10.7.12
A Aldeia Neolítica
AS COMUNIDADES PRIMITIVAS DE CAÇADORES E COLETORES
Os homens de Cro-Magnon viviam ao ar livre, em bandos nômades. Desde cedo aprenderam a cooperar uns com os outros, para obter o alimento necessário. Distinguiam-se de seus antecessores por seu aspecto físico e por serem caçadores especializados, que faziam armas de pedra, marfim e osso.
Através de golpes no sílex (rocha dura), produziam lâminas ou lascas estreitas, a partir das quais surgiam facas, pontas de projéteis montáveis em cabo, raspadoras que possibilitavam a produção de lanças, arpões, dardos, bastões perfurados para trabalhar o couro, perfuradores e agulhas para costurar roupas.
Praticavam uma economia coletora de subsistência: dependiam da caça, da pesca e da coleta, pois ainda não haviam aprendido a produzir os alimentos. Realizavam caçadas às manadas de mamutes, renas, bisões, bois e cavalos selvagens. Colhiam tudo que lhes pudesse servir de alimento: sementes, nozes, castanhas, frutos, raízes, mel, insetos, ovos, moluscos e pequenos animais.
Havia uma rudimentar divisão do trabalho segundo o sexo: tarefas que cabiam ao homem, à mulher, à criança, ao velho. A liderança natural do bando era exercida pelo mais forte. O conhecimento e as experiências adquiridas eram transmitidos coletivamente e incorporados à tradição comunitária, como, por exemplo, as melhores estações de caça, a distinção entre plantas comestíveis e venenosas, a escolha das melhores pedras para se fazer ferramenta e a observação das fases da lua.
As cavernas naturais e as habitações rudes feitas de galhos de árvores constituíam as mroadias dos homens do Paleolítico. Cada um deles possuía apenas os seus utensílios e ferramentas de uso pessoal. As florestas, os lagos e os rios eram usados e usufruídos coletivamente pelo grupo, que vivia em regime de comunidade primitiva. Nômades, os bandos de homens primitivos mudavam de região constantemente, impelidos pelas variações climáticas ou à procura de novas áreas de caça e de rios mais piscosos.
Dentre suas práticas espirituais, destacavam-se os ritos funerários, nos quais os mortos eram enterrados com seus adornos e utensílios, e os ritos mágicos destinados a assegurar o abastecimento de alimentos e de caça. Para isso, faziam pinturas nas paredes das cavernas, representando animais como mamutes, bisões ou renas. Executavam também esculturas em pedra de figuras femininas, com significativas deformações: seios grandes e enormes ventres, que simbolizavam a fertilidade, a fecundidade e a abundância.
O fim das glaciações permitiu o aparecimento de novos tipos de comunidades, em regiões como o Oriente Próximo e o Oriente Médio. Trabalhando com a natureza, ao invés de somente explorá-la, essas comunidades concretizaram a chamada "revolução agrícola" do período Neolítico.
AS ALDEIAS DE AGRICULTORES E PASTORES
A passagem do Paleolítico para o Neolítico se deu aproximadamente entre 10 000 e 8 000 a.C., com o fim das glaciações. A vida nômade baseada na caça, na pesca e na coleta de alimentos foi, aos poucos, substituída por uma nova sociedade em que o homem praticava a agricultura, domesticava os animais, desenvolvia a cerâmica e a tecelagem, usava ferramentas especializadas de pedra afiada e polida e vivia em aldeias.
Adquirindo maio domínio sobre a natureza e melhor conhecimento das leis de sua reprodução, o homem adquiriu um controle sobre as fontes de alimentação, aumentando, assim o número de pessoas que podia viver numa mesma área. Tudo isso caracterizou uma verdadeira revolução na vida do homem - a revolução agrícola.
O APARECIMENTO DA AGRICULTURA
Os primeiros estágios da agricultura iniciaram-se quando os homens, pela observação, passaram a compreender cada vez mais a respeito das plantas e dos animais que usavam como alimento. Verificaram que ao caírem as sementes no chão, nasciam e cresciam as plantas. Gradualmente, tornaram-se experientes no cultivo do trigo, da cevada, de tubérculos, de frutas e hortaliças, e hábeis em semear, ceifar, armazenar e moer.
Provavelmente, foi domesticando os filhotes dos animais que haviam matado, que os homens aprenderam a criá-los. Passaram a ter rebanhos de bois, carneiro, cabras, porcos, utilizando suas peles, carne e leite. A abundância de lã e de linho tornou possível a tecelagem.
Da observação da terra endurecida ao redor do fogo, nasceu a cerâmica e a olaria. Potes, vasos e outros recipientes passaram a ser largamente utilizados para armazenar a água e os alimentos e para cozinhá-los. Ornamentados, esses objetos tornaram-se importante manifestação da arte neolítica.
