6.6.13
Primeira e Segunda Guerra Servil
Por Antonio Gasparetto Junior
A Primeira Guerra Servil foi a primeira de três revoltas promovidas por escravos na república romana tardia.
No século II a.C., Roma já havia se constituído como uma República e já gozava de poderio e influência na Europa Ocidental. Estava em construção a base para o grande império que se formaria posteriormente e que conquistaria grande território. Uma das práticas comuns da sociedade romana naquela época era a escravização. Os escravos eram, geralmente, prisioneiros de guerra ou devedores. Não havia distinção de cor de pele para escravidão, poderia ser qualquer pessoa que se encontrasse nessas situações. Logo, esses indivíduos poderiam possuir alguns conhecimentos ou propriedades antes da escravidão.
Com o final da Segunda Guerra Púnica, em 201 a.C., os cartagineses foram expulsos da ilha Sicília e os especuladores se apressaram para comprar grandes quantias de terra com preços baixos. Essa situação causou grande mudança na organização das propriedades. Os sicilianos enriqueceram com a utilização de escravos, que eram baratos na região, e com uma condição privilegiada que permitia produzir excedentes para comercialização. Os grãos eram os produtos em destaque e a produção era muito baseada na utilização de escravos, o que abasteceu a região de muitos trabalhadores nessas condições. No entanto, havia certo desequilíbrio na Sicília. Enquanto os grandes produtores lucravam com o comércio de grãos e se beneficiavam da grande quantidade de mão-de-obra escrava, os escravos passavam por carências, pois os produtores nem os alimentava direito, e os pequenos proprietários não tinham espaço para crescimento. A carência dos escravos logo resultou em saques para que pudessem sobreviver e matar a fome que seus donos não se importavam. As pequenas propriedades eram os alvos, irritando e prejudicando seus proprietários.
Após algumas décadas do desenvolvimento deste processo, os escravos se organizaram em uma revolta. O escravoEuno liderou um movimento de revolta se declarando profeta. Ele foi auxiliado por Cleón, encarregado do comando geral de combate. Iniciava-se, então, a Primeira Guerra Servil. No início, Euno liderou duzentos mil homens, considerando homens, mulheres e meninos. Ele conseguiu conquistar a confiança dos escravos alegando poderes místicos e discursando sobre o interesse comum da liberdade. A revolta e os combates começaram no ano 135 a.C. e os escravos obtiveram algumas importantes vitórias contra os romanos que dominavam a Sicília. A dupla de liderança Euno e Cleón se manteve firme durante três anos, resistindo contra várias pequenas investidas romanas. Até que, em 132 a.C., a república romana enviou um exército com setenta mil homens para eliminar definitivamente a revolta. Diante de uma grande investida romana, Cléon morreu no campo de batalha e Euno foi capturado para ser levado a julgamento, porém faleceu antes.
A Primeira Guerra Servil foi o primeiro levante de escravos contra a república romana que ainda enfrentaria mais duas revoltas nas próximas décadas.
A Segunda Guerra Servil foi o segundo movimento de revolta dos escravos contra república romana tardia.
No final do III século a.C., os romanos expulsaram os cartagineses da ilha de Sicília e se apropriaram de grandes propriedades que compraram com preços reduzidos. A corrida por propriedades de grande extensão territorial alterou a organização produtiva na região, que passou a conviver com proprietários enriquecidos pelo comércio de grãos e com um grande número de escravos utilizados em suas produções. No entanto, devido ao grande número de escravos disponíveis, seus donos não se preocupavam com sustentos mínimos à sua mão-de-obra. O acúmulo de uma situação de carência com a grande desigualdade de riqueza na ilha ao longo de décadas culminou com a primeira revolta de escravos contra os romanos. Ao longo de três anos, os escravos conseguiram pequenas vitórias até serem completamente derrotados pelo exército romano, encerrando a Primeira Guerra Servil.
A Segunda Guerra Servil aconteceria três décadas depois, mas por motivos diversos. No final do século II a.C., o cônsul romano Gaius Marius estava recrutando soldados para sua guerra contra os cimbrios na Gália Cisalpina. Mas o rei da Bitinia, um reino oriental da Ásia Menor, negou o fornecimento de soldados para os romanos, alegando que eles haviam cobrado impostos em demasia, impossibilitando o recrutamento e a mobilização de um exército. Então o cônsul romano decretou que os escravos na Sicília deveriam ser liberados para prover mão-de-obra aos britínios. Foi nessa ocasião que cerca de 800 escravos se rebelaram na Sicília e estimularam os demais a começar um novo conflito contra os romanos. Os embates iniciaram em 104 a.C. e Salvio se posicionou como líder, seguindo os passos de Euno, líder dos escravos na Primeira Guerra Servil.
Salvio comandou a Segunda Guerra Servil defendendo os direitos dos escravos e a liberdade. Ele assumiu o nome deTrifão, mais tarde, inspirando-se em Diodoto Trifão, um rei do império selêucida. Desta vez, os escravos somavam vinte mil soldados e ainda havia mais dois mil cavaleiros. Todos bem armados e treinados. O cônsul romano enviou um exército com cerca de cinquenta mil soldados. Os escravos, por sua vez, conquistaram mais apoio e adesão e chegaram a formar um exército de sessenta mil homens. Durante quatro anos muitas vidas foram perdidas em vários combates, mas, em 100 a.C., o então cônsul romano Manio Aquilio reprimiu fortemente os escravos em investidas poderosas de guerra.
A Segunda Guerra Servil terminou com nova vitória romana, mas não seria a última revolta de escravos. A maior de todas elas aconteceria três décadas depois.
Fontes:
http://periodicos.uesb.br/index.php/politeia/article/viewFile/636/639http://www.historia.uff.br/stricto/td/1463.pdf