Artur Louback Lopes | 01/04/2004 00h00
O menor deles era do tamanho de um touro adulto, e o maior chegava a 5 metros de altura e 15 toneladas (quase quatro vezes mais que um elefante). Comiam 70 quilos de vegetais por dia e alguns viviam até os 80 anos. Surgidos no norte da África há 4 milhões de anos, os mamutes espalharam-se pela Europa e Ásia e, de lá, para a América, onde se tornou o principal animal de grande porte durante a Idade do Gelo (de 1,8 milhão a 10 mil anos atrás). No fim desse período, porém, foram extintos misteriosamente. E esse enigma nunca motivou tanta polêmica quanto nos últimos meses.
A teoria mais consagrada – a de que o homem foi o responsável pelo sumiço desses animais – surgiu nos anos 60 com o professor Paul Martin, da Universidade do Arizona, e tem a seu favor a coincidência de datas entre a chegada do homem na América e o desaparacimento dos mamutes. Além disso, Martin localizou restos de lanças em fósseis de mamutes no sul dos Estados Unidos, demonstrando que esses mamíferos foram vítimas da predação excessiva.
Um certo consenso girou em torno dessa teoria até o ano passado, quando Donald Grayson, da Universidade de Washington, e David Meltzer, da Universidade Metodista do Sul, revisitaram os sítios investigados pelo professor Martin. De 76 locais, os dois arqueólogos encontraram sinais de matança de mamutes em 14. Os dois consideraram o número baixo demais para se incriminar o homem. Para eles, o culpado foi o clima. Um período de temperaturas mais altas, no fim da Idade do Gelo, teria adensado a vegetação das estepes e pradarias. Acostumados à relva rasteira, os grandes herbívoros – mamutes, mastodontes e preguiças gigantes – não se adaptaram a florestas densas e árvores altas.
Em maio, Gary Haynes, arqueólogo da Universidade de Nevada, misturou as duas teorias. Para ele, os homens deram o golpe de misericórdia em um momento de clima pouco favorável aos mamutes. “É certo que alterações climáticas do fim da Era do Gelo limitaram a oferta de alimentos, mas, se o ser humano não houvesse chegado na América do Norte, a maioria dos grandes mamíferos teria superado essas mudanças e sobrevivido até a colonização européia, no século 15”, diz Haynes.
Rota do gelo
Como os mamutes se espalharam pelo mundo
América - 1,5 milhão de anos
Europa - 3 milhões de anos
Africa - 4 milhões de anos
Ásia - 2,5 milhões de anos
Viagem em família
Os mamutes andavam em grupos de até 40 animais, sob a liderança das fêmeas adultas. Os machos desligavam-se do grupo para procurar outras parceiras
Casaco de pêlo
O corpo estava adaptado ao frio: era atarracado e lanoso. Orelhas pequenas minimizavam a perda de calor. Nas épocas mais frias, eles migravam em busca do calor
Dente do siso
As presas chegavam a 5 metros de comprimento e serviam para cavar a neve em busca de alimento. Algumas foram objeto de adoração de tribos da Sibéria até o século 19
Caçada humana
Os homens atraíam o animal para fora da manada e o atacavam com lanças de madeira e lâminas de pedra. Além de alimentar e aquecer sua família, caçar um mamute aumentava o status dos homens no grupo
Fruto da terra“Mamute” significa “filho da terra” na língua tártara. O nome foi dado pelos nativos do norte da Ásia que, de tanto machar corpos do animal enterrados no solo gelado, concluíram tratar-se de um fruto da terra
Eles voltarão!
As antigas tribos tártaras acreditavam que os mamutes haviam partido numa longa viagem, mas que um dia eles volatariam. Em 2003, numa fria estepe da Sibéria, no norte da Ásia, pode ter sido dado o primeiro passo para que a lenda se torne realidade. Uma equipe de pesquisadores russos e japoneses, liderada pelo paleontólogo francês Bernard Buigues, resgatou um corpo completo de mamute. Congelado há cerca de 10 mil anos, ele foi retirado de helicóptero de um bloco de gelo de 24 toneladas. Em novembro, Buigues anunciou a descoberta de DNA intacto no interior de células do animal. Estava aberta a possibilidade teórica de se clonar o mamute. Trazer o espécime extinto de volta à vida, no entanto, seria um desafio enorme, já que não há mamutes vivos para gestar um bichão desse tamanho. A melhor possibilidade é usar o parente mais próximo do mamute, o elefante asiático. A aventura cinematográfica utilizaria duas “mães”: uma fêmea participaria com o óvulo e a outra gestaria o embrião.
Fonte: Aventuras na História