Jânio Quadros foi um fenômeno de massas: jamais perdeu uma eleição
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Os dias que separaram a renúncia do presidente Jânio Quadros até a posse do seu vice, João Goulart - de 25 de agosto a 7 de setembro de 1961 - estão entre os mais emocionantes da histórica política do Brasil do pós-Segunda Guerra Mundial. Naqueles dias, acontecimentos espetaculares, eletrizantes, sucediam-se numa rapidez que tudo levava a crer em um desfecho trágico, possivelmente numa guerra civil. Porém, o antigo hábito brasileiro da conciliação, do "deixa-disso", entrou em funcionamento e a crise foi superada por meio de uma emenda parlamentar, seguida por acomodamento momentâneo das paixões despertadas.
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50 anos da renúncia de Jânio Quadros
"Jânio vem aí"
Moreno, magro, de óculos de grau, quase sempre deselegante e descabelado, Jânio da Silva Quadros parecia-se um tanto com o comediante norte-americano Groucho Marx. Ao seu aspecto inusual acrescentava-se o fato de quase sempre andar em mangas de camisa, manifestando o seu horror à gravata e ao paletó, o que ele abertamente expressava em um português muito próprio, num tom veemente cômico-pedante, carregado de próclises e ênclises - o que fazia dele um tipo original ainda mais popular.
Jânio era um fenômeno de massas. Fez uma carreira política completa, meteórica, sem jamais ter perdido uma eleição: foi vereador, deputado, prefeito , governador de São Paulo e, desde 1959, fortíssimo candidato à presidência da república. E tudo isso à margem dos quadros dos grandes partidos que dominavam o cenário político brasileiro desde 1945 - Jânio costumava se lançar pelo minúsculo PDC, partido democrático-cristão. Ninguém o detinha.
E ninguém o deteve. O Movimento Janista, oficialmente chamado Movimento Popular Jânio Quadros, ou MPJQ, massa de gente que espontaneamente, por todo o país, se formou em torno da sua postulação, exultava pelas ruas gritando : "Jânio vem aí!". Tratou-se de um verdadeiro rolo compressor eleitoral. Apoiado por uma coligação de partidários anti-getulistas, a candidatura de Jânio Quadros recebeu 48% dos votos de um total de 11,6 milhões de eleitores em 1960.
Getulistas e anti-getulistas
Apesar de o presidente Getúlio Vargas ter se suicidado em 24 de agosto de 1954, a sua sombra política ainda se fazia sentir por todo o país. Partidariamente, o Brasil dividia-se entre os getulistas (os partidos PSD e PTB) e os anti-getulistas (a UDN e uma constelação de partidos que iam da direita golpista à esquerda comunista).
Pareciam-se, os partidos, a três grandes feudos. O que estava sempre no poder era o bloco formado pela coligação PSD-PTB, ambos fundados em 1945, ao tempo em que Getúlio Vargas ainda era ditador, cabendo à UDN, de origem liberal, o papel de uma oposição crescentemente desesperada após sucessivas derrotas nas urnas (em 1946, 1950 e 1955). Situação esta que fez com que ela se aproximasse de militares golpistas para tentar chegar ao poder por meio das armas.
Mas quando o nome de Jânio Quadros surgiu no cenário eleitoral nacional, um político desvinculado dos partidos, um líder messiânico, um "salvador do Brasil", a UDN teve esperanças de, por fim, alçar-se ao executivo federal sem precisar dos tanques. Na convenção de 1959, por insistência de Carlos Lacerda, o mais expressivo tribuno do partido, ela concordou em apoiar Jânio Quadros.
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