A agricultura era praticada de forma bastante rudimentar, exaurindo rapidamente o solo e obrigando os homens a constantes mudanças. Estes estavam agora organizados em tribos, vivendo em cabanas de madeira e barro, que formavam as aldeias.
A ALDEIA NEOLÍTICA
Os arqueólogos acreditam que os primeiros agricultores e pastores viveram por volta de 8 000 a.C., nos vales aluvionais do Oriente Próximo. Por volta de 6 000 a.C., as comunidades agrícolas haviam se propagado através de todo o sudoeste da Ásia e sul da Europa, espalhando-se também pelo norte da África. Pesquisas arqueológicas encontraram restos de antigas aldeias em Jericó na Palestina, em Qalat-Jarno na bacia do rio Tigre e em Tell-Hassuna no Iraque.
Com a agricultura, a terra das aldeias se tornou de uso comum dos clãs e era lavrada coletivamente, assim como os rebanhos, os celeiros, as pastagens e as cabanas. De uso individual permaneceram os apetrechos de caça, os utensílios de cozinha e o vestuário. Tudo aquilo que se produzia era partilhado equitativamente dentro de cada grupo, havendo trocas entre as aldeias apenas em ocasiões especiais, tais como casamentos ou funerais.
Mesmo sendo ainda de subsistência, existia agora uma economia produtora de alimentos e não mais apenas coletora.
O trabalho tornou-se então uma atividade constante e coletiva, que mobilizava toda a aldeia: era preciso drenar pântanos, controlar as enchentes dos rios, limpar florestas, semear os campos, pastorear o gado etc. A divisão do trabalho estava diretamente relacionada com o sexo: as mulheres deviam arar o solo, moer e cozinhar os grãos, fiar, tecer, fabricar os potes e os ornamentos; a limpeza do terreno para o cultivo, a construção das habitações, a criação do gado, a pesca e o fabrico de ferramentas e armas eram as tarefas masculinas.
Os aldeamentos eram formados de habitações pequenas, circulares ou quadradas e sempre de material precário, diferindo conforme a região. Próximo às florestas, erguiam-se cabanas construídas de troncos, próprias das comunidades de caçadores e pastores. Sobre as águas dos lagos e rios, elevavam-se as palafitas dos pescadores.
Durante o período Neolítico, foram edificados os monumentos "megalíticos"(mega = grande; ithos = pedra), entre os quais se destacam os menires (enormes pedras de até 23 metros de altura, encravadas verticalmente no solo) e os dólmens (duas ou mais pedras fincadas no chão, cobertas por outras em posição horizontal, formando uma espécie de mesa). Esses monumentos provavelmente serviam de culto aos mortos ou para cerimônias em honra às forças da natureza.
A aldeia neolítica era auto-suficiente com a população se ocupando em atividades agrícolas, de pastoreio, de tecelagem e na produção de utensílios de cerâmica, de armas e de ferramentas de pedra polida, utilizados na própria aldeia. Sua economia era pouco diversificada e suas técnicas, rudimentares. AS
PRÁTICAS ESPIRITUAIS
A grande dependência que os homens do Neolítico tinham da natureza e os precários conhecimentos sobre a agricultura, o pastoreio e a reprodução deram origem a crenças e ritos mágico-religiosos, que aparentemente tinham o poder de garantir as colheitas e as caçadas abundantes. Ninguém do grupo podia desrespeitá-los, sob pena de severas punições, pois ir contra os "misteriosos" poderes que controlavam a fertilidade do solo e a procriação das mulheres e dos animais significava colocar em risco a sobrevivência de toda a comunidade.
Alguns clãs e tribos se diziam descendentes de determinados animais ou vegetais, que eram venerados pelo grupo caracterizando o fenômeno do totemismo. O tótem podia ser uma ave, um peixe, uma planta ou outro elemento da natureza; era considerado sagrado e símbolo do grupo. As cerimônias rituais e mágicas eram exercidas por "feiticeiros" que os membros da aldeia julgavam possuir poderes originais e que passavam a desempenhar também atividades de chefia e liderança.
Por volta de 4 000 a. C., principalmente nos vales dos grandes rios como o Nilo, o Tigre, o Eufrates, o Indo e o Ganges, os homens tiveram necessidade de se organizar melhor, a fim de obter uma maior produtividade agrícola. Desenvolveram técnicas de irrigação e criaram ferramentas de bronze, utilizando o cobre e o estanho, mais eficazes para o trabalho.
A agricultura passou a gerar excedentes, permitindo a sua troca por matérias primas indispensáveis. A população aumentou; agora, um maior número de indivíduos podia viver numa mesma área dedicando-se a outras atividades que não o plantio e o pastoreio. Assim, as aldeias neolíticas transformaram-se em cidades, com profissões, classes e governo.
Autores: Fábio Costa Pedro e Olga M.A. Fonseca Coulon
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