanto a retórica e o hermetismo como a gíria, o jargão e o coloquialismo.
8 - Tenha sempre presente: o espaço hoje é precioso; o tempo de leitura, também. Relate o fato no menor número possível de palavras: por que opor veto a em vez de vetar, apenas? No entanto, seja prolixo no que se refere as longas descrições do trabalho de campo.
9 - Em qualquer ocasião, prefira a palavra mais simples: pretender é sempre melhor que objetivar, intentar ou tencionar; voltar é sempre melhor que regressar ou retornar; passageiro é sempre melhor que usuário; entrar é sempre melhor que ingressar.
10 - Recorra aos conceitos teóricos absolutamente indispensáveis e nesse caso coloque o seu significado a seguir, ou sob a forma de citação, ou no pé de página. Você já pensou que até há pouco se escrevia sobre a vida cotidiana sem conceitua-la de forma precisa? Que relatava-se fatos que ocorriam na escola se sem referir a seu projeto político-pedagógico? Que discutiam o que o governo fazia e não denominavam determinavam as “políticas educacionais”? Adote como norma: os leitores de monografias, na maioria, são pessoas familiarizadas com o jargão acadêmico, quando não com formação específica em uma área.
11 - Nunca se esqueça de que o texto acadêmico funciona como intermediário entre o fato ou fonte de informação e a sua interpretação acadêmica. Você não deve limitar-se a transpor para o papel as declarações do entrevistado, por exemplo; faça-o dando-lhe uma interpretação pessoal ou baseado em suas leituras, de modo que qualquer leitor possa apreender o significado das declarações. Se os depoentes possuem uma fala repleta de tiques, falarem em pô, você pode suprimir, sem nenhum prejuízo. Da mesma algumas expressões rebuscadas podem ser traduzidas, como patamar por nível, posicionamento por posição, agilizar por dinamizar, conscientização por convencimento, se for o caso, e assim por diante. Abandone a cômoda prática de apenas transcrever: ofereça transcrições pessoais, você vai ver que o seu texto passará a ter o mínimo indispensável de aspas e qualquer entrevista, por mais complicada, sempre tenderá a despertar maior interesse.
12 - Procure banir do texto os modismos e os lugares-comuns. Você sempre pode encontrar uma forma elegante e criativa de dizer a mesma coisa sem incorrer nas fórmulas desgastadas pelo uso excessivo. Veja algumas: a nível de, deixar a desejar, chegar a um denominador comum, transparência, instigante, pano de fundo, estourar como uma bomba, encerrar com chave de ouro, segredo guardado a sete chaves, dar o último adeus. Acrescente as que puder a esta lista.
13 - Dispense igualmente os preciosismos ou expressões que pretendem substituir termos comuns, como: causídico, Edilidade, elenco de medidas, data natalícia, primeiro mandatário, chefe do Executivo, precioso líquido, aeronave, campo-santo, necrópole, casa de leis, petardo, fisicultor, Câmara Alta, etc.
14 - Proceda da mesma forma com as palavras e formas empoladas ou rebuscadas, que ao invéz de revelar academicismo, tentam transmitir ao leitor mera idéia de erudição. A monografia não tem lugar para termos como tecnologizado, agudização, consubstanciação, operacionalização, mentalização, transfusional, paragonado, programático, emblematizar, congressual, instrucional, embasamento, dialogal, transacionar e outros do gênero.
15 - Não perca de vista o universo vocabular da sua área de conhecimento. Adote esta regra prática: nunca escreva o que você não leria em bom livro de sua área. Assim, alguém rejeita (e não declina de) um convite, protela ou adia (e não procrastina) uma decisão, aproveita (e não usufrui) uma situação. Da mesma forma, prefira demora ou adiamento a delonga; antipatia a idiossincrasia; discórdia ou intriga a cizânia; crítica violenta a diatribe; obscurecer a obnubilar, etc.
16 - O rádio e a televisão podem ter necessidade de palavras de som forte ou vibrante; o texto acadêmico, não. Assim, professor é professor e não professorzão! Da mesma forma, rejeite invenções como aulaço, galera (como grupo) e similares.
