O choque que deu origem à Lua, de acordo com a teoria do grande impacto, tem duas novas interpretações
John Matson
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A explicação mais comumente aceita para a formação da Lua afirma que um protoplaneta gigante, às vezes chamado de Theia, chocou-se contra a Terra recém-formada há 4,5 bilhões de anos e criou uma nuvem de destroços que rapidamente se transformou na lua. Mas essa hipótese apresentava um problema incômodo. As colisões simuladas para a formação da lua mostraram que Theia teria sido o principal doador do material lunar. As análises de rochas lunares da missão Apollo, no entanto, mostraram que a lua se aproxima, de várias maneiras, a um clone químico da Terra, e não de Theia.
“A teoria do grande impacto explica muitos traços do sistema – e por isso é a preferida – mas essa discrepância é um pouco desafiadora”, admite a cientista planetária Robin Canup, do Southwest Research Institute em Boulder, no Colorado, que teve um papel fundamental no desenvolvimento da proposição de Theia [como doadora do material para a lua]. “Esse problema já é uma pedra no sapato da teoria do impacto há algum tempo”.
Mas essa pedra pode estar desaparecendo. Dois artigos publicados online em 17 de outubro na Science, um por Canup e o outro por cientistas planetários do SETI Institute, em Mountain View, na Califórnia, e na Harvard University, demonstram duas possibilidades de produzir uma lua muito semelhante à Terra, do ponto de vista químico, a partir de um impacto.
No modelo de Canup, o impactante é substancialmente maior que a Theia canônica – em vez de um objeto do tamanho de Marte colidindo com uma proto-Terra muito maior, seu novo estudo propõe um choque entre dois objetos de tamanho semelhante. “O conjunto de impactos que eu identifico como capaz de fazer isso envolve um impactante muito maior do que se considerava anteriormente”, explica ela. “O tipo de impacto que defendo aqui é a colisão de dois objetos com metade da massa da Terra. Eles se fundem para formar a Terra”. A lua então se formaria a partir dos destroços restantes, explicando suas semelhanças com a Terra naturalmente.
Uma concepção diferente, de Matija Ćuk do SETI e Sarah Stewart de Harvard, invoca um projétil pequeno, de alta velocidade, chocando-se contra uma proto-Terra em rotação rápida. Como um morteiro interplanetário, esse impacto de alta energia lançaria uma nuvem de destroços composta principalmente de material terrestre. “A diferença crucial é que a Terra giraria mais rápido”, aponta Ćuk. “Se você acertá-la com força, é fácil fazer com que seus destroços sejam lançados no espaço”.
Os dois estudos aproveitam a recente descoberta feita por Ćuk e Stewart de que as interações gravitacionais com o Sol podem rapidamente enfraquecer o momento angular do recém-nascido sistema Terra-Lua. Como resultado, a Terra pode ter girado muito mais rápido antes da formação da Lua do que se pensava anteriormente – um dia na Terra pode ter durado apenas duas ou três horas imediatamente após o impacto. E a possibilidade de uma Terra em giro rápido abre a porta para tipos de colisões antes consideradas inviáveis.
De fato, a principal contribuição dos novos estudos não está nas especificidades dos modelos revisados da formação lunar, mas no fato de que essas revisões agora parecem plausíveis, aponta Erik Asphaug, cientista planetário da University of California, Santa Cruz.
Ćuk também prevê a abertura de um novo capítulo na descoberta da história do nascimento lunar. “Esse será, espero, o primeiro de um novo conjunto de artigos, e não a última palavra sobre o assunto”, declara.
O único problema é que o tamanho e magnitude de Theia, que pareciam razoavelmente bem compreendidos, agora estão abertos a debate. E muitos outros cenários para explicar o sistema Terra-Lua podem surgir. “Isso me preocupa – me pergunto se a formação da lua se tornou um problema insolúvel”, desabafa Asphaug. “Se concebermos uma Terra que pode estar girando com qualquer velocidade, todas as apostas estão erradas”.
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