15.10.12
Antipapa João XXIII
Por Antonio Gasparetto Junior
João XXIII foi também o nome utilizado por um antipapa entre 1410 e 1415.
De acordo com a estrutura hierárquica da Igreja Católica, os homens que ocupam a posição mais elevada são conhecidos como papa ou Supremo Pontífice. Este líder do cristianismo católico é reconhecido em todo o mundo e seu posto remete a uma tradição iniciada com o apóstolo Pedro, considerado o primeiro papa da história. Entretanto, a função de papa é também um posto político dotado de muita competição para atingi-lo. Em diversos momentos da história do catolicismo, o papa eleito pelo Conclave, reunião de cardeais para eleger o novo Supremo Pontífice, não foi reconhecido por reis e grupos religiosos dentro da Igreja Católica. Como resultado da não aceitação de alguns papas eleitos pelo Conclave e refletindo a autoridade que alguns reis demonstraram, foram indicados outros papas para representa-los. Esses papas que não foram eleitos pelo Conclave, mas sim por vontade de grupos religiosos e políticos distintos, são chamados de antipapas. Eles exercem a mesma função do papa em vigência, porém representando uma oposição. Ou seja, dois papas que se declaram legítimos simultaneamente, um rejeitando a existência do outro.
Baldessare Cossa seria um exemplo de antipapa. Nascido por volta de 1370 na cidade de Nápoles, foi corsário em sua juventude e, mais tarde, tornou-se aluno na Universidade de Bolonha. Entrou para a vida religiosa após se formar e, em 1402, recebeu o título de cardeal. Seus serviços com a Igreja Católica teve início durante o papado de Gregório XII. Na ocasião, havia outro antipapa em atividade, Alexandre V. Este foi o primeiro papa cismático em Pisa e, quando faleceu, abriu-se o processo de escolha para seu sucessor. Nesta jogada entrou Baldessare Cossa, que foi eleito em Bolonha no ano de 1410. O cardeal assumiu como nome papal João XXIII. Porém, destaca-se, que este era um antipapa, representava o cisma vigente na Igreja Católica e era reconhecido apenas pela França, pela Inglaterra e parte da Itália e da Alemanha.
Muitos acreditam que a ascensão de João XXIII se deu por influência do rei Luís II, afoito por controlar o poder dos papas. De toda forma, o momento já era conturbado o suficiente para o cristianismo, que enfrentava um grave cisma que chegou a contar com a existência de três papas simultâneos, dois deles antipapas (Gregório XII, João XXIII eBento XIII, respectivamente).
João XXIII não foi um papa legítimo, era reconhecido apenas por seus seguidores que representavam um grupo de cismáticos. O verdadeiro papa João XXIII, reconhecido pela Igreja Católica, exerceu seu papado muitos séculos depois e é reconhecido como um dos papas mais importantes da história do cristianismo. Depois de sofrer muita recriminação, o próprio antipapa João XXIII reconheceu seu erro e submeteu-se ao Concílio de Constança, o qual colocou fim a Grande Cisma do Ocidente. João XXIII foi deposto e aprisionado em 1415, recuperando a liberdade apenas em 1418, quando voltou a viver dignamente como cardeal.
Fora da prisão e novamente reconhecido por seu nome de batismo, Baldessare Cossa, faleceu em 1419 e foi sepultado com respeito em Florença.
Fonte:
DUFFY, Eamon. Santos e Pecadores: história dos Papas. São Paulo: Cosac & Naify, 1998.