Biografia
Infância e Adolescência
Filha natural de Rosa Maria de Lima, Francisca Edwiges nasceu em 17 de outubro de 1847. Para sua mãe, mulher pobre e mestiça, o nascimento de Francisca foi uma situação muito difícil, sobretudo porque não sabia se seu amado iria assumir a paternidade da menina. José Basileu, militar de carreira promissora, oriundo de família abastada, sofreu forte pressão de seus pais, que eram contra a sua união com Rosa. Mesmo frente a todas as discordâncias, assumiu a criança e a registrou como sua filha.
Como todas as sinhazinhas do século XIX, Francisca Neves Gonzaga foi educada para se tornar uma digna filha de militar, uma sinhazinha na corte de Pedro II. Seu pai, muito severo com sua educação, preparara para ela um futuro promissor: um bom casamento que pudesse elevá-la à categoria de "dama". Desde cedo Francisca foi educada para isso, aprendendo a ler e a escrever, fazer contas e, principalmente, tocar piano. A música tornou-se sua grande paixão. Francisca crescia ao som de polcas, maxixes, valsas e modinhas e participava das festas domésticas com grande satisfação. Foi assim que, no Natal de 1858, compôs sua primeira música.
A sociedade patriarcal brasileira delegava poderes extremos ao homem; às mulheres, era oferecida apenas a reclusão do lar, a vida doméstica junto à criadagem escrava. Poucas mulheres ousavam desafiar seus pais e maridos; quando isso ocorria, logo eram reclusas em casas de correção e conventos.
Desde 1808, com a chegada da Família Real ao Brasil, as mulheres passaram a circular mais pelas ruas, dançar em recepções festivas da Corte, comparecer a saraus, teatros e ópera.
Mas o Rio de Janeiro dessa época ainda era a cidade das chácaras, com uma incipiente urbanização e uma população basicamente de negros e mestiços. A cidade, aos poucos, transformava-se em um centro metropolitano, à medida que cresciam as demandas do comércio exterior. As modas, costumes e o consumo se alteravam, ganhando ares europeus. O porto do Rio de Janeiro tornou-se o centro financeiro e comercial do Império, negociando-se café, escravos e mercadorias estrangeiras que deslumbravam os novos consumidores.
Mesmo com todas as mudanças sociais, os padrões e a austeridade patriarcal permaneciam inabaláveis. Para a jovem Francisca, nada lhe restava a não ser obedecer às ordens de seu pai. Foi assim que, em 1863, com apenas 16 anos, Chiquinha casou-se com Jacinto Ribeiro do Amaral, "jovem garboso" de 24 anos, estatura média, olhos azuis, oriundo de família distinta e muito rica. Finalmente aquela menina iria transformar-se em uma dama...
Chiquinha Gonzaga os Chorões
O encontro de Chiquinha Gonzaga com o meio boêmio carioca aconteceu num momento de rebeldia da compositora. Seu casamento não ia bem, a separação era a única saída. Uma mulher separada no século XIX ? Chiquinha pagou um preço alto. Foi expulsa de casa por seu pai, que, a partir daquele momento, renegou sua paternidade. Com o filho João Gualberto ainda no colo, ela partiu em busca de uma nova vida. Quem sabe era a oportunidade de seguir seu desejo: tornar-se uma compositora. Sem ter para onde ir, Chiquinha foi recebida pelo meio musical carioca, iniciando, então, um convívio fundamental para sua futura formação.
Conheceu músicos famosos, como Calado, que tornou-se seu amigo e protetor. Conhecido como Calado Jr. até a morte de seu pai, teve formação erudita, mas, desde cedo, era presença marcante nos grupos de choro do Rio e "pode ser considerado o criador do choro e nacionalizador da música popular", segundo Edinha Diniz . Sua primeira composição editada, a polca Querida por todos (1865), foi dedicada à Chiquinha.
Calado convidou-a para ser a pianeira de seu conjunto O Choro do Calado. Chiquinha começou a tocar em bailes e teatros recebendo dois mil réis por noite.
Chiquinha passou a frequentar festas e reuniões de chorões, compondo a polcaAtraente, em 1877, que, editada na véspera de Carnaval, fez um enorme sucesso.
Por volta de 1899, Chiquinha mudou-se para o bairro do Andaraí. Lá, os cordões carnavalescos faziam grande sucesso, agremiando moradores e foliões de diversos cantos da cidade. Um dia, em sua casa, ao ouvir despreocupadamente os ensaios do cordão Rosa de Ouro, sentou-se ao piano e compôs uma marcha em homenagem ao grupo. Assim nasceu a primeira música de carnaval. Até então, nenhum compositor havia elaborado uma composição para um cordão carnavalesco, o que existia eram estribillhos populares, sem melodia elaborada Edinha Diniz, (op.cit. p.186). A marcha Ô Abre Alas tornou-se o seu maior sucesso e é tocada até hoje em todos os bailes carnavalescos.
A melhor divulgação para a nova marcha foi mesmo o teatro. Na peça Não Venhas, Chiquinha a incluiu no repertório, sendo a marcha muito bem aceita pelo público. Era o carnaval que ganhava o teatro, "numa época em que as classes sociais mantinham seus espaços rigidamente definidos. Chiquinha não hesita em trazer para o salão o que era da rua." (Edinha Diniz op.cit. p.186)
Bibliografia:
Fonte: MINIWEB EDUCAÇÃO