17 – A mesma regra vale para a inclusão de palavras ou expressões de valor absoluto ou muito enfático, como certos adjetivos (magnífico, maravilhoso, sensacional, espetacular, admirável, esplêndido, genial), os superlativos (engraçadíssimo, deliciosíssimo, competentíssimo, celebérrimo) e verbos fortes como infernizar, enfurecer, maravilhar, assombrar, deslumbrar, etc.
18 - Termos coloquiais ou de gíria deverão ser usados com extrema parcimônia e apenas em casos muito especiais (nos diálogos, por exemplo), para não darem a idéia de vulgaridade e principalmente para que não se tornem novos lugares-comuns. Como, por exemplo: a mil, barato, galera, detonar, deitar e rolar, flagrar, com a corda (ou a bola) toda, legal, grana, bacana, etc.
19 - Seja rigoroso na escolha das palavras do texto. Desconfie dos sinônimos perfeitos ou de termos que sirvam para todas as ocasiões. Em geral, há uma palavra para definir uma situação.
20 - Faça textos imparciais e objetivos. Não exponha opiniões, mas fatos, para que o leitor tire deles as próprias conclusões. Defensa sua opinião, sempre após apresentar as duas faces de uma questão, e quando a fizer, basei-se emf atos ou teoria comprovada. Em nenhuma hipótese se admitem textos como: Demonstrando mais uma vez seu caráter volúvel, o professor João da Silva alterou a matéria. Seja direto: O Professor João da Silva ao invés de lecionar a matéria prevista, preferiu não dar aula. É a terceira vez na semana em que faz isto. O caráter do professor ficará claro pela simples menção do que ocorreu.
21 - Lembre-se de que a monografia expõe também as suas opiniões ao longo do texto. Permita-se manifestar seus pontos de vista em momentos de sua monografia, registrando sua interpretação para versões diferentes de um mesmo fato, sempre justificando-a . Nunca deixe de conduzir a análise segundo as linhas de seu raciocínio, definidas com base em dados fornecidos por fontes de informação ou pelas leituras teóricas feitas ao longo de sua formação
22 – Prefira não usar formas pessoais nos textos, como: Disse-nos o professor ele disse ... / Em conversa com a Secretária de Educação, ela nos disse que... Opte por transformar em citação o que você deseja incorporar no texto do trabalho, quase como se fosse citar um texto de livro. Algumas dessas construções cabem para certas situações, como defesa de tese ou monografia de conclusão. Converse com seu professor sobre o critério adotado.
23 - Como norma, coloque sempre em primeiro lugar a designação do cargo ocupado pelas pessoas e não o seu nome: O diretor da escola de Sapiranga Pedro da Silva, o secretário de educação do município Paulo da Silva. É em função do cargo ou atividade que, em geral, eles se tornam fonte de sua monografia. A única exceção é para cargos com nomes muito longos. Exemplo: O engenheiro João da Silva, presidente do Núcleo de Educação e Cultura do Sindicato dos Professores das Escolas Particulare de Santana do Livramento do Sudoeste do Rio Grande do Sul.
24 - Você pode ter familiaridade com determinados termos ou situações, mas o professor, certamente não. Por isso, seja explícito nas informações e não deixe nada subentendido. Escreva, então: O professor coordenador da disciplina da escola de primeiro e segundo grau disse o seguinte e não apenas: O professor disse.
25 – Ao introduzir em um capítulo, uma descrição da realidade escolar, o primeiro parágrafo deve fornecer a maior parte das respostas às seis perguntas básicas: o que, quem, quando, onde, como e por quê. As que não puderem ser esclarecidas nesse parágrafo deverão figurar, no máximo, no segundo, para que, dessa rápida leitura, já se possa ter uma idéia sumária do que pretende ser analisado.
26 - Não inicie a monografia com declaração entre aspas e só o faça se esta tiver importância muito grande (o que é a exceção e não a norma).
27 - Procure dispor as informações em ordem decrescente de importância (princípio da pirâmide invertida), para que, no caso de qualquer necessidade de corte na monografia, os últimos parágrafos possam ser suprimidos, de preferência.
