or Emerson Santiago |
A monarquia de Ruanda começa a se organizar no século XI, e após quatro séculos consolida-se, chefiada por um mwami (título local para o rei), da etnia Tutsi. Em algumas áreas do país surgiram principados independentes hutus, e em outras, comunidades tutsis e hutus cooperavam sob o controle nominal do rei. Durante o século XVII, casamentos mistos eram comuns, fazendo com que em muitos casos a classificação de um indivíduo como membro do povo hutu ou tutsi se tornasse difícil.
O primeiro europeu a visitar Ruanda foi o alemão conde Von Goetzen, em 1894, seguido pelos missionários protestantes, chamados de “padres brancos”. Em 1899, o mwami submeteu-se ao protetorado alemão sem resistência, convertendo Ruanda em parte da África Oriental alemã. Na Primeira Guerra Mundial, tropas do vizinho Congo Belga expulsaram os alemães, assumindo o controle do território. Após o conflito, a Liga das Nações atribui um mandato à Bélgica sobre Ruanda e seu vizinho Burundi, passando os dois futuros países a serem administrados como o território de Ruanda-Urundi, em separado da colônia belga maior, o Congo Belga. Após a Segunda Guerra Mundial, Ruanda-Urundi torna-se Território Fiduciário das Nações Unidas, com a Bélgica como administradora.
Os líderes hutus passam a ser incentivados pelos militares belgas, e provocam uma revolta popular em novembro de 1959, resultando na queda da monarquia tutsi. A Assembléia Geral da ONU determina a resolução da tutela belga e independência total para Ruanda e Burundi efetiva a 01 de julho de 1962. Gregoire Kayibanda, líder do PARMEHUTU (Partido do Movimento de Emancipação Hutu), torna-se o primeiro presidente eleito, promovendo uma ideologia Hutu supremacista, e uma série de anti-tutsi “pogroms”, provocando a fuga de Tutsis.
Em 1973, os militares tomam o poder pela força, liderados pelo major-general Juvénal Habyarimana, que dissolveu a Assembleia Nacional, o PARMEHUTU e aboliu toda a atividade política. Ele seria reeleito em 1983 e novamente em 1988. Respondendo a pressão da opinião pública para uma reforma política, o presidente anuncia em julho de 1990 sua intenção de transformar o estado em uma democracia multi-partidária.
Em outubro de 1990, exilados tutsis de Ruanda se uniram à Frente Patriótica Ruandesa (FPR) e invadiram o país a partir de sua base em Uganda. A guerra se arrastou por quase dois anos até que um acordo de cessar-fogo foi assinado em 1992. O conflito é reiniciado em abril de 1994, quando o avião que levava o presidente Habyarimana e o presidente do Burundi foi derrubado ao se preparar para aterrar em Kigali, matando ambos. Grupos militares e milícias começam a prender e matar todos os Tutsis e moderados políticos. O caos se espalhou rapidamente a partir de Kigali para todo o país, num genocídio de rapidez sem precedentes, deixando mais de 800 mil tutsis e hutus moderados mortos nas mãos de bandos organizados de milícias, os Interahamwe.
A FPR derrotou o exército ruandês e tomou Kigali, acabando com a guerra a 16 de julho de 1994. Mais de 800.000 indivíduos tinham sido assassinados, outros 2 milhões fugiram, e outro milhão foram deslocados internamente.
A comunidade internacional respondeu à catástrofe humanitária com um dos maiores esforços de ajuda humanitária já montados. A operação de paz da ONU, a UNAMIR, permaneceu em Ruanda até 8 de março de 1996.
Em 2001, com mais de 120.000 ruandeses na prisão e praticamente nenhum sistema judicial existente (a maioria dos advogados e juízes foram mortos ou fugiram durante o genocídio), o governo começou a implementar um sistema de justiça de base na aldeia, conhecida como “gacaca”, para abordar os casos de genocídio. Em dezembro de 2010, funcionários das gacaca relataram ter concluído mais de 1,2 milhões de processos.
Bibliografia:
Ruanda. Disponível em <http://www.portalbrasil.net/
Background note: Rwanda(em inglês). Disponível em <http://www.state.gov/r/pa/ei/
Mapa: http://www.nationsonline.org/oneworld/map/rwanda_map2.htm