3 meses antes da Batalha de Lepanto, em 7 de outubro de 1571, tropas turcas do sultão Selim 2º tomaram a ilha de Chipre à República de Veneza. Os venezianos pediram ajuda ao papa Pio 5º, que convenceu Gênova e Espanha a prepararem a revanche. O rei espanhol enviou seu meio-irmão Juan de Áustria para a briga. O príncipe comandou uma força naval que encerrou a era de conquistas muçulmanas no mediterrâneo depois de uma vitória arrasadora, que dizimou a frota turca.
por ERNANI FAGUNDES / ilustração DIEGO DE ALMEIDA | 04/10/2011 18h35
O sucesso dos cristãos em Lepanto é fruto de uma ironia. Os turcos otomanos foram os primeiros a utilizar canhões - contra os cristãos do Império Bizantino no final da Idade Média. Graças ao poder da pólvora e à fé no islã, deixaram sua terra natal, perto do mar de Aral, e avançaram em direção ao Oriente Médio e à Europa. Os turcos conquistaram sucessivamente a Ásia Menor e depois, com o desenvolvimento das bombardas - canhões fixos e pesados -, capturaram a poderosa fortaleza de Constantinopla, sede da Igreja Bizantina e futura Istambul, em 1453, seguida pela invasão da Sérvia, em 1459, da Albânia, em 1486, e do Peloponeso, na Grécia, em 1499.
Não satisfeito, o sultão Selim 1° derrubou a dinastia safávida na Pérsia em 1514 e empreendeu a conquista do Egito no ano seguinte. Dessa forma, o poder dos canhões havia transformado os turcos nos novos senhores do Mediterrâneo. Em 1570, a invasão de Chipre, que pertencia aos venezianos, era só mais uma etapa de um plano maior, o de invadir Roma e formar um gigantesco império otomano no coração da cristandade. Os turcos não contavam com que, do lado cristão, houvesse um rei poderoso, Felipe 2º da Espanha (1527-1598), da Casa dos Habsburgos. Com a ajuda do papa Pio 5º, ele formou o que ficou conhecido como Liga Católica.
Os católicos corriam o risco de perder o domínio total sobre o rico comércio do Mediterrâneo, sobretudo quando, na mesma época, as guerras religiosas contra os protestantes e a Reforma infestavam o centro do continente europeu. Mas não se tratava só de dinheiro. O Ocidente enfrentava uma questão de sobrevivência.
Entre as novidades tecnológicas para enfrentar os muçulmanos estava a construção de canhões mais leves e eficientes - e foram eles que atiraram primeiro. Algumas fontes indicam que o número de armas de fogo do lado cristão na Batalha de Lepanto era de 1 815, contra cerca de 750 dos turcos. Diante da imprecisão dos documentos, o que se pode afirmar é que os cristãos estavam mais bem armados, mas com menos barcos e soldados que os muçulmanos, fato que definiu a vitória. O cenário da batalha pintado em grandes quadros e relatos indicam que as 5 longas horas de combate intenso espelham uma situação curiosa. Apesar de ser travada no mar, a infantaria foi fundamental no combate. Tantos barcos numa faixa estreita levaram a abordagens e ao combate corpo a corpo, a única tática possível para os turcos por causa da artilharia cristã. Mas os combatentes ocidentais usavam armaduras contra escudos, lanças e roupas leves dos otomanos.
Morreram quase 30 mil homens - cerca de 20 mil turcos e 9 mil cristãos. Acredita-se que 100 mil pessoas se envolveram no combate - e 18 mil escravos cristãos foram libertados das galés apreendidas. Vitorioso, o jovem príncipe Juan de Áustria foi presenteado por seu meio-irmão com o governo dos Países Baixos. Felipe 2º foi aclamado como "salvador da cristandade" pelo papa. //
A batalha
Os muçulmanos tinham mais homens e barcos. Os cristãos, o dobro de canhões. A artilharia definiu Lepanto. Clique para ampliar o infográfico abaixo: