10.11.11

O incêndio de Roma: quem provocou?


O incêndio de Roma tem boa parte de sua polêmica centrada na figura do imperador Nero.


Por Rainer Sousa

O grande incêndio a cidade de Roma, acontecido na noite de 18 de julho de 64, aparece como um dos mais famosos e instigantes crimes de toda a Antiguidade. Afinal de contas, vivendo uma época de esplendor e prosperidade, quais seriam as motivações que motivaram a realização de tal ato? Mediante essa pergunta, a figura do controverso imperador Nero aparece como chave para uma resposta ainda debatida entre especialistas e historiadores.

Conhecido como imperador tirano e autoritário, Nero ascendeu ao poder em Roma com apenas dezessete anos de idade e desde então conviveu com as várias artimanhas e conspirações que rondava seu alto posto. Ao mesmo tempo em que vivia com a ameaça de seus opositores, ficava conhecido pela realização de gastos exagerados, realizavam grandes orgias e promovia outras ações exageradas que determinavam a figura de um imperador fortemente questionado.

Sobre o terrível incêndio, muitos diziam que ele teria sido mais um dos frutos daquela mente perturbada e manipuladora. Para alguns ele haveria ordenado secretamente o incêndio criminoso para somente embelezar algumas partes da cidade de Roma que não o agradavam. Por outro, a mesma ação desastrosa seria executada com o objetivo de incriminar os cristãos, que não se submetiam ao reconhecimento o imperador como uma figural passível de devoção religiosa.

Nesta perspectiva que incrimina o imperador, teríamos a confirmação de que o poder em Roma estava submetido a ações que hoje escandalizam a muitos. Além disso, os relatos que diziam que Nero tocava displicentemente sua harpa enquanto a cidade ardia em chamas, contribui para a falência moral de sua imagem. Contudo, uma nova interpretação historiográfica visa empreender outra leitura que se afasta do encontro de tão vil governante.

Atualmente, pesquisas recentes afirmam que Nero não se encontrava nas imediações de Roma quando o grande incêndio aconteceu. Ele se encontrava em sua residência de Ânico, à aproximadamente cinquenta quilômetros de distância da capital do império. Assim que soube da terrível fatalidade, tomou as providências necessárias para que os danos fossem aplacados na medida do possível. Contudo, vários romanos juravam ter visto servos do imperador distribuindo os focos de incêndio pela cidade.

Estudos indicam que o clima seco da época em que o incêndio aconteceu explicaria o rápido alastramento do fogo e as várias destruições causadas. Paralelamente, a crença de muitos cristãos em um evento catastrófico que anunciaria o fim dos tempos e o repúdio à veneração ao imperador teria alimentado tais acusações sem fundamento. Não por acaso, Nero estabeleceria a perseguição e a morte de uma centena de cristãos que o acusavam injustamente e também desafiavam sua autoridade.

Por fim, devemos salientar que o próprio Nero era questionado por setores na nobreza que não aprovavam a sua atuação política como imperador. Alguns meses após a o grande incêndio, que inclusive afetou algumas das moradias imperiais – como recém-construído “Domus Transitória” e outras construções no Palatino – Nero foi alvo de um terrível complô que de fim à sua vida. De tal modo, vemos que outros interesses e suspeitos também estariam próximos àquelas polemicas e destrutivas chamas.
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