Doença foi descoberta em hominídeo macho e jovem que viveu na Croácia.
Tipo de tumor benigno é raro tanto em fósseis quanto no homem moderno.
Lesão se estendia lateralmente pela costela esquerda de neandertal jovem (Foto: PLOS One/Divulgação)
O tumor ósseo mais antigo do mundo foi identificado no fóssil de um homem-de-neandertal que viveu há 120 mil anos na região onde atualmente fica a Croácia, revelam cientistas da Universidade da Pensilvânia, nos EUA. Esses hominídeos extintos habitaram a Europa e a Ásia entre 600 mil e 30 mil anos atrás.
O estudo, publicado esta semana na revista científica "PLOS One", analisou o primeiro tumor benigno já descoberto em um neandertal. O achado foi feito em uma caverna do sítio arqueológico de Krapina, no norte do país, há mais de duas décadas.
Segundo os autores, liderados pela paleoantropóloga Janet Monge, o indivíduo tinha um tumor na costela esquerda, era um macho e morreu jovem – provavelmente ainda na adolescência.
Os tumores ósseos são muito raros em fósseis e registros pré-históricos. Os primeiros casos documentados até agora datavam de mil a 4 mil anos atrás. Ainda hoje, esse tipo de doença é considerado incomum, razão pela qual a descoberta se torna mais especial.
Por meio de exames de raio X e tomografia computadorizada, os pesquisadores analisaram um fragmento de costela de 30 milímetros e identificaram o tumor como uma "displasia fibrosa", desordem no desenvolvimento ósseo que é a forma mais comum da doença em seres humanos.
Tomografia mostra detalhes internos do tumor
(Foto: Courtesy of GW Weber/U. Vienna/PLOS One)
Não foram encontrados outros restos que possam pertencer a esse neandertal, nem há provas suficientes de que o tumor foi a causa da morte dele ou tenha contribuído para isso, destaca Janet.
Mas a comprovação de que o material encontrado se tratava mesmo de um tumor poderá ter implicações nos estudos futuros sobre a relação entre os neandertais e os homens modernos, acredita a especialista.
"Esse tumor pode fornecer outra ligação entre os neandertais e os povos modernos, uma relação reforçada com evidências genéticas e arqueológicas. Parte da nossa ascendência passa realmente pelos neandertais, que tinham um desenvolvimento de ossos e dentes semelhante e compartilhavam as mesmas doenças que nós", destacou.
Paleoantropólogos ainda debatem a relação exata entre o Homo sapiens – seres humanos modernos – e os extintos neandertais. O sítio arqueológico de Krapina, descoberto em 1899, é um dos mais importantes a revelar a presença desses hominídeos. Lá, já foram encontrados objetos como ferramentas de pedra lascada, pedaços de ossos de animais e um único dente molar humano. Em 1905, o local já havia apresentado mais restos mortais de hominídeos que qualquer outro lugar conhecido na época.
Além da Universidade da Pensilvânia e do Museu de Arqueologia e Antropologia da instituição, participaram do estudo as universidades Princeton e do Kansas, nos EUA; a Universidade de Viena, na Áustria; a Universidade de Zagreb e o Museu de História Natural da Croácia.
Reconstrução de como seriam o homem de neandertal (esq.) e sua mulher no Museu de Mettmann, na Alemanha, em 2009 (Foto: Federico Gambarini/DPA/Arquivo AFP)
Fonte: Do G1, em São Paulo