28 - Encadeie o texto de maneira suave e harmoniosa e com os parágrafos seguintes e faça o mesmo com estes entre si. Nada pior do que um texto em que os parágrafos se sucedem uns aos outros como compartimentos estanques, sem nenhuma fluência: ele não apenas se torna difícil de acompanhar, como faz a atenção se dispersar no meio da monografia.
29 - Por encadeamento de parágrafos não se entenda o cômodo uso de vícios lingüísticos, como por outro lado, enquanto isso, ao mesmo tempo, não obstante e outros do gênero. Busque formas menos batidas ou simplesmente as dispense: se a seqüência do texto estiver correta, esses recursos se tornarão absolutamente desnecessários.
30 - A falta de tempo para escrever exige que o estudante escreva monografias cada dia mais curtas (10 ou 20 páginas, em média). Por isso, compete ao autor e ao professor da disciplina selecionar conjuntamente um referencial do número mínimo de páginas, como um critério a mais, entre outros, para expor as informações disponíveis, para que o aluno seja incentivado a incluir as essenciais e abrir mão das supérfluas. Nem toda a resenha cabe em vinte páginas, mas com certeza, um bom trabalho de campo com análise e interpretação que possa ser cortada pelo pé sem maiores prejuízos dará ao menos quinze páginas. Quando houver tempo, reescreva o texto: é o mais recomendável. Quando não, vá cortando as frases dispensáveis.
31 - Proceda como se o seu texto seja o definitivo, tal qual você deseja entregar. O ritmo de final de semestre, onde avolumam-se os trabalhos, nem sempre permite que o aluno faça uma boa revisão completa do original. Assim, depois de pronto, reveja e confira todo o texto, com cuidado. Afinal, é o seu nome que assina a monografia.
32 - O recurso à primeira pessoa só se justifica em alguns tipos de monografia, em geral, nas de enfoque social-antropológico, como a proposta da disciplina de Políticas Educacionais. O aluno poderá descrever os fatos dessa forma, como participantes, testemunhas ou mesmo personagens de acontecimentos importantes. Fique a ressalva: nem todos os professores preferem a adoção desta forma. Por isso, consulte-o sempre.
33 - Nas informações em seqüência, nunca deixe de se referir, mesmo sumariamente, aos antecedentes do caso. Nem todo professor pode estar a par dos acontecimentos localizados em municípios no qual ele não habita.
34 - A correção das monografia responde, ao longo do tempo, pela credibilidade do aluno. Dessa forma, não dê informações apressadas ou não confirmadas nem inclua nelas informações sobre as quais você tenha dúvidas. Mesmo que a monografia já esteja em processo de composição, sempre haverá condições de retificar algum dado impreciso, antes de entrega-la ao professor da disciplina.
35 - A correção tem uma variante, a precisão: confira habitualmente os nomes das pessoas, seus cargos, os números incluídos numa tabela, somas, datas, horários, enumerações. Com isso você estará garantindo outra condição essencial da monografia, a confiabilidade.
36 - Nas versões conflitantes, divergentes ou não confirmadas, mencione quais as fontes responsáveis pelas informações ou pelo menos os setores dos quais elas partem (no caso de os informantes não poderem ter os nomes revelados). Toda cautela é pouca e o máximo cuidado nesse sentido evitará que o autor da monografia tenha de fazer desmentidos desagradáveis.
37 - Quando um mesmo assunto aparecer em mais de um capítulo da monografia, deverá haver remissão, em itálico, sob a forma de nota de pé de página, de uma para outra: Retonarei a este argumento, no capítulo seguinte, quando traterei ....
38 - Se você tem vários trabalhos para escrever ao final do semesre, durante o curso adote a técnica de centrar seu estudo sobre um campo de problemas determinado e uma base teórica comum de interpretação. Desenvolva o hábito de centrar sua leitura sobre a obra completa de um número limitado de autores (seja da sociologia ou da política): eles passaram a ser o seu referência teórico, oferecendo os conceitos de base para a interpretação da realidade. Você ganhará tempo, utilizará sua base teórica em mais trabalhos, conseguindo maior profundidade e evitará que algum dado relevante fique fora da monografia.
39 - Nunca deixe de ler até o fim sua monografia nos momentos de revisão antes da entrega do trabalho. Mesmo que você tenha apenas 5 minutos para rever o texto, talvez naquelas 15 linhas que faltam para serem lidas, poderão conter informações dispensáveis que seriam melhor desfazer.
40 - Preocupe-se em incluir no texto detalhes adicionais que ajudem o professor a compreender melhor o fato e a situá-lo: local, ambiente, antecedentes, situações semelhantes, previsões que se confirmem, advertências anteriores, etc.Utilize os rodapés para isso.
41 - Informações paralelas a um fato contribuem para enriquecer a sua descrição. Se o aluno dorme durante a aula que você observa, isso deve ser anotado; idem se ele coloca os pés sobre a classe e o professor consente, se fica conversando enquanto o professor dá aula, se faz trejeitos enquanto o professor escreve no quadro-negro, etc. Trata-se de detalhes que significam algo em uma descrição do espaço escolar, ao menos, da relativa monotonia que aulas muito áridas podem ter.
42 – Nas observações de campo, registre em seu diário as atitudes ou reações das pessoas, desde que significativas: mostre se elas estão nervosas, agitadas, fumando um cigarro atrás do outro ou calmas em excesso, não se deixando abalar por nada. Em matéria de ambiente, essas indicações permitem que o professor saiba como os personagens se comportavam no momento da entrevista ou do acontecimento.
43 - Trate de forma impessoal os funcionários da escola, por mais conhecidos de você eles sejam: a professora Maria da Gloria, e nunca a Glorinha,o Diretor João da Silva e não o Joãozinho , etc.
44 - Sempre que possível, mencione no Relatório a fonte da informação. Ela poderá ser omitida se gozar de absoluta confiança do aluno, e, por alguma razão, convier que não apareça na monografia. Recomenda-se, no entanto, que o Relatório indique alguma idéia da procedência da informação, com indicações como: Pelo menos dois funcionários da escola garantiram quando a visitei ..., etc.
45 – Se no capítulo, diversos professores de escolas diferentes forem reunidos, coloque entre parênteses o nome da escola: o professor João dos Santos (Escola Municipal Santa Bárbara, Porto Alegre-RS), o professor Francisco de Almeida (Escola Estadual Diogo Feijó, Candelaria-R). No caso de professores de um mesmo município, mencione entre parênteses apenas o nome da escola .
46 – A monografia não admite generalizações que possam atingir toda uma classe ou categoria, raças, credos, profissões, instituições, etc. Preserve avalições sempre de forma circunscrita ao espaço investigado. Evite generalizações.
47 - Um acontecimento escolar muito sugestivo ou importante resiste até a um mau texto escrito. Não há, porém, acontecimento mediano ou meramente curioso que atraia a atenção do professor, se a informação se limitar a transcrever burocraticamente e sem maior interesse os dados para a monografia.
48 - Em caso de dúvida, não hesite em consultar dicionários, enciclopédias, almanaques e outros livros de referência. Ou recorrer aos colega ou o professor, que sempre pode ser contatado, por e-mail ou telefone, em caso de dúvida.
49 - Veja um exemplo de textos monográfico objetivo, simples e direto, constituído de frases curtas e incisivas. Os alunos passaram a ser fator importante para as estratégias dos professores da Escola Municipal João Aranha, em Livramento, RS. Dos 261 alunos contatados pela Direção da Escola, 82,8% disseram que iriam a escola mais vezes se houvesse turno integral com refeições. A falta de infraestrutura da escola foi apontado por 34,5% dos alunos como o segundo motivo básico para o retorno a sala de aula. De posse destes dados, professores e direção da escola passaram a exigir diariamente a SEC, o turno integral e a melhoria da escola.A SEC realizou licitações, alterou o calendário do município e hoje os alunos retornaram a sala de aula em melhores condições.
50 – Habitue-se a guardar, em arquivos de disketes, seus trabalhos mais ricos, seu arquivos de Internet mais interessantes. Acompanhe pela Internet, diariamente, os principais jornais e copie arquivos da área de seu inteersse. Eles são fonte permanente de consulta para monografias.
Fonte:
http://302284.vilabol.uol.com.br/monografia